Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Agora, aos sábados, após a hora do almoço, em vez da sesta, que é inverno, pode ver ou rever esta notável série. (Não sei ainda a hora exata, mas haverei de saber, e contar.)
No sábado passado ainda ocorreu apenas o Episódio nº 5 – quinto episódio.
Não é uma série de grandes recursos técnicos, nem de grandes efeitos especiais. Também não terá um orçamento por aí além, digo eu, que não fui visto nem achado no assunto.
Mas consegue captar-nos a atenção. E muito!
E, pelos vistos, não apenas a mim, pois se a RTP2 já vai na terceira apresentação da série é porque ela está a ser vista e apreciada. O que eu também noto nas visualizações dos posts respetivos no blogue.
E porquê?! Porque terá este seriado tanto sucesso?!
Falo por mim, evidentemente que revi este último episódio, lembrava-me muito bem do enredo, mas visualizei-o com o maior dos interesses.
Indubitavelmente, pela sua qualidade.
O facto de ser um seriado histórico, sobre uma época conturbada, o dealbar do século XVIII, 1793, o ocaso do Antigo Regime, o prenúncio de uma nova sociedade, a ascensão da burguesia como nova classe a tornar-se dominante, o declínio e perda de importância da nobreza e do clero.
Fundamentalmente as mudanças sociais e políticas que se sentem e pressentem na vida, no Hospital, um microcosmos da sociedade mais geral.
Em pano de fundo, a Revolução Francesa e seus efeitos…
A reconstituição histórica, nomeadamente no trajar dos personagens. Apesar da teatralização representativa com aqueles fatos sempre tão impecáveis. Sente-se muito esse sentido de palco que, se por um lado, nos afasta do conceito mais real, associado a filme, por outro nos aproxima mais do conceito de teatro.
E que falta faz o bom Teatro na televisão!
Talvez o facto de esta série, de algum modo, tão “próxima” do teatro, ter agradado tanto, talvez, digo eu que sou leigo no assunto, talvez seja sinal de que o público anda ávido de bom Teatro e de boas representações.
Deixo esta dica à consideração de quem gere a programação das RTPs.
Talvez, precisamente essa representação tão teatralizada funcione como um chamariz para o público.
Na verdade, temos que reconhecer que o Teatro é um tipo de espetáculo que anda praticamente ausente das nossas televisões, assoberbadas com outros processos narrativos.
Há quanto tempo não passa um bom Teatro na televisão?
Os diálogos, estruturando um enredo, em que com o que dizem é mais o que escondem do que o que demonstram abertamente, sempre em jogos táticos, definidores do poder e posição social de cada um.
Os olhares dizendo-nos tanto ou mais do que o que foi verbalizado oralmente.
O trabalho dos atores e das atrizes, com excelentes desempenhos, praticamente sustentados nas falas de cada um, nas réplicas, tréplicas e subentendidos.
Representação quase apenas centrada nos rostos, na expressão facial, traduzindo-nos ideias, pensamentos e sentimentos. Que com aqueles trajares pouco se observa dos corpos, nem assim vestidos pouco podem transmitir de expressivo.
Mas os trajes, per si, são definidores de cada personagem, do seu papel a desempenhar.
E, nestes aspetos, acentuamos novamente o lado da teatralização.
O jogo do poder pela conquista da gestão do Hospital, como se de um jogo de xadrez se tratasse, cada personagem, uma peça, no xadrez dessa batalha pela conquista do almejado lugar de administrador.
Estruturante também os assassínios em série(?).
A questão da Medicina. Dos conhecimentos, da respetiva prática, da deontologia médica, dos valores de cada um e dos “progressos” que se sentem. Os instrumentos cirúrgicos. Os meios disponíveis, se tal se pode assim mencionar.
Este é também, indubitavelmente, um dos campos de interesse na narrativa.
O enredo, o guião, os atores e atrizes, já o disse, mas não é demais repetir.
E o(s) romance(s), claro!
Todos estes aspetos e mais alguns, que não disse, ou a minha perspicácia não observou e aqueles que fui abordando nas minhas narrações sobre a série, que fará o favor de ir lendo, todos estes aspetos nos prendem ao seriado.
Veja, se faz favor.
Reveja, caso já tenha visto. Ou até reveja o revisto, que até está a ser o meu caso!
Como é hábito, a RTP2 volta a transmitir programas já exibidos. Salutar, quando são interessantes! Desta vez, a mini série “ O Roubo do Códice”, “El Codice”, original da Televisão da Galiza, que transmitira em 2015, a seguir a “Hospital Real”.
Sobre os dois episódios escrevi algumas ideias, entrecruzando os personagens da série “Hospital…” com os da mini série “O Roubo…”. Nem sempre de forma direita, por vezes enviesando, como gosto de fazer e também não tendo identificado bem todos os personagens.
Ontem, após ter revisto o primeiro episódio, julgo ter reconhecido o “Padre Bernardo” do Hospital, no desempenho do Juiz, no “Roubo…”. E Alicia, a noviça do “Hospital…”, na empresária do bar, ex-jornalista, a colaborar com os antigos colegas.
Ainda não é desta que escrevo os nomes corretos dos artistas, para o que remeto também para este link, de Galiza.
Apresento igualmente fotos do elenco, bem como do livro roubado.
Vale bem a pena, pelo conteúdo da história, a construção narrativa, o desempenho artístico, o contexto espacial e cénico… o enredo, o basear-se em factos reais.
Como chegou um botão do casaco de Dom Daniel ao quarto das enfermeiras?!
Andava intrigado com o facto de na estatística do “Top de Páginas “, no Blogue, haver muitas visualizações referentes a esta Série. Mas como há algum tempo não via televisão, e, quando vejo, é quase sempre só à noite, não me apercebera que “Hospital Real” estava em reposição. Ontem, li um jornal em papel e tive curiosidade de ver a programação da RTP2. E aí constatei que a série era retransmitida cerca das 12h 45’. Hora a que raramente vejo TV, nos dias de semana. Questionava-me: Em que episódio já irão?!
E, hoje, decidi ver. Já vão no décimo! Quer dizer que tenho cinco episódios para rever, caso tenha possibilidade.
Sobre este décimo episódio, não me sinto tentado a escrever. Remeto para o link do post que publiquei em Setembro (11).
(Fiz algumas pequenas alterações, que havia uns pequenos erros.)
Podia intitular este episódio com outra designação?
Questões de “Moral”! Ou “Como chegou um botão do casaco de Dom Daniel ao quarto das enfermeiras?! Ou “A confissão alivia a consciência!” (...) Ou “Os sinais de gravidez eram apenas resultado de um pólipo...”
Nesta série também se realça a Música! (Pareceu-me escutar variações sobre o “Concerto de Aranjuez”.) Os Diálogos. E a Representação dos Artistas, essencialmente centrada no rosto e nas mãos, que, dada a indumentária utilizada, são praticamente as únicas partes do corpo que se expressam...
