Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Era um homem afável, acessível, com quem se simpatizava de imediato. A sua permanente boa disposição conquistava amizades e boa impressão onde quer que estivesse. A simplicidade e a humildade eram notórias e davam bem a ideia da pessoa. Eram o seu melhor e fiel cartão de visita.
José Garção Ribeiro Branquinho, nasceu em Monte Carvalho, freguesia de Ribeira de Nisa, Concelho e distrito de Portalegre, em 1931. Deixou-nos este ano, em Fevereiro de 2021.
O nosso poeta, era um ser humano iluminado que a si próprio classificava deste modo: «Sou poeta, sou cantor, adoro poder cantar, e canto por amor…» e logo a seguir, fosse qual fosse o local onde estivesse e fossem quais fossem as pessoas presentes nos brindava sem cerimónias com alguma canção, ora de Coimbra, do Alentejo ou quaisquer outras, sempre «à capela», numa voz afinada, clara e possante. Obviamente romântico, sonhador e humanista, este professor jubilado do Ensino Básico sempre elegeu a poesia, a música e o canto como interesses favoritos na vida, através dos quais expressava todas as mágoas, saudades e alegrias.
José Branquinho participou em dezenas de antologias de poesia e conto, entre as quais do Círculo Nacional D´Arte e Poesia. Colaborou em inúmeros jornais e revistas, com destaque para o seu clube do coração, o Sporting, no Jornal do Sporting, onde foi um dos fundadores do grupo coral e pertenceu à direcção da Associação de Solidariedade Sportinguista.
Uma alma apaixonada que ia buscar inspiração no seio da mãe-natureza, na beleza dum recanto urbano ou muitas vezes no silêncio da noite. O que lhe interessava era descrever o sentir profundo da relação com as pessoas e a natureza, tal como conta no livro «Cantos do Meu Canto» : «Quero dizer-te, meu amor/ Com verdade de coração aberto/ Que continua a minha dor no meu deserto/Que continua este fervor por ti/ Sempre desperto.»
Ao longo da vida José Branquinho nunca esqueceu os lugares por onde passou como Évora, Coimbra e sobretudo Portalegre, que o inspirava sobremaneira nos versos. E muitos escreveu alusivos à sua terra. A grande admiração e ternura pela mulher em geral, com especial relevo e carinho para a querida e saudosa esposa. Como só a alma sensível de um poeta sabe sentir e expressar.
Como companhia literária o nosso membro tertuliano lia Camões, Fernando Pessoa, Bocage, Florbela Espanca, Eça de Queiroz e especialmente José Régio. Seus clássicos preferidos.
Calou-se a voz de um amigo poeta e homem franco e bem disposto com a vida. Vai ser difícil continuar sem o ouvir cantar tão bem, sem a presença calorosa onde o seu sorriso se harmonizava com qualquer ambiente. José Branquinho, o ser humano que exaltava o sol, as flores as saudades e sobretudo o amor. Felizmente deixou-nos os versos, pedaços de alma, emoções e sentimentos à flor da pele.
Estaremos sempre contigo, José Branquinho.
«Até à Eternidade.»
ROLANDO AMADO RAIMUNDO» 2021
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Notas Finais:
OBRIGADO a Rolando, pela amabilidade em deixar-me reproduzir tão belo e sincero testemunho de Amizade Poética. Já agora, também clubística, porque Rolando também é do Sporting! (Os negritos são de minha lavra.)
Se não forem os Poetas a lembrarem-se dos Poetas, quem o fará?!
Lembre-se e preste atenção, Caro Leitor/a Leitora/a, Se Faz Favor!
Aproxima-se o “Dia de Camões” também celebrado como “Dia de Portugal”.
Nas “Cerimónias Oficiais”, consta o “Dizer Poesia” de Camões? Oxalá eu esteja completamente enganado!
Obviamente há Instituições particulares, modestas muitas delas, que farão essa homenagem. A APP – Associação Portuguesa de Poetas será uma delas. O CNAP também já o tem feito. Outras Instituiçõestambém.
Escrever um texto sobre a temática supracitada é algo que venho delineando há algum tempo, mesmo ainda antes de ter sequer o blog.
Pensara, primeiro publicar sobre o assunto em suporte de papel.
Após, termos criado o blog, a respetiva divulgação simultaneamente neste enquadramento, passou a ser também um objetivo. Só que, escrever, por vezes traduz-se num parto difícil.
Já pesquisara sobre o assunto por várias vezes, recolhera documentação… Mas houve diversos condicionalismos que impossibilitaram a escrita: falta de tempo, mudanças de atividades, viagens e, algo que por vezes me atormenta, não localizava as fotos nem o manuscrito onde constava o texto original que serviria de mote para o assunto a abordar. Finalmente, localizei as fotos e encontrei o manuscrito, que transcrevi para computador.
Esse texto, escrito à mão, foi a transcrição do que a prima Teresa “Boa Nova” me contou em 1987, sobre como eram “As Maias”, em Aldeia da Mata, ao tempo da sua juventude.
