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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Ainda sobre o Chamiço…

Enquadramento arbóreo. Foto original. 02.02.23

Na sequência de “Gentes da Gente”, algumas notas finais…

Relativamente ao Passado:

No Chamiço, embora despovoado, a partir de meados do séc. XIX sem vida permanente, os terrenos continuaram a ser cultivados pelos herdeiros dos antigos habitantes, que migraram para as povoações mais próximas:  Aldeia da Mata, Monte da Pedra, Vale do Peso

Esse despovoamento resultou de um processo, que se foi acentuando ao longo dos séculos, a que os “roubos”, no século XIX, determinaram na extinção do povoado. Não foi algo que tivesse ocorrido repentinamente, “de um momento para o outro”.

A narrativa, dos anos 30 do séc. XX, transcrita em Aquém-Tejo, de autoria do Professor Manuel Subtil, (1875 – 1960), de Vale do Peso, é por demais elucidativa desse “mecanismo processual” e temporal. (Os roubos foram a causa próxima, outros diversos fatores, causas remotas.)  

Nas Memórias Paroquiais de 1758, a paróquia do Chamiço já era das menos povoadas, entre as localidades atualmente integradas no Concelho do Crato. (Consulte S.F.F.)

No respeitante à narrativa transcrita a partir de “Etnografia Portuguesa” – Vol. IV – Ed. Imprensa Nacional – 1958 – de Professor Doutor Leite de Vasconcellos – pp 654, 655, convém referir que também se baseia na “tradição oral”. “Assim reza a tradição oral.”

Também tem algumas incorreções, nomeadamente:

Referir que Quem primeiro abalou, foi uma lavradora, de apelido Carita…” (Porque não foi.)

“… um terreno, de irregular superfície, com uma área de uns 400 metros quadrados…”

(Ora, 400 metros quadrados correspondem a um quadrado de 20 metros de lado! Dimensão bastante inferior ao que o antigo povoado ocuparia. Esse espaço será mais ou menos a dimensão em redor da igreja. E da igreja até às últimas casas a sul? E da igreja até ao moinho, forno comunitário e ponte?! A dimensão do povoado é bem maior.)

Também é relevante frisar que, em “Etnografia Portuguesa”, na parte referente ao Chamiço, não são mencionados a ponte, o forno…! Será que o Professor lhes terá feito referência noutras obras?! Não terá visitado?!

Também há um incorreção referente a “orago Martle Santo”, referindo que “não conste da Corografia de P.e Carvalho”, (pag. 654, linhas 24 / 25 - Etnografia Portuguesa).

Ponte. Foto original. 02.02.23.

No referente ao Presente:

A Romaria e a Ermida são elementos estruturantes do Património do Chamiço.

Mas o Património Material do Chamiço engloba várias componentes: as casas, embora em ruínas; o moinho, ainda com muitos dos elementos básicos. O forno comunitário e a ponte!

Todos precisam ser valorizados e salvaguardados. Já no presente. Acautelando o futuro. Para que não se transformem todos em ruínas.

Há ainda o Património Vegetal, constituído por espécies autóctones. Cada vez mais é imprescindível valorizarmos o coberto arbóreo. Pensando também no futuro!

Os elementos naturais associados ao granito. Os rochedos monumentais! As rochas transformadas, aparelhadas. A ribeira. A barragem, que precisa ser reconstruída.

(As caminhadas são também importantes para darem a conhecer e valorizar os espaços. Criar trilhos pedestres incorporados nas paisagens, partindo e ligando os povoados mais próximos, com passagem pelo Chamiço. No Couto do Chamiço, a “Pedreira das Mós” é também um elemento patrimonial relevante.)

E na preparação do Futuro?!

Integrando as diversas variáveis, reportando-se ao passado e ao presente, o “Chamiço” precisa ser classificado como “Sítio Monumental”! Englobando Património Material e Imaterial.

Esta ação tem de ser integrada e integradora de várias instâncias e entidades, agregando Freguesias, Município, Departamentos Culturais. Entidades públicas, mas também privadas.

Deixo à consideração de quem pode e deve equacionar e operacionalizar tal desiderato.

 

Ainda o despovoamento do Chamiço…

Igreja Chamiço. Foto original. 02.02.23.

A Trisavó Rosa de Matos e o “Monte Chamiço”

Resto de Casa. Foto Original. 02.02.23.

