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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Chamiço: Cruzamentos de Vidas!

Ponte antiga. Foto original. 02.02.23.

Neste postal nº 1139, abordo alguns aspetos referentes aos dois Autores cujos trabalhos escritos divulguei sobre o povoado “Chamiço”.

O texto de Professor Manuel Subtil, a partir de fotocópia do Jornal “A Mensagem”, publicado em data que desconheço. Deduzo ser transcrição de texto publicado no Jornal “Brados do Alentejo” de Estremoz, na década de trinta. Cito:  blogue Em Comenda.

Sobre este Autor, remeto para ligação, in. RUAS COM HISTÓRIA”…

Transcrevo dois excertos:

«MANUEL SUBTIL, Professor e Educador, nasceu na Freguesia de Vale do Peso (Crato), a 05-02-1875, e faleceu em Lisboa, a 15-04-1960.  (…)

Entre 1925 e 1944, integrou o corpo docente do Instituto de Orientação Profissional, na sequência de um convite de Faria de Vasconcelos.» **    (…)

O seu nome faz parte da Toponímia de: Crato (Freguesia Vale do Peso – Rua Professor Manuel Subtil). Fonte: “Dicionário de Educadores Portugueses”, (Direcção de António Nóvoa, Edições ASA, Edição de 2003, Pág. 1350, 1351 e 1352)

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Caminhos e ruas. foto original. 02.02.23.

** Nunca conheci o Professor Manuel Subtil, apesar de sermos de localidades próximas. Faleceu, era eu criança. Mas é curioso o facto de ele ter sido Professor no I.O.P. – Instituto de Orientação Profissional -, de 1925 a 1944, Instituto onde eu haveria de ser aluno em 1985 /87! A Vida tem destas particularidades!

Através do texto narrativo “O Chamiço, antiga freguesia do Priorado do Crato” “voltamos a cruzar-nos”. Sendo o senhor de Vale do Peso, localidade próximo do “Chamiço”, é muito natural que se tenha debruçado sobre o assunto. Nasceu em 1875, já o povoado era extinto. Todavia terá ouvido contar sobre o tema, dada a proximidade espacial e temporal. Provavelmente terá visitado. Terá até conhecido pessoas que lá viveram. Tinha conhecimento, oral, das deslocações semanais da lavradora, de apelido Carita, a Vale do Peso, para assistir à missa. Senhora Carita, minha Trisavó, uma das minhas ascendentes, que haveria de abalar para Aldeia da Mata, determinando que seja minha terra natal!

Como as Pessoas e as situações estão interligadas, sem elas disso terem conhecimento, porque mesmo vivendo em espaços, tempos e contextos completamente diversos, acabam por se entrecruzar!!

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Sobre Professor Doutor José Leite de Vasconcellos, remeto também para ligação na internet. Foi uma Pessoa notabilíssima, eminente, da nossa Cultura, como se pode verificar da leitura do texto da Wikipédia. Visitou o Norte Alentejano e a povoação do Chamiço, por volta de 1930, tirou fotos, figs. 122, 123, 124 e 125, registadas em “Etnografia Portuguesa”. Fez recolha oral junto de dois velhos de Gáfete, na data referida.

 Não concordo que refira que “lavradora, de apelido Carita” foi a primeira que abalou, porque não foi.

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Fotos escolhidas simultaneamente para divulgar a antiga Povoação e o respetivo Património. A ponte precisa de manutenção e proteção, sob pena de se ir destruindo. (A primeira vez que vi foto desta ponte, na net, ela estava em melhor estado.)

E também estas fotos, por simbolismo, significação: Ponte como sinal de união, ligação entre espaços e tempos. Cruzamento de caminhos / antigas ruas: metáfora dos cruzamentos na Vida).

“Alpendre” das festas: Ligação do presente ao passado e ao futuro.

alpendre festas. Foto original. 02.02.23.

Urge, classificar o Sítio, como Monumento.

 

Ainda o despovoamento do Chamiço…

Igreja Chamiço. Foto original. 02.02.23.

A Trisavó Rosa de Matos e o “Monte Chamiço”

Resto de Casa. Foto Original. 02.02.23.

(O que me relatou o Primo António Carita.)

