Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Terminou recentemente, 6ª feira passada, esta excelente Série de “Television de Galicia” que a RTP2, em boa hora, resolveu adquirir. Aliás, na sequência de outras séries europeias que vem transmitindo, desde 2014 e com as quais me comecei a “prender”, a partir de “BORGEN”.
Sobre estas obras fui escrevendo alguns posts, sobre que fui notando o agrado crescente das Pessoas que têm a amabilidade de visitar o blogue. Assim também me fui entusiasmando na escrita e, após Agosto, em que apenas coloquei dois posts, em Setembro procurei responder ao crescente interesse constatado, colocando textos maioritariamente sobre a Série supra citada, mas também diversificando outros temas.
Obrigado a todos os Visitantes e Visualizadores, pelo estímulo e desafio a que me incentivaram.
E, agora e sob a forma de síntese, registaria alguns aspetos relevantes desta série, que me fizeram ficar “pegado” ao écran durante estas três semanas e ainda escrever textos comentando os episódios.
A saber:
- O facto de ser uma série histórica.
- No respeitante a História, enquadrar-se numa época de grandes mudanças na sociedade europeia. O final do Antigo Regime, a eclosão da Revolução Francesa e o mais que virá, caso a série continue.
- Cuidado nessa reconstituição, embora não saiba muito sobre o assunto, mas o vestuário; os temas abordados tanto na medicina como na ciência; os objetos utilizados pelos médicos e enfermeiras, as plantas usadas na botica; o papel e transformações nas classes sociais; as problemáticas na Igreja e os vários posicionamentos relativos dos vários intervenientes, por vezes até contraditórios e contrários à própria essência do cristianismo; a Santa Inquisição.
A intencionalidade em ir-nos situando no tempo narrativo, referência à decapitação de Luís XVI, à declaração de guerra da Espanha a França. E, até no tempo meteorológico. Talvez nem sempre se reparasse, mas quando a narrativa foi avançando e já se estava na Primavera, após a declaração de guerra, quando apresentavam exteriores, tinham o cuidado de mostrar flores, aves a chilrear e saltitar nos arbustos.
- A ação decorrer em Santiago de Compostela.
- Os temas, o texto e os diálogos. Eram sugestivos e ricos.
Valores, atitudes e comportamentos da época e possibilidade de comparar com a atualidade, constatar mudanças ou verificar persistências.
Preconceitos e tabus, versus surgimento de novas ideias e problemáticas.
A estruturação classista da época, papéis sociais, funcionais e profissionais bem definidos. A estruturação sexista da sociedade.
- A representação. Os atores fizeram um ótimo trabalho individual e resultaram muito bem no plano coletivo.
- O enredo romanesco. Não posso de deixar de frisar o romance entre os protagonistas, Daniel e Olalha; o par engraçado que formaram Cristobal e Rosália. O Amor de Dom Andrés por Dona Irene.
- A intriga, a luta pelo Poder dos vários interessados. As alianças táticas que foram estruturando. Os conluios que foram congeminando.
- O mistério dos assassinatos que se vai desvendando, em termos de narrativa, embora não tenham chegado a conclusões finais, mas que para o espetador foi revelado mais cedo, quando Duarte retirou a máscara, após assassinar o Padre Damião.
Mas, e lá vou eu com opiniões, se só tivessem revelado quando ele matou o fidalgo, Dom Leopoldo, ter-se-ia ficado mais tempo na dúvida e consequente expetativa.
A estruturação da narração e desenrolar do enredo, como se de uma partida de xadrez se tratasse, sugestão que o narrador formula num diálogo entre Mendonza e Elvira.
- A caraterização das personagens através das ações que vão executando e como também vão evoluindo, mudando até na sequenciação temporal e também conforme o contexto e a contracenação.
Destaco mais especialmente Duarte, que foi ganhando protagonismo.
Dona Elvira que se foi afundando, tal qual a classe que simboliza.
… … …
- O enquadramento num perfil psicológico e de personalidade, personagens que nos vão revelando princípios, valores, atitudes caracterizadoras, agindo nos seus comportamentos em função desses princípios. Os seus conflitos interiores, os seus dilemas, ...
Contudo, acho que se esta série fosse produzida por outros canais televisivos com muitos mais recursos, teria sido tecnicamente muito mais enriquecida.
Veja-se que nos exteriores não há utilização de quaisquer outros meios que não os humanos.
Estando-se em guerra ou em vias disso, não há qualquer sinal, para além da presença de três atores, vestidos de soldados. Não há cavalos, coches, canhões… Não circula qualquer veículo de transporte. A explosão foi filmada como se estivesse a ver-se ao longe… …
Mas cada um faz o que pode, com o que tem e, nesse aspeto, o trabalho de Television de Galicia foi excecional, sob todos os pontos de vista.
E como não tenho a pretensão de esgotar o assunto, diga-nos também a sua opinião sobre o que reteve como síntese da Série. Se faz favor!
Ah! E por último: Seria de todo importante que a RTP2 pensasse numa reposição desta série, como está a fazer com Borgen!
E ainda volto ao enredo desta pequena novela, que tem dado pano para mangas.
Volto a falar do par Cristobal e Rosália, os mais derretidos da ação, mas ao que parece, os ânimos ficaram esfriados por parte de Rosália, depois das descobertas que foi fazendo, graças aos estratagemas de Duarte.
Cristobal bem se explicou, explicando como fora também a estória dele com Alicia, que também envolveu o seu pai que a expulsou, quando soube da gravidez, que Alicia era apenas criada em sua casa, pouco menos que gente e o pai de Cristobal quereria melhor para ele e ameaçando-o de deserdamento, sempre acabou por repudiá-lo.
E Alicia ficou na rua, para onde entretanto voltou novamente, como também já sabemos. E o mais que lhe poderá suceder, agora que Espanha está em guerra com França, por enquanto lá para o Rossilhão, para lá dos Pirinéus, mas em breve alastrará por todas as Espanhas… E o que ainda está para vir, que os franceses virão, primeiro de boamente e a pedido de governantes espanhóis, mas depois ficaram e ocuparam Espanha, roubaram o trono, prenderam o Rei e muito mais que não cabe aqui falar, que apenas falamos de pessoas comuns, como o par de que vimos falando…
E se Cristobal agora tentou ajudá-la, da outra vez nem isso fez e, por isso, ela vagueando grávida por Santiago, subnutrida, a criança nasceu muito débil e depressa morreria.
Cristobal considera que foi desprezível, mas que agora está diferente e pede a Rosália que não o deixe só. Mas esta acha que ele não sabe o que é o Amor e não quer que ele lhe atormente a Vida.
E nisto ficamos, que não sei se haverá continuidade, embora já me tivessem dito que sim. O que sabemos também é que o nosso boticário voltou a injetar-se com ópio!
