Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
“Entre o Céu e a Natureza”, título e poema de abertura de livro recentemente lançado por Maria Gertrudes Novais, em Almada, na Sala Pablo Neruda, no Fórum Romeu Correia, a dois de Junho, deste ano de dois mil e dezoito. Edição SCALA – Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada, com apoio da respetiva Câmara Municipal. Com prefácio de Eng.º António Matos e capa com reprodução de pintura a óleo, de Maria Manuel Pires.
Apresentação a que tive o grato prazer de assistir, numa sala muitíssimo bem composta, como se costuma dizer. Perto de uma centena de pessoas. Se tivesse que perspetivar o evento num contexto de Valores, destacaria dois: Amizade e Solidariedade. Valores e Mérito de Gertrudes Novais, Mimi, como gosta que a tratem. E, no decurso das intervenções, por vezes se ouvia uma criança correndo pela sala, chamando “Mimi! Mimi!”.
E ainda sobre Solidariedade, no final houve a participação de Francisco Naia, um cantor de quem já falámos aqui neste blogue, a propósito de outras ocorrências em Almada. E lembro-me de ter ouvido do Professor Alexandre Castanheira, num sarau sobre Ary dos Santos, no CIRL – Laranjeiro, em dois mil e quinze, precisamente referir-se a Francisco Naia, como uma pessoa sempre muito solidária.
Não pude assistir, com muita pena minha, mas nesse dia ainda tive que “migrar” para o Alentejo!
(Mas com tudo isto estou-me a desviar do móbil da crónica.)
Maria Gertrudes Novais, algarvia de nascimento, Aljezur, almadense de coração, residente desde 1973.
Publica desde 1987: “Poemas do Meu Sentir”, seu primeiro livro. Seguiram-se outros, individuais e coletivos e múltiplas, diversas e variadas atividades ligadas à Poesia e Cultura, conforme consta na contracapa do supracitado livro em apresentação.
Na mesa, além da Autora, o Prefaciador, já referido; a Professora Maria Adelaide Silva, que analisou a obra e os Amigos, Poeta e Poetisa: Luís Alves e Clara Mestre.
Todos, a seu modo e ver, falaram sobre a Autora e o seu trabalho desenvolvido, enaltecendo e reconhecendo-lhes o valor merecido. A Pessoa, a Poetisa, a Mulher de Causas! A Poesia, a SCALA, Almada!
Mimi, como gosta que a tratem e afinal a apresentação era também uma celebração da Amizade, agradeceu a todos os presentes, a todas as Entidades envolvidas: SCALA, Juntas, Vereadores, Câmara Municipal, Família, Amigos, às várias Pessoas que tornaram possível o evento. À Autora da capa, Maria Manuel Pires, que foi apresentada à assistência, chamando-a à mesa.
E, de pé, que a Poesia diz-se de pé, alguém frisou da assistência, disse: “Ninfa do Tejo”!
E este foi o mote estrutural para se abrir um cenário dedicado à Poesia, dita pelos vários Poetas, Poetisas, Dizedores presentes. De, e a partir de “Entre o Céu e a Natureza”!
E num entrecruzar de sensibilidades poéticas, ouvimos os Dizedores, Luís Alves e a Esposa; Clara Mestre, a própria Gertrudes e mais duas Senhoras, que também costumam frequentar as sessões de Poesia da SCALA e, que me perdoem, ainda não consegui fixar o nome.
De Utopia a Novo Amanhecer, Grito de Alma, Espelho, O Teu Sorriso, Saber Ouvir, A Cidade, Princesa e ainda homenagens a Fernando Pessoa e Alexandre Castanheira, de quem já aqui falámos também, foi gratificante, como sempre, ouvir, escutar Outros a dizerem Poesia!
Obrigado!
E António Matos finalizou esta parte do evento, iniciando com “Era branca a pomba, …” primeiro verso do Poema que transcrevo e que encerra o livro.
«Mensagem de Paz»
«Era branca a pomba,
Que vinha do espaço,
Voava baixinho
Pousou no terraço.
Fiquei a olhá-la
E então reparei
Que pomba igual
Eu nunca encontrei!
Veio lembrar ao mundo
Que há falta de paz
E que o homem de hoje
Não sabe o que faz.
Parem de matar!
Juntem vossas mãos
E num abraço fraterno
Sintam-se todos irmãos.
Lutem pela paz,
Sejam bem unidos,
Pousem vossas armas
Como bons amigos.
A pomba sorriu,
Seu recado deixou
E batendo as asas
Para o espaço voou.»
E “Entre o Céu e a Natureza”, num diálogo de sentimentos nobres e bons, finalizámos com uma “Mensagem de Paz”!
E ouvir Francisco Naia, as suas belas músicas e a sua poderosa voz de tenor, ficará para próxima oportunidade…
*******
Notas Finais:
E, em paz, também fico eu que, finalmente, consegui ter oportunidade para publicar mais um post. Que isto da Vida, nem sempre é como a gente quer!
Celebrou-se, ontem, vinte e sete de março, o “Dia Mundial do Teatro”.
Por todo o Mundo ter-se-á comemorado esse acontecimento.
Portugal não foi exceção. Almada ainda menos.