“…Os salteadores foram roubando as pessoas que viviam na freguesia do Chamiço. Que iam ficando sem nada. Devido a essa situação foram abalando, abandonando a povoação com medo dos assaltos. Deslocaram-se para as terras mais próximas: Monte da Pedra, Vale do Peso, Aldeia da Mata, Gáfete… Até que, a dada altura, só lá vivia a Trisavó Rosa com algumas pessoas que para ela trabalhavam enquanto lavradora. Já não havia ninguém na povoação. Já haviam retirado gado, tudo o que pudessem.

Até que um dia, também os ladrões a assaltaram na sua própria casa. Deitaram-na num cadeirão, foram buscar um alguidar, de aparar o sangue dos porcos, e uma faca, ameaçando-a de morte, caso ela não lhes desse o ouro que tinha. “Tem que nos dizer onde tem o ouro, sabemos que tem ouro. Tem que nos dar, se não nos der, matamo-la”. Intimidavam-na.

A Trisavó perante essas ameaças, e nessa aflição, viu-se na contingência de lhes dar o que tinha. Face à situação também ela acabou por abalar da aldeia do “Monte Chamiço”, despovoando-se assim a terra na totalidade. Foi a última a sair da “aldeia”.

A Casa da Trisavó ainda lá existe, na parte central do que resta da antiga localidade, a cerca de oitenta / cem metros da igreja e relativamente à mesma distância das habitações e construções ainda existentes, a sudoeste, junto à ribeira.  …”

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Esta é a versão que escrevi a partir do relato oral que me foi descrito pelo Primo António Carita, no dia 12/02/23. A sua Mãe, Tia Maria Carita (1918 – 1997) viveu em jovem, em casa de Tia Maria de Sousa e de Tio Francisco Carita, filho da “célebre” Trisavó Rosa de Matos. A última habitante da antiga povoação do “Monte Chamiço”, juntamente com os seus criados / trabalhadores mais fiéis.

Em todas estas narrativas há algo que nunca foi referido até aqui. Infere-se que esta Trisavó, à data destas ocorrências, já seria viúva do Trisavô João Carita, de quem ela herdou o apelido.

Volto a mencionar que os filhos deste casal foram: Maria Conceição Carita, minha bisavó e de todos as minhas primas em 1º grau, do lado paterno e primo António Carita; Manuel Carita, bisavô de Prima Arlete Carita - e respetivas irmãs e irmão - que me disponibilizou fotocópia do artigo de Prof. Manuel Subtil. E o já várias vezes referido Francisco Carita, pai de Drº João Carita de Sousa, falecido cerca dos trinta anos e sem descendência.

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Fotos: Volto a divulgar o Património do povoado, que importa salvaguardar, preservar. Valorizar! Classificar!

1ª foto: A frontaria da ermida, tutelando o postal.

2ª foto: Restos de uma casa a que atribuem funcões na “Romaria de Santo Isidro”, em Maio.

Estrutura cuja funcionalidade parece intrigante.

Foto original. 02.02.23.

A ponte, lado jusante, e parte do antigo moinho.

Ponte. Foto original. 02.02.23.

Parte da estrutura do moinho.

Moinho. Foto original. 02.02.23.

 

O Chamiço em “Etnografia Portuguesa” … (II)

Ponte. Foto original. 02.02.23.

Neste postal nº 1134, ainda me debruço sobre a velha “aldeia” do Chamiço, a partir de:

Etnografia Portuguesa – Tentame de Sistematização – Prof. Doutor José Leite de Vasconcellos – Volume IV –

Lisboa – Imprensa Nacional – 1958

Livro I – A Terra de Portugal – pp. 654 e 655

Terrenos. Foto original. 02.02.23.

(…)

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Mó. Foto original. 02.02.23.

«Quando e como se desmoronou o Chamiço?

Dois velhos de Gáfete, que em 1930 contavam respectivamente 80 e 85 anos, referiram-me o seguinte, interrogados cada um por sua vez, e em separado. Em pequenos haviam ainda conhecido o Chamiço, que tinha 8 ou 9 fogos, incluindo a morada do paroco. A povoação constituia frèguesia: orago o Martle Santo (S. Sebastião), - pôsto que isso não conste nem da Corografia do P.e Carvalho, nem do Portugal sacro e profano (serie anexa). – Faziam-se lá festividades, e no largo da igreja touradas: a umas e outras concorria gente do Monte-da-Pedra, Aldeia-da-Mata, Gáfete. Um dos dois velhos assistira ainda a uma corrida de touros, e a uma festividade. Acrescentaram ambos que a destruição da povoação a motivaram continuos assaltos de ladrões: os habitantes, vendo-se desamparados naquele descampado e solidão das herdades, fugiram. Quem primeiro abalou, foi uma lavradora, de apelido Carita, a mais rica da terra: tendo dado tal exemplo, as outras familias seguiram-na, porque menos protegidas ficavam. Até contou um dos velhos o caso de haver sido apernado pelos ladrões um criado da mencionada lavradora, deitado ao chão, e coberto com uma manta; levantando-a, espreitou, e conheceu os ladrões. Por decôro não se declara aqui o nome da terra a que pertenciam.