Ilustro com uma foto de S. Tiago, cortesia de “Tâmara Júnior”, in “Andarilho de Andanhos”.
Um Série Galega de grande gabarito, transmitida na RTP2
Bem, volto a organizar um post sobre esta série que passou na RTP2, em Setembro.
Ontem, recebi dois "comentários" sobre esta Série e sobre a forma "desarticulada", digo eu, como terminou. De visualizador "Desconhecido", mas que agradeço a amabilidade de recordar a série e ter enviado link no facebook, para acedermos a comentários feitos na Galiza sobre o finalizar da série, em que figuram também opiniões das "nossas conhecidas" "Dona Irene" - Maria Vásquez e "Irmã Úrsula" - Susana Dans.
Foi a partir desse link que obtive o conjunto de fotos em anexo, com imagens de vários dos artistas em cenas finais.
Pena que a Série tenha terminado. Assim, daquele modo tão inconclusivo, se não pretendem dar continuidade a nova temporada!
Porque, mesmo decorrendo a ação em 1793, ainda havia muito a desenvolver a curto prazo, com aquelas e aqueles personagens.
Imagine-se prolongar no tempo a narrativa... Só por mais alguns anos.
Tempos tão ricos de História nos anos subsequentes.
Depois desta Série, a RTP2 tem transmitido outras, mas nenhuma terá alcançado as audiências que esta obteve. Digo eu, em função do que observo nas visualizações do blogue.
Mais uma vez, obrigado aos visitantes do blogue e visualizadores dos posts.
E obrigado a "visualizador desconhecido" pelas informações que nos transmite!
Neste 2º episódio há que constatar que, nas informações sobre a mini série já corrigiram o nome errado "O Roubo do Cálice”, atribuindo-lhe o nome verdadeiro: “CÓDICE”.
Quanto ao conteúdo da série, como já referi, ela aborda uma situação verdadeira, a do roubo do “Códice Calistinus”, em 2011, tendo sido recuperado só passado um ano.
A ação decorre em Santiago de Compostela e situa-se maioritariamente nos espaços da Catedral; nos gabinetes da Polícia de investigação, não sei se é designada Judiciária; na sede do jornal, no café, casas particulares dos envolvidos; casa de Manolo, o eletricista, desempenhado pelo “nosso Alcaide Mendonza” e nalguns espaços de ar livre, ruas e jardins da cidade.
O tempo cronológico situa-se, inicialmente, nos finais de setenta do século XX e já no século XXI, 2006 e 2011, pelo menos lembro-me destas datas.
Os contextos e a narrativa centram-se na investigação, inicialmente do desaparecimento do Codex, mas logo se aperceberam que fora roubo. Equacionadas hipóteses de possíveis ladrões, face às pessoas que poderiam ter acesso ao Arquivo onde se guardava o Códice, e que eram muito poucas.
O organista da Catedral foi uma delas, mas após inquéritos preliminares foi descartado.
O próprio deão, diácono, Dom José Maria, “o nosso Drº Devesa”, estudioso e guardião do livro manuscrito, foi outra das pessoas inicial e possivelmente suspeitas, mas logo foi também descartado pelos investigadores. Embora ele seja uma das peças chave em todo o processo, mas não como criminoso!
Dom José Maria, deão, diácono da Catedral, esteve sujeito a chantagem e extorsão de um Fernando Miranda, que inicialmente os jornalistas e os investigadores supunham pudesse ser o recetador do Livro. E que foi o motivo da cena rocambolesca, despoletada pelo “nosso boticário, Cristobal”, agora investigador policial, no seu afã de apanhar o suposto recetador do livro manuscrito roubado, ocorrida no final do 1º episódio.
Este Fernando Miranda, não cheguei a perceber muito bem qual a sua função social, mas na narrativa figurava como extorsionista, chantagista. E foi nesse enquadramento que acabou por ser preso em flagrante, neste 2º episódio, quando se reunia com o Deão, num café, após tê-lo chantageado, exigindo vinte e cinco mil euros pelo seu silêncio. Cena que os jornalistas também documentavam fotograficamente, contrariamente às ordens do Juiz e às ameaças do próprio Fernandito.
Neste 2º episódio, o papel dos jornalistas resumiu-se fundamentalmente à ação do famigerado “Inquisidor, Somoza”, que era jornalista fotógrafo, free lancer, e da jornalista loura, de cabelos compridos, cujo nome não fixei na narrativa e por isso assim a designo na narração.
Se futuramente a RTP2 continuar a transmitir séries galegas, que acho que valem bem a pena, irei fixar os nomes verdadeiros dos atores, pois revelam-nos excelentes desempenhos e merecem que os nomeie. Desta vez passa, pois nem chega a ser propriamente uma série.
Depois da trapalhada de “Cristobal” a investigação regressou à estaca zero.
A equipa ficou um pouco desorientada, mas a argúcia e serenidade da inspetora, a nossa conhecida “Dona Irene”, cujo nome de personagem não consegui reter, foi direcionando a investigação e os investigadores para os locais e pessoa certa: a Catedral, atenção aos pormenores que foram escapando na 1ª investigação, nomeadamente visualizando, de novo, todas as fitas de anos atrás; vistoriando novamente nos locais certos do templo. E foram sendo descobertos elementos aparentemente acessórios, provas documentais não valorizadas na 1ª investigação, mas que acabaram por tornar-se primordiais. Um resto de fita mal gravada em que o eletricista aparecia de costas, no arquivo. Uma caixa de chás, em que encontraram uma chave do arquivo, escondida num fundo falso e na etiqueta a letra manuscrita era também de Manolo.
E estes elementos foram conduzindo a investigação para o “nosso ex – Alcaide Mendonza”, cuja personagem se chamava, Manuel Carvalheiro, conhecido por Manolo.
A inquirição com a inspetora, “rei preto e rainha branca” frente a frente, foi um portento de jogo de xadrez tático estratégico entre dois adversários inteligentes, que às perguntas sábias da investigadora, Manolo respondia sempre capciosa e evasiva, mas certeiramente. Respostas que sendo respostas, acabavam por ser não respostas. O “rei”fugia como uma enguia entre as mãos da “rainha”. “Muchas gracias, senhor Carvalheiro!”, se despediu a dama, do rei!
Que uma das características mais valorizadoras destas séries galegas são os diálogos entre as personagens.
A investigação prosseguiu em diferentes contextos e enquadramentos, mas já com uma certeza confirmada de que o autor do roubo fora o ex eletricista da Catedral, Manolo, que passara a vida a roubar, não só no Templo, mas inclusive até de contas bancárias de um suposto amigo(?). E que muito recentemente comprara dois apartamentos, a pronto pagamento, nas Rias Galegas.