Dona Úrsula, que não me lembro se ela era assim tratada, mas é deste modo que a gosto de nomear, também tem que ser falada, nem ela nos perdoaria… e ela é uma torre preta, que também tem muito poder na narrativa.
Está sabido, porque já nos foi revelado, que ela tem algo que ver com os Dominicanos, que até lhes enviou uma carta, por Duarte, dirigida a Frei Vicente, com exigência de resposta, que veio pelo mesmo portador. E vimos que Úrsula ficou muito apreensiva.
Úrsula, Enfermeira Mor, mão indutora do roubo do original do tão propalado testamento que, pelas suas mãos, fora destinado aos Frades Dominicanos, foi confrontada sobre o facto, por Gaspar Somoza, Inquisidor do Santo Ofício.
Que uma guerra tem muitas batalhas e que tendo ela o testamento roubado, pagar-lhe-ia muito caro por isso, que ir-se-ia livrar dela. Que muito dinheiro roubou ao Hospital para pagar a educação de um rapaz nos Dominicanos, por detrás disso tudo terá que haver uma história muito sentimental. Mas que os seus esforços foram em vão, porque ele, Somoza, ordenou que expulsassem o moço de Compostela, a ponto de ela nunca mais o encontrar.
Que neste jogo de xadrez, as peças variam muito de posição e função e os aliados de há pouco são agora inimigos.
E, como inimiga rancorosa, a que fora aliada tática durante tanto tempo, lhe disse: “… Passou uma linha que nunca deveria ter passado.”
E, por aqui ficamos sobre a Enfermeira Mor, ficando sem saber que rapaz será esse e que relação poderá ter com Dona Úrsula.
Este é também um dos assuntos que ficou também em aberto para uma eventual, mas possível e desejável, 2ª temporada.
E ainda sobre personagens e ocorrências no Hospital, não podemos esquecer o ocorrido no meio de toda a confusa situação de emergência hospitalar, o encontro, quase embate, de Duarte e Mendonza, e o olhar de ódio que este, rei preto, lançou a Duarte, peão que o colocou em xeque, só que ele disso não sabe, julgando que é o cavalo branco, Daniel!
E ainda sobre acontecimentos no Hospital, não posso deixar de mencionar a autópsia ao ajudante de oficial de justiça, feita por Doutor Devesa, que concluindo ter sido uma arma branca a causadora imediata da ferida, mas que, caso ele não tivesse o fígado tão cirrosado, talvez se tivesse salvado.
Argumento que Dom Andrés, na ânsia de tentar salvar Dona Irene, ainda tentou que fosse usado, mas Doutor Devesa lhe fez ver que isso era de todo impossível, pois que a causa da morte fora o golpe desferido.
E, talvez para findarmos, lembramos que Breixo Tabuada, irmão da nossa mocinha heroína, Olalla, anda à solta pelas ruas de Santiago de Compostela e, com ele, os Ideais da Revolução Francesa.
Este enredo, neste décimo quinto capítulo, enredou-se bastante, devido aos desempenhos e ações de alguns personagens.
Para esse facto muito tem contribuído Duarte. Ao fazer-se passar por Doutor Alvarez de Castro, roubando-lhe a identidade em dois momentos da narrativa, cria situações problemáticas a várias personagens, nomeadamente ao próprio roubado.
A partir da certidão de nascimento do filho de Alicia e Cristobal, e que se chamava Martiño, mas que só agora o pai teve conhecimento, conseguiu que este se desentendesse com Rosália. Lembramos que Duarte soube do segredo de Alicia, quando a ouviu em confissão, como se de clérigo se tratasse. Pelo que a sua ida à paróquia de Santa Susana, a falar com Padre Manuel, já fazia parte dum plano….
Cristobal, na posse dessa certidão, confrontou Alicia sobre o facto de ter sido ela que a obtivera e colocara no quarto de Rosália.
Aquela completamente desconhecedora do facto, negou e supos ter sido Dona Úrsula que diligenciara nesse sentido e, sem mais delongas, a ela se dirigiu e, no calor da discussão, logo a ameaçou de dar a conhecer a situação desta com os Dominicanos, pois juntamente com Duarte haviam lido a carta que a Enfermeira Mor lhes enviara.
Foi como dar-lhe veneno a beber! Nunca víramos Dona Úrsula tão exaltada, tão fora de si, tão extravasada de emoções, que quase matou a jovem. O assunto em causa é sobre algo que mexe completamente com ela, no mais profundo do seu ser, ao ponto de ter deixado a sua postura seráfica, estátua ausente de sentimentos, que se move nos corredores e enfermarias, entre doentes, como se visitasse museu de cera…
Atirou ao rosto de Alicia tudo o que haviam feito por ela, que a haviam tirado da rua onde vivia e se entregava por um naco de pão. Que voltaria à rua, de onde nunca houvera de ter saído, que seria expulsa do Hospital, logo que o Administrador resolvesse abrir os portões.
O que logo que aconteceu, foi vê-la carregando a sua trouxa, com os seus pertences, na direção do portão de saída, sem lugar ou rumo a seguir, sem eira nem beira, nem dinheiro que Cristobal lhe quisera oferecer, que não queria esmolas e o dinheiro já viera alguns anos atrasado.
Dona Úrsula, torre preta, foi confrontada pelo Inquisidor, Dom Gaspar Somoza, bispo preto, que também quer depor o rei branco, pelo facto de ter na sua posse o original do tão célebre testamento do Padre Damião, que bastantes voltas já terá dado no túmulo, quantas o testamento tem volteado nos episódios. Que Somoza já encostara Dona Elvira à parede, que isto de um bispo querer ser Rei tem que se lhe diga. Que Dona Elvira fora a mão executora e Dona Úrsula a mão indutora do crime, pois mexer com a Santa Inquisição tem muito que se lhe diga e termos técnicos próprios de designação dos crimes. E, à partida, bastava ser suspeito. Era-se desde logo criminoso e, sendo ou não sendo, havia sempre maneira de o provar, para isso havia os suplícios. E não havia crime sem castigo e mesmo sem crime sempre se arranjava castigo. Que o dissesse o Padre Bernardo, que nada fizera, só não revelara um segredo de confissão.
E já que falamos de Padre Bernardo, que no tabuleiro poderia ser visto como bispo branco, mas agora de pouco valia porque decidia como preto, condicionado a Somoza… Ou seria antes um peão?
E o Padre Damião, enquanto vivo, não teria sido o bispo branco? Não esqueçamos, que na narrativa, o Arcebispo só apareceu mais tarde! Bispo branco que também foi comido, nas jogadas de poder do rei preto, assassinado pelo peão Duarte.
E ainda sobre Bernardo… Foi ele portador da carta de Aníbal, paciente que falecera no Hospital e que, no leito de morte, escrevera a célebre carta dirigida ao Doutor Sebastian Devesa, que erradamente fora parar às mãos de Úrsula, que a entregou a Somoza, para incriminar o Padre. E que o levou à prisão de que, há pouco, saíra.