Assim reza a tradição oral. (…)»

*******

Forno comunitário. Foto original. 02.02.23

(Algumas notas complementares:

Registo algumas referidas no postal anterior. Segui o texto a partir da fotocópia que tenho na minha posse. As mesmas dificuldades na transcrição de palavras com grafia diferente da atual, especialmente nos acentos. Os realces a negrito são de minha lavra.

A fonte informativa de Professor Doutor Leite de Vasconcellos foi também oral. Os dois velhos de idades 85 e 80 anos, terão nascido respetivamente em 1845 e 1850.   Depreende-se do mencionado que não terão nascido no Chamiço, mas em Gáfete.

Quando li este excerto na Biblioteca Nacional, algo que me chamou a atenção foi a expressão “apernado”. Não é uma palavra muito vulgar, mas também era o termo que a minha Avó usava, quando relatava os acontecimentos.

Outro aspeto foi a menção de que a lavradora Carita fora a primeira que abalara. O que estava em contradição com o que sempre ouvira a minha Avó. E, agora, após ler também o artigo de Prof. Subtil reforça essa contradição. Também a versão que Primo António Carita sempre ouvira a sua Mãe, Maria Carita, contradiz essa referência.

A situação de o criado ter reconhecido os ladrões, como sendo de uma localidade próxima, também a minha Avó me contava, mencionando a terra. Que eu, reforçando a atitude de Professor Leite de Vasconcelos, também não revelo. Todavia não deixaria de ser curioso saber qual a terra que os velhos terão referido, se coincidiria com a que minha Avó dizia.

Nas Memórias Paroquiais, de 1758, vem referida esta povoação “Monte Chamisso”.

Estes são alguns dos aspetos que vêm mencionados na Etnografia Portuguesa sobre o Chamiço. Há mais algumas referências etnográficas de interesse. Mas eu, nestes textos, o que pretendia era realçar fundamentalmente as questões reportando-se a essa minha Trisavó, Rosa de Matos, de apelido Carita, do marido, João. Enquadrando todos estes aspetos na premissa / questão inicial sobre as interligações do apelido Carita no Alto Alentejo.

Terreno com barragem. Foto original. 02.02.23

Ainda quero consultar os dados do Arquivo Distrital de Portalegre.

 

O Chamiço em “Etnografia Portuguesa” … (I)

Igreja do Chamiço. Foto original. 02.02.23.

Postal nº 1133: A velha “aldeia” do Chamiço, a partir de:

Etnografia Portuguesa – Tentame de Sistematização – Prof. Doutor José Leite de Vasconcellos – Volume IV –

Lisboa – Imprensa Nacional – 1958

Livro I – A Terra de Portugal – pp. 653 e 654

(…)

«… o Chamiço, no termo de Gáfete (Crato), que em 1532 era uma aldea chamada Monte do Chamiço, e encerrava 36 moradores «dos quais cinco viuvas»; Monte tem aqui significação rural, tão corrente no Alentejo, e aplica-se como parte componente do nome proprio. Ainda no sec. XVII se dizia assim; hoje diz-se apenas o Chamiço, sem Monte preposto.

Se o leitor perguntar em Gáfete onde ficava o Chamiço, indicar-lhe-hão perto da ribeira do mesmo nome e da ribeira de Margem, um terreno, de irregular superficie, com a área de uns 400 metros quadrados, alastrado de pedaços de telhas e onde ha troços de ruas, uma d’elas bem cortada na rocha granitica que forma o sólo, e restos de dezenas de casas. Algumas das casas, de paredes de alvenaria, tinham andar alto; nestas paredes e noutras vê-se ainda de onde em onde rebôco e cal. Numa elevação sobranceira ás ruinas ergue-se uma igreja, sem tecto e desmantelada, com pedaços de altares e de um pulpito por unicos vestigios de culto. Vid. figs. 122, 123, 124 e 125. Não se encontra no Chamiço um unico edificio habitado ou habitavel. … »

Antiga rua. Foto original. 02.02.23

*******

(Algumas notas complementares:

Nesta descrição sobre o Chamiço, excerto do livro supracitado, procurei transcrever conforme o original, de 1958. Que terá respeitado a grafia do Autor, certamente manuscrita, muito provavelmente na década de trinta. Data a que o Professor faz referência sobre as pesquisas, in loco. Tive especial dificuldade nos acentos, pois, no texto que possuo, existem algumas diferenças significativas face à grafia atual, mesmo antes do “famigerado” Acordo / “Desacordo”.