Envolvendo também outros personagens, em que o Deão era uma peça chave, porque durante as dezenas de anos em que Manolo trabalhara na Catedral, tivera oportunidade de ir conhecendo o seu mau caráter, apesar de o ir protegendo, por que acreditava na sua redenção. Até que em 2006, tantas foram as falcatruas, desde os anos setenta do século XX, que resolveram despedi-lo, através do administrador, um leigo, Dom Pedro, que ao comunicar-lhe o despedimento nunca o olhou de frente! Tal seria o “medo” que este homem inspirava. Talvez resquícios de quando fora “Alcaide Mendonza”!
Mesmo depois de despedido, ele continuava a ir frequentemente à Catedral, a diferentes pretextos, nomeadamente enquanto fiel, mas também a massacrar o Deão para este o admitir no seu trabalho de eletricista na Catedral.
Entretanto foi preparando o golpe. E um dia, já em 2011, lhe aparecerá no próprio Arquivo onde não podia estar, nem era suposto ter chave para o fazer, continuou a insistir na sua readmissão e, com veemência, exigiu que, mesmo ali, o Deão o ouvisse em confissão, que foi uma forma de o silenciar sobre o que lhe contou, que terá sido sobre as falcatruas que fizera e o dinheiro que desviara.
E como Dom José Maria não o quisesse readmitir, ameaçou-o que ele, Manolo, perdia o seu lugar, mas o Deão também perderia o seu.
Mas o cerco foi-se apertando, como se uma caçada se realizasse, o criminoso foi sendo direcionado para o local onde poderia ser capturado, como se de animal acossado se tratasse. Que o receio era que ele pudesse destruir o “Codex”, peça de valor incalculável, no seu valor material, mas muito especialmente no plano imaterial, pelo seu valor documental, histórico, formativo e informativo, que ainda continua a ser estudado.
E que melhor local para apanhar o criminoso e presa, senão o local do crime?!
Conhecidas as suas rotinas, já cartografadas há muito, a Polícia foi apanhá-lo precisamente na Catedral de Santiago, local mítico na cultura ocidental cristã e quase berço, lar e casulo de Manolo, onde se movia como peixe na água, mas também onde estaria mais fragilizado emocionalmente.
Para esta estratégia psicológica, de o ir enredando nas teias da investigação e direcionando-o para ser capturado, muito contribuiu o papel da inspetora, a seu perspicácia, a sua intuição, o seu saber e conhecimento da alma humana.
E foi precisamente na Catedral e na missa celebrada por Dom José Maria que ele confessou à inspetora, que ao lado dele se juntara na bancada do Templo, a autoria do roubo e que não destruíra o livro, que não era um destruidor.
Na entrada da majestosa Igreja de Santiago, estavam os restantes policiais, nossos conhecidos, talvez com receio que ele fugisse.
E, à hora da comunhão ele saiu da bancada, mas dizendo a “Dona Irene”, desculpem-me voltar a este nome, mas continuamos nos mesmos espaços míticos de Compostela, dizendo à inspetora que não se ia embora.
E não foi! Foi simplesmente comungar, que Dom José Maria distribuía a comunhão e, com hesitação, dúvida, lhe deu o sacramento.
E a série terminaria, paralelamente com a prisão dos familiares de Manolo, que também estavam envolvidos, em maior ou menor grau, nos roubos efetuados.
E a localização do Códice resguardado e embrulhado, numa garagem, com as múltiplas tralhas que se guardam nas garagens e alguns objetos, de menor valor, que ele também trouxera do local de trabalho.
E, como é uma série que trata de casos reais, informaram-nos do prosseguimento da vida das pessoas, aqui representadas neste filme de dois episódios.
Os criminosos, após julgados, foram condenados, com diferentes condenações, que também a gravidade dos crimes praticados foi diversa.
Os investigadores continuaram a investigar; o Juiz, a julgar; os jornalistas terão continuado a pesquisar e informar; o diácono/deão retirou-se da Catedral e da Cidade de Compostela, que já atingira a idade de se reformar.
E nós também vamos terminar.
Só nos faltou sabermos e fora uma boa oportunidade de perguntar, se vão apresentar mais alguma temporada de “Hospital Real”, que ficou tanto por concluir.
E reforço o que já referi. Se voltarem a apresentar mais alguma série galega, com estes atores, vou tentar saber os respetivos nomes, ainda que possa sempre reportar-me ao “Hospital”, como referência e também com um pouco de fantasia! Que, no fundo, é sempre o que são as séries.
A legendagem final deveria ser mais nítida, as letras muito pequeninas eram totalmente ilegíveis. Que eu gosto de ler o que posso, enquanto ouço a música.
Códice, foi como designaram, na Television de Galicia, à mini série, de dois episódios, que aborda o roubo do “Códice Calistinus” ou “Codex Calistinus”, em 5 de Julho de 2011 e que viria a ser encontrado em 4 de Julho de 2012. Enquadrando todo o contexto do roubo e a posterior demanda na sua busca e achamento, desse livro manuscrito e iluminado, do século XII, pertença da Catedral de Santiago de Compostela.
A RTP2 volta a exibir nova série galega! Mas por demais interessante, como titulam a série em português de Portugal, muitíssimo diverso do galego, como todos sabemos?!
Pois então! “O Roubo do Cálice”!
Um espanto, estas espantosas traduções. Como diz o ditado italiano, “tradutor é traidor”. Mas aqui não é apenas traição, é quase crime, ou assassinato.
Com uma diferença tão grande de nomenclatura, o mais certo é que, na versão portuguesa, nem achem o objeto desaparecido. Porque a perder-se um livro e procurar-se um cálice, vai uma grande diferença! Mas onde é que terão ido buscar esse título?! Analogia com alguma outra série ou algum best-seller?!
Ontem à noite, ainda divulguei um post sobre o assunto!
Mas vamos aos finalmentes, que os entretantos nos retardam!
É muito agradável rever os “nossos amigos” da saudosa série “Hospital Real”, agora a desempenharem outros papéis.
Antes de mais, logo o nosso bom amigo “Drº Devesa”, a nossa torre branca, que de médico- cirurgião passou ao papel de clérigo, como deão, diácono da Catedral de Santiago, a cuja guarda estava o referido Códice, que o estudava, mostrava e explicava aos visitantes e estudiosos. Era uma das poucas pessoas que tinham acesso a tal documento.
Na equipa policial de investigação contracenam uma série de nossos conhecidos do “Hospital”.
A equipa da Judiciária local é chefiada pelo comissário, “Dom Leopoldo Alvarez”, o cavalo negro, que de fidalgo falido e trambiqueiro, mandante de assassinatos e também assassinado, morto e ressuscitado, agora coordena a equipa de investigação em Santiago.
Coadjuvado pelo seu assassino, primeiro à sua própria ordem, antes que sendo “criatura”, se ter voltado contra o seu “criador”. De quem falamos? Pois, de “Duarte”, o moço de fretes, “pau para toda a obra” do Hospital, “serial-killer”, que de assassino, ter-se-á regenerado e, agora, desempenha funções na polícia de investigação lá do sítio.