Não viu ainda a peça “Bonecos de Luz”, baseada na obra homónima de Romeu Correia, pela Companhia de Teatro de Almada, precisa e sintomaticamente no Fórum Romeu Correia?!
Então de que está à espera?
(Cortesia Companhia de Teatro de Almada)
“ – Acha que valeu ou não a pena ter desligado o seu telemóvel durante uma hora?...”
Pergunta formulada aos espetadores, por um dos protagonistas da peça, o Lopes, o projecionista dos filmes de Charlot, que, no final, nos interpelou a todos que assistimos ontem.
Formulará essa questão todos os dias, certamente!
Se quer saber a sua resposta, só mesmo indo assistir.
Por mim, por nós, valeu bem a pena!
Falta você ter a oportunidade de formular o seu próprio juízo de valor.
E não quer também acompanhar o Zé Pardal, o velho oleiro e sua amante Carriça, que também é percussionista (?!); a filha do oleiro, Miquelina, o dono do cinema ambulante e o referido Lopes, em triangulação amorosa?!
A Dona Fausta, igualmente guitarrista, que tornou o Pardal seu herdeiro universal, após ele ser aperfilhado?
E o pedinte, disfarçado de cego, que Zé Pardal acompanhava nas pedinchices, provavelmente à saída dos cacilheiros vindos de Lisboa?!
E há aqui alguma incongruência ou lacuna nestas interpelações, nomeadamente no referente a personagens?!
Há? Haverá?!
Só indo assistir poderá saber.
E termino com a deixa final, também interpelação e convite, exarada por Isabelle Huppert, atriz francesa, a quem coube este ano redigir a mensagem alusiva à efeméride.
E mais algumas considerações e apartes, a propósito ou nem por isso.
(1 de Outubro de 2016)
Não, não me esqueci de cronicar sobre este relevante evento. Outras escritas, afazeres da vida real e só hoje me é possível.
Antes de mais, e ainda, não quero deixar de assinalar a data de hoje, sete de Outubro. E a de amanhã.
A de hoje, sete, porque era nesta data que, quando estudava, se iniciavam as aulas, nomeadamente as da Primária, as do Colégio e as do Liceu.
Dir-me-á: - Isso é pré- história.
Nem mais!
A de amanhã, oito, também é especial, no contexto em que escrevo.
Fará dois anos que iniciámos este blogue!
Peculiar que tenha sido também com uma crónica sobre Cante e Poesia!
E vamos então ao 6º Serão de Cante e Poesia Alentejana.
Ocorrido no passado sábado, um de Outubro, “Dia Internacional da Música”, no Fórum Romeu Correia, Auditório Fernando Lopes Graça, em Almada.
Divulguei previamente e, mais uma vez se confirma, que “Almada é a Capital do Cante”! Pelo menos aqui, nesta “Grande Lisboa”!
E sobre o dito espetáculo e antes de entrar propriamente na sala, quando o divulguei, mencionei a dificuldade de arranjar bilhetes no Fórum Romeu Correia.
Exatamente.
No próprio dia, apenas quando eram disponibilizados, o que acho bem, cheguei antecipadamente meia hora e já havia fila de cerca de trinta pessoas.
De modo que me questionava se conseguiria obter ou não os bilhetes.
Fui ficando e, nestes contextos, mais tarde ou mais cedo, vai-se falando. Naturalíssimo.
Ocorrem também sempre aqueles casos habituais, de alguém que se chega à frente, perto de pessoa amiga e segreda “encomenda” de mais alguns bilhetes.
Mas estas cenas não passam despercebidas e alguém comenta sobre as célebres “cunhas e pedidos”. Famigerados, eles e mal-afamadas, elas!
Por ironia, quem comentou haveria de ser contemplado com um bilhete doado por amigo que, estando à frente na fila, resolvera requisitar mais um ingresso, para oferecer a quem estava mais atrás.
Logo oportunidade para outro alguém retorquir, que havendo comentado da “cunha”, não deveria ter aceitado o presente do amigo.
Sim ou não, o que acha?!
Aproveitei para lembrar o aforismo de que “a cavalo dado não se olha o dente”! Que até poderia parecer mal agradecido.
E friso que em boa hora o aceitante aceitou, porque, quando chegou a sua vez, apenas um conseguiu.
Não aceitasse e só um bilhete obteria, o que o impossibilitaria de ter levado a esposa, conforme confirmei no espetáculo, à noite.
E vamos então falar do espetáculo, propriamente dito?!
Sala repleta, como se depreende.
Espetáculo extraordinário.
Mas ainda vai outro aparte.
O Auditório continua sem refrigeração. Já no Verão, a propósito do Ciclo de Cinema Brasileiro, disso faláramos.
Com a sala cheia…
Registe-se.
E, antes de tudo o mais… E porque é imprescindível.
Dar os parabéns a todos os participantes no evento, a todos os que contribuem para a respetiva organização e logística, que não apenas os que presenciamos no espetáculo propriamente dito. São muitas as pessoas envolvidas, em diferentes contextos.
Também realçar o papel das entidades e organismos oficiais que apoiam estes Grupos, nos mais diversos enquadramentos.