- Frisar também que ainda no séc. XVIII se designava “Monte” conforme mapa de 1762, onde se refere “M.te Camisso”. E, nas Memórias Paroquiais de 1758, também se designa de “Monte Chamisso”. -

O texto em que me baseio resultou de fotocópia tirada na Biblioteca Nacional – Lisboa. Em meados da 2ª década deste séc. XXI.

As figuras a que o Autor se refere estão a preto e branco. Em fotocópia, não dão para reproduzir.

Apresento novamente foto da igreja. E de alguns espaços – ruas. Fiquei intrigado com a referência a rua talhada em rocha granítica.

Também me intriguei com a referência que Primo António Carita me fez sobre a localização da casa da Trisavó.

Em futura visita irei observar melhor estes aspetos.

Antiga rua. Foto original. 02.02.23

Em posterior postal ainda apresentarei referência ao “desmoronamento do Chamiço”, segundo livro mencionado e Autor citado.

E penso finalizar com a versão de Primo António, segundo o que sua Mãe lhe contava. Sua Mãe, minha Tia Maria Carita, que viveu, em jovem, em casa de Tia Maria de Sousa e Tio Francisco Carita, filho da Trisavó do Chamiço, Rosa de Matos. Saberiam bem como ocorreram os acontecidos.)

Rua antiga. Foto original. 02.02.23.

Ver também, S.F.F.

E, ainda, SFF.

«O Chamiço, antiga freguesia do Priorado do Crato» (I)

 (Cap. I)

pelo Prof. Manuel Subtil

in. “A Mensagem”. p.5

«Em muitos mapas corográficos de Portugal, figura, ainda hoje, como freguesia do Crato, a velha povoação do Chamiço, situada a meio de uma linha recta cujos extremos são Vale do Pêso e Monte da Pedra.

E contudo o Chamiço desapareceu há muito tempo como povoação, e há mais tempo ainda como freguesia.

Quem, indo da Torre das Vargens, viajar pela linha de Cáceres, que atravessa o distrito de Portalegre, poderá ver, à esquerda, entre as estações da Cunheira e de Vale do Pêso, quando já se avista o perfil airoso da Serra de S. Mamede, uma espessa mancha de arvoredo, constituído por azinheiras, principalmente o cercado de velhas paredes. São as Tapadas do Chamiço.

Em tempos passados, essas tapadas denunciariam, logo de longe, a existência ali de uma povoação; porque no antigo Priorado do Crato, onde predominava o regime compáscuo, só eram permitidas tapadas nas proximidades dos povoados, para uso exclusivo dos seus habitantes. Tudo o mais era aberto e livre.

Situado num vale sem horizonte, em sítio pedregoso e triste, onde os terrenos são de fraca produção, o Chamiço foi sempre povoação pequena.

Assim, quando, em 1527, o rei D. João III ordenou que os Corregedores das seis Comarcas do reino mandassem proceder ao arrolamento de todos os moradores, achou-se que o Chamiço tinha trynta e seys moradores (a). Em 1708, segundo a Corografia Portuguesa do Pe. António Carvalho da Costa, tinha só 22 fogos.

Era, porém, freguesia mais antiga do que Monte da Pedra, que não existia ainda em 1527, e até mais antiga do que Flôr da Rosa, que só foi elevada a sede de freguesia em 21 de Setembro de 1749, por Decreto do Grão Prior Infante D. Pedro, irmão do rei D. José.

A igreja era pequena e só tinha três altares, no século XVI, com duas portas: uma na modesta fachada, outra lateral. Anexa à igreja havia uma pequena sacristia, em comunicação directa com o altar-mor.

Era orago da freguesia o mártir S. Sebastião, cuja imagem – que ainda existe, já retirada do culto, na igreja paroquial de Vale do Pêso – era muito venerada, como advogada contra as epidemias, tão frequentes naqueles tempos.