(O que me relatou o Primo António Carita.)

“…Os salteadores foram roubando as pessoas que viviam na freguesia do Chamiço. Que iam ficando sem nada. Devido a essa situação foram abalando, abandonando a povoação com medo dos assaltos. Deslocaram-se para as terras mais próximas: Monte da Pedra, Vale do Peso, Aldeia da Mata, Gáfete… Até que, a dada altura, só lá vivia a Trisavó Rosa com algumas pessoas que para ela trabalhavam enquanto lavradora. Já não havia ninguém na povoação. Já haviam retirado gado, tudo o que pudessem.

Até que um dia, também os ladrões a assaltaram na sua própria casa. Deitaram-na num cadeirão, foram buscar um alguidar, de aparar o sangue dos porcos, e uma faca, ameaçando-a de morte, caso ela não lhes desse o ouro que tinha. “Tem que nos dizer onde tem o ouro, sabemos que tem ouro. Tem que nos dar, se não nos der, matamo-la”. Intimidavam-na.

A Trisavó perante essas ameaças, e nessa aflição, viu-se na contingência de lhes dar o que tinha. Face à situação também ela acabou por abalar da aldeia do “Monte Chamiço”, despovoando-se assim a terra na totalidade. Foi a última a sair da “aldeia”.

A Casa da Trisavó ainda lá existe, na parte central do que resta da antiga localidade, a cerca de oitenta / cem metros da igreja e relativamente à mesma distância das habitações e construções ainda existentes, a sudoeste, junto à ribeira.  …”

*******

Esta é a versão que escrevi a partir do relato oral que me foi descrito pelo Primo António Carita, no dia 12/02/23. A sua Mãe, Tia Maria Carita (1918 – 1997) viveu em jovem, em casa de Tia Maria de Sousa e de Tio Francisco Carita, filho da “célebre” Trisavó Rosa de Matos. A última habitante da antiga povoação do “Monte Chamiço”, juntamente com os seus criados / trabalhadores mais fiéis.

Em todas estas narrativas há algo que nunca foi referido até aqui. Infere-se que esta Trisavó, à data destas ocorrências, já seria viúva do Trisavô João Carita, de quem ela herdou o apelido.

Volto a mencionar que os filhos deste casal foram: Maria Conceição Carita, minha bisavó e de todos as minhas primas em 1º grau, do lado paterno e primo António Carita; Manuel Carita, bisavô de Prima Arlete Carita - e respetivas irmãs e irmão - que me disponibilizou fotocópia do artigo de Prof. Manuel Subtil. E o já várias vezes referido Francisco Carita, pai de Drº João Carita de Sousa, falecido cerca dos trinta anos e sem descendência.

*******

Fotos: Volto a divulgar o Património do povoado, que importa salvaguardar, preservar. Valorizar! Classificar!

1ª foto: A frontaria da ermida, tutelando o postal.

2ª foto: Restos de uma casa a que atribuem funcões na “Romaria de Santo Isidro”, em Maio.

Estrutura cuja funcionalidade parece intrigante.

Foto original. 02.02.23.

A ponte, lado jusante, e parte do antigo moinho.

Ponte. Foto original. 02.02.23.

Parte da estrutura do moinho.

Moinho. Foto original. 02.02.23.

 

O Chamiço em “Etnografia Portuguesa” … (II)

Ponte. Foto original. 02.02.23.

Neste postal nº 1134, ainda me debruço sobre a velha “aldeia” do Chamiço, a partir de:

Etnografia Portuguesa – Tentame de Sistematização – Prof. Doutor José Leite de Vasconcellos – Volume IV –

Lisboa – Imprensa Nacional – 1958

Livro I – A Terra de Portugal – pp. 654 e 655

Terrenos. Foto original. 02.02.23.

(…)

*******

Mó. Foto original. 02.02.23.

«Quando e como se desmoronou o Chamiço?