Não podemos esquecer que estes Artistas, sejam cantadores, cantadeiras, poetas e poetisas, exercem estas funções, desempenham estes papéis, como Amadores, no melhor sentido da palavra. Para todos os efeitos, trabalham num sistema de Voluntariado.
Daí o nosso realce especial, inteiramente merecido!
E agradecer.
Obrigado, a todos pelo excelente Serão que nos proporcionaram.
Sobre os participantes segue-se o cartaz com as respetivas designações.
Parabéns, sempre muito especiais, ao Grupo do Feijó que, neste contexto, é o Grupo Organizador.
Sobre o espetáculo, os Cantares, a Poesia, digo: Adorámos.
Se realçasse alguns aspetos ou momentos, fá-lo-ia pela novidade para mim, que não conhecia as respetivas atuações.
O Grupo Juvenil, nunca ouvira tal.
E alguém pode ficar indiferente àqueles rouxinóis, joselitos e marisóis, com os seus trinados e requebros, que nos tocam o coração e nos humedecem a visão?
Excelente o trabalho do Professor e Mestre!
Também assinalaria o Grupo Abelterium, que apesar de ser dos meus lados, também não conhecia.
Para além da alegria contagiante das cantigas, que dimana da sua atuação, eu realçaria o que mais me tocou: a interpretação de “Serpa de Guadalupe”!
E então esqueço os outros Grupos e Artistas?!
De modo algum.
Obrigado ao Grupo do Feijó, ao Grupo da Academia de Serpa, ao Grupo Recordar a Mocidade, à Poetisa Rosa Dias e ao Poeta Luís Maçarico.
Todos nos ficaram no coração e nos proporcionaram gratificantes momentos artísticos, que nos enriquecem espiritualmente e a eles enobrecem, pela sua atitude altruísta e a quem ficamos gratos.
Obrigado.
Que estes espetáculos, além de excelentes, são gratuitos!
“As coisa boas da vida, os sonhos, o que desejavam ser quando fossem grandes...”
Algumas das proposições colocadas a crianças a entrarem na puberdade, num estudo feito em bairros pobres da cidade de Nápoles, em finais dos anos noventa: 1999(?).
Feita essa observação inicial voltaram as mesmas pessoas a serem estudadas, passados mais de dez anos, já na segunda década do terceiro milénio, (2013?), personagens – atores da vida real, agora no início da idade adulta.
De entre os vários entrevistados, escolheram os realizadores deste filme documental, Agostino Ferrante e Giovanni Piperno, quatro, para testificarem o estudo efetuado para este documentário, definindo-os como protagonistas: Fábio, Adele, Silvana e Enzo.
Dizem os especalistas das problemáticas da “mobilidade social” que o “grupo social de origem” de um indivíduo condiciona o seu estatuto social futuro e marca a sua trajetória. Que normalmente indivíduos com baixos níveis de rendimento e de escolaridade têm as suas possibilidades de ascensão social diminuídas.
E é precisamente também o que se verifica na trajetória social e no percurso destes quatro “personagens” reais.
Nos finais da meninice, os sonhos e projetos, passavam por ser: cantor, futebolista, modelo, dançarina. E não passaram disso, de sonhos.
A escola arredia para todos.
A realidade mostrou-se cruel e a vida continuou madrasta.
Nascendo e vivendo em meios pobres, bairros desencantados, vidas desestruturadas, a rejeição da Escola, alguns no limiar ou no meio da pequena criminalidade, a idade adulta não se manifestou mais redentora.
E ainda que a “Crise” possa ser sempre considerada causadora da desgraça, da falta de perspetivas e de futuro, certo é que o estigma já lá estava, no meio social de nascença.
Os pobres tendem a continuar a ser pobres, ainda que nos custe e doa termos de admitir isso.
E quando não cumprem a Escola, que sendo um direito é também um dever, mais portas se fecham.
Por vezes e para alguns abrem-se portas de libertação, de que o futebol é um escaparate.
(Mas, para um Ronaldo, um Ricardo Quaresma, um Renato, quantos ronaldos, quantos quaresmas, quantos renatos ficam pelo caminho, nas margens transgressoras e cruéis da vida?)
É este desencanto, este desalento, esta falta de esperança, que o documentário nos mostra.
Tão mais difícil é essa desejada ascensão social, quando a construção do futuro e a idealização de projetos passam pela rejeição da Escola, pela ausência, pela fuga da mesma.
E dizem também os especialistas que a progressão nos níveis de escolaridade é também um meio e uma possibilidade de melhorar a sua condição social.
E o futuro daqueles jovens pouco progride face ao passado.
Melhoram materialmente as condições de vida, (melhoram?), pelo menos nalguns sinais. O acesso às novas tecnologias é já uma corriqueirice, ter um telemóvel topo de gama quem não tem? Nem gente é, se o não tiver!
Aliás esse é um dos modos de vida corriqueiros: calcorrear bairros e ruelas sujas, a vender pacotes redentores de acesso telefónico: Tele 2, Vodafone. As mesmas multinacionais, vendendo os mesmos pretensos sonhos ou soporíferos para sonhar. Os mesmos produtos, idênticos serviços, angariadores semelhantes, jovens desalentados, tocando campainhas e ouvindo negas, quando não más criações. Igual por todo o lado: globalização na sua pior faceta.
