Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Nestes últimos dias tem chovido água que Deus a mandou! Ou São Pedro!
"Deixa estar, que ela não fica lá". Dizia a Mãe, quase centenária, quando nos verões se falava da seca!
Tem chovido tanto que tem havido enxurradas pelos mais diversos lugares do nosso País. Este Outono tem tido características que, há vários anos, não observávamos. Depois de secas persistentes e de um ano particularmente quente no Verão, choveu ainda no final desta estação. Continuou chovendo regularmente, no Outono. As terras sequiosas foram absorvendo as águas. Pouco foi chegando às barragens, apesar de se irem compondo face à escassez de água que fomos lamentando todo este ano e anterior(es). Não chovia! As barragens não tinham água! Este drama atormentou-nos até há bem poucas semanas. E, era um facto!
Posso exemplificar. Ainda no passado dia 7, do corrente mês, nem há oito dias vai, passámos por Benavila, junto à Barragem do Maranhão. Pudemos constatar como a represa estava vazia. A norte desta localidade, corre a Ribeira de Serrazola, que desagua na Ribeira de Seda, represada na mencionada Barragem, cujas águas chegam até bem longe de Benavila, quase até Seda, quando o reservatório está cheio. Não era, nem de longe nem de perto, o caso. Esse ramo poder-se-ia atravessar a pé, partindo do Santuário da Senhora D’Entre-Águas, localizado a norte, em colina sobranceira às duas ribeiras, que aí confluem. Ribeira de Serrazola desagua na Ribeira de Seda. A ponte antiga que atravessa aquela ribeira, habitualmente submersa, estava completamente descoberta. Permitiria atravessar, a quem o quisesse fazer. (Tive pena de não ter tirado foto, mas estávamos com muita pressa, já era tarde e estava ameaçando chuva, como já dura há dias. As fotos ficariam semelhantes às que tirei em Outubro de 2019, já postadas.)
Em poucos dias, especialmente desde o final de semana, a chuva tem sido de tal intensidade que provocou estragos especialmente nas localidades. Particularmente nas ribeirinhas. Para essa situação, em especial na Grande Lisboa, contribui a orografia dos terrenos, sobremaneira o asfaltamento, a betonização. O deficiente Urbanismo! Mas o “mau tempo” continua por todo o lado.
Ontem, quando regressávamos a Portalegre, particularmente a partir de Estremoz, ainda mais após Monforte, os terrenos alagadíssimos. Regatos eram ribeiros! Estes, ribeiras! E aquelas, quase rios! Todas estas águas Monfortenses, Portalegrenses, irão desaguar direta ou indiretamente para a Ribeira de Seda e respetiva Barragem do Maranhão. Será que agora a barragem irá fazer o seu pleno?! Numa próxima viagem já a veremos completamente cheia?!
Ainda Portalegre. Aqui as chuvas têm sido intensíssimas! Avenida Pio XII, descendo da Serra, tem parecido uma verdadeira ribeira!
Bem gostaria de ir ver a Ribeira das Pedras e do Salto – Aldeia da Mata - que já galgaram as respetivas pontes!
Voa de um lado para o outro… Não conhece a rota de navegação… Não sabe em que aeroporto aterrar…Ele é o aeroporto X… depois é o Y… Afinal fica no mesmo sítio! Num assunto desta envergadura, uma argolada deste tamanho... nem dá para perceber!
Tinha um bom paraquedas, já se vê!
Eu nem sei o que isto parece. Estamos na primária?! (… Não dá mesmo para interiorizar, percecionar este assunto! Ficamos simplesmente abismados!)
Andam em andas e bolandas com esta estória do aeroporto de Lisboa e não mais se resolvem! Que me lembre, neste meio século em que falam e tornam a falar nesta coisa do aeroporto, já abordaram, não necessariamente por esta ordem: Ota, Monte Real, Rio Frio, Montijo, Alcochete, eu sei lá mais o quê!
E nunca mais se resolvem.
Eu, cá por mim, dito mesmo assim, ia de bandas para Beja! Falo mesmo a sério. Que isto das proximidades ou distâncias são cada vez mais relativas. E encurtam-se distâncias com todas as tecnologias sempre em aceleração. O que, hoje, parece distante, amanhã é mesmo aqui ao pé.Porque se andará, há meio século, a querer mudar um aeroporto, mas situá-lo sempre no espaço urbano da Grande Lisboa? Pensem em futuro! Equacionem outras “centralidades”. Beja, não tarda muito, fica mesmo aqui ao pé!
Porque se haverá de “pensar/equacionar” Lisboa só e apenas no respetivo espaço concelhio?!
Porque é que muitos serviços, que atraem cidadãos de todo o país, não hão de ser instalados fora da cidade propriamente dita?
Falo,por ex., e nomeadamente, dos “Grandes Hospitais”, por ex. o que irá substituir o de “São José”.
E outros casos.