E o outro funcionário, quem é?! Pois nem mais nem menos que “Dom Cristobal”, o boticário, agora não investigando e pesquisando sobre plantas, mas sobre ladrões de livros antigos. E que continua a fazer das suas trapalhadas.
E, esta é a base da equipa de Santiago, mas que teve a ajuda e coordenação de um elemento exterior, proveniente de Madrid, em viagem de TGV. Não sei se é TGV, mas faz de conta, se não for.
E que elemento é esse?!
Pois, a nossa boa “Dona Irene”, a rainha branca, que finalmente viu satisfeitas as suas reivindicações feministas, passados mais de duzentos anos, de as mulheres poderem ascender a profissões livres, a estudos superiores, a igualdade de direitos e até coordenar e dirigir uma equipa de homens. Valeram as palestras que promoveu e o incentivo que deu às jovens da Cidade Compostelana. E ela que estava para ser presa! Mas deve ter sido libertada ou nem chegou a ir para a prisão, que o mundo dá muitas voltas em duzentos anos! Não nos trouxe novas de “Dom Andrés”, o rei branco!
Toda esta equipa trabalha interligada, interdependente, dependente, não sei bem o tipo de elo, com um Juiz, como é de praxe, que já sabemos de “Crime e Castigo”. Mas como o senhor em causa, neste mini seriado, não participou em “Hospital Real” não sei quem é, nem vale a pena saber, que são apenas dois escassos episódios.
Paralelamente à equipa jurídico policial, os jornalistas do jornal local também fazem investigação, formando outra equipa, que procura também deslindar o caso, na perspetiva comunicacional; paralela e entrecruzada com a equipa da Judiciária, criando, estreitando, desenvolvendo até, laços de colaboração mútua, entreajudando-se.
Nesta equipa trabalham vários profissionais, uma jornalista parece-me que a conheço, mas não sei bem e há um profissional, julgo que free-lancer, que era o nosso mal-amado inquisidor, Somoza.
Ele que era um todo-poderoso, a jogar como bispo negro, aqui faz papel de peão, que até foi dispensado, comido, em linguagem de xadrez, porque deu em falar as verdades, que trabalhava e não lhe pagavam. Imagine-se no tempo da sua Inquisição, teria ido logo para a masmorra. Ele a reivindicar pagamento, quando votou contra o recebimento de salário pelas nossas boazinhas enfermeiras!
Da restante equipa redatorial, nomeadamente o diretor, um mal-humorado, nenhum fazia parte dos nossos conhecidos do “Hospital”. Logo, também não importam neste contexto em que só pretendo relacionar as duas séries, pelos personagens que conheço.
Das personagens aparentemente conhecidas, a rapariga que trabalha no café também parece uma cara familiar, mas não tenho a certeza de a identificar!
E resta-nos um personagem que não mudou de caráter! Refinou e adaptou-se aos novos tempos, já que não exerce funções superiores, é um subalterno que desempenha as funções de eletricista da Catedral, desde os finais de setenta, do século XX. Identifico anos 70, pelas roupas, que não me lembro de referiram datação, quando apresentaram as cenas iniciais. Foi sempre protegido de Dom José Maria, o deão, diácono da Catedral, o nosso bom “Drº Devesa”, mas ele “pintou a macaca” na Catedral, por mais de trinta anos.
Fazendo falcatruas de todo o tamanho e feitio, desde o início. Roubando nas esmolas, muitos dos intervenientes nas respetivas recolhas, roubam. Falsificando os contratos a seu favor. Ludibriando no material das instalações que fazia. Enganando sempre que podia!
Foi sendo descoberto, mas foi-se encobrindo e desculpando, manipulando… Até que o despediram já neste milénio! Mas foi sempre ficando pela Catedral a ver se o readmitiam…
Mas quem é mau caráter, uma vez sendo, é sempre!?
E quem era este personagem no “Hospital”?!
Pois, Dom Mendonza, o Alcaide, o rei negro, que esteve quase a ser preso, não fora a temporada acabar… e que, pelos vistos, não o prenderam em “Hospital”, vêm prendê-lo no “Cálice”?! Melhor, no “Códice”!
Mas já me estou a adiantar no enredo!
E que mais a dizer?!
O decorrer da ação em Santiago de Compostela, na Catedral, na Biblioteca, nos corredores, sacristias, claustros, daqueles edifícios majestosos e carregados de História!
Alguns efeitos de encenação, montagens e remontagens, toques e retoques de fotoshopes, não sei!
Vamos ver o segundo e último episódio, embora já saibamos a autoria do roubo!
Também estou curioso em ver se mantêm o mesmo estúpido título em português, de Portugal!
Rainha morta, Rainha posta, parafraseando o célebre provérbio!
Que isto das Séries é assim mesmo.
Terminada a excelente “Hospital Real”, a RTP2 aproveita o balanço e começa uma nova série europeia, esta britânica. Que eu por mim e fora eu a mandar, teria repetido o último episódio de “Hospital”. Mas a mania que tenho de fazer sugestões! Em saco roto…
Entretanto e voltando ao provérbio e à série galega, os reis e as rainhas continuarão a jogar a respetiva partida de xadrez, até próxima temporada.
Entretantos…
Fortitude é o nome de uma povoação, não sei se é real se é ficção, situada numa ilha do arquipélago Svalbard, Noruega, para além do Circulo Polar Ártico, uma pequena comunidade de 800 pessoas, onde, apesar da presença evidente de autoridades policiais e protagonistas no enredo, não há crimes, pelo menos de início.
Aí trabalha uma comunidade internacional, em diferentes contextos, que na série é também representada por atores de diversos países europeus e americanos. Tal terão sido as filmagens com tantas línguas e sotaques pelo meio, nos bastidores, que as falas no filme são em inglês, “english”, de Sua Magestade!
Continuando, que vou fazer uma breve síntese do que consegui apanhar do enredo, que não vi o episódio completo. Azares…
Mas, mais adiante neste texto, remeto para sites onde poderá ficar com um conhecimento mais global, isto se for do seu agrado antecipar-se ao conhecimento e às surpresas que as séries nos podem despertar, que quando não havia internet nos deixavam a semana na expetativa, quando elas eram semanais.
Comunidade mineira, onde a mina existente está em risco de ser encerrada.
Dois mineiros, um deles chama-se Jason, protagonistas do enredo, sentem-se receosos com tal facto. Paralelamente a filha do outro protagonista, juntamente com outra criança, Liam, descobriram o fóssil de um mamute, animal extinto há milhares de anos.
Tentam negociar com o cientista a venda do mamute, já que precisam de dinheiro, estando a mina em risco, mas isso não é possível, pois como sabemos há leis internacionais sobre os achados.