Este era o trabalho de Enzo, a criança púbere que cantava com o pai nos restaurantes à procura de umas liras ou de uns dólares, de algum americano transviado de Pompeia. (Ou de uns euros, não sei se em 99 já havia o euro!)
Em adulto recusava-se a cantar. Perdera a confiança em si mesmo.
Finalmente, e já após as filmagens terminadas, os realizadores tê-lo-ão convencido a aventurar-se novamente na cantoria e foi gratificante ouvi-lo e vê-lo interpretar uma das suas cançonetas tradicionais, enquanto o genérico do filme nos era apresentado.
Verdadeiramente esse foi o único momento redentor do filme documental. O único sinal de Esperança!
(E é interessante constatar que o público, que já se havia levantado para sair, a grande maioria dos espetadores nunca fica para ver o genérico dos filmes; algum público, perante a audição de Enzo, reteve-se na coxia e aí, de pé, concluiu a visualização do filme, ouvindo o jovem a cantar!)
E os outros três protagonistas?!
Das raparigas não as consigo distinguir pelo nome.
Uma delas, já mãe, com o companheiro mais uma vez na prisão. E agora também um irmão.
Cumpria os rituais de mãe, dona de casa e mulher em visita a familiares presos.
A outra rapariga, a que em miúda já ensaiava a dança no varão, pois é disso que agora faz profissão em part-time.
O outro rapaz vive ainda com a mãe, arredio da vida; e do trabalho, a fugir como diabo da cruz. Marcado pela ausência do irmão, morto, (colateralmente?), numa rixa de gangues controladores do mundo do crime napolitano e mundial.
Enzo tenta convencê-lo a trabalhar na venda dos pacotes telefónicos, ainda andou algum tempo nesse bate porta, janela e varanda, a angariar subscritores, mas acaba por enfastiar-se, que é “trabalho de escravo”.
Cenários reais, fachadas, corredores e casas dos bairros sociais, uns velhos, outros mais recentes, mas a mesma imagem de degradação e miséria. A célebre autoestrada, megalómana e prepotente, sobrevoando e espezinhando, em viaduto, por cima da cidade, dos bairros da pobreza e exclusão, lembrando também as cenas marcantes da série “Gomorra”.
Por vezes, imagens da baía, evasão e entretenimento (?) e do porto e os seus “negócios” portuários.
Marcante a imagem dos vulcões.
Em pano de fundo, sempre, o Vesúvio, a lembrar o passado, Pompeia, e a eventualidade e iminência de uma futura tragédia. Não sabemos é quando ocorrerá!
E é disto que trata o filme documentário: pobreza, exclusão social, desalento, desesperança, iminência de tragédia, conformismo e aceitação do destino, sem Destino!
Um clássico, de há mais de meio século, “8 e ½”, do Mestre Frederico Fellini, de 1963, teve honras de abertura. E quatro filmes recentíssimos, deste milénio.
“Anime Nere” / “Almas Negras”, de Francesco Munzi, 2014; “Suburra”, de Steffano Sollima, 2015; “Le Cose Belle” / "As Coisas Boas", de Agostino Ferrante e Giovanni Piperno, de 2013; e “Lo Chiamavano Jeeg Robot” / “ They Call me Jeeg Robot”, de Gabriele Mainetti, de 2015.
Visualizei o “Clássico” e o filme – documentário “Le Cose Belle”.
E, no final do mês, irá decorrer a “11ª Mostra do Cinema Brasileiro”, com um cartaz sempre muito apelativo. A que apetece sempre voltar.
Vai iniciar-se a 27 de Julho, com "Chatô - O Rei do Brasil" e, a vinte e oito, passarão "Em Nome da Lei", nomeadamente com estes três emblemáticos atores, figurando no cartaz.
Dos exemplares das Antologias em que tenho participado, ao longo destes anos, costumo distribui-los, oferecendo-os a pessoas amigas ou familiares, que, à partida, julgo que os irão apreciar. Até ao momento, nunca tive a preocupação de “vender” um exemplar sequer. Guardo um ou dois exemplares para mim, alguns parcialmente autografados, de modo que das Antologias em que participei poucos livros ainda tenho.
Também tenho costumado oferecer às Associações de Poesia a que pertenço, bem como um exemplar em algumas Bibliotecas mais significativas para mim, isto é, aquelas que eu, de algum modo, tenha frequentado ou visitado. Assim tenho distribuído antologias por várias Bibliotecas do Alentejo, de Lisboa e Margem Sul.
Conhecedora desse facto, a Presidente do Círculo entregou-me três exemplares para eu “depositar” em Bibliotecas. O que, neste momento, está feito, em nome da Direção do Círculo Nacional D’arte e Poesia, que foi assim que registei nos livros.
Entreguei um exemplar na Biblioteca José Saramago, no Feijó; outro na Biblioteca do Fórum Romeu Correia, em Almada; e o terceiro exemplar, na Biblioteca Municipal de Portalegre. Quero frisar que as pessoas que receberam, funcionários das Bibliotecas, foram simpatiquíssimas, agradecendo, como é natural. Frisei que os livros seriam para acervo das respetivas Bibliotecas, o que me foi garantido.