E saíra e trouxera uma cópia dos ditos da dita carta, que ele transcrevera de memória, com a sua própria letra, pois que Somoza lhe dera o original a ler, para que lendo ele dissesse a quem ela se destinava na verdade. Só que ele não lhe revelara o nome proscrito, embora soubesse quem era, porque o ouvira em confissão, na qual se escudava para manter o segredo. Pagando com isso os costados na prisão. Que ele além de Homem de Honra era ungido e juramentado de Sacerdote.
E entregando a cópia dessa famigerada carta a Doutor Devesa e deixando-o a sós na Igreja, para que este a lesse para si próprio, este a leu alto, para que também ouvíssemos as palavras que nela estavam escritas, com o punho de Bernardo, pois também estávamos curiosos. E para que passados mais de dois séculos, pudéssemos também ajuizar da gravidade ou não de tão afamadas palavras, capazes de levar um Homem à prisão, condenação antecipada e fogueira do Santo Ofício.
Pois ouvida a leitura da carta, mas não retidas todas as frases, porque a memória nos atraiçoa, mas nos recordamos que genericamente continha só e apenas palavras formando frases bonitas, de um Amigo para outro Amigo, expressando-lhe o seu sentimento de Amizade, uma amizade mais forte e apegada, de que se subentendia o Amor.
E lendo, Doutor Devesa chorou. E das frases ditas me lembro de uma “… Uma vida arrebatada pela incompreensão…”
E, será pecado amar Alguém?! O próprio Jesus o disse dirigindo-se aos seus Apóstolos. “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!”
E sobre Doutor Sebastian Devesa, nos quedamos por aqui. Que ele anda atarefadíssimo nas suas funções de médico do Hospital Real de Santiago de Compostela, aonde chegaram dezenas de estropiados e feridos, moribundos e mortos, queimados vivos, tal qual ele teria sido se tivesse sido denunciado por Padre Bernardo. Provenientes da explosão havida no armazém de pólvora seca da Cidade Compostelana.
Não lhe bastariam já os doentes do mal que desconheciam o nome, bem como a cura, que é isso que o médico precisa saber; mas que inoculando transfusões de sangue da ama primeiramente atingida pela doença, constataram que nem todos morreram, alguns sobreviviam, que Doutor Daniel já lhe dissera. O que não sendo, per si e desde logo, conclusiva esta constatação, nos mostrava haver já algum avanço na Medicina e na Ciência, que aos poucos progrediam.
E permanecendo no Hospital e na enfermaria, cheia de doentes, olhamos agora para a nossa querida Olalla, a mocinha e heroína da história, aflitíssima com tanta gente precisando de ajuda, que as enfermeiras não tinham mãos a medir.
De entre a muita gente que chegava ao Hospital, nem todos eram feridos, também vinham familiares procurando por eventuais doentes seus e veio também o Capitão Ulloa, que não chegara a ir para a frente do Rossilhão, porque ficara na busca dos rebeldes de Laurier, que haviam despoletado a explosão, que eles isso mesmo comunicaram através de um bilhete, não foi por vídeo, que ainda não havia essa tecnologia, mas, pelos vistos, também conheciam os métodos de guerra psicológica.
E o Capitão também veio, para também ver a mocinha, por quem também era apaixonado, que para a heroína nunca faltam candidatos a heróis, mas também viera para lhe dizer que, entre os feridos com gravidade, estaria o seu irmão Breixo, que fora encontrado no próprio local da explosão.
E entre palavras e ações, a tranquilização de Dom Andrés para Olalla, de que fariam todos os possíveis por ele e ela que fosse para junto do irmão, que o ajudasse, lhe dissesse tudo o que havia para dizer, palavras também de Ulloa, pois supostamente Breixo iria morrer.
E nesta confusão de palavras e sentimentos, de atos e ações, não posso deixar de realçar uma sugestão de Padre Bernardo, sobre a forma de operacionalizar o modo de lidar e gerir o tratamento dos feridos.
E, como?! Colocando uma fitinha colorida em cada um dos doentes, de acordo com o respetivo grau de gravidade. O designado “Método de triagem de Manchester”, antes de tempo. Que era um dos méritos do Hospital, antecipar-se ao progresso e avançar cientificamente!
E Olalla foi para junto de uma cama onde estava um doente quase totalmente queimado, rosto irreconhecível, tapado por ligaduras, e supostamente seu irmão Breixo, a ele se dirigiu, o consolou, lhe disse o que achou ser importante dizer nessa hora atormentada e aí se deixou ficar, chorando.
Posteriormente, já mais consolada, por acaso, encontrou o seu amado Daniel, que o Destino assim quer e como haveria de ser se trabalham no mesmo Hospital, que não é nenhum Santa Maria ou São João, pois haveria de ser, se isto se passou há mais de duzentos anos!?
E Daniel não perdeu tempo e lhe disse que a amava e se beijaram, quando a sua esposa, Clara, chegou e os viu, ficando enraivecida, chamando mosca morta a Olalla e foi quando ela disse ao marido, Daniel, que ele iria ser pai. Mas isto já contei anteriormente e não volto a esse Caminho!
E terá sido também daí que ficou com raiva a Olalla e, quando esta estaria descansada no muro da escadaria, a empurrou e ela caiu no lajedo e Duarte lhe foi pegar, levando-a.
Aparentemente morta, mas eu estou em crer que não, pois assim se fecharia uma porta importante no enredo, pois como me referiram num comentário, com os protagonistas mortos, a série perderia completamente o interesse. O que é inteiramente verdade.
Mas eu estou convicto que nenhum deles morreu. Os guionistas apenas nos quiseram induzir nessa sugestão.
E, mesmo agora, li outro comentário em que me dão conhecimento que a 2ª temporada vai estrear na Galiza no Outono e que os protagonistas não terão morrido.
Pois é mesmo assim que eu também acho, que os guionistas devem dar seguimento à Série e ouvir ou ler o que dizem os “fazedores de opinião” das redes sociais.
E Muito Obrigado a quem tem a paciência de ler o que escrevo e ainda comentar!
E com este remate, proponho-me findar este comentário enviesado, mas sem antes também lembrar que não valia a pena tanto desconsolo de Olalla, porque o seu irmão, Breixo, supostamente quase morto na explosão, afinal não morreu, que nós o vimos posteriormente na Cidade. E mais uma vez o Destino teceu a sua teia na narrativa, e fez com que ele se cruzasse, melhor dizendo, esbarrasse com o Alcaide Mendonza, que o vinha procurando insistentemente, que isto como se diz, “quem procura, acha”, só que Mendonza procurando e achando, afinal não achou e mesmo dando um encontrão em Breixo, não o encontrou.
Porque Mendonza, agora, também era procurado, porque os homens do Arcebispo, procurando na sua casa, encontraram, acharam a máscara do assassino, em Série, “serial-killer”!