Dois velhos de Gáfete, que em 1930 contavam respectivamente 80 e 85 anos, referiram-me o seguinte, interrogados cada um por sua vez, e em separado. Em pequenos haviam ainda conhecido o Chamiço, que tinha 8 ou 9 fogos, incluindo a morada do paroco. A povoação constituia frèguesia: orago o Martle Santo (S. Sebastião), - pôsto que isso não conste nem da Corografia do P.e Carvalho, nem do Portugal sacro e profano (serie anexa). – Faziam-se lá festividades, e no largo da igreja touradas: a umas e outras concorria gente do Monte-da-Pedra, Aldeia-da-Mata, Gáfete. Um dos dois velhos assistira ainda a uma corrida de touros, e a uma festividade. Acrescentaram ambos que a destruição da povoação a motivaram continuos assaltos de ladrões: os habitantes, vendo-se desamparados naquele descampado e solidão das herdades, fugiram. Quem primeiro abalou, foi uma lavradora, de apelido Carita, a mais rica da terra: tendo dado tal exemplo, as outras familias seguiram-na, porque menos protegidas ficavam. Até contou um dos velhos o caso de haver sido apernado pelos ladrões um criado da mencionada lavradora, deitado ao chão, e coberto com uma manta; levantando-a, espreitou, e conheceu os ladrões. Por decôro não se declara aqui o nome da terra a que pertenciam.

Assim reza a tradição oral. (…)»

*******

Forno comunitário. Foto original. 02.02.23

(Algumas notas complementares:

Registo algumas referidas no postal anterior. Segui o texto a partir da fotocópia que tenho na minha posse. As mesmas dificuldades na transcrição de palavras com grafia diferente da atual, especialmente nos acentos. Os realces a negrito são de minha lavra.

A fonte informativa de Professor Doutor Leite de Vasconcellos foi também oral. Os dois velhos de idades 85 e 80 anos, terão nascido respetivamente em 1845 e 1850.   Depreende-se do mencionado que não terão nascido no Chamiço, mas em Gáfete.

Quando li este excerto na Biblioteca Nacional, algo que me chamou a atenção foi a expressão “apernado”. Não é uma palavra muito vulgar, mas também era o termo que a minha Avó usava, quando relatava os acontecimentos.

Outro aspeto foi a menção de que a lavradora Carita fora a primeira que abalara. O que estava em contradição com o que sempre ouvira a minha Avó. E, agora, após ler também o artigo de Prof. Subtil reforça essa contradição. Também a versão que Primo António Carita sempre ouvira a sua Mãe, Maria Carita, contradiz essa referência.

A situação de o criado ter reconhecido os ladrões, como sendo de uma localidade próxima, também a minha Avó me contava, mencionando a terra. Que eu, reforçando a atitude de Professor Leite de Vasconcelos, também não revelo. Todavia não deixaria de ser curioso saber qual a terra que os velhos terão referido, se coincidiria com a que minha Avó dizia.

Nas Memórias Paroquiais, de 1758, vem referida esta povoação “Monte Chamisso”.

Estes são alguns dos aspetos que vêm mencionados na Etnografia Portuguesa sobre o Chamiço. Há mais algumas referências etnográficas de interesse. Mas eu, nestes textos, o que pretendia era realçar fundamentalmente as questões reportando-se a essa minha Trisavó, Rosa de Matos, de apelido Carita, do marido, João. Enquadrando todos estes aspetos na premissa / questão inicial sobre as interligações do apelido Carita no Alto Alentejo.

Terreno com barragem. Foto original. 02.02.23

Ainda quero consultar os dados do Arquivo Distrital de Portalegre.

 

O Chamiço em “Etnografia Portuguesa” … (I)

Igreja do Chamiço. Foto original. 02.02.23.

Postal nº 1133: A velha “aldeia” do Chamiço, a partir de:

Etnografia Portuguesa – Tentame de Sistematização – Prof. Doutor José Leite de Vasconcellos – Volume IV –

Lisboa – Imprensa Nacional – 1958

Livro I – A Terra de Portugal – pp. 653 e 654

(…)

«… o Chamiço, no termo de Gáfete (Crato), que em 1532 era uma aldea chamada Monte do Chamiço, e encerrava 36 moradores «dos quais cinco viuvas»; Monte tem aqui significação rural, tão corrente no Alentejo, e aplica-se como parte componente do nome proprio. Ainda no sec. XVII se dizia assim; hoje diz-se apenas o Chamiço, sem Monte preposto.