E chegando a este ponto, questionar-me-ão: “Mas o que tem tudo isso de caricato?!”
Bem… Embora neste blog, “aquém-tejo.blogs.sapo.pt”, esteja ainda a decorrer a divulgação das poesias apresentadas na Antologia, não quero deixar de narrar o acontecimento, mais ou menos “caricato”, ocorrido no dia do lançamento, 15 de Dezembro, 3ª feira, numa Biblioteca relativamente distante do local onde a Antologia foi lançada, São Sebastião da Pedreira. Mais concretamente acontecido numa Biblioteca dum Concelho limítrofe da Capital.
Tendo na minha posse os exemplares que me foram destinados para distribuir por bibliotecas, três, como já referi, e passando perto de uma, resolvi entrar para entregar um dos mencionados livros.
Expliquei o que pretendia à funcionária, que foi igualmente muito simpática, mas, com algum constrangimento, me explicitou que ficava com o exemplar, mas não tinha a certeza se ele ficaria no acervo da Biblioteca. Que teria que encaminhar para os serviços centrais, que depois decidiriam e que não garantia que o livro pudesse vir a pertencer ao espólio da Biblioteca, que até poderia nem sequer ficar, que até poderia vir a ser dado e, em última instância, até ir para reciclagem… E, mais ou menos enquanto me elucidava sobre esta situação, procurava na escrivaninha qualquer coisa, que posteriormente pude saber o que era. Um documento para eu assinar, conforme entregava o livro, que a Biblioteca recebia, mas precisamente como a funcionária me explicara, não era garantido ficar na Biblioteca e, entre as várias hipóteses de destino, lá estava, no final, a possibilidade de ir para a reciclagem!!!
Contra argumentei que não era isso que pretendia, o objetivo era que ficasse na Biblioteca, para futura consulta e nenhuma das outras hipóteses se coadunava com o propósito de oferecer um exemplar de uma Antologia de Poesia, acabada de ser lançada, de vários Autores que, com tanta estima, divulgam o que escrevem…
A senhora mostrava-se, de facto, muito constrangida, mas frisava que essa era a norma da Biblioteca…
Referi que têm no acervo várias antologias para consulta, que já li algumas, numa das quais até participo.
Esclareceu-me serem obras de pessoas do concelho… Ao que respondi que, nesta provavelmente também haveria pessoas de algum modo ligadas ao Concelho.
E o diálogo centrava-se neste plano, sem saída airosa para o que eu pretendia. Argumentei que não deixava numa Biblioteca um exemplar de um livro a que todos os envolvidos dedicaram tanto carinho, que era oferecido precisamente nesse espírito, para ser lido, estar à disposição de quem por ele se interessasse e que ao deixá-lo, não tinha a garantia de que essa fosse a sua função e cujo destino final, poderia ser a reciclagem! Que é como quem diz, o lixo!
Dá para imaginar?!
Enquanto decorria este diálogo, um jovem aguardava, pois que requisitara uns filmes e precisava que a senhora fizesse o respetivo registo de empréstimo. Simultaneamente assistia à conversa, cada vez mais interessado e quase pronto a participar e, ao mesmo tempo, não tirava os olhos do livro, com uma avidez, um interesse manifesto, como se quisesse, sem exagero, “comer o exemplar” com o olhar. Por vezes, também, olhando para mim, com um ar estupefacto, como se me quisesse mostrar a sua perplexidade, e dizer: “ Já viu o disparate?! Querer você ofertar, com toda a estima e consideração, um livro, a uma biblioteca e, praticamente, não o quererem aceitar?! E até, em última instância, poder até ir para a reciclagem, um livro, novo, recentemente editado?!”
Perante a conversa da funcionária, dá para calcular que, de modo algum, eu me sentia motivado a deixar-lhe o exemplar da Antologia.
E, observando as reações do rapaz, interpelei-o, se ele gostava do livro, se gostava de ler, se iria lê-lo, se gostava de poesia…ao que ele, imediata e espontaneamente, me respondeu que sim, verbalmente; mas também na expressão, facial, fazendo o gesto afirmativo com a cabeça, como corporalmente, através do gesto de receber essa dádiva, esse presente, explicitamente, para o próprio, de grande valor.
E então, caro/a leitor/a, qual acha que foi o meu procedimento?
Terei deixado o livro na Biblioteca onde era suposto ele ficar ou tê-lo-ei oferecido ao moço?
Como procederia o caro/a leitor/a?
(… …)
Ainda, num breve diálogo subsequente, fiquei a saber que o rapaz também gosta de escrever… poesia. Ficou de deixar alguns textos seus na referida Biblioteca, para eu ler e apreciar.
Não mais conseguir voltar ao local. O que farei, logo que puder, e confirmarei com a senhora bibliotecária se ficou algum “rasto” desta conversa e desta situação “caricata”.
E tenho dito sobre esta ocorrência, mais ou menos “sui generis”, um tanto ou quanto burlesca, até com alguma graça.
Quando e se tiver mais alguma informação tentarei dar conhecimento.
Quando puder, visite qualquer uma destas Bibliotecas, que são interessantíssimas, sob todos os aspetos, e organizam, regularmente, eventos variados e igualmente muitíssimo interessantes! Sobre alguns já aqui tenho feito algumas referências e publicado posts.