Que um ponto ficou por esclarecer. Continuando a contar este conto, e aplicando o ditado, sempre acrescentando algum ponto!
E talvez seja bom começar, recomeçando sobre a personagem que designei de “noviça de freira”, que me foi esclarecido através de comentário, nomear-se esta categoria ou função, de “postulante” e agora me lembro de ouvir esta designação. E que o seu nome é Alicia.
Assim esclarecidos e feita a devida constatação, cabe-nos agradecer a quem tem a amabilidade de nos ler e ainda corrigir, quando é necessário. Obrigado!
Mas já que estamos na “postulante”, personagem sobre quem só falámos no texto anterior, referindo ser ela uma pessoa doce, também sofrida e humilhada, com um caso mal resolvido com o boticário, de que ela tinha uma péssima recordação. No episódio treze dispôs-se a confessar-se, não sei o que disse, que é segredo, mas pelos vistos parece-me que se confessou, mas com Duarte no confessionário! Este Duarte é melhor que a encomenda! Não sei até onde vai esta personagem…
Também se propôs falar a Rosália do mau caráter do boticário, pedindo a opinião da enfermeira mor, que anuiu. Mas não chegou a fazê-lo, pois que ao observar o derriço de Cristobal para com a enfermeira Rosália, tendo-se aquele revelado com uma postura e comportamento diferente do que lhe conhecia, não teve coragem de intervir e portanto não falou nada!
Personagem sofrida e sofredora, usada pela Enfermeira Mor, vítima constante de bullying (conceito desconhecido à época), mas por vezes revoltando-se pelas ações que ela lhe impõe, embora maioritariamente cedendo às chantagens e ameaças a que a “Dragão” a sujeita.
E, agora já no Episódio catorze, cheio de peripécias…
Alicia confessara-se mesmo a Duarte, ficando ele a saber o seu segredo.
E, conhecendo-o, tratou de o usar a seu favor.
Disfarçado e apresentando-se como Doutor Alvarez de Castro e expressando-se oral e corretamente, pediu a Padre Manuel, Pároco de Santa Susana, para consultar os registos do Hospital. E para quê?!
Ele próprio foi um enjeitado, recolhido pelo Hospital, quando Irmã Úrsula nele deu entrada, há trinta anos. Teria ele cerca de oito.
Isto soubemos porque Dom Cristobal por ele e pelas suas origens indagou à Enfermeira Mor. Que solícita e prestável, à sua maneira e para o que lhe convém, neste caso ter Duarte na mão, o avisou de que o Boticário andava querendo saber coisas dele.
Os entremeses entre o que escrevemos antes e o que escreveremos a seguir, desconhecemos, que nos filmes nunca mostram tudo, mas também temos a cabeça para pensar…
E o que se passou a seguir é que no quarto da menina enfermeira Rosália apareceu uma carta que era um registo de nascimento de uma criança, nascida em 1790, filho de Alicia Bermudez, solteira e de pai desconhecido… não sabemos como a carta lá foi parar, mas deduzimos, não acha?!
E está tudo dito e explicada a tristeza de Alicia e porque tanto se agarra às crianças e chora com o seu infortúnio e as suas desavenças com Cristobal e porque o considera tão mau caráter e porque queria avisar Rosália.
Rosália que ao tomar conhecimento deste assunto logo tratou de se ir embora do Hospital, abandonar a profissão, agora até com salário, para não mais ver esse mau caráter.
Só que não pôde, porque os portões do Hospital estavam fechados por ordem do Administrador, por razões de que falaremos, quando terminar este excerto, respeitante à enfermeira, monja postulante, de nome Alicia, de quem agora até já sabemos o sobrenome, personagem doce, meiga, sofrida e sofredora, de que pouco falara em capítulos anteriores.
E vamos ainda aos entretantos…
Quando nos dispomos a visualizar uma série, apelativa como esta e com personagens tão cativantes, agindo num contexto como o daquela época tão exacerbada de paixões, com contrastes tão marcantes sob variados aspetos, é difícil não nos enredarmos, não tomarmos posição, gostarmos de uns e detestarmos outros. Tomarmos partido, em suma.
E, neste posicionamento, pretendermos que a história siga este ou aquele rumo, castigarmos esta ou aquele personagem e premiar esse outro ou estoutra.
Só que não somos guionistas da série e estes é que determinam o Caminho da história, o percurso das personagens. Que nem sempre é do nosso agrado, nem corresponde às nossas previsões, motivações e simpatias.
E vamos lá saber porque os portões do Hospital estão fechados…
Seria devido à doença misteriosa que nele grassa, que tanto apoquenta médicos e enfermeiras, que tanto trabalho lhes dá, tanto desassossega o Administrador e tanto aflige, inquieta e perturba Alicia? Que só deixa indiferente a Enfermeira Mor, alma de gelo, coração de pedra?
Não, embora por vezes pudesse funcionar a quarentena!
À série chegou, por pouco tempo é certo, um novo interveniente, Breixo Tabuada, irmão da nossa estimada Olalla, podemos manifestar-lhe a nossa simpatia, pois quase unanimemente goza desse privilégio no Hospital, com exceção de quem nós sabemos!
Com ele chegaram também, declaradamente, os Ideais da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade! Já havia simpatias por essa Causa, é certo, mais acentuadas em Dona Irene, com uma práxis toda para aí virada; menos acentuadamente em Dom Daniel, que até estudou em França!
Mas manifestar simpatias por esses princípios, para mais ainda atuar em conformidade, distribuindo panfletos nessa onda e contra a Guerra, quando a Espanha estava em guerra com a França, era pedir o direito à forca!
E era precisamente disso que Breixo fugia e que foi para Santiago, também para ver a irmã querida, mas ainda e prioritariamente para não sentir o nó apertar-se na corda ao pescoço. Pediu guarida à irmã, que não teve melhor ideia que levá-lo à mercearia de Dona Irene que, em consideração por Olalla, lhe deu asilo por uma noite.
Cedência de asilo que lhe irá custar muito caro, a si própria e aos que lhe são mais queridos.
Isto porque o Alcaide, que está ufano na mó de cima, à sua loja enviou, na manhã seguinte, uma patrulha para revistar a casa e apanhar o fugitivo. Na confusão e refrega que se seguiu, Dona Irene, num gesto espontâneo, embora irrefletido, puxou de uma tesoura e espetou-a no ajudante do oficial de justiça.
Ainda o levaram para o Hospital, Dona Irene, Breixo, também o Oficial. Não chamaram o INEM, que ainda não havia, nem sistema ambulatório. Os nossos médicos, nossos pela simpatia que lhes temos, os cirurgiões, de tudo fizeram para o salvar, tentaram estancar a hemorragia, o sangue escorria como em açougue, impressionando quem fosse de impressionar. Mas apesar de todos os esforços dos médicos, que também são cientistas dedicados à investigação, e embora todas as suas tentativas, o ajudante de oficial de justiça morreu.