Se o leitor perguntar em Gáfete onde ficava o Chamiço, indicar-lhe-hão perto da ribeira do mesmo nome e da ribeira de Margem, um terreno, de irregular superficie, com a área de uns 400 metros quadrados, alastrado de pedaços de telhas e onde ha troços de ruas, uma d’elas bem cortada na rocha granitica que forma o sólo, e restos de dezenas de casas. Algumas das casas, de paredes de alvenaria, tinham andar alto; nestas paredes e noutras vê-se ainda de onde em onde rebôco e cal. Numa elevação sobranceira ás ruinas ergue-se uma igreja, sem tecto e desmantelada, com pedaços de altares e de um pulpito por unicos vestigios de culto. Vid. figs. 122, 123, 124 e 125. Não se encontra no Chamiço um unico edificio habitado ou habitavel. … »

Antiga rua. Foto original. 02.02.23

*******

(Algumas notas complementares:

Nesta descrição sobre o Chamiço, excerto do livro supracitado, procurei transcrever conforme o original, de 1958. Que terá respeitado a grafia do Autor, certamente manuscrita, muito provavelmente na década de trinta. Data a que o Professor faz referência sobre as pesquisas, in loco. Tive especial dificuldade nos acentos, pois, no texto que possuo, existem algumas diferenças significativas face à grafia atual, mesmo antes do “famigerado” Acordo / “Desacordo”.

- Frisar também que ainda no séc. XVIII se designava “Monte” conforme mapa de 1762, onde se refere “M.te Camisso”. E, nas Memórias Paroquiais de 1758, também se designa de “Monte Chamisso”. -

O texto em que me baseio resultou de fotocópia tirada na Biblioteca Nacional – Lisboa. Em meados da 2ª década deste séc. XXI.

As figuras a que o Autor se refere estão a preto e branco. Em fotocópia, não dão para reproduzir.

Apresento novamente foto da igreja. E de alguns espaços – ruas. Fiquei intrigado com a referência a rua talhada em rocha granítica.

Também me intriguei com a referência que Primo António Carita me fez sobre a localização da casa da Trisavó.

Em futura visita irei observar melhor estes aspetos.

Antiga rua. Foto original. 02.02.23

Em posterior postal ainda apresentarei referência ao “desmoronamento do Chamiço”, segundo livro mencionado e Autor citado.

E penso finalizar com a versão de Primo António, segundo o que sua Mãe lhe contava. Sua Mãe, minha Tia Maria Carita, que viveu, em jovem, em casa de Tia Maria de Sousa e Tio Francisco Carita, filho da Trisavó do Chamiço, Rosa de Matos. Saberiam bem como ocorreram os acontecidos.)

Rua antiga. Foto original. 02.02.23.

Ver também, S.F.F.

E, ainda, SFF.

A Pedreira das Mós – Couto do Chamiço

Uma entrada de acrobata e saída de javali!!!

A visita à “aldeia” do Chamiço, naquele “Dia da Senhora das Candeias ou da Luz”, no passado 02/02/23, com o Amigo Casimiro, foi uma visita verdadeiramente iluminada. Para além de termos calcorreado o antigo povoado, observando a ancestral localidade, também conhecemos realidades completamente novas.

Mó. Foto original. 02.02.23.

O nosso cicerone, Sr. Aníbal Rosa, fez questão de nos levar a visitar um local que nos era completamente desconhecido e improvável de conhecer, não fora a sua sugestão. - Que ao abalar, o seguíssemos. O que fizemos. Fomos por outro caminho, que se dirige a Monte da Pedra, em muitíssimo melhor estado do que o que trouxéramos à ida. Este caminho vicinal vai desembocar perto de Monte da Pedra, na estrada que desta localidade segue para Gáfete.

Mó e pedreira. Foto Original. 02.02.23.

E que local é esse?! Pois. Precisamente uma pedreira onde eram feitas as mós utilizadas nos antigos moinhos, espalhados pelas redondezas. Até à época em que estes eram utilizados na fabricação de farinha, antes do advento das panificadoras industriais. Talvez até aos anos quarenta / cinquenta do século XX, digamos, como limite aproximado, do findar da respetiva utilização.

pedreira. Foto Original. 02.02.23.

Sensivelmente a meio caminho entre a “aldeia” do Chamiço e a aldeia do Monte da Pedra, parou a camioneta e incentivou-me a saltar a vedação do Couto, encimada por arame farpado, que ele empurrou para baixo, para eu poder saltar, utilizando a rede como escada. Não foi fácil, friso. Estive para desistir, não fora o seu incentivo. Que ele, mais novo, já estava dentro da propriedade. Não foi a primeira vez que fizera essa acrobacia, pois tem levado várias pessoas a visitar o local. (É a sua função de “Cicerone”!)

