Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Hoje, presto a minha Homenagem e Agradecimento ao Carlos Cardoso Luís.
(Nasceu em Lisboa – 28 de Março de 1946. Faleceu recentemente – 11 de Outubro de 2024, também em Lisboa.)
Publico um seu Poema que fui buscar à XXIII Antologia – APP – 2019, p. 16.
(Por puro acaso, que é a Antologia que tinha “mais à mão”, como se costuma dizer.)
***
«Uma Voz Aberta»
«“Minha laranja amarga e doce”
Seiva vermelha a jorrar
Daquela árvore que cresce
Raízes fortes no chão a soluçar
Foi “cavalo à solta”
Fúria força em movimento
Potro doido
Animal ferido
Em galopar poético
À caça das palavras
Voz aberta
Lábios vadios
Ousadia denúncia
Segredos e podridão
“Réstia de luz intensa”
Em céu enganador
Espelho do povo gente certa
Margens apertadas mar profundo
Lutador temerário
Numa fragata sem fundo
No convés revoltado
Com pena pesada e leve
Sem amarras nem grilheta
As palavras lado a lado
A namorar com o Poeta.»
Carlos Cardoso Luís
***
Lindo!
Obrigado, Carlos.
Que, onde estejas, com os teus talentos multifacetados, estarás em Paz, com Poesia, Fado, … Arte!
*** *** ***
P.S. -
Também peculiar que o Carlos, neste seu Poema, cite um dos Poemas e Canções que mais gostei. De Ary dos Santos e de Fernando Tordo! Com que eles concorreram ao Festival da Canção de 1971 e que ficou em 3º lugar. Ganhou Tonicha, com “Menina”.
Lembro-me muito bem deste Festival.
Interessante também que andei a ler o livro “A Revolução antes da Revolução, de Luís de Freitas Branco, em que também este assunto é abordado.
Tudo coincidências, nada planeadas. A Vida é assim!
Simone de Oliveira com Patrícia Reis – 3ª Edição: Novembro de 2013, Matéria-Prima Edições.
Tinha curiosidade em desbravar o livro.
E assim foi. Entre 5º e 6ª feira, foi lido, nalguns excertos relido. Muito bem escrito, muito bem contado, estórias da vida da Artista, multifacetada, umas mais apimentadas que outras. Simone é incontornavelmente uma figura pública da Cultura Portuguesa, desde os inícios dos anos sessenta. Música, teatro, canções, espetáculo.
Tinha pica na leitura, ademais bem contado e bem escrito, melhor se lê.
(Só assisti, melhor, assistimos, a um espetáculo ao vivo com a Simone, aí pelos inícios dos anos noventa, 91 ou 92 (?), nas Ruínas do Convento do Carmo.)
Mas em televisão, na rádio, desde meados de sessenta, principalmente 65, passou a fazer parte do nosso universo musical e do nosso imaginário.
Tinha uma voz que arrepiava. Em 69, foi aquele deslumbramento, aquela canção, aquele poema, aquela música, aquela interpretação. Arrebatadora!
Interessante a explicação, dada pela própria, sobre essa interpretação e o relacionamento dela com Henrique Mendes (pag. 46).
Anos sessenta, início dos setenta… a vivermos em ditadura, com todas as restrições à Liberdade, em todas as suas vertentes: pessoais, cívicas, sociais, políticas, culturais. Computadores, internet, redes sociais, revistas cor de rosa, “big brother”, tudo isso era ficção. Jornais, revistas, meios de comunicação, jornalistas tinham outra postura. Também estavam condicionados à censura, não havia liberdade de expressão. Falava-se nas ligações dos artistas, de boca em boca, exagerava-se até, mas pouco publicavam sobre a vida particular. Menos ainda os próprios a divulgavam, como agora, que mostram tudo, da raiz do cabelo até à unha do pé.
Bem, no livro, passados tantos anos, é interessante ler o que a Artista conta sobre essa emblemática interpretação com que ganhou o festival de 1969! Os acontecimentos tinham outra repercussão. Presenciámos, vimos em direto na TV, aquela atuação! Aquela garra!