Não havia baptistério: a pia baptismal estava a um canto do corpo da igreja, à esquerda da porta principal, e esta era voltada para poente, como as da maioria dos templos católicos.

No vértice da empena da frontaria estava colocada a única sineta existente, sob uma pequena cúpula apoiada em quatro colunelos.

Os moradores do Chamiço eram, na sua maioria, pobres trabalhadores que, ou serviam como criados ou viviam de apascentar gado – lanígero principalmente – próprio ou alheio.

Como acabou a freguesia do Chamiço? Porque desapareceu uma povoação que, apesar de pobre e pequena, se manteve durante alguns séculos independente?»

(…)

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(a)– Mestrados e priorado do Crato em Alentejo – Arquivo Nac. Da T. do T. Gav.5, M.I, nº 47.

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(Notas: Segui o mais fielmente o original do Jornal. A divisão em capítulos pretende estruturar a leitura nos postais. Não tenho fotos de minha autoria do Chamiço.

Remeto para outros postais em Aquém Tejo e Apeadeiro da Mata. S.F.F.

E, também.)

O apelido Carita e o Alto Alentejo

Carita não será propriamente um apelido muito vulgar.

Lopes, por exemplo, é muitíssimo mais difundido.

Todavia, no Alto Alentejo, conheço várias pessoas com este apelido. Dir-me-á: Pudera, é um dos apelidos na sua família, logo é natural que conheça um razoável número de pessoas assim apelidadas.

Verdade! Todavia muitas dessas pessoas não as conheço como pessoas da família. Aliás, essa é uma das minhas questões. Será que todos os Carita(s) têm ligações familiares entre si?! Não sei, realmente.

Os Caritas que conheço são da minha família, nomeadamente os que ascendem às localidades de Aldeia da Mata, de onde sou natural e os de Monte da Pedra. Mas no concelho de Crato, município a que pertencem as duas freguesias referidas, existem indivíduos com este sobrenome, mas que não conheço como familiares.

Portalegre. Foto original. 26.11.22.

No distrito de Portalegre – Alto Alentejo, Norte Alentejano, este sobrenome também existe noutros concelhos. No próprio concelho de Portalegre existem Caritas. No de Castelo de Vide, no de Nisa e no de Campo Maior. Não sei se existem noutros concelhos deste distrito ou fora dele. Para além desta Região, também há pessoas assim nomeadas, mas integrantes da designada “Diáspora Alentejana”. Conheço em Almada e em Lisboa. Existirão também noutras regiões de Portugal?! Ignoro.

Relativamente aos Carita(s) da minha Família há uma particularidade que sempre me suscitou interesse e curiosidade. Uma parte significativa desses familiares teve ascendência num povoado que se extinguiu em meados do séc. XIX. Concretamente a aldeia do “Monte Chamisso”. Localizada no concelho do Crato, relativamente próxima de Aldeia da Mata, Monte da Pedra e Vale do Peso.

Uma das minhas trisavós paternas ainda viveu com a sua família nesta antiga aldeia. Daí tendo abalado, provavelmente nesses meados de Novecentos. Chamava-se Rosa de Matos, o marido, João Carita.

A minha Avó, Rosa de Matos Carita, 1893 -1978, falava dessa sua Avó e contava a história dessa abalada!

Em próximos postais irei escrevendo sobre este tema, contando algumas histórias.

(Umas em Aquém-tejo. Outras no Apeadeiro.)

Se O/A Caro/a Leitor/a conhecer algo relevante sobre este apelido, CARITA, comunique, SFF!

 

“Rota Histórica de Flor da Rosa” (I)

Percurso Pedestre de Flor da Rosa  a Aldeia da Mata, passando pelo Crato.

Evocação de “Alminhas” em tempos de guerra!

Alminhas Novas Aldeia da Mata. Foto Original. 2022.02.02.jpg

Tenho consciência que os dias não estão muito para passeios. A chuva finalmente chegou. Tímida, é certo, mas desde o dia sete tem caído alguma água. Na Grande Lisboa, que lá para os Alentejo(s) nem por isso. Bendita água pluviosa! Tanta falta faz!

De qualquer modo, haverá tempo para voltar às caminhadas. No ano passado, tivemos oportunidade de realizar várias. Este ano, não tantas!