(O amigo dele, bastante mais velho e o amigo Casimiro, ficaram nas respetivas carrinhas.)

Eu, apesar da dificuldade, consegui ultrapassar o obstáculo (entrada de acrobata) e em boa hora o fiz, porque o local é bem merecedor de visita.

Pedreira. Foto Original. 02.02.23.

No local, existem algumas, poucas, mós, acabadas. Outras em processo de fabricação. Muitos pedaços de pedra, já partidos, mas ainda em bruto, à espera que os cabouqueiros as trabalhem e aperfeiçoem em jeito de mós. (Bem podem esperar, sentadas, melhor, deitadas a esmo, amontoadas na pedreira, esperando hora de abalada, que nunca mais vem.)

A 1ª foto titulando o postal é de uma mó, pronta, para ali abandonada.

A 2ª foto é a mesma mó perspetivada face à pedreira.

As anteriores fotos nº 3 e nº 4 são de excertos da pedreira. Bem como a seguinte:

Pedreira. Foto Original. 02.02.23.

Uma pedra singular, não identificável, em confronto com mó acabada e quase soterrada.

Pedra e mó. Foto original. 02.02.23.

Uma perspetiva do espaço.

Couto do Chamiço. 02.02.23.

Ao longe, uma barragem... O sol a caminho do ocaso... E uma pedra peculiaríssima, dificilmente visível na foto, que merecerá destaque em futuro postal.

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Saída de javali!!?? Porquê?!

Porque, no regresso, já não me atrevi a saltar a rede e optei por uma das saídas utilizadas pelos javalis. (Hão de servir para alguma coisa!) Neste caso, o Srº Aníbal levantou a rede do nível inferior do cercado e eu, qual “javaleco”, saí do Couto do Chamiço para o caminho vicinal.

Aventuras campestres... Uns eucaliptos... 

Eucaliptos. Foto original. 02.02.23.

 

Aspetos Genéricos e Comparativos das várias Paróquias

 

Dados Demográficos

1758

Breve Introdução

 - Há que ter em conta que as contagens eram feitas numa perspetiva diferente da que usamos atualmente, nomeadamente religiosa, em função da obrigação das pessoas face ao cumprimento dos vários sacramentos.

 - Não há também uma uniformização nas designações dos conceitos em análise, nem nas quantidades apresentadas.

 - Apresentam-se os valores em numeração árabe, para uma melhor compreensão.

 

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“Aldea da Mata”: 300  "pessoas de sacramento" e 80 “menores”.

 

“Aldea do Val do Pezo”: 120 vizinhos, num total de 380 pessoas.

 

“Monte Chamisso”: 25 vizinhos, num total de 81 pessoas.

 

“Monte da Pedra”: 68 vizinhos, num total de 255 pessoas.

A freguesia toda tinha 91 vizinhos, num total de 323 pessoas.

À paróquia/freguesia de Monte da Pedra pertenciam, à data, mais três aldeias, a saber:

Monte do Sume” - 17 vizinhos, 44 pessoas;

“Cazal de Folgão Palha” – 2 vizinhos, 10 pessoas;

 “Monte de Franquino” – 4 vizinhos, 15 pessoas.

 

“Nossa Senhora de Flor da Roza”: 140 fogos, 400 “pessoas de confissão e comunhão", 40 “ só de confissão" e 100 “inocentes, não obrigados aos preceitos".

 

“ Nossa Senhora dos Martires”: 90 vizinhos, num total de 350 pessoas.

 

“Villa do Crato”: 414 vizinhos, que englobavam 1128 pessoas.

 

(“villa nova de São João de Gafete”: 205 vizinhos, num total de 512 “pessoas maiores” e 94 “menores”.

À data, Gáfete não pertencia ao “termo” da vila do Crato, embora anteriormente tivesse pertencido.)

 

À data e de acordo com as informações do “Pároco da villa do Crato”, o termo para além da própria vila, compreendia as seguintes aldeias, com os respetivos dados demográficos, nem sempre exatamente coincidentes com os explicitados pelos respetivos párocos de cada Paróquia:

“Aldea da Matta”, com 124 vizinhos, 386 pessoas;

“Monte da Pedra”, com 91 vizinhos, 318 pessoas;

“Chamisso”, com 25 vizinhos, 81 pessoas;

“Val do Pezo”, 101 vizinhos, 380 pessoas;

Senhora dos Martires”, 90 fogos, 350 pessoas;

“nossa Senhora de Flor da Roza”, 135 fogos, 550 pessoas.