Morrendo de morte assim, Dona Irene era uma assassina. Para além de também ter dado asilo a um desterrado e fugido à Justiça. Nesses tempos de guerra ou em quaisquer outros dessa época já se sabe qual seria o veredicto.
Estando no Hospital Real, com jurisdição própria, autonomia nesse e noutros campos, daí tão cobiçada a respetiva Administração, podia aí ficar com autorização do Administrador, com capacidade e poder de justiça civil, dentro do espaço territorial do Hospital.
E ele, também irrefletidamente (?), a essa atitude se prestou, nem que fosse para poder ficar um pouco mais com a Mulher que admira, mas também ama e que, finalmente, talvez sentindo o tempo escapar-lhe, a beijou. Em fundo, a música que, julgo eu, seriam variações sobre o tema “Concerto de Aranjuez”… Seria?
E, para proteger Dona Irene e impedir a entrada dos soldados do Alcaide, mandou fechar os portões do Hospital, não entrando nem saindo ninguém.
E assim se explica porque a menina Rosália não se pôde ir embora para a sua santa terrinha.
E, com este gesto, também o Administrador, Dom Andrés, aperta mais a corda que vai tendo ao pescoço, como já o Alcaide lhe fizera lembrar antes destes acontecimentos. Agora, e depois de tudo o que aconteceu, o que ocorrerá?! Esperemos o 15º Episódio. O último?!
E, voltando aos entretantos, e ao que vai acontecendo aos personagens. Vemos os que são execráveis, surfarem as ondas na maior e os que gozam das nossas simpatias serem maltratados. Será que os guionistas vão manter as coisas neste pé?! Ou vão ceder às pressões das audiências e das redes sociais, como nas novelas brasileiras? Aguardemos!
Vermos o Padre Bernardo nos calaboiços da Inquisição… Valeu-lhe, todavia, a intervenção do Arcebispo, Malvar de nome, que condicionou o Inquisidor a requisitar um médico, para o atender. Pronta e solicitamente, Doutor Devesa o foi auscultar e medicar, aconselhando-o a comer e a dizer a tudo que sim, ao que Somoza lhe pedisse, para ser libertado. Que, se não o fizesse, seria ele próprio, Sebastian Devesa, que divulgaria que a carta na posse do Inquisidor, a ele, Doutor Devesa, era dirigida.
E nós que gostaríamos de conhecer o conteúdo exato da célebre carta.
Vermos Clara num exercício de auto flagelação psicológica, a embebedar-se, toda desgrenhada e a ouvir a sogra, aparentemente contrita e com remorsos (?) dizer-lhe que para perpetuar a linhagem o apelido é mais importante que o sangue.
“Como é possível que consinta e apoie que eu engane o seu próprio filho e na sua própria casa?!”
E o marido, Doutor Daniel, substituído enquanto marido e como médico, sem ter conhecimento de nada.
Contudo, e enquanto Médico, o Doutor Alvarez de Castro, juntamente com Doutor Devesa, está a desempenhar o seu papel. Juntos, e sempre utilizando a metodologia científica, por deduções, a partir de hipóteses, foram construindo uma tese de que aguardam confirmação experimental no próprio ser humano.
Deduziram que é no sangue da ama-de-leite que está a explicação para o facto de o próprio filho não ser portador da doença misteriosa. Que esse facto não será apenas uma casualidade, mas antes a respetiva causalidade.
E, daí, inocularam sangue dessa paciente na outra doente também infetada e posteriormente nos bebés, para supostamente os defenderem da doença, imunizando-os. Ignoro se esta palavra já seria utilizada, ou se foram eles, enquanto cientistas, que descobriram o conceito e criaram a palavra, após saberem os resultados da experiência, que espero sejam positivos.
E esta experimentação, que não foi assim tão linear e simplista conforme a descrevo, foi decorrendo enquanto ocorriam muitas das peripécias já relatadas, até anteriormente a algumas delas, ou simultaneamente a outras.
Que esta narração ao que se desenrola nos episódios nem sempre é, nem pretende ser, exata e rigorosamente fidedigna. Me desculpem por tal!
E ficamos por aqui, pela Ciência, que deu um salto qualitativo muito grande nesse final de século, conforme nos é mostrado no Hospital, que seria muito avançado para a época.
Até já têm microscópio, imagine-se! Para além de toda a experimentação e investigação que desenvolvem. E têm um corpo excelente de profissionais empenhados, os médicos, as enfermeiras, o boticário e o administrador, que tendo que dar aval a tudo quanto se passa, se revela moderno e esclarecido. Imagine-se que seria alguma das outras trempes a comandar o Hospital!
E, conforme me foi sugerido num comentário, Duarte, o assassino em série, carrasco e vítima na mão de poderosos; submisso e obediente, mas mais autónomo do que imaginam; um zé ninguém, a mando de todos, mas mais senhor do próprio destino do que muitos; mais que inteligente, assumindo-se de meio néscio, coitadinho, mudo e analfabeto, vai fazer-se passar por Doutor Alvarez de Castro, médico do Hospital Real de Santiago de Compostela! Conforme veremos no episódio catorze, que ocorrerá logo à noite, e nos foi permitido visualizar na sinopse do que nos será apresentado nesse 14º episódio, provavelmente o penúltimo.
Ontem, no 13º episódio, andou treinando o registo de voz, na sala de operações, já envergando a jaqueta do jovem médico. Ensaio de voz a que assistiram os nossos jovens amantes, sempre em derriço, Cristobal, o boticário e Rosália, a enfermeira encarregue das plantas, mas que não distingue tomilho de arruda, nem poejo de alecrim. Que só ouviram os ensaios de voz, em audições separadas, que não viram o seu produtor, delas imaginando que seria a voz do próprio médico, Doutor Daniel.
E, por aqui ficamos, de preliminares.
Desenvolvimento
Com Clara também não foram precisos preliminares, que dois shots a levaram a entregar-se ao seu carrasco, Mendonza, o Alcaide, filho bastardo do Intendente da Galiza, personagem pérfida e cruel, que assim se pretende vingar de Dom Andrés, o Administrador. E, eventualmente, dar-lhe um neto, que seria também herdeiro da nobre linhagem do Intendente, coisa que pouco importará a Dom Andrés, que é burguês esclarecido, mas interessará bastante à sua comadre, Dona Elvira, muito dada a estas questões de linhagem.
Clara, vítima de uma cabala da tríade venenosa que já nomeámos, Alcaide, Úrsula e Elvira, em cuja casa se entregou voluntariamente ao algoz, após ter ido à casa onde a sua própria Mãe, Laura, meio alienada, vive enclausurada por mando do próprio Pai.
Pai, Dom Andrés, que convencido por Dona Irene, aceita que na Botica do Hospital se produza água de cheiro, a partir das múltiplas plantas aromáticas que existem no quintal. Inovadora a ideia, partindo da empreendedora Irene, agora que, estando Espanha e França em guerra e as fronteiras fechadas, estes produtos não chegavam à Galiza.