Mas a inércia continuava… (A inércia, não a Dona Inércia de que também já falei neste blog, que essa, abalou...)
Outra questão prendia-se com a publicação das fotografias na net, da recriação que foi feita das “Maias”, julgo que em 1984, dinamizada pela prima Teresa com a colaboração de outras senhoras vizinhas da Rua Larga e que documentei fotograficamente.
Mas porquê essa hesitação na divulgação das fotos?!
(Algumas das participantes na recriação das "Maias" em 1984.)
Como todos sabemos, o que publicamos na net, para ser lido ou visualizado em “sinal aberto” deixa de ser nosso. Passa a domínio público.
Por outro lado, as fotos envolvem pessoas, na altura miúdos e miúdas, atualmente adultos e, na minha perspetiva, para divulgá-las acho que deveria pedir autorização às próprias. Só que, na prática, esse aspeto tornou-se na verdade impossível de concretizar, em tempo útil.
Em contrapartida, abordar a recriação das “Maias” e não apresentar fotos era empobrecer muito o assunto. Nem faria qualquer sentido.
E um dos objetivos deste escrito é também homenagear todas as pessoas participantes nessa recriação com realce para a maior dinamizadora do evento.
E as fotos são bastante sugestivas.
(Foto do grupo que foi colher "boninhas".)
De modo que, atrevi-me a publicar, digitalizadas, algumas das fotos tiradas na altura aos participantes nesse acontecimento, miúdos e miúdas, agora senhores e senhoras, alguns certamente já com filhos na idade que eles teriam à data do mesmo. As fotos não são nenhum prodígio de técnica ou primor de estética, valem fundamentalmente pelo seu valor documental, por retratarem momentos fugazes da Vida e do quotidiano, como tal irrepetíveis. Valem pela sua singeleza, simplicidade, mas também extraordinária comoção que nos podem despertar, pois, enquanto vivos, gostamos sempre de nos recordarmos nos momentos de infâncias felizes e as pessoas mais velhas que participaram, e já cá não estão, deixam-nos sempre muita Saudade.
Penso que as fotos não deixarão ninguém que as visualize, indiferente.
E será que toda a gente ainda se reconhece nas imagens apresentadas?!
(Outra imagem do grupo que foi às "boninhas".)
De qualquer modo e após ter refletido e tomado a decisão de expor as fotos, se alguém de entre os que nelas estão presentes não concordar com a respetiva publicação, pode dar-me conhecimento e eu retirarei a foto do modo público. O meu mail segue anexo também para esse efeito. (fcaritamata@hotmail.com)
E com todos estes hiatos, Maio seguia o seu percurso e este texto teria que ser publicado neste mês e mesmo assim já seguia atrasado, pois a temática enquadrar-se-ia melhor no início do mês…
E vamos então às “MAIAS”…
Estas festividades também designadas por “MAIO”, conforme as regiões, são uma tradição muito antiga, de raízes pré-cristãs, sendo-lhes atribuídas origens na cultura romana e também em rituais celtas, milenares, portanto.
Como em muitas outras tradições dá-se um processo de integração de diferentes padrões culturais, verificando-se um processo de aculturação.
Durante algum tempo, nomeadamente na Idade Média, não foram bem aceites as respetivas manifestações, chegando a serem proibidas em Portugal.
Também num contexto cristão foram de algum modo integradas noutro tipo de festividade, com realce para as Festas da Santa Cruz, que atingem grande expressividade nalgumas localidades portuguesas, com especial destaque para Barcelos.
Na Aldeia, também se mantém a tradição de enfeitar a “Bela Cruz”, no início de Maio, nos cruzeiros de Santo António e de São Pedro, como ainda este ano aconteceu.
Mas retornando às “Maias”… que, ancestralmente, celebravam o início da Primavera e o final do Inverno, ainda que na vida atual, desligada dos rituais agrícolas esse significado possa não ser consciencializado.
Continuam ainda a ser lembradas e comemoradas, num contexto de cidadania atual, em diferentes localidades do Continente, de Norte a Sul, nas Ilhas e também em Espanha.
Das que conheço, que ainda se realizam, ocorrem na Cova da Piedade, Romeira, no 1º de Maio e na cidade de Portalegre, que integrou esta tradição precisamente nas festividades do “Dia da Cidade”, a vinte e três de Maio, conforme documento no início do post.
Mas na pesquisa efetuada, vi referências a festas no Minho, Trás-os-Montes (Mirandela, Bragança), Óbidos, Beja e várias terras do Algarve, para além de localidades dos Açores, onde as “Maias” também são festejadas.
(In: Mais Beja - Associaçãp para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja.)
A forma de manifestação desta festividade ainda que se processe de modos diversos, conforme as localidades, contudo tem aspetos comuns. O principal é o recurso aos enfeites confecionados com flores, sejam as flores das giestas amarelas, a que em muitas zonas se chamam também maios e as boninas, que na Aldeia se nomeiam “boninhas”, ou seja os malmequeres amarelos.
Com diferentes características lá estão as flores amarelas, seja em ramos, em coroas ou em cordões, colares e pulseiras.