Todavia, aproveito para alertar para alguns aspetos sobre o percurso pedestre citado. Iniciando-se em Flor da Rosa, junto ao Mosteiro, segue na direção do Crato, posteriormente para Aldeia da Mata, terminando na Anta do Tapadão. Em Aldeia, que é a parte que conheço, integra, devidamente assinaladas, as Fontes do Boneco, da Ordem e da Bica, desde 2021, quando este trajeto foi estruturado no terreno.

Já me congratulei com esse facto, que corresponde, parcialmente, ao que venho defendendo. Isto é, organização de um Percurso Pedestre pelos arredores da Aldeia, incluindo as várias Fontes já divulgadas nos blogues e as Pontes da Ribeira do Salto e da Ribeira das Pedras.

As Passadeiras: da Ribeira das Pedras, do Porcozunho e da Lavandeira. No acesso a esta Ribeira, a respetiva calçada.

Percurso que tenho designado: Por Fontes, Passadeiras e Pontes.

Voltando ao Percurso Histórico referido, atentando no que constatei e respetivos monumentos locais assinalados, verifiquei que as Alminhas de Aldeia da Mata, tanto as Alminhas Novas como as Alminhas Velhas não estão referenciadas.

Um contrassenso! Porque estes monumentos, singelos é certo, estão associados, por tradição oral, a um combate, trágico como todos os combates, ocorrido precisamente à entrada de Aldeia da Mata, em 1801, na designada “Guerra das Laranjas”. E que se iniciou, pasme-se(!) precisamente em Flor da Rosa, junto ao Mosteiro.

A ocorrência desse combate, historicamente designado “O Combate de Flor da Rosa”, está documentada. Consultei documentos sobre o facto, no Arquivo Histórico Militar, em Lisboa e tenho cópia em CD da respetiva descrição.

Para saber um pouco mais sobre o assunto, consulte, SFF, para melhor esclarecimento!

De modo que o que pretendo é lançar um apelo aos Organizadores destes percursos.

SR.s Organizadores, façam favor de assinalar devidamente as “Alminhas de Aldeia da Mata”, como parte integrante e estruturante desse Percurso Histórico!

Como?! Saberão melhor que eu.

Uma sinalefa condizente com a respetiva situação no percurso?!

Hei-de comunicar, nomeadamente a CIMAA.

Grato pela atenção.

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E a propósito de “Alminhas” e de guerras…

Que a guerra da Ucrânia termine!

Que o regime russo retire as tropas invasoras!

Ucrânia reconhecida, sob todos os aspetos, como Nação e Estado Independente.

Que haja Paz!

 

Futsal – Geografia – História – Geopolítica

Portugal – Espanha – Ucrânia - Rússia

Reflexões: Manias minhas e pretensiosismos!

 

Decorreu, hoje, na Holanda, cidade de Amsterdão, o jogo Portugal – Rússia, final do Campeonato Europeu de Futsal. Portugal ganhou por 4 – 2.

Não vi este jogo, mas na 6ª feira passada, dia quatro, vi o término da meia-final entre Portugal e Espanha e gostei. Penso que foi a primeira vez que me fixei num jogo de futsal. Muita rapidez, passes, não há bolas presas ou paradas, poucos tempos mortos. O espaço é curto, parece um jogo de tabuleiro, os jogadores entrosam-se, passam a bola, atacam, contra-atacam. Andam num virote!

Mas eu não queria falar do jogo propriamente dito.

 

Interessante que a outra meia-final fora entre Ucrânia e Rússia, tendo vencido esta última. Peculiar, dada a situação geopolítica e militar vivida por estes dois estados, aparentemente, à beira de um confronto militar. Seria bom que se ativessem apenas nestes duelos desportivos. Que os povos não querem guerras.

Quero abordar, brevemente, alguns aspetos culturais, extra futebol.

Numa perspetiva geográfica, nestas duas meias-finais, defrontaram-se os dois países do extremo ocidental da Europa e os dois do extremo oriental!