Que as há, há, mas veja-se o que se passa no Iraque e na Síria…
Paisagens soberbas e belíssimas, clima inóspito, mas um estilo de vida com comodidades e conforto, próprios de um universo em que durante meses, no Inverno, não há luz natural, que o sol fugiu para outros horizontes. Quando regressa, há um clima de exaltação “glethi”, estado de espírito que todas as comunidades de Povos do Norte, conhecem!
Nós, por cá, temos as nossas belas praias cheias de sol, que nem no Inverno nos abandona!
Retornando à série, esta tem uma qualidade técnica invejável, a música excecional, bem como a fotografia e luminosidade.
A criança, Liam, é filha de um casal inter-racial, sendo o marido afrobritânico e responsável pelo salvamento de pessoas em perigo na ilha, “serviço de busca e resgate”.
Que é algo que está a acontecer com alguma frequência, pois os ursos polares deram em atacar as pessoas. E foram as primeiras imagens deste episódio, um urso a comer um ser humano, que um fotógrafo tentou salvar!
Henry, um velho fotógrafo de ursos no seu ambiente natural, é também um dos protagonistas, padecendo de um cancro, em fim de vida, vivendo um pouco isolado da comunidade.
A doença aqui também é tema do enredo, ligação com a série “Hospital” e também as doenças infantis.
Liam, doente, com febres altas, chamada a médica da comunidade, esta supôs primeiramente ser papeira, doença contagiosa. Inclusive questionou a mãe, Jules Suter, sobre se pensavam ainda ter mais filhos e se o pai já tivera essa doença, pergunta que a deixou admirada. Não saberia os efeitos colaterais que a papeira pode provocar…
Posteriormente já falou em pólio, poliomelite.
As crianças também serão protagonistas importantes.
A doença também é preocupação relativamente aos animais, nomeadamente as alterações comportamentais que se verificam nos ursos e alterações fisiológicas nas renas.
Outro grupo de protagonistas são os cientistas que aí estão sediados numa base de investigação. À equipa já em funcionamento chega um novo elemento, para investigar em que medida um produto que percebi ser “perfluarino”, mas de que não encontrei nada na net, em que medida poderá ser este o causador das alterações comportamentais nos animais.
Outra temática no enredo é a tentativa de criação de uma unidade de turismo ambiental, criar um “hotel” – refúgio no glaciar, para os amantes de turismo de natureza, em ambientes hostis e de alto risco. Projeto que precisa de ser muito bem equacionado e analisado, nomeadamente pelos cientistas.
Outro grupo de protagonistas são os policiais, que até ao início da série, pouco tinham para fazer, mas que após esta ter começado algo se vai transformar. Que também é para isso que as séries servem, dar trabalho aos polícias ou investigadores e entreter-nos a nós.
E há também a governadora da ilha e mais algumas personagens, que não sei bem, que não vi o episódio todo e não me quero socorrer dos sites que consultei.
Ah e para terminar! Sendo esta série atual e sobre a vida como ela é, e sem os pudores que havia nas séries clássicas, para mais de época, como a anterior, nesta são relativamente explícitos! E quando têm receio do que possa acontecer a um homem nu na sauna, ao ver uma bela mulher nua estender-se a seu lado, não podem fazer mais nada que remete-lo para outro compartimento da ação… que há que manter um certo pudor e recato, apesar de ser uma série moderna e atual.
E, com isto, vou realmente terminar e fazer os possíveis para visualizar o próximo episódio na totalidade.
Peço desculpa pelo discurso narrativo um pouco enviesado, mas para quem tenha dado continuidade a estas narrações, já sabe que sigo parafraseando um pouco o ditado, de que quem conta um conto ou acrescenta ou omite um ponto.
E ainda volto ao enredo desta pequena novela, que tem dado pano para mangas.
Volto a falar do par Cristobal e Rosália, os mais derretidos da ação, mas ao que parece, os ânimos ficaram esfriados por parte de Rosália, depois das descobertas que foi fazendo, graças aos estratagemas de Duarte.
Cristobal bem se explicou, explicando como fora também a estória dele com Alicia, que também envolveu o seu pai que a expulsou, quando soube da gravidez, que Alicia era apenas criada em sua casa, pouco menos que gente e o pai de Cristobal quereria melhor para ele e ameaçando-o de deserdamento, sempre acabou por repudiá-lo.
E Alicia ficou na rua, para onde entretanto voltou novamente, como também já sabemos. E o mais que lhe poderá suceder, agora que Espanha está em guerra com França, por enquanto lá para o Rossilhão, para lá dos Pirinéus, mas em breve alastrará por todas as Espanhas… E o que ainda está para vir, que os franceses virão, primeiro de boamente e a pedido de governantes espanhóis, mas depois ficaram e ocuparam Espanha, roubaram o trono, prenderam o Rei e muito mais que não cabe aqui falar, que apenas falamos de pessoas comuns, como o par de que vimos falando…
E se Cristobal agora tentou ajudá-la, da outra vez nem isso fez e, por isso, ela vagueando grávida por Santiago, subnutrida, a criança nasceu muito débil e depressa morreria.
Cristobal considera que foi desprezível, mas que agora está diferente e pede a Rosália que não o deixe só. Mas esta acha que ele não sabe o que é o Amor e não quer que ele lhe atormente a Vida.
E nisto ficamos, que não sei se haverá continuidade, embora já me tivessem dito que sim. O que sabemos também é que o nosso boticário voltou a injetar-se com ópio!
Dona Úrsula, que não me lembro se ela era assim tratada, mas é deste modo que a gosto de nomear, também tem que ser falada, nem ela nos perdoaria… e ela é uma torre preta, que também tem muito poder na narrativa.
Está sabido, porque já nos foi revelado, que ela tem algo que ver com os Dominicanos, que até lhes enviou uma carta, por Duarte, dirigida a Frei Vicente, com exigência de resposta, que veio pelo mesmo portador. E vimos que Úrsula ficou muito apreensiva.
Úrsula, Enfermeira Mor, mão indutora do roubo do original do tão propalado testamento que, pelas suas mãos, fora destinado aos Frades Dominicanos, foi confrontada sobre o facto, por Gaspar Somoza, Inquisidor do Santo Ofício.
Que uma guerra tem muitas batalhas e que tendo ela o testamento roubado, pagar-lhe-ia muito caro por isso, que ir-se-ia livrar dela. Que muito dinheiro roubou ao Hospital para pagar a educação de um rapaz nos Dominicanos, por detrás disso tudo terá que haver uma história muito sentimental. Mas que os seus esforços foram em vão, porque ele, Somoza, ordenou que expulsassem o moço de Compostela, a ponto de ela nunca mais o encontrar.
Que neste jogo de xadrez, as peças variam muito de posição e função e os aliados de há pouco são agora inimigos.