(A confeção dos enfeites.)
(A prima Antóna Caldeira observava e o Ti Tonho Rei, que me inspirou para um poema que já coloquei neste blog, guardava.) ( aqui)
Mas para quem quiser saber um pouco mais sobre o assunto, deixo, no final, sugestões de algumas ligações para pesquisa…
E vamos então… finalmente, ao relato do que me foi contado pela prima Teresa Ferreira Belo, mais conhecida por “Teresa Boanova” sobre o festejar do “Maio” em Aldeia da Mata, nos anos quarenta do século XX.
« O Maio de 1940 era assim…
Juntavam-se as cachopas todas, iam colher as boninhas e fazia-se o “Maio”.
Vestia-se a rapariga que fazia de “Maio”, com uma saia rodada, uma balsa para fazer saia balão e o grupo a cantar ia atrás. O “Maio” ia vestido de branco, com uns cordões amarelos ao pescoço, pulseiras nos braços e grinalda na cabeça. (1)
E cantava-se:
Oh Maio, já lá vai Abril e Maio que a nossa mãe não amassa.
Cantamos uma cantiga, enquanto a fome passa.
Dá dez réis ao Maio para comprar melões
Que as vossas casas são uns casarões.
São uns casarões, umas casarias
Dá dez réis ao Maio, para comprar melancias.
Oh Maio, Oh Maio, Maio das cachopas
Para onde vai o Maio? Vai por essas barrocas.
Oh Maio, Oh Maio, Maio dos anjinhos
Para onde vai o Maio? Vai por esses caminhos.
Oh Maio, Oh Maio, Maio das solteiras
Para onde vai o Maio? Vai por essas barreiras.
Oh Maio, Oh Maio, Maio das casadas.
Para onde vai o Maio? Vai por essas tapadas.
No intervalo dos versos dizia-se, “… Dá dez réis ao “Maio” para comprar melões…” e outras vezes dizia-se. “… Já lá vai Abril e Maio que a nossa mãe não amassa…”
As pessoas das lojas davam rebuçados, alguns mais ricos, umas frutas, que eram divididas pelo grupo, que já andava com fome da cantoria…»
(Teresa Boanova, 1987/08/29)
(1) - Os cordões, as pulseiras e a grinalda eram feitos com as boninas enfiadas com uma agulha numa linha.
(Enfiando as "boninhas" na linha, com a agulha. Destaca-se a D. Dolores exatamente nessa função.)
P.S. –
Este é o texto sobre a temática em epígrafe e saindo ainda em Maio…
Abordando o assunto das “Maias”, com destaque para Aldeia da Mata.
Homenageando todas as pessoas participantes, com especial lembrança das que já cá não estão… Realce à prima Teresa, a dinamizadora desta atividade e de outras ligadas à tradição popular.
Mas também a D. Dolores, em plena atividade, conforme a foto documenta e a prima Antónia Caldeira e o Ti Tonho Rei, mais observadores e ainda D. Maria dos Remédios, também participante na confeção. Já todos ausentes.
E, para finalizar, haverá melhor maneira de homenagear as Pessoas, que não seja pela lembrança das suas realizações construtivas?!
Parabéns e obrigado a todos os participantes, miúdos e miúdas, à data; atualmente Senhores e Senhoras, pois sem as respetivas participações o "post" ficava mais pobre. Espero que se revejam com Saudade e que gostem!
Das Pessoas mais velhas participantes, também um obrigado muito especial a D. Maria Belo, graças a Deus, entre nós.
Um dia, pode ser que se publique uma versão do tema, em suporte de papel, de modo a alcançar outro tipo de público leitor.
Mês de Novembro é mês de lembranças, de recordações...
Mas também é de celebração. Celebração e comemoração de quem faz faz, hoje, oitenta e seis Primaveras.
Melhor dizendo, oitenta e seis Outonos, que é o Outono que comemoramos.
Palavras?! Que palavras, para descrever a Juventude, a frescura de quem está sempre pronta para oferecer um ramo de cheiros e frescos do Quintal - Horta - Jardim - Pomar?
Dar de mãos cheias: verduras - acelgas, couves, espinafres; ramo de cheiros - hortelã, salsa, coentros, tomilho, poejo, mangerona... Frutas - laranjas, limões, mirtilos, medronhos... Flores - rosas, tantas rosas! Crisântemos, esta flor outonal, uns ramos de hera, iris, malva sardinha, malva rosa, malva de cheiro, malva Amor...
Rosas! Um ramo, um regaço de rosas...Rosas brancas de Santa Maria, rosas rosas de Santa Teresinha, rosas de cheiro bravias, rosas amarelas, vermelhas, salmão, brancas, rosas rosas e cheirosas... Rosas!
Quem está sempre pronta para dar. Dar é uma forma de Amar! Um Amor sem condição, incondicional.
Palavras?!
As triviais: Parabéns! Felicidades! São os votos que formulamos.
Não há palavras para o que sentimos.
Obrigado por tudo o que lhe devemos, pelas dádivas que de Si recebemos, pelo que nunca lhe pagamos.