Pai, que num gesto de carinho, foi levar um frasquinho dessa água perfumada à sua amiga Irene, que ele devaneia torná-la mais que amiga, mas ao que ela lhe responde não estar preparada, nem ele também, porque ainda não esqueceram os respetivos cônjuges.
“Valorizo muito a nossa amizade e não quero perdê-la.” Lhe respondeu ela.
“Tudo ficará entre nós, não se preocupe!” Retorquiu ele.
Nesta série, pequena novela classifico-a eu, o texto é fundamental, rico, ideativo e os diálogos elucidativos e esclarecedores, muito bem trabalhados pelos guionistas e interpretados pelos atores e atrizes, repito atrizes, que estávamos, à data, nos alvores da libertação feminina, lutando por reconhecimento de Direitos Iguais, como já constatámos.
Dom Daniel, Doutor Alvarez de Castro, agora substituído na função de marido, em breve na de médico, finalmente reconciliou-se com a esposa, às vezes o Destino escreve direito por linhas tortas e leva-lhe também água de rosas, que agora está na moda, e pede-lhe outra oportunidade! Sacrifício inútil o da Dama!
Sua mãe, fidalga, da fidalguia antiga, de nobres valores de honradez e elevada posição social, Dona Elvira, não hesitou quando foi preciso vender-se e uma vez vendida, perdida, levar outra à perdição. E na sua própria Casa, senhorial, abriu “janelas de tabuinhas” e tornou-se desse modo também caftina.
Arrepiada de medo, contudo destemida e audaz, entra no antro sinistro de Somoza e rouba-lhe o célebre testamento de Padre Damião, a pretexto de que fora para pedir ao Inquisidor que rezasse a primeira de dez missas pelo seu querido e falecido marido, Dom Leopoldo, na Catedral Compostelana.
Enquanto isso, o bom do Padre Bernardo continua encarcerado nos calabouços da Inquisição até que ceda à vontade de Somoza, ajudando-o a derrubar Dom Andrés do cargo de Administrador.
Sempre este leitmotiv, em todo o enredo da pequena novela, mas excelente obra literária e ficcional. Pelo que pesquisei, parece-me que não se baseia diretamente num livro específico, mas não sei.
E enquanto estas personagens andam e cirandam pelos caminhos do enredo, nas ruas de Santiago, nas salas e corredores do Hospital, neste vão morrendo crianças recém-nascidas, de um mal que os médicos desconhecem.
E deste modo nos apresentam a metodologia de pesquisa científica, posta em prática pelos médicos, na busca de solução para o problema.
Formulam hipóteses, que testam na prática, experimentando, ultrapassando as barreiras da crendice e dos preconceitos e espartilhos morais, religiosos e até legais, que são sempre contextualizados ao espaço e tempo em que se enquadram. Não fosse assim e dificilmente se evoluiria na ciência, na vida e na sociedade. Há sempre saltos qualitativos que é preciso dar e assim evoluir!
Doutor Daniel está nas sete quintas, formula hipóteses e teorias, faz pesquisas e investigações, tira conclusões, expõe teses.
E, de experiência em experiência, que só experimentando se podem testar as hipóteses, chegam à conclusão que o foco do problema se situa numa ama-de-leite, portadora de uma doença desconhecida, com que infetou os bebés órfãos, que amamentou. Mas constatam os médicos, não infetou os seus próprios filhos. Porquê?!
E esta é a pergunta, a nova questão por eles formulada, que essa é a base do desenvolvimento da Ciência, uma pergunta levanta outra pergunta, uma questão nova questão.
Não sabem eles, mas já sabemos nós, atualmente. O leite da mãe permite ao filho criar anticorpos que o defendem de múltiplas doenças e infeções e, por isso, hoje se recomenda tanto que as mães amamentem os próprios filhos. Um “ganho” substancial para todos, indivíduos, famílias, para toda a Sociedade, para todas as sociedades, sob todas as perspetivas!
E, ainda sobre coisas positivas que se passam no Hospital, relembramos o sucesso da produção da água aromática, ideia de Dona Irene, trabalho do Boticário e das suas assistentes, Rosália, também sua amada e de Olalla, agora também nariz de perfumista, experimentalista de perfumes, produzidos na Botica do Hospital, tornada igualmente numa “Corbeille de Fleurs”. Não fosse ela, Olalla, jovem, mulher, solteira e pobre e poderia chegar longe, disseram o boticário e o jovem médico!
E de ações vis já nos chegam as da Irmã Úrsula, sempre em urdiduras, sendo também urdida quando se trate do Inquisidor. Cada vez mais presa na teia do mestre, deixando-se apanhar com as mãos na gaveta da sua secretária, na busca do testamento, cada vez lhe fica mais devedora de resgate cada vez maior.
Mas ela, tão cascavel e víbora quanto ele, não desistiu e, como vimos, sempre obteve o original do testamento.
E retribuiu o favor da fidalga, atormentando a inocente Clara, que, ingénua, ignorante das teias que se lhe tecem, se foi entregar na boca do lobo!
E, deste modo, terminamos, que voltámos ao início do texto, como se fechássemos um círculo!
E temos ignorado o papel da jovem noviça de freira, de cujo nome não estou certo, que acompanha desveladamente os bebés e todos os orfãos, um coração doce que chora de infelicidade, que não entende os desígnios de Deus ao levar-lhe os seus anjinhos, que já amou Dom Cristobal, que, pelos vistos, a maltratou e que, como frágil que é, se tornou numa permanente vítima da Chefe, “Dragão”, mas de quem também já aprendeu algumas manhas.
Ah! Que este conto nunca mais tem conto! Não podemos esquecer o ataque que Mendonza fez a Duarte! E, assim encerramos, de facto, esta narrativa.
“Gostaria que fizesse algo por mim.” Palavras do Alcaide, para Dona Elvira.
Assim também ficámos a saber como a fidalga obteve o dinheiro para saldar a dívida e pagar a Ulloa. A carta misteriosa que ela recebera teria sido proveniente do Alcaide, não sabemos é o que ele terá andado a fazer nestes episódios em que esteve desaparecido. Dinheiro continua a ter. Também irá repor o correspondente ao desfalque que fez? Aguardemos. Mas visualizámos a sinopse do próximo episódio e tudo indica que irá ter papel importante!
E aqui focamos um dos subtemas que vem perpassando na série. O modo de vida da fidalguia de nome e linhagem antiga, vivendo acima das posses, desbaratando as heranças dos antepassados, enchendo-se de dívidas, usando todos os mecanismos de sobrevivência, para se manter à tona da sociedade. De que o modo de atuação de Dona Elvira serve de mote e que ela pretende continuar, assumindo o papel de Homem da Casa, a chefia da Família, já que o filho optou por outro modo de ganhar a vida, recorrendo ao Trabalho, fator e base de desenvolvimento da Nova Sociedade que se adivinha.