Já tenho divulgado neste blogue várias iniciativas culturais realizadas no Concelho de Almada. Uma parcela pequena das que efetivamente se realizam. Das que tenho o grato prazer de assistir.
Uma parte efetivamente diminuta das possibilidades que esta Cidade nos oferece. Também nem de todas me debruço nos posts.
Nos mais variados e diversos contextos em que estes termos podem ser equacionados…
Um dos campos culturais que mais me motivam é o Cinema, a 7ª Arte, nos seus vários enquadramentos.
No Fórum Romeu Correia decorrem, ao longo do ano, vários Ciclos de Cinema.
Já aqui me debrucei sobre o 10º Ciclo de Cinema Brasileiro.
Outros decorreram entretanto, mas que não assisti.
Está a decorrer, conforme título em epígrafe, o 6º “Ciclo de Cinema Católico”.
Ontem, tive o grato prazer de assistir ao filme estoniano/georgiano, “Tangerines”, de Zaza Urushadze.
Já foram exibidos os filmes “Um Homem para a Eternidade”, de Fred Zinnemann e “Os Olhos da Ásia”, de João Mário Grilo.
Prevê-se, para hoje, sábado 12 de Dezembro, o filme “Timbuktu”, de Abderrahmane Sissako.
O filme de ontem, 6ª feira, e o de hoje, sábado, substituem o inicialmente previsto “Os Dez Mandamentos I e II”, de Roberto Benigni, que não pôde ser apresentado, segundo me esclareceram, porque tiveram um problema com a legendagem do original.
Amanhã, domingo dia 13 de Dezembro, está previsto o admirável filme soviético “Andrei Rublev”, de Andrei Tarkovsky.
Lembro-me de o ter visualizado, quando foi estreado em Portugal, na década de oitenta, 1983, no saudoso Cinema “Quarteto”.
Sobre este Ciclo de Cinema e a sua designação, gostaria de questionar.
Que sentido faz nomear este Ciclo de Cinema como “Católico”, apenas Católico?!
Tenho consciência que a organização pertence a pessoas e estruturas da Igreja Católica, ponto final. Presumo que de Almada. Mas esse aspeto, per si, justifica o nome?!
Não será reducionista “etiquetar” o Ciclo como “Católico”?!
A temática da filmografia é muitíssimo mais alargada, sob todos os aspetos, tanto num contexto espacial como temporal. Em todos os âmbitos culturais. E sociais. Religiosos até!
Num contexto de “Mundo Global”, o título do Ciclo limita muito e “à priori” restringe demasiado os assuntos, os temas, os problemas que posteriormente são abordados nos filmes que são riquíssimos e muito bem escolhidos.
Será que não faria mais sentido designar o “Ciclo” com um título mais abrangente e mais globalizante, tanto no que respeita às temáticas, como aos objetivos, salutares, frise-se, que este “Ciclo de Cinema” nos proporciona?!
Se fosse intitulado de “Cristão” seria mais abrangente tanto espacial como temporal e culturalmente. Ainda assim seria reducionista.
Se a designação fosse “Ecuménico”, o título aproximar-se-ia cada vez mais do conteúdo e móbil do Ciclo, mas ainda assim não abrangeria toda a riqueza ideativa da respetiva filmografia.
Talvez, e repito talvez, o termo “HUMANISTA” seja o mais adequado. Apesar de nos podermos também interrogar se com esta palavra, ao centrarmos o tema no “HOMEM”, não estarmos também, de algum modo, a restringir a ideia de “DEUS”.
E a “idealização divina” perpassa sempre explícita ou implícita nas temáticas abordadas.
Mas não terão os credos religiosos na sua base o “HOMEM” na sua elevação para “DEUS”?
E não é o Homem que importa “trabalhar”, para o fazer “alcançar” Deus?!
Um contraponto à crescente "desumanização" das Sociedades.
Deixo estas reflexões à consideração dos organizadores.
Ah! E Parabéns pelos belos e excelentes filmes que nos proporcionam!
Nota Final: Foto original de D.A.P.L. - Solar dos Zagallos, Sobreda, Almada, 2015.
“Nós Somos um Poema” / “Língua – Vidas em Português”
“Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”
INTRÓITO
Terminou no domingo, 26 de Julho, a 10ª Mostra do Cinema Brasileiro, no Auditório Fernando Lopes-Graça, no Fórum Romeu Correia – Almada.
Estão de parabéns os organizadores pois proporcionaram a oportunidade de visualização de excelentes filmes e documentários sobre temáticas atuais ou relativamente recentes, assistir a prestações/representações de grandes artistas, alguns de nomeada, mas também outros que me eram praticamente desconhecidos. Oportunidade de relembrar músicas e canções, algumas integrantes do imaginário coletivo, desde os anos sessenta e setenta do século passado. Presenciar autores, atores, cantores e compositores, músicos, escritores, dramaturgos, cidadãos anónimos que, de viva voz, ainda que alguns já possam estar ausentes, nos evidenciaram como viva está a Cultura que se exprime nas várias Línguas, cuja matriz de base é o Português.