Depois, a perda da voz, acompanhámos essas truculências da vida. A recuperação, numa forma diferente. Lembro-me perfeitamente do festival de 73, em que voltou a participar. (Até houve um concurso, promovido não sei se pela Emissora Nacional se pelo Rádio Clube Português, sobre uma das canções, penso que “Minha Senhora das Dores”.) O Ary quase monopolizou o Festival, escrevendo a maioria das letras.
Também fala da “rivalidade” com Madalena. E também da amizade entre ambas. Existindo, certamente. À data, realçava, de facto, essa picardia entre as duas. Existisse ou não, era muito alimentada pelos meios de comunicação da altura. Rainhas da Rádio, Rainhas disto e daquilo. Nunca votei nesses concursos, não tinha acesso aos respetivos cupões, não abundava o dinheiro para gastar em trivialidades, nem elas existiam no fim de mundo aonde vivia, aonde vivíamos todos, nesses tempos obscuros. O mundo da época, segunda metade da década de sessenta, não tinha nada a ver com o de hoje. Mas lembro-me, era miúdo, do Festival de 66, ganho pela Madalena e, eu, na altura, torcia por ela e pelo “Ele e Ela”.
Estas coisas podem parecer futilidades sem importe, mas naqueles tempos, pouco havia com que se interessar. Houve o célebre Mundial de 66, nesse ano na Inglaterra. E como foi empolgante e como se criaram tantas expectativas, goradas no fatídico jogo com a equipa anfitriã. E como Eusébio chorou e com ele chorámos.
Mas estou a perder-me do livro…que não aborda o futebol.
Mas aborda muitas mais coisas e mais importantes. Mas fará o favor de procurar o livro, adquirir, para oferecer às suas Velhotas ou Velhotes. E lê-lo, primeiro, antes de oferecer.
Circulam pedidos para que Conan Osíris não vá representar Portugal na Eurovisão, em Israel.
Deverá o cantor aceder a esses pedidos? Sim? Não?
Penso que, primordialmente, essa decisão deverá pertencer ao próprio, condicionado obviamente pelos acordos ou compromissos que tenha com as instituições que representa e a que está conectado. E obviamente também ao bailarino com quem contracena.
Do meu ponto de vista, acho que deverá ir. Mas tomando uma atitude adequada face às situações invocadas, mas in loco. Terá muito mais impacto global, do que se desistir.
E como?!
De uma forma relativamente simples.
Usando apenas os recursos disponíveis, nem precisa de verbalizar sobre o assunto. (Aliás, o artista não é de grandes falas, a canção também tem poucas palavras e quem percebe o português?).
Bastará a coreografia, a encenação, as roupas a utilizar e o recurso a quatro cores fundamentais, duas das quais usaram no vestuário em Portugal. Depois é jogar com a combinação, a improvisação e o inesperado. Proceder como fazem os futebolistas.
E a mensagem visual passará, desde que a articulação seja bem feita, e com dificuldade de lhe pegarem por “intervir politicamente” e o desclassificarem.
Mas a mensagem passará. Para bom entendedor… uma boa imagem, bem estruturada e organizada, bastará.
Como?!
Bem, essa parte terá que ficar em segredo e só os próprios envolvidos dela poderão ter conhecimento.
Mas que devem agir, do modo que melhor acharem, no sentido de reprovarem o regime, devem!
(P. S. – Se não entenderem o que quero transmitir, perguntem-me, que explicarei melhor.)
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E o capricho da Dona Mandona?!
Pois!... Cá por mim, não só poderia levar o cavalo, ademais de puro-sangue português, mas também um elefante, o que tocava a sineta no Jardim Zoológico, que não sei se ainda é vivo ou não. Até poderia levar uma manada de vacas barrosãs a calcorrearem as ruas íngremes de Sintra!
A Dona Mandona, era só mandar! Pedido feito, pedido aceite. Pedido tal, seria uma ordem!