Exemplificando a queda do Antigo Regime de que a Revolução Francesa foi o motor, à data, ainda em primeira velocidade, mas de que a Guerra do Rossilhão, no início, já prenuncia a futura entrada dos exércitos napoleónicos na Península.
O filho, Dom/Doutor Daniel, no papel principal do enredo, em múltiplas facetas.
Enquanto fidalgo, nos princípios e valores ainda espelha a sua educação de base; mas também no papel de médico, exercendo uma profissão mediante salário, de formação académica superior, obtida em França, no início da Revolução, inovador nos métodos, na pesquisa e experimentação, perfil de investigador, aliando teoria e prática.
Enquanto herói apaixonado por uma mocinha da aldeia, do campo, Amor que pretende salvaguardar, prenúncio do Romantismo. Simultaneamente casado, segundo os cânones da Ordem Antiga, por conveniência, casamento combinado pelas famílias, e formalizado por um acaso excecional, mas que ele pretende manter, porque deu a sua palavra, selando um compromisso. Contudo, não amando a sua esposa, ainda não conseguiu consumar o matrimónio. O que se tornou tema do enredo, envolvendo a esposa, Clara, viva, que já foi morta; o Pai, Dom Andrés, confidente da filha que já não tem mãe, ou julga não ter, ou não se lembra, o que dá no mesmo. E também Dona Elvira, que, assim, fica a saber dos desaires do filho.
Mas o rapaz acaba por concretizar o ato! Numa cena filmada com o classicismo e a contenção de outros tempos, em que as ações são mais sugeridas do que explicitadas. Mais imaginadas que vistas.
De caráter exaltado não consegue controlar as pulsões viris, fácil e irrefletidamente se envolve em disputas cegas e absurdas, de que a briga na taberna foi o paradigma e cujas consequências lhe rebentaram nas mãos, quando se viu perante o paciente, que quase rebentara de pancadaria. Agora, na sala de operações, onde seria suposto Daniel, enquanto médico, salvar.
E voltam as palavras sábias do seu colega e mentor, Doutor Devesa, de que as mãos são o seu bem mais precioso, que não são para desbaratar em sessões de boxe, que não sei se já assim seria designado esse desporto briguento.
Doutor Devesa, papel crucial no Hospital, enquanto Cirurgião Mor e membro do Conselho Hospitalar, numa vida dedicada aos Outros, tentando salvar Vidas, mas também consciente dos fracassos sempre inerentes dessa função. Inovador quanto baste enquanto profissional, mas apoiando as pesquisas do novel médico, pragmático e sensato, que a idade tudo leva e tudo traz. Portador de um segredo, que confessou ao Capelão e certamente dedutível a partir das palavras gravadas numa carta que um seu Amigo escreveu na hora da Morte e que foi parar em endereço errado, passando das mãos da víbora Úrsula para as da cascavel Somoza. Destino trágico e cruel!
Dona Irene, feminista antes de tempo, ao sujeitar-se a uma operação a um pólipo no Hospital, aliviada de não ser gravidez, pode observar internamente o respetivo funcionamento. Uma vantagem para todos.
Constatando que as enfermeiras eram pouco mais que escravas na Instituição, propôs que elas recebessem um salário.
Proposta ousada na altura, sob todos os aspetos, muito para além do lado financeiro, ou eventual prejuízo para o Hospital, que ela se propôs cobrir, abdicando de alguns benefícios no seu negócio de abastecimento de víveres.
Sujeita a votação no Conselho, foi a proposta aprovada, revelando-se Dom Andrés, além de excelente administrador, também exímio estratega.
Doutor Devesa votou a favor, sendo igualmente portador do voto favorável da comerciante, que estava ainda de convalescença. O Inquisidor e a Enfermeira Mor foram, naturalmente, opositores. E aí, Dom Andrés pediu o voto do Capelão Mor, que também foi favorável, situando-se, assim, em oposição, mais uma vez, ao Inquisidor, desobedecendo-lhe. Calcule-se como este ficou a ferver por dentro, pronto a explodir, o que acontece umas linhas adiante.
Estava a proposta aprovada, mesmo sem sequer ser precisa a votação do Administrador.
Mas sendo este interpelado pelo Inquisidor para que o fizesse, foi também a sua opinião no sentido de aprovar um salário para as Enfermeiras.
E, assim, definiu também os papéis de cada um no Conselho e reforçou o seu Poder, que o Inquisidor tanto deseja.
Este, após a ocorrência e nos bastidores, no corredor, perante o Capelão, Padre Bernardo, saltou-lhe completamente a tampa, berrou-lhe que nem fera enlouquecida, não o engoliu vivo porque não pôde, explodiu de raiva e informou-o de que o iria mandar prender pelo Santo Ofício.
E isto porque a carta, que o amigo de Doutor Devesa lhe escreveu, foi parar às mãos da Enfermeira Mor, Dona Úrsula, o “Dragão”, de Komodo, lhe chamo eu, víbora que também é cascavel. Que conduz a narrativa pelos caminhos ínvios da destruição e malvadez.
Portadora da carta e conhecedora do segredo do Doutor Devesa, resolveu mudar-lhe o endereço e atribuir-lhe outro destinatário: o Capelão Mor, Padre Bernardo, Alma caridosa e boa, que não merecia tal destino. Assim, simultaneamente, atacava dois opositores, de forma imediata, o Capelão e quem sabe, futuramente, o Cirurgião!
Na posse da carta dirige-se ao Inquisidor, supondo que levava um trunfo imbatível, exigindo ou propondo, não sei bem, a troca da carta pelo original do testamento do Padre Damião, que ela falsificara.
Pensava ela que levava um trunfo imbatível, disse eu. Só que o feitiço se virou contra o feiticeiro e, o Inquisidor, víbora ainda mais peçonhenta, não só lhe confiscou a carta, como não lhe deu o testamento, e cumulativamente ameaçou-a de Tribunal e cadeia e ainda a subjugou mais à sua vontade e fome de Poder!
Do Poder que quer ganhar no Hospital, que nós já sabíamos, pois ele já o explicitara ao Capelão, frisando-lhe que o seu papel na Instituição era precisamente esse e não outro qualquer. Ajudá-lo a obter o lugar de Administrador, retirando-o a Dom Andrés. E, por isso mesmo, fora designado para as funções de Capelão Mor.
Objetivo que, a partir de agora, Dom Andrés também já ficou sabedor, pois que o Capelão lho deu a conhecer, quando dele se foi despedir.
Que o Capelão não quis esperar que viessem buscá-lo para ir para a prisão do Santo Ofício. “Adianto-me aos seus enviados. Ninguém sentirá a minha falta”, disse ele a Somoza, Inquisidor Mor, ao apresentar-se para ser preso.
Que não lhe sentissem a falta não é verdade, que Dom Andrés manifestou-lhe logo a sua estima e relevância no Hospital.