Gosto de ver os elencos de todos os participantes nas obras apresentadas, até porque no final, enquanto passa o genérico, aproveito para usufruir da música e é extraordinário constatar a imensidão de gente que é necessária para produzir qualquer documentário ou filme!
E não posso deixar de frisar que o acesso a todos estes espetáculos foi livre!
Talvez alguns reparos.
Bem sei que já está toda a gente com ar de férias, mas alguns destes espetáculos talvez merecessem algum debate posterior, não sei… digo eu.
Independentemente do eventual ou hipotético debate, que até poderá ser considerado excessivo, porque o importante é, de facto, fruirmos dos espetáculos, contudo acho que poderiam fazer uma breve avaliação, através de um simples questionário facultativo, a ser apresentado aos espetadores, no final.
Do conjunto de obras que vi, categorizam-se em dois grupos.
- Os filmes: “Vendo ou Alugo”, “Divã”, “Os 12 Trabalhos”, “Tapete Vermelho”.
- Os documentários: “Nós Somos um Poema”, “Língua – Vidas em Português”, “Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”.
Dos últimos filmes que vi, destaco o último, com que a Mostra fechou com chave de ouro!
Uma excelente comédia, de 2006, do realizador Luiz Alberto Pereira, cujos atores principais mal conhecia. Matheus Nachtergaele, no papel excecional de Quinzinho, cujo sonho é levar o filho a ver um filme de Mazzaropi (1912 – 1981), o “Carlinhos”/Charlot, brasileiro, num cinema de uma qualquer cidade do Estado de São Paulo, onde ele esteja passando… No cumprimento de uma promessa que fizera a seu pai, que também o levara a ver filmes desse cómico.
No objetivo de realizar esse sonho, deixa a sua rocinha, no interior sertanejo de São Paulo, arrastando a família: a mulher - Zulmira, o filho - Neco e o burro, Policarpo, quatro Jecas ingénuos, trasladados de um tempo remoto dos anos cinquenta, confrontando-se com as realidades de um Brasil em constante transformação, do início do século XXI.
Num mundo em que os seus sonhos têm um difícil cabimento, mas em que apesar de tudo ainda são suscetíveis de realização, usando precisamente as armas do mundo globalizado. Pois, no final, todos reveem, com alegria, os filmes do cómico, numa sala lotada de um cinema Pathé.
O filme é suscetível de múltiplas leituras.
Uma delas é a homenagem a esse astro do cinema brasileiro, cuja carreira se desenrolou precisamente a partir de 1959, até à sua morte, 1981.
Também o encararia, numa perspetiva de “realismo fantástico”. A mulher, Zulmira, mulher de poderes; as personagens episódicas, sugestionando o “Maléfico”.
Não poderei deixar de frisar, nesses curtos trechos do filme, a relação dessas crendices com as superstições portuguesas de igual teor. Os pés de cabra do demo, o seu esfumar-se, os supostamente poderes que ele daria a quem se deixasse por ele pertencer. A mamadeira da cobra…Tradições medievas, ainda e também há pouco tempo presentes na cultura popular do interior de Portugal.
As personagens também me lembram o universo felliniano. A sua ingenuidade, o seu calcorrear de saltimbancos anacrónicos em busca da realização de um sonho, o percorrer de um espaço e de um tempo, num mundo a que já não pertencem, mas em que procuram um lugar para materializar as suas aspirações, sem desistirem de sonhar.
A criança, na sua vitalidade e deslumbramento só me lembra Giulietta Masina.
E à realização do sonho de verem projetado o filme do seu ídolo e herói, segue-se o projeto de outro: cumprir a promessa à Senhora da Aparecida.
Nestes filmes, as músicas são algo de extraordinário!
Se tiver oportunidade, não deixe de assistir a este filme, num cinema perto de si! Ir-se-á divertir imenso!
Para além deste, os filmes, “Vendo ou Alugo” e “Divã”, também se integram no género comédia.
Com elencos de atores excecionais. (O que me custa escrever esta palavra sem o p!)
“Vendo ou Alugo”, de 2013, realização de Betse de Paula, relata as peripécias para a venda de uma mansão carioca antiga, junto da qual foi sendo construída uma favela, o que dificulta a respetiva transação.
Pertença de uma família de quatro mulheres, de quatro gerações, coabitando o mesmo espaço já um pouco decrépito, sem recursos suficientes para viverem segundo os seus antigos padrões de vida. Pelo que a avó sobrevive de expedientes, mais ou menos legais.
Contracenam nos correspondentes papéis familiares: Nathália Timberg, bisavó; Marieta Severo, avó; Sílvia Buarque, mãe e Beatriz Morgana, neta. E ainda, para além de outros atores, Marcos Palmeira, no papel de habitante e traficante da favela.
Há ainda o pastor, a empregada, o “coisa ruim”, as artistas do jogo da “canastra”…
História de múltiplas peripécias cheias de humor.
Imperdível de ver!
Só como nota final, gostaria de referir que alguns dos intervenientes neste filme têm também laços de parentesco na vida real.
“Divã, de 2009, do realizador José Alvarenga Jr, tem como atriz principal Lília Cabral, num soberbo desempenho, contracenando com José Mayer, para além de outros atores, também conhecidos das novelas.