 

*******

 

 Dados populacionais das Freguesias, 2011, segundo informação recolhida in wikipédia, comparativamente com a População das Paróquias estimada em 1758.

Freguesias

População

2011

População das Paróquias estimada em 1758

Aldeia da Mata

374

380**/386*

Crato e Mártires

1674

----

Crato = 1128*

“Senhora dos Martires”

Mártires = 350**/350*

Flor da Rosa

263

540**/550*

Gáfete

856

606**

Monte da Pedra

280

323**/318*

Vale do Peso

261

380**/380*

“Chamisso

------

81**/81*

TOTAL

3708

3788**/3799*

 

* - segundo informação prestada por “Pároco da villa do Crato” .

** - segundo informação prestada pelo Pároco da respetiva Paróquia.

 

- Nem sempre se verifica concordância, mas não nos podemos esquecer das condições da época, meados do século XVIII e das “dificuldades de comunicação” a todos os níveis.

De qualquer modo, temos que reconhecer que foi um trabalho notável, à data, dado que apesar de todas as dificuldades ele foi realizado à escala nacional! Paróquia a paróquia!

 

- Note-se que, atualmente, das Povoações existentes, apenas Gáfete e Crato e Mártires têm mais população que em 1758!

E, na totalidade, o concelho tem ligeiramente menos população que na data referida – 1758.

Menos 80 a 90 pessoas.

 

 Nota Final:

Esta pesquisa foi realizada a partir dos dados facultados pela Universidade de Évora no site específico sobre as "Memórias Paroquiais".

Memórias Paroquiais de 1758

portugal1758.di.uevora.pt/
 
 

 

 

 

 

 

 

 

O Topónimo “Aldeia da Mata”

Foto1395.jpg

 

O Topónimo “Aldeia da Mata” define a localidade na sua essência, aldeia: pequena localidade, geralmente com poucos habitantes, núcleo populacional feito de casas contíguas, tipo alentejano. “Nos começos da Nacionalidade designava não uma povoação mas um casal ou herdade existente num sítio ermo.”(1)

Quanto ao primeiro termo do topónimo, Aldeia, entende-se facilmente o seu significado.

 

No referente aos outros, da Mata, já se nos levantam interrogações, dado que na atualidade não existe nenhuma mata significativa, justificativa do topónimo.

Mas se o nome consagra esses termos é porque terá existido alguma mata importante, para que a povoação tenha incorporado essa nomenclatura. Que mata terá sido essa, suficientemente importante para daí derivar o nome de Aldeia da Mata?!

 

Nas Memórias Paroquiais consultadas, séc. XVIII, já não há qualquer referência a essa Mata.

Mas, segundo diversos autores, essa mata existiu e dela deriva o topónimo.

Alarcão, J., in Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 15, 2012, menciona esse facto, a partir do documento de doação da herdade que D. Sancho II, em 1232, fez à Ordem dos Hospitalários, mais tarde designada por Ordem Militar de Malta, consultado a partir da respetiva publicação em 1800, por José Anastácio Figueiredo.

O documento refere que um dos limites dessa Herdade é a mata de Alfeijolas.

 

Curioso que o nome Alfeijolas persiste na região, no termo Alfeijós, designando a Ribeira de Alfeijós, com vários nomes, conforme os locais por onde corre.

 Inicialmente designa-se Ribeira do Fraguil e tem origem em ribeiros que nascem a norte do Monte da Taipa. Corre a leste da Cunheira, dirige-se para sul, passa nos Pegos, adquirindo o respetivo nome: Ribeira dos Pegos.

Correndo na direção norte-sul atravessa a Linha do caminho-de-ferro do Leste, e a sul desta Linha, adquire o nome de Ribeira de Alfeijós. Corre a oeste dos “Cabeços do Barreiro”, Altos Barreiros, cuja cota mais elevada, 194 metros de altitude, se situa no monte de ALFEIJÓS.

A jusante situam-se dois Montes de habitação, também designados de Alfeijós: a leste da Ribeira, o Monte de Alfeijós de Cima e a oeste, o Monte de Alfeijós de Baixo.

A mencionada Ribeira de Alfeijós desagua na Ribeira de Seda, a jusante da foz da Ribeira de Cujancas e a montante da ponte romana de Vila Formosa.