 

Em termos históricos, a situação de “guerra iminente” entre os dois Países de Leste, viveram-na Portugal e Espanha ao longo de séculos, “às turras”, desde o início da nacionalidade. Portugal construiu a sua identidade nacionalista, em confronto com os Reinos seus vizinhos, que estariam na base de Espanha. Inicialmente, séc. XII, contra o reino de Leão; mais tarde, séc. XIV, XV, contra Castela; a partir do séc. XVI, constituída a identidade de Reino de Espanha, contra este. Inclusive, perdendo a independência e formando um reino único, de 1580 a 1640, ano de Restauração da Independência. As guerras da Restauração, no séc. XVII, consolidaram esse estatuto. Mas no séc. XVIII continuaram os reinos em confronto, sob diversos pretextos e motivos, nomeadamente sucessões dinásticas, posse de territórios, inclusive na América do Sul. A última guerra entre os reinos de Portugal e Espanha penso que foi a Guerra das Laranjas, em 1801. Em que Portugal perdeu o território de Olivença, situação de facto, mas nunca reconhecida legalmente por Portugal. (Guerras subsequentes em que Portugal esteve envolvido, não tiveram a ver com Espanha. Nem propriamente as invasões francesas, embora a dita das “Laranjas”, as tivesse de algum modo prenunciado!)

 

Estas reflexões têm a ver com o que vivem os dois Povos e Estados de Leste, que também têm uma História intrincada de pertenças e desavenças, ao longo de séculos. Culminando nesta situação complicada, envolvendo a comunidade internacional à escala planetária, dado que as grandes potências mundiais intervêm na situação. Nada que se compare, em escala, com o que aconteceu entre os Reinos Ibéricos, ao longo de oito séculos. Embora no século XVI estes fossem, digamos, as superpotências mundiais!

 

Seria fundamental que os Estados cingissem os seus confrontos ao Desporto, como forma de sublimação das suas desavenças!

Relativamente a esta situação de “guerra iminente” é conveniente estruturar o diálogo. Na minha opinião, mas quem quer saber dela?!, a Ucrânia deverá manter a respetiva independência. Deverá aderir à União Europeia, penso que ganham os diversos povos envolvidos. Mas não deve aderir à NATO. Deveria ser um Estado neutral, tampão entre União Europeia e Rússia.

Manias minhas? Pretensiosismos?!

Muito Obrigado e muita Saúde!

Parabéns à Equipa Portuguesa. Parabéns às outras Equipas!

 

Viagem de Comboio em 1990 (V)

Amendoeira de Palmela. Foto original. 2022.01.24.jpg

Respostas das Entidades (II)

Assembleia da República

Do PS, recebi carta manuscrita do Deputado Miranda Calha, datada de 27/3/90.

Excertos:

«Recebi, e agradeço… Infelizmente a realidade é tal como a conta.

Já me pronunciei diversas vezes na Assembleia sobre este assunto gravoso para o meu distrito e que o actual governo nunca respondeu às questões colocadas. Continuarei… a lutar para que no distrito de Portalegre existam melhores condições de deslocação – especialmente no sector respeitante à C.P. (…)

Os melhores cumprimentos

Júlio Miranda Calha»

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Por curiosidade, apresento foto da carta.

Fotocópia de carta. Foto Original. 2022.01.27.jpg

Fotocópia de carta. Foto Original. 2022.01.27.jpg

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Do Grupo Parlamentar do PCP, responderam a 8 de Março de 1990, através do Gabinete de Apoio, em nome do Deputado Luís Roque, que agradece. Enviam uma “cópia de intervenção proferida em Plenário, sobre o assunto”.

É um texto de 4 páginas, da “Intervenção do Deputado Luís Roque – PCP, Sessão Plenária do Dia 9 de Janeiro de 1990 – PAOD”

Apresento alguns excertos da intervenção:

«Sr. Presidente

Srs. Deputados,

Resolveu o C.G. da CP encerrar ao tráfego de passageiros a partir de 1 de Janeiro de 1990 mais nove ramais ferroviários, a saber Valença/Monção, Vila Real/Chaves, Amarante/Arco de Baúlhe, Sernada/Viseu, Évora/Reguengos de Monsaraz, Évora/Estremoz/Vila Viçosa, Estremoz/Portalegre, Beja/Moura e o Ramal de Sines.

É de salientar que anteriormente já haviam sido encerrados a Linha do Dão e o troço Pocinho/Barca de Alva.

Esta decisão, concerteza concertada com o Ministério da Tutela, corta às regiões mais interiores o cordão umbilical que as ligava às regiões mais desenvolvidas do litoral, agravando mais ainda a assimetria litoral/interior, que hoje já é gritante.

(…)

…a CP e o Governo demonstram à saciedade quanto estão preocupados com o desenvolvimento económico e social do interior.

Em intervenção por mim aqui proferida em Maio de 88, aquando da implementação dos novos horários de Verão, prevíamos que o desajustamento dos mesmos em relação aos interesses dos utentes visava degradar a oferta com o fim de mais facilmente proceder aos encerramentos programados.