E, como inimiga rancorosa, a que fora aliada tática durante tanto tempo, lhe disse: “… Passou uma linha que nunca deveria ter passado.”
E, por aqui ficamos sobre a Enfermeira Mor, ficando sem saber que rapaz será esse e que relação poderá ter com Dona Úrsula.
Este é também um dos assuntos que ficou também em aberto para uma eventual, mas possível e desejável, 2ª temporada.
E ainda sobre personagens e ocorrências no Hospital, não podemos esquecer o ocorrido no meio de toda a confusa situação de emergência hospitalar, o encontro, quase embate, de Duarte e Mendonza, e o olhar de ódio que este, rei preto, lançou a Duarte, peão que o colocou em xeque, só que ele disso não sabe, julgando que é o cavalo branco, Daniel!
E ainda sobre acontecimentos no Hospital, não posso deixar de mencionar a autópsia ao ajudante de oficial de justiça, feita por Doutor Devesa, que concluindo ter sido uma arma branca a causadora imediata da ferida, mas que, caso ele não tivesse o fígado tão cirrosado, talvez se tivesse salvado.
Argumento que Dom Andrés, na ânsia de tentar salvar Dona Irene, ainda tentou que fosse usado, mas Doutor Devesa lhe fez ver que isso era de todo impossível, pois que a causa da morte fora o golpe desferido.
E, talvez para findarmos, lembramos que Breixo Tabuada, irmão da nossa mocinha heroína, Olalla, anda à solta pelas ruas de Santiago de Compostela e, com ele, os Ideais da Revolução Francesa.
Este enredo, neste décimo quinto capítulo, enredou-se bastante, devido aos desempenhos e ações de alguns personagens.
Para esse facto muito tem contribuído Duarte. Ao fazer-se passar por Doutor Alvarez de Castro, roubando-lhe a identidade em dois momentos da narrativa, cria situações problemáticas a várias personagens, nomeadamente ao próprio roubado.
A partir da certidão de nascimento do filho de Alicia e Cristobal, e que se chamava Martiño, mas que só agora o pai teve conhecimento, conseguiu que este se desentendesse com Rosália. Lembramos que Duarte soube do segredo de Alicia, quando a ouviu em confissão, como se de clérigo se tratasse. Pelo que a sua ida à paróquia de Santa Susana, a falar com Padre Manuel, já fazia parte dum plano….
Cristobal, na posse dessa certidão, confrontou Alicia sobre o facto de ter sido ela que a obtivera e colocara no quarto de Rosália.
Aquela completamente desconhecedora do facto, negou e supos ter sido Dona Úrsula que diligenciara nesse sentido e, sem mais delongas, a ela se dirigiu e, no calor da discussão, logo a ameaçou de dar a conhecer a situação desta com os Dominicanos, pois juntamente com Duarte haviam lido a carta que a Enfermeira Mor lhes enviara.
Foi como dar-lhe veneno a beber! Nunca víramos Dona Úrsula tão exaltada, tão fora de si, tão extravasada de emoções, que quase matou a jovem. O assunto em causa é sobre algo que mexe completamente com ela, no mais profundo do seu ser, ao ponto de ter deixado a sua postura seráfica, estátua ausente de sentimentos, que se move nos corredores e enfermarias, entre doentes, como se visitasse museu de cera…
Atirou ao rosto de Alicia tudo o que haviam feito por ela, que a haviam tirado da rua onde vivia e se entregava por um naco de pão. Que voltaria à rua, de onde nunca houvera de ter saído, que seria expulsa do Hospital, logo que o Administrador resolvesse abrir os portões.
O que logo que aconteceu, foi vê-la carregando a sua trouxa, com os seus pertences, na direção do portão de saída, sem lugar ou rumo a seguir, sem eira nem beira, nem dinheiro que Cristobal lhe quisera oferecer, que não queria esmolas e o dinheiro já viera alguns anos atrasado.
Dona Úrsula, torre preta, foi confrontada pelo Inquisidor, Dom Gaspar Somoza, bispo preto, que também quer depor o rei branco, pelo facto de ter na sua posse o original do tão célebre testamento do Padre Damião, que bastantes voltas já terá dado no túmulo, quantas o testamento tem volteado nos episódios. Que Somoza já encostara Dona Elvira à parede, que isto de um bispo querer ser Rei tem que se lhe diga. Que Dona Elvira fora a mão executora e Dona Úrsula a mão indutora do crime, pois mexer com a Santa Inquisição tem muito que se lhe diga e termos técnicos próprios de designação dos crimes. E, à partida, bastava ser suspeito. Era-se desde logo criminoso e, sendo ou não sendo, havia sempre maneira de o provar, para isso havia os suplícios. E não havia crime sem castigo e mesmo sem crime sempre se arranjava castigo. Que o dissesse o Padre Bernardo, que nada fizera, só não revelara um segredo de confissão.
E já que falamos de Padre Bernardo, que no tabuleiro poderia ser visto como bispo branco, mas agora de pouco valia porque decidia como preto, condicionado a Somoza… Ou seria antes um peão?
E o Padre Damião, enquanto vivo, não teria sido o bispo branco? Não esqueçamos, que na narrativa, o Arcebispo só apareceu mais tarde! Bispo branco que também foi comido, nas jogadas de poder do rei preto, assassinado pelo peão Duarte.
E ainda sobre Bernardo… Foi ele portador da carta de Aníbal, paciente que falecera no Hospital e que, no leito de morte, escrevera a célebre carta dirigida ao Doutor Sebastian Devesa, que erradamente fora parar às mãos de Úrsula, que a entregou a Somoza, para incriminar o Padre. E que o levou à prisão de que, há pouco, saíra.
E saíra e trouxera uma cópia dos ditos da dita carta, que ele transcrevera de memória, com a sua própria letra, pois que Somoza lhe dera o original a ler, para que lendo ele dissesse a quem ela se destinava na verdade. Só que ele não lhe revelara o nome proscrito, embora soubesse quem era, porque o ouvira em confissão, na qual se escudava para manter o segredo. Pagando com isso os costados na prisão. Que ele além de Homem de Honra era ungido e juramentado de Sacerdote.
E entregando a cópia dessa famigerada carta a Doutor Devesa e deixando-o a sós na Igreja, para que este a lesse para si próprio, este a leu alto, para que também ouvíssemos as palavras que nela estavam escritas, com o punho de Bernardo, pois também estávamos curiosos. E para que passados mais de dois séculos, pudéssemos também ajuizar da gravidade ou não de tão afamadas palavras, capazes de levar um Homem à prisão, condenação antecipada e fogueira do Santo Ofício.
Pois ouvida a leitura da carta, mas não retidas todas as frases, porque a memória nos atraiçoa, mas nos recordamos que genericamente continha só e apenas palavras formando frases bonitas, de um Amigo para outro Amigo, expressando-lhe o seu sentimento de Amizade, uma amizade mais forte e apegada, de que se subentendia o Amor.