 

É pois interessante que ainda atualmente o nome de Alfeijós, corruptela de Alfeijólas, persista na região, embora não existam sinais da referida mata.

As Memórias Paroquiais de 1758 também referem a Ribeira de Alfeijolos, assim designada pelo pároco da “villa” de Seda, embora já não referenciem a mata.

 

Qual o espaço territorial ocupado por essa mata que em 1232 seria significativa e foi inclusive, nessa época, motivo de disputas pela sua posse?!

 

As matas eram uma fonte de sustento, de recursos energéticos, de matérias-primas, sendo muito relevantes para povos e localidades. Mas estiveram sempre sujeitas a delapidação constante: corte, desbaste, fogos, arroteamento para agricultura.

Seria certamente uma mata de árvores e arbustos próprios destas condições climáticas: azinheira, sobreiro, carvalho negral, carrasco, zambujeiro. Medronheiro, aroeira, sanguinho e, entre as plantas mais arbustivas, a giesta, a esteva, o trovisco, a silva, a madressilva, etc. Ao longo das linhas de água, a mata ribeirinha: freixos, salgueiros, choupos, sabugueiros...

 

E geograficamente, ocuparia apenas a região atualmente a sul da Linha do Leste, onde persiste o respetivo nome? Prolongar-se-ia para norte, pela bacia hidrográfica da Ribeira de Alfeijós/Pegos/Fraguil até à Ola e Taipa? Ocuparia o território entre esta Ribeira e a Ribeira de Cujancas, inclusive ultrapassando-a e aproximando-se do espaço da atual freguesia de Aldeia? Teria uma área ainda mais vasta, conforme alguma documentação faz supor?!

 

Segundo o documento de 1232, esta “Matam de Alfeigolas” fazia parte dos limites da referida herdade. Curioso que o limite sul/sudoeste do atual concelho de Crato também se situe precisamente a sul/sudoeste de Aldeia da Mata. Outros limites do atual concelho do Crato também coincidem ou se aproximam de limites dessa herdade, referidos no citado documento de doação por D. Sancho II, à Ordem dos Hospitalários ou de São João de Jerusalém, designada por Ordem Militar de Malta, a partir de 1530.

 

A oeste, o Sume; a norte/noroeste e nordeste, o Rio Sor em parte significativa do seu percurso; a leste, Almojanda e parte do troço da Ribeira de Seda, sendo que esta Ribeira também delimita a sul. Ainda a sul, o limite segue numa linha relativamente paralela entre as Ribeiras do Cornado e de Linhais, pelos Cabeços de S. Lourenço e de S. Martinho. Ainda nesta direção sul, Alter do Chão, também é referida no documento como um dos limites.

E, frise-se, a mencionada Mata de Alfeijolas como um dos limites da herdade.

 

mapa  concelho crato.gif

 

A mata existente no século XIII (1232), já não existente no século XVIII, até quando terá persistido enquanto tal?

Teria sido o nome da aldeia alguma vez Aldeia da Mata de Alfeijolas? Haverá documentos comprovativos? Ou terá sido sempre Aldeia da Mata, dada a importância da própria mata?!

 

 

Nota final:

 - Agradecimento ao Srº Carlos Eustáquio pela prestimosa colaboração na consulta das Cartas topográficas referentes aos concelhos do distrito de Portalegre.

 

Fontes de Consulta (algumas):

- ALARCÃO, Jorge; Notas de Arqueologia, Epigrafia e Toponímia; Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 15; Direção Geral do Património Cultural, 2012.

- FIGUEIREDO, Jozé Anastasio; Nova História da Militar Ordem de Malta, e dos Senhores Grão-Priores della, em Portugal; Officina de Simão Thaddeo Ferreira, Lisboa, 1800.

- MACHADO, José Pedro; Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Livros Horizonte, 7ª edição, 1995.

- SAA, Mário; As Grandes Vias da Lusitânia, o Itinerário de Antonino Pio, Tomo II, MCMLIX.

- (1) Lexicoteca, Moderna Enciclopédia Universal, Círculo de Leitores, Tomo I, 1ª edição, 1984.

- Cartas Topográficas do Instituto Geográfico do Exército.

- Wikipédia, enciclopédia livre.

 

Texto publicado no Jornal "A Mensagem", Nov. 2014

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