Para os incrédulos de então, aí está a resposta do Governo e da CP.

Estes planos visam o encerramento de 1000 Km de via e mais de 300 estações, ficando a rede ferroviária nacional reduzida ao eixo Braga/Lisboa/Faro, às ligações com Espanha e aos suburbanos de Lisboa, Porto e Coimbra.

Repare-se que no plano de modernização e reconversão dos caminhos de ferro (1988/1994), aprovado em Conselho de Ministros em Janeiro de 88, a rede secundária com 1076 Km absorve apenas 0,2% do total do investimento previsto no plano.

Este valor denuncia claramente quais são as intenções do Governo e da CP em relação a estas linhas, ou seja, encerrá-las.

O Governo com esta medida gravosa para as populações esquece um princípio que é aceite em todos os países comunitários, a função social do transporte de passageiros.   (…)»

*******

NOTAS Finais:

Os outros partidos da Assembleia não responderam.

Da Câmara Municipal de Portalegre também não recebi resposta.

O “Jornal Fonte Nova” publicou o texto.

O “Jornal Expresso” não fez referência ao assunto.

(Os negritos são de minha lavra.

Apresento os excertos que considerei mais relevantes.

Estes textos, traduzindo intervenções e tomadas de posição, mostram o posicionamento destes partidos face à situação.

São documentais. Fazem parte da nossa pequena história pessoal, pois vivemos esses tempos de viagens de comboio. Farão ou não parte da Grande História do nosso País. Para todos os efeitos os comboios fazem parte da História de Portugal.

Para se entender o historial dessa desativação dos comboios e subsequentes (re)utilizações ou abandonos, a leitura do livro já referido é fundamental.

Pelas Linhas da Nostalgia – Passeios a Pé nas Vias Férreas Abandonadas”, de Rui Cardoso e Mafalda César Machado, Edições Afrontamento, Novembro de 2008.

 E ainda haveremos de ir a Barca D'Alva?!

(A foto que titula o postal é de uma Amendoeira. Mas não de Barca D'Alva. Esta é de Palmela. Hei-de postar sobre ela!)

Boas Leituras! Muita Saúde. Boas Viagens, de Comboio. Muito Obrigado!

viagem-de-comboio-em-1990-iv

a-que-horas-parte-o-comboio-para-barca d'alva.

amoreira-da-barca-dalva-ii

Amoreira da Barca D’Alva (I)

A Sabedoria da Natureza!

(Árvore com História?!)

Amoreira I. Foto Original. 2021.12.09.jpg

No último postal sobre a temática “Covid”, finalizei com uma foto de uma Amoreira. Que designo por “Amoreira da Barca D’Alva”. Precisamente porque é originária dessa localidade, no recôndito “Douro Interior”, quando o majestoso Rio entra completamente em terras portuguesas.

Já falei no blogue sobre esta região, o célebre comboio, a emblemática "Linha do Douro" que do Porto seguia até esta vila, prosseguindo por terras de Espanha até Salamanca. E daí para as mais diversas regiões espanholas e Franças e Araganças.

Amoreira plantada em pleno Alentejo!

Amoreira II. Foto original. 2021.10.05. jpg

E a viagem que ela fez?!

A razão de escolha da foto, com a Árvore despida de folhagem, quase, quase no Inverno, foi precisamente para testemunhar a “Sabedoria da Natureza”! Aproximando-se o Inverno, com os seus rigores previsíveis e habituais, a planta reduz a sua atividade aos mínimos possíveis. Que lhe permitam viver e sobreviver às inclemências do tempo. Não morre, mas protege-se.

(Foi também uma mensagem indireta e metafórica para os Humanos: que se resguardassem mais no Inverno!....)

Ressuscitará… a Amoreira, mal provenha a Primavera.

Amoreira III. Foto original. 2021.04.02.jpg

Atingirá a respetiva plenitude...

... em finais de Maio.

Amoreira V. Foto Original. 2021.05.22.jpg

(As diversas fotos documentam o facto.)

São também os meus votos para 2022! Para Si, Caro/a Leitor/a,

Para todo o Mundo:

Um Ano, de 2022, pleno de Realizações Positivas. De Felicidade! De Excelência e Otimismo!

A Primavera chegará, tal como esperamos também na Amoreira.

(Cuja saga continuará em próximo postal!)

Com muita Saúde!

 

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