E lendo, Doutor Devesa chorou. E das frases ditas me lembro de uma “… Uma vida arrebatada pela incompreensão…”
E, será pecado amar Alguém?! O próprio Jesus o disse dirigindo-se aos seus Apóstolos. “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!”
E sobre Doutor Sebastian Devesa, nos quedamos por aqui. Que ele anda atarefadíssimo nas suas funções de médico do Hospital Real de Santiago de Compostela, aonde chegaram dezenas de estropiados e feridos, moribundos e mortos, queimados vivos, tal qual ele teria sido se tivesse sido denunciado por Padre Bernardo. Provenientes da explosão havida no armazém de pólvora seca da Cidade Compostelana.
Não lhe bastariam já os doentes do mal que desconheciam o nome, bem como a cura, que é isso que o médico precisa saber; mas que inoculando transfusões de sangue da ama primeiramente atingida pela doença, constataram que nem todos morreram, alguns sobreviviam, que Doutor Daniel já lhe dissera. O que não sendo, per si e desde logo, conclusiva esta constatação, nos mostrava haver já algum avanço na Medicina e na Ciência, que aos poucos progrediam.
E permanecendo no Hospital e na enfermaria, cheia de doentes, olhamos agora para a nossa querida Olalla, a mocinha e heroína da história, aflitíssima com tanta gente precisando de ajuda, que as enfermeiras não tinham mãos a medir.
De entre a muita gente que chegava ao Hospital, nem todos eram feridos, também vinham familiares procurando por eventuais doentes seus e veio também o Capitão Ulloa, que não chegara a ir para a frente do Rossilhão, porque ficara na busca dos rebeldes de Laurier, que haviam despoletado a explosão, que eles isso mesmo comunicaram através de um bilhete, não foi por vídeo, que ainda não havia essa tecnologia, mas, pelos vistos, também conheciam os métodos de guerra psicológica.
E o Capitão também veio, para também ver a mocinha, por quem também era apaixonado, que para a heroína nunca faltam candidatos a heróis, mas também viera para lhe dizer que, entre os feridos com gravidade, estaria o seu irmão Breixo, que fora encontrado no próprio local da explosão.
E entre palavras e ações, a tranquilização de Dom Andrés para Olalla, de que fariam todos os possíveis por ele e ela que fosse para junto do irmão, que o ajudasse, lhe dissesse tudo o que havia para dizer, palavras também de Ulloa, pois supostamente Breixo iria morrer.
E nesta confusão de palavras e sentimentos, de atos e ações, não posso deixar de realçar uma sugestão de Padre Bernardo, sobre a forma de operacionalizar o modo de lidar e gerir o tratamento dos feridos.
E, como?! Colocando uma fitinha colorida em cada um dos doentes, de acordo com o respetivo grau de gravidade. O designado “Método de triagem de Manchester”, antes de tempo. Que era um dos méritos do Hospital, antecipar-se ao progresso e avançar cientificamente!
E Olalla foi para junto de uma cama onde estava um doente quase totalmente queimado, rosto irreconhecível, tapado por ligaduras, e supostamente seu irmão Breixo, a ele se dirigiu, o consolou, lhe disse o que achou ser importante dizer nessa hora atormentada e aí se deixou ficar, chorando.
Posteriormente, já mais consolada, por acaso, encontrou o seu amado Daniel, que o Destino assim quer e como haveria de ser se trabalham no mesmo Hospital, que não é nenhum Santa Maria ou São João, pois haveria de ser, se isto se passou há mais de duzentos anos!?
E Daniel não perdeu tempo e lhe disse que a amava e se beijaram, quando a sua esposa, Clara, chegou e os viu, ficando enraivecida, chamando mosca morta a Olalla e foi quando ela disse ao marido, Daniel, que ele iria ser pai. Mas isto já contei anteriormente e não volto a esse Caminho!
E terá sido também daí que ficou com raiva a Olalla e, quando esta estaria descansada no muro da escadaria, a empurrou e ela caiu no lajedo e Duarte lhe foi pegar, levando-a.
Aparentemente morta, mas eu estou em crer que não, pois assim se fecharia uma porta importante no enredo, pois como me referiram num comentário, com os protagonistas mortos, a série perderia completamente o interesse. O que é inteiramente verdade.
Mas eu estou convicto que nenhum deles morreu. Os guionistas apenas nos quiseram induzir nessa sugestão.
E, mesmo agora, li outro comentário em que me dão conhecimento que a 2ª temporada vai estrear na Galiza no Outono e que os protagonistas não terão morrido.
Pois é mesmo assim que eu também acho, que os guionistas devem dar seguimento à Série e ouvir ou ler o que dizem os “fazedores de opinião” das redes sociais.
E Muito Obrigado a quem tem a paciência de ler o que escrevo e ainda comentar!
E com este remate, proponho-me findar este comentário enviesado, mas sem antes também lembrar que não valia a pena tanto desconsolo de Olalla, porque o seu irmão, Breixo, supostamente quase morto na explosão, afinal não morreu, que nós o vimos posteriormente na Cidade. E mais uma vez o Destino teceu a sua teia na narrativa, e fez com que ele se cruzasse, melhor dizendo, esbarrasse com o Alcaide Mendonza, que o vinha procurando insistentemente, que isto como se diz, “quem procura, acha”, só que Mendonza procurando e achando, afinal não achou e mesmo dando um encontrão em Breixo, não o encontrou.
Porque Mendonza, agora, também era procurado, porque os homens do Arcebispo, procurando na sua casa, encontraram, acharam a máscara do assassino, em Série, “serial-killer”!
E, conforme me foi sugerido num comentário, Duarte, o assassino em série, carrasco e vítima na mão de poderosos; submisso e obediente, mas mais autónomo do que imaginam; um zé ninguém, a mando de todos, mas mais senhor do próprio destino do que muitos; mais que inteligente, assumindo-se de meio néscio, coitadinho, mudo e analfabeto, vai fazer-se passar por Doutor Alvarez de Castro, médico do Hospital Real de Santiago de Compostela! Conforme veremos no episódio catorze, que ocorrerá logo à noite, e nos foi permitido visualizar na sinopse do que nos será apresentado nesse 14º episódio, provavelmente o penúltimo.
Ontem, no 13º episódio, andou treinando o registo de voz, na sala de operações, já envergando a jaqueta do jovem médico. Ensaio de voz a que assistiram os nossos jovens amantes, sempre em derriço, Cristobal, o boticário e Rosália, a enfermeira encarregue das plantas, mas que não distingue tomilho de arruda, nem poejo de alecrim. Que só ouviram os ensaios de voz, em audições separadas, que não viram o seu produtor, delas imaginando que seria a voz do próprio médico, Doutor Daniel.
E, por aqui ficamos, de preliminares.