Beja, daqui a nada, fica mais perto do que chegar ou partir para Sintra, para a Margem Sul…, em horas de ponta.
É necessário criar outras centralidades, fora da “Grande Lisboa". E isso é promover a descentralização.
Eu ando nestas ladainhas já alguns anos. Escrevendo sobre estes temas em vários postais. Deixando comentários noutros blogues.
Mas ando mesmo a “pregar no deserto”. Ninguém liga ao que eu digo. (?!?!)
Estes pessoais dos governos são quase todos das Lisboas. Nados e criados.
Veem, observam, analisam o país, exclusivamente a partir desse umbigo que é a capital!
Nos próximos postais publicarei um texto que escrevi sobre uma viagem de comboio entre Lisboa e a minha Aldeia, ocorrida em Janeiro de 1990. E as respetivas peripécias. (“Aos anos que isso já vai!”… Dirá o/a Caro/a Leitor/a e com muita razão.)
(Os postais anteriores sobre o “Comboio de Barca D’Alva” suscitaram-me essa lembrança. Postais, por sua vez suscitados pela Amoreira dessa mesma Localidade.)
Esse acontecimento ocorreu numa fase em que se verificavam desinvestimentos nos comboios, que se traduziam, entre outros aspetos, em avarias, atrasos, etc. E já várias linhas haviam sido desativadas, na segunda metade da década anterior. E outras destivações estavam planeadas.
Enviei esse texto, manifestando a minha opinião sobre o ocorrido, com considerações várias, a diversas Entidades públicas e privadas, alertando para a situação.
Com a publicação desse texto exteriorizo a minha faceta de intervenção cívica e cumpro um dos objetivos para que criei este blogue, em 2014. Publicar online textos antigos que escrevi. Tanto de prosa como de poesia, o que tem sido feito, embora de uma forma descontinuada. Porque tenho dado prioridade a “produções” recentes, que vou divulgando, à medida que vão surgindo.
Vamos então à primeira parte do texto.
«Chover no molhado!
Todos sabemos como Portugal tem seguido um desenvolvimento desarmonioso no que respeita às mais diversas condições, nomeadamente as geográficas. No que se refere a este aspecto, concentram-se as principais actividades económicas e o investimento nos dois ou três grandes centros urbanos, especialmente Lisboa e Porto. Também conhecemos as consequências de tal política, nomeadamente na explosão urbanística da Grande Cidade. Os erros sucessivamente acumulados provocam a falta duma qualidade mínima de vida condigna, para a grande maioria dos habitantes das grandes cidades, incluindo os que afluem do Interior, atraídos pela miragem da vida na Grande Cidade e falta de perspectivas no dia-a-dia do Campo.
Parecia lógico inverter tal situação procurando criar pólos de desenvolvimento no Interior, de forma a fixar aí as populações e, condição indispensável para qualquer investimento, construir boas vias de comunicação. Mas não! Esta conversa tão propalada periodicamente é rapidamente esquecida e, sublinho, constantemente contrariada na prática, como no caso que passarei a relatar.
No dia 27/01/90 desloquei-me, de comboio, à minha terra natal (Aldeia da Mata), situada na Linha do Leste, entre Torre das Vargens e Portalegre.
Às zero horas desse dia, terminara uma greve de maquinistas. Por tal motivo, de véspera, telefonei para as Informações da CP, a saber se haveria comboios no dia 27. Uma funcionária respondeu-me, simpática e convincentemente, que a partir das zero horas de 27/1 haveria todos os comboios.
De facto, segui no comboio que parte de Sta Apolónia às 11h 35’, em direcção ao Porto e que, no Entroncamento, dá ligação para a Linha do Leste, tendo como hora de chegada, à Mata, às 15h 22’. (O que já de si se pode considerar demorado para a distância de 195Km.) Mas nem a essa hora chegámos. Simplesmente a chegada verificou-se às 18h 10’, quase 3h. depois.
Até ao Entroncamento tudo decorreu normalmente. Chegou-se sensivelmente à hora habitual, havendo que fazer transbordo para o comboio do Leste, como é costume. Este deveria partir do Entroncamento às 13h 30’. Só que não partiu a essa hora, mas 1h e 10’ depois. E porquê? Porque na Linha do Norte avariou uma composição impedindo a chegada dum comboio que, vindo dessa Linha, trazia passageiros para o Leste. Compreende-se que se esperasse. Estes passageiros também pagaram o seu bilhete, também têm direito a chegar… pelo menos, em segurança ao seu destino.
Mas chegarão?! Chegaremos?!...»
*******
Caro/a Leitor/a, terminamos a 1ª parte.
Os sublinhados foram feitos no presente, A tecnologia de escrita, em 1990, não tinha as facilidades da atual, nos computadores. Era uma velhinha máquina de escrever mecânica. A ortografia era a que vigorava à data.
Portugal é um país de tradições rurais muito fortes.
