Poesia: Homenagem a distintos Sócios da APP – Associação Portuguesa de Poetas
ABRIL
Introito:
Terminou o mês de Março. E este post, nº 518, fora delineado para ser publicado nesse mês. Mas não foi possível.
Iniciando-se Abril, continuamos ainda em boa companhia, isto é, com a Poesia. Prosseguimos igualmente com a Associação Portuguesa de Poetas e pessoas que nela tiveram papel de destaque.
A divulgação de participantes na XX Antologia foi concluída no post nº 513, a 20 de Março.
Quando iniciei essa divulgação, ainda em 2016, referi que gostaria de realçar duas pessoas que foram muito importantes no âmbito da APP.
(No meu ponto de vista e na minha visão parcelar e provavelmente parcial sobre a temática. Eventualmente, poderei estar a ser injusto, por omissão, relativamente a outras personalidades, a quem apresento as minhas desculpas.)
Para possibilitar essa divulgação, tive que pesquisar a bibliografia disponível e, finalmente, hoje, posso divulgar duas Poesias, uma de Luís Filipe Soares, sócio nº1 da APP e outra de Maria Ivone Vairinho, sócia honorária da APP e que dirigiu os respetivos destinos de Março de 2002, a Maio de 2011.
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Seguem-se, então, os textos poéticos:
«NA SOMBRA DA VIDA»
«O despertador tocava
ininterruptamente.
Acordou.
Deixou o sono a escorrer
ao longo dos cabelos da sua imaginação,
cobriu a face com alva espuma de sabão
e deixou a água acariciar
as rugas da sua pele ressequida.
Deu os bons dias à vida,
bebeu o café
e saiu para a rua.
Fato de ganga: desbotado,
gasto, descosido e amarrotado.
É operário.
Vive só…
É casado e tem dois filhos!
Caminha apressado.
Não vê ninguém.
Ninguém o vê!...
Chega à oficina,
diz «Bom dia» para quem o ouvir
e começa a trabalhar
até o cansaço o invadir.
Hora do almoço.
Pega na lancheira; tira o naco de pão,
as rodelas de salpicão e toucinho
e bebe três goles de vinho para temperar.
Regressa à oficina.
Não vê ninguém, mas também ninguém o vê!
Trabalha, trabalha sem parar.
Toca para sair
Invariavelmente,
exclama para quem o quiser ouvir:
«Até amanhã».
Sai apressado
como quem anseia por algo que é melhor.
Caminha lentamente.
Traz o coração estraçoado
pela dor do seu sofrimento.
Chega a casa.
Ninguém o espera.
Ninguém, a não ser
o silêncio da sua solidão.
Toma banho, janta
e senta-se um pouco
perscrutando os hálitos da sua poesia.
Deita-se, e adormece levando consigo
nas asas do seu pensamento
o som brutal do acidente
que lhe tirou a visão.
Sonha,
e nesse mundo de fantasia
viu-se rodeado dos amigos de então,
dos filhos que o vieram visitar,
da mulher que lhe pedia perdão
e no meio de uma sociedade
que o amparava e protegia.
E ele sorria.
Oferecia amizade e simpatia,
falava na esperança, no amor
e acima de tudo…vivia!
Mas… como sempre,
o verde da ilusão
foi vencido pelo negro da realidade.
… e ele acordou.
Esperava-o um dia sempre igual,
sombrio, transparente e vazio.
Antes de se levantar
pensou como devia parecer triste
aos olhos das outras pessoas:
Velho, pobre, doente…
Mas que importa?
… ele passa
E ninguém o vê!»
Luís Filipe Soares
In:
Revista “Família Cristã”
Ano XXXI, nº 11 – Novembro 1985.
(Nota 1 - Também tenho publicado, nesta edição da Revista, “CAVALO DE FERRO”, sob pseudónimo “Manuel Francisco”.)
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«CINZA DE LUME APAGADO»
«Chão aberto à semente
Água de riacho
Planta de funda raiz
Flor a desabrochar
Sou terra, água
Planta, flor
De Primavera
Águia que quer voar
Ave que canta no pomar
Em noites de lua cheia
Sou fruto amadurecido
De Verão
Fulgor do sol poente
Onda que se levanta
Em mar de vivas marés
Sou folha doirada
Que tomba, que cai
No Outono
Flor de Primavera
Seara de Verão
Folha caída de Outono
Cinza de lume apagado
Morro no Inverno.»
Maria Ivone Vairinho
In:
“A Nossa Antologia”
“Antologia de Poesia e Prosa Poética”
X Volume – 2002.
(Nota 2 - Nesta X Antologia também participei com:
“POEMA FIGURADO (I)”,”POEMA FIGURADO (II) – Um ramo de flores para a Mãe”, e “POEMA FIGURADO (III) – Perdido de si”.
Nota 3 - De entre os participantes nesta X Antologia, também participaram na XX:
Bento Laneiro, Catarina Malanho, Feliciana Garcia, Maria Melo, Natália Fernandes e Virgínia Branco.)