É também uma excelente comédia de uma mulher de meia-idade, bem casada, bem vivida, aparentemente feliz consigo mesma e com a vida que leva, que de uma forma muitíssimo divertida e inteligente se (re)descobre a si mesma, através da psicanálise.
Cinco estrelas!
“Os 12 Trabalhos”
O título reporta-nos para o mito grego dos doze trabalhos de Hércules.
Porque o herói desta saga se chama de Héracles, papel principal desempenhado pelo jovem e promissor artista, Sidney Santiago e porque o seu trabalho de moto-boy na selva da cidade de São Paulo é um trabalho hercúleo dos tempos atuais.
Insere-se no género drama e mostra-nos como se desenrola a vida humana (humana?) na selva urbana desta metrópole brasileira e de como é crescer, fazer-se homem ou herói (?) da mitologia moderna.
E, este é um filme que também não deve perder, logo que esteja num cinema junto a você!
Ver filme em cinema não tem comparação com ver em TV e muito menos na internet.
É de 2007, realizado por Ricardo Elias.
Para além dos filmes resumidamente analisados, também projetaram os seguintes documentários:
“Nós Somos um Poema”
“Língua – Vidas em Português”
“Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”.
Através deles muito perpassou do Brasil, de Portugal e de Países de Expressão Portuguesa.
“Nós Somos um Poema”, de 2007, é um pequeno documentário, mas extremamente rico de história da Música Popular Brasileira - MPB. Dos realizadores, Sergio Sbragia e Beth Formaggini.
Relata episódios da gravação do filme “Sol Sobre a Lama”, de 1963, de Alex Viany, incidindo sobre a parceria entre Pixinguinha e Vinicius de Moraes que compuseram a respetiva banda sonora, que ficara inédita.
Com imagens do próprio filme, gravações da época, por ex. a cantora Elza Soares a interpretar uma das modas num programa de rádio; para além de gravações atuais dessas canções, por netos dos referidos parceiros da MPB. E relatos de figuras significativas sobre esse trabalho desses dois génios da Música.
“Língua – Vidas em Português”, do realizador Victor Lopes,de 2002.
Um extraordinário documentário sobre a Língua Portuguesa. Ou melhor, parafraseando Saramago, é sobre as Línguas que se expressam em Português.
Não direi que é um documentário completo e exaustivo. E será isso possível, dada a riqueza da nossa Língua e a sua dispersão e difusão pelo Mundo, numa escala global?
Mas documenta, significativamente, como as Línguas que se expressam em Português se disseminam pelos vários Continentes e documenta-nos novidades completamente desconhecidas.
Ignorava de todo que, no Japão, houvesse para cima de cem mil pessoas que falam o Português. Migrantes de torna viagem, provenientes do Brasil.
Apresenta depoimentos de escritores e artistas, Mia Couto, João Ubaldo Ribeiro, Martinho da Vila, José Saramago, para além de cidadãos comuns que fazem as suas vidas expressando-se nesta Língua centenária, mas em constante transformação.
Na Índia, em Moçambique, no Japão, no Brasil, em Portugal…
Aqui, no Continente, não só o depoimento dos autóctones, mas também de imigrantes de Países das Comunidades de Língua Portuguesa, sediados ou em trânsito pela “Capital do Reino”, expressão antiga e desatualizada, mas que traduz a caraterística de Lisboa como cidade de acolhimento, desde a época dos Descobrimentos.
Significativa a opinação de Saramago, prestada com imagens de Lisboa em fundo…
E em que local foram feitas as filmagens?!
Pois, precisamente. Em Almada. No Cais do Ginjal!
Este é um filme documentário, é um registo histórico-social que não direi completo.
Precisa de documentar outros registos espaciais de expressão do Português, por ex. nos países de emigração de portugueses: na Europa, nas Américas, na África.
Também em Timor-Leste. Também em São Tomé…
Documentar também outros contextos sociais de expressão da Língua e das Vidas em Português.
Mas acho que é um recurso ótimo em salas de aula, nas Escolas, e não só em Portugal.
Oxalá! Titulo da canção de Teresa Salgueiro e dos “Madre de Deus”.
- “Augusto Boal e o Teatro do Oprimido”,2010, do realizador Zelito Viana.
Outro documentário histórico e social, imperdível sobre este modelo de Teatro e o seu criador e continuadores. As suas várias facetas intervencionistas, os seus espaços, tempos e modos de atuação cultural à escala global.
A sua ação político-social em contextos diversificados, no Brasil, em Países da América, da Europa, da África, da Ásia.
Com depoimentos do próprio Augusto Boal e familiares seus, de artistas como Edu Lobo e Chico Buarque e de outros intervenientes e seguidores, para além de excertos de dramatizações efetuadas por grupos que agem e interagem segundo este modelo de Teatro, pelos mais diversos locais do Mundo.
Todos estes documentários e filmes são de alto valor, tanto no plano artístico como documental, no conteúdo e forma como expressam estéticas e éticas das diferentes épocas, desde a segunda metade do século XX.
E que transcendem, em muito, o Brasil, pois neles se espelham também outras expressões culturais, com especial relevância as de matriz portuguesa e sul-americana.