As correntes migratórias internas, dos anos sessenta e setenta do século XX, engrossaram o crescimento populacional dos grandes centros, com especial realce para a Grande Lisboa e Grande Porto, e juntamente com a emigração, maioritariamente para a Europa Comunitária, levaram ao despovoamento dos campos, Êxodo Rural.
Este processo continuou, assistindo-se simultaneamente, a uma crescente litoralização do País.
Tem havido igualmente movimentos de imigração, de proveniência africana: cabo-verdianos, ainda antes de 1974 e igualmente das outras ex-colónias, acompanhando nomeadamente a descolonização, a partir de 1975. Mais tarde, continuados com as guerras civis nesses territórios, também designados ex-províncias ultramarinas.
Posteriormente, ocorreram outros movimentos migratórios, tanto internos como externos, com especial destaque para a imigração de diversas origens, especialmente após a entrada de Portugal na Comunidade Europeia, em 1986. Mas estes, face ao assunto em epígrafe, têm um cariz ligeiramente diferente.
Frisa-se, pois, que as populações suburbanas e urbanas com origem nas ex-colónias africanas ou nas zonas rurais do Continente têm uma matriz cultural muito arreigada às suas origens campestres e há ainda um forte apego ao chamamento da terra de origem, em que a vida no campo está muito presente na memória coletiva e individual.
Essa chama que nos liga ao Campo manifesta-se de múltiplas e variadas formas, de que os Grupos Culturais, sobre que já tenho “postado”, são um exemplo.
Mas o mais relevante sinal desse apego expressa-se, de uma forma ainda mais materializada, na ação concreta de amanhar a terra.
Esse gosto por mexer, por trabalhar a terra, é ainda bem presente e vivo em algumas das populações das nossas zonas suburbanas.
Muitos não gostam, a maioria não sabe, perdeu esse saber, mesmo quando ainda em jovem tenha feito algum desse trabalho no campo.
Mas ainda há alguns que resistem, que persistem e guardaram esse conhecimento, praticando-o.
Que o documentam, o põem em prática num labor diário, no arranjo de leiras, taludes, veigas e vales, quintais e pequenas parcelas de terreno de que se vão “apropriando” de usufruto, pelos mais diversos espaços abandonados e desaproveitados das nossas urbes.
Outros aprenderam, pois vê-se também gente que de novo se interessa por esse mester.
É olharmos à nossa volta quando viajamos, seja de carro particular ou, com mais atenção e pormenor, nos transportes públicos, e vemos os milharais, os feijoais, os granais, os batatais destes novos agricultores, das horas livres, de part-time, de fim-de-semana ou dos fins de tarde.
Este é um fenómeno cultural que nos últimos anos tem ganho maior visibilidade, pois a extensão do espaço cultivado aumentou e processa-se nos mais diversos e inusitados locais, espalhando-se, que eu conheça, tanto na Margem Sul, como na margem norte do Tejo e muito especificamente por toda a cidade de Lisboa.
São as HORTAS URBANAS!
A tão propalada “Crise” também terá tido efeitos sobre este fenómeno urbano?
A mediatização deste facto também terá contribuído para o seu propagar?
O merchandising, o comércio, o marketing, associados a todas as ações campesinas, mas transpostas para um modelo urbano, também o incentivou e simultaneamente é um seu reflexo?
Todas estas situações poderão ter ajudado ao crescer deste interesse pelas atividades agro-urbanas. Que, pelos vistos, vieram para ficar!
E que, para além de terem alargado o seu espaço geográfico, também alastraram a diversos estratos populacionais, mesmo àqueles à partida desligados ou desenraizados dessa ancestralidade cultural, por já serem nativos do espaço urbano há várias gerações.
E que, sendo citadinos e urbanos, usam o próprio espaço dos prédios, como varandas, marquises, terraços… E lá cultivam as suas alfaces, os pepinos e tomates, ervas de cheiros e malaguetas…
Quem imagino estará satisfeito com este pulsar de vida agrícola dentro da Cidade será o arquiteto Ribeiro Telles, há muito defensor desta prática.
Bem, a “postagem” de hoje é precisamente sobre esta temática e é documentada com fotos gerais e específicas de algumas Hortas Urbanas da Margem Sul, localizadas num vale de uma freguesia do concelho de Almada.
Demos uma vista geral ao espaço global, por onde se distribuem as Hortas e visitámos, com bastante atenção, uma delas, que é um verdadeiro Jardim!
O seu “proprietário”, na casa dos setenta, algarvio, mas tendo trabalhado em Lisboa, pessoa simpatiquíssima, fez questão de nos mostrar o resultado do seu labor diário, num espaço de poucos metros quadrados, mas onde tem os mais diversos produtos hortícolas e insistiu para que voltássemos, para levarmos umas alfaces…
Bem e, por hoje, e sobre Hortas Urbanas não vou escrever mais.
Ainda ficam mais alguns aspetos que aprofundarei noutro(s) post(s).