Desenvolvimento
Com Clara também não foram precisos preliminares, que dois shots a levaram a entregar-se ao seu carrasco, Mendonza, o Alcaide, filho bastardo do Intendente da Galiza, personagem pérfida e cruel, que assim se pretende vingar de Dom Andrés, o Administrador. E, eventualmente, dar-lhe um neto, que seria também herdeiro da nobre linhagem do Intendente, coisa que pouco importará a Dom Andrés, que é burguês esclarecido, mas interessará bastante à sua comadre, Dona Elvira, muito dada a estas questões de linhagem.
Clara, vítima de uma cabala da tríade venenosa que já nomeámos, Alcaide, Úrsula e Elvira, em cuja casa se entregou voluntariamente ao algoz, após ter ido à casa onde a sua própria Mãe, Laura, meio alienada, vive enclausurada por mando do próprio Pai.
Pai, Dom Andrés, que convencido por Dona Irene, aceita que na Botica do Hospital se produza água de cheiro, a partir das múltiplas plantas aromáticas que existem no quintal. Inovadora a ideia, partindo da empreendedora Irene, agora que, estando Espanha e França em guerra e as fronteiras fechadas, estes produtos não chegavam à Galiza.
Pai, que num gesto de carinho, foi levar um frasquinho dessa água perfumada à sua amiga Irene, que ele devaneia torná-la mais que amiga, mas ao que ela lhe responde não estar preparada, nem ele também, porque ainda não esqueceram os respetivos cônjuges.
“Valorizo muito a nossa amizade e não quero perdê-la.” Lhe respondeu ela.
“Tudo ficará entre nós, não se preocupe!” Retorquiu ele.
Nesta série, pequena novela classifico-a eu, o texto é fundamental, rico, ideativo e os diálogos elucidativos e esclarecedores, muito bem trabalhados pelos guionistas e interpretados pelos atores e atrizes, repito atrizes, que estávamos, à data, nos alvores da libertação feminina, lutando por reconhecimento de Direitos Iguais, como já constatámos.
Dom Daniel, Doutor Alvarez de Castro, agora substituído na função de marido, em breve na de médico, finalmente reconciliou-se com a esposa, às vezes o Destino escreve direito por linhas tortas e leva-lhe também água de rosas, que agora está na moda, e pede-lhe outra oportunidade! Sacrifício inútil o da Dama!
Sua mãe, fidalga, da fidalguia antiga, de nobres valores de honradez e elevada posição social, Dona Elvira, não hesitou quando foi preciso vender-se e uma vez vendida, perdida, levar outra à perdição. E na sua própria Casa, senhorial, abriu “janelas de tabuinhas” e tornou-se desse modo também caftina.
Arrepiada de medo, contudo destemida e audaz, entra no antro sinistro de Somoza e rouba-lhe o célebre testamento de Padre Damião, a pretexto de que fora para pedir ao Inquisidor que rezasse a primeira de dez missas pelo seu querido e falecido marido, Dom Leopoldo, na Catedral Compostelana.
Enquanto isso, o bom do Padre Bernardo continua encarcerado nos calabouços da Inquisição até que ceda à vontade de Somoza, ajudando-o a derrubar Dom Andrés do cargo de Administrador.
Sempre este leitmotiv, em todo o enredo da pequena novela, mas excelente obra literária e ficcional. Pelo que pesquisei, parece-me que não se baseia diretamente num livro específico, mas não sei.
E enquanto estas personagens andam e cirandam pelos caminhos do enredo, nas ruas de Santiago, nas salas e corredores do Hospital, neste vão morrendo crianças recém-nascidas, de um mal que os médicos desconhecem.
E deste modo nos apresentam a metodologia de pesquisa científica, posta em prática pelos médicos, na busca de solução para o problema.
Formulam hipóteses, que testam na prática, experimentando, ultrapassando as barreiras da crendice e dos preconceitos e espartilhos morais, religiosos e até legais, que são sempre contextualizados ao espaço e tempo em que se enquadram. Não fosse assim e dificilmente se evoluiria na ciência, na vida e na sociedade. Há sempre saltos qualitativos que é preciso dar e assim evoluir!
Doutor Daniel está nas sete quintas, formula hipóteses e teorias, faz pesquisas e investigações, tira conclusões, expõe teses.
E, de experiência em experiência, que só experimentando se podem testar as hipóteses, chegam à conclusão que o foco do problema se situa numa ama-de-leite, portadora de uma doença desconhecida, com que infetou os bebés órfãos, que amamentou. Mas constatam os médicos, não infetou os seus próprios filhos. Porquê?!
E esta é a pergunta, a nova questão por eles formulada, que essa é a base do desenvolvimento da Ciência, uma pergunta levanta outra pergunta, uma questão nova questão.
Não sabem eles, mas já sabemos nós, atualmente. O leite da mãe permite ao filho criar anticorpos que o defendem de múltiplas doenças e infeções e, por isso, hoje se recomenda tanto que as mães amamentem os próprios filhos. Um “ganho” substancial para todos, indivíduos, famílias, para toda a Sociedade, para todas as sociedades, sob todas as perspetivas!
E, ainda sobre coisas positivas que se passam no Hospital, relembramos o sucesso da produção da água aromática, ideia de Dona Irene, trabalho do Boticário e das suas assistentes, Rosália, também sua amada e de Olalla, agora também nariz de perfumista, experimentalista de perfumes, produzidos na Botica do Hospital, tornada igualmente numa “Corbeille de Fleurs”. Não fosse ela, Olalla, jovem, mulher, solteira e pobre e poderia chegar longe, disseram o boticário e o jovem médico!
E de ações vis já nos chegam as da Irmã Úrsula, sempre em urdiduras, sendo também urdida quando se trate do Inquisidor. Cada vez mais presa na teia do mestre, deixando-se apanhar com as mãos na gaveta da sua secretária, na busca do testamento, cada vez lhe fica mais devedora de resgate cada vez maior.
Mas ela, tão cascavel e víbora quanto ele, não desistiu e, como vimos, sempre obteve o original do testamento.
E retribuiu o favor da fidalga, atormentando a inocente Clara, que, ingénua, ignorante das teias que se lhe tecem, se foi entregar na boca do lobo!
E, deste modo, terminamos, que voltámos ao início do texto, como se fechássemos um círculo!
E temos ignorado o papel da jovem noviça de freira, de cujo nome não estou certo, que acompanha desveladamente os bebés e todos os orfãos, um coração doce que chora de infelicidade, que não entende os desígnios de Deus ao levar-lhe os seus anjinhos, que já amou Dom Cristobal, que, pelos vistos, a maltratou e que, como frágil que é, se tornou numa permanente vítima da Chefe, “Dragão”, mas de quem também já aprendeu algumas manhas.
Ah! Que este conto nunca mais tem conto! Não podemos esquecer o ataque que Mendonza fez a Duarte! E, assim encerramos, de facto, esta narrativa.