Doutor Devesa, ao saber que era devido à célebre carta, em que certamente se falaria de uma amizade, só que colorida e, malevolamente, fora endereçada para o Capelão, logo ali quis assumir os seus pecados, que ninguém tinha que pagar por eles. O Capelão lhe disse que os seus pecados, já confessados, expiaram com a morte do seu Amigo, Aníbal.
Interrogando-se como a carta poderá ter ido parar a Somoza e deduzindo que só poderia ter sido a cascavel, a ela se dirigiu, apelidando-a precisamente de víbora, o que nós já fazemos há alguns episódios, e, exaltado, lhe gritou: “Vou encarregar-me que pague pelo que fez com Bernardo!”
Pelo que bisbilhotámos do próximo episódio, vislumbrámos que o Destino se vai encarregar desta ameaça!
E ficam-nos sempre temáticas por abordar, personagens por mencionar, excertos por comentar.
Já referi a simpatia de Duarte por Olalla.
Ontem, quando no quarto dela entrou, muitas ideias malévolas se supuseram! Quando abriu a navalha com que degolou as suas vítimas, e da jovem se aproximou, um arrepio surgiu, como se ele fosse executar o papel do Destino…
Afinal, tão somente e apenas se abeirou dela para lhe cortar uma madeixa de cabelo, que guardou cuidadosamente num bolso, junto ao coração.
E é assim, este assassino. Simultaneamente crudelíssimo e ao mesmo tempo capaz de gestos simples de carinho, só carinho (?), nomeadamente quando olha, enlevado, para a mocinha, heroína da novela!
E, a outra moça, Rosália, continua se derretendo com o seu Cristobal, o boticário!
E vamos de abordagem ao décimo episódio, ontem apresentado.
Não tendo morrido Dona Clara, será que ressuscitou?
E, mais uma vez, se colocam em confronto, perspetivas contraditórias próprias de uma sociedade à beira de grandes transformações.
O lado científico, positivista, afirmava que teria havido uma sobredosagem de estramónio, tomado por iniciativa da própria paciente, mas que nós sabemos ter sido obra da malvada bruxa, encarnada de “Dragão”, disfarçada de monja.
Propunham-se comprová-lo, experimentando com uma rã, o que fizeram, confirmando a hipótese formulada e afirmando a tese de que a dose excessiva do medicamento provocou o pretenso estado de morte, aparente, e o subsequente despertar, após passar o efeito do mesmo.
Estavam deste lado da barricada os médicos, o boticário e o administrador.
Do outro lado, uma perspetiva metafísica, suportada pelos clérigos, afirmando ter sido uma Ressurreição. Mas com opiniões contrárias. O capelão, que fora Obra Divina, o inquisidor, que fora ação do Demo, querendo partir para exorcismo!
Valeu a chegada inesperada, mas providencial, do Arcebispo Malvar, que afirmou diretamente para o Administrador que “ Na recuperação de sua filha, não esteve o demónio, mas Deus!” e, deste modo, encerrando uma questão, que sendo experimental e científica, se tornara teológica e perigosa de discutir, porque ideologicamente contrária à vontade e desejo do Inquisidor, tornando-se motivo de heresia, com as consequências inquisitoriais da época.
Arcebispo que, publicamente, não se coibiu de afirmar a sua Amizade para com o Administrador, apesar de se verem pouco.
O Inquisidor, literalmente, “meteu o rabo entre as pernas”, desculpe-se-me a expressão e foi congeminar intrigas para corredores e esconsos do Hospital.
Aproveita-se da sinceridade ingénua do Capelão, que lhe entrega o original do testamento do Padre Damião, confirmando que houve troca fraudulenta do mesmo; e coloca em "xeque" o “Dragão”, Dona Úrsula, confrontando-a com o facto de ela ser, por isso, responsável e exige-lhe, em troca do seu silêncio, que ela diligencie no sentido de o Capelão ser expulso do Hospital, invocando que é Jesuíta, sendo que ele mesmo também o é.
Duas cobras-cascaveis em confronto, quem vencerá?
A Enfermeira Mor sempre a bisbilhotar tudo quanto se passa na Instituição, arrastando, silenciosa, o hábito, que a cobre e protege, as mãos que tantos crimes cometem, sempre escondidas, mas prontas a esconder, nesse mesmo manto encobridor, qualquer objeto que possa incriminar outros indefesos, desde um simples botão, achado em local inusitado, a uma carta possivelmente comprometedora.
E, a propósito de cartas, lembramos que, no nono episódio, Dom Andrés recebeu uma anónima, em que se afirmava “Conheço o teu segredo.”
E, no episódio de ontem, décimo, a empregada Flora, que trata da sua mulher, cujo nome ainda não fixei, entregou-lhe outra, quando ele foi visitar a esposa, que andara desaparecida, que supostamente regressou sozinha, mas nós sabemos que foi a bruxa má que a levou e que até bebericou um chazinho e papou, regalada, uns bolinhos, que ela é gulosa como a sua parenta da célebre história, que queria papar os meninos, na casinha de chocolate.
E nessa carta o que dizia?!
Que ele deveria ir depositar mil cruzados na Fonte de São Pedro, não sei se aí haveria alguma caixa de multibanco, nem se ela teria dado o IBAN, mas as chantagens já eram comuns na época!
Para que o seu segredo fosse guardado.
E a narrativa vai neste ponto. E São Tiago observa e vela para que tudo se estruture bem no respetivo Caminho!
Mas quando idealizei este post, pensei estrutura-lo de outro modo. Mas a narrativa toma conta de mim e leva-me por outros caminhos, que por vezes são atalhos.
Inicialmente projetara falar de Amor, Amizade e Morte! Mas comecei por Ressureição e daí o narrador foi seguindo ao sabor da narração.
De Morte que compõe e estrutura todo o enredo, seja provocada ou natural, que tanto assusta o novel médico, porque é suposto que a Medicina ajude a salvar quem precisa, mas que está sempre rodeada pela presença da imagem do segador de gadanha, ceifando a Vida.
Morte que, pelos vistos, também atemoriza o médico experiente, como é Doutor Devesa, que também soçobra perante a iminência da sua chegada junto de um Amigo de longa data, mas de prolongada ausência e afastamento, e que chegou ao Hospital, na esperança que o Amigo Sebastian o ajudasse a salvar-se. Este, consciente da sua impotência e incapaz de enfrentar a situação, refugia-se no álcool, percorre as tabernas da Cidade Santa, à procura de Baco e é achado por Duarte, essa figura providencial, para o Mal, mas também para o Bem, que o carrega de volta para o seu mester, a mando de Doutor Daniel, que foi incumbido de informar o paciente da irreversibilidade da chegada, dolorosa, da Dona Morte!
Da Morte, cujas novas também vêm por carta (agora chegam de SMS), mas foi por carta que o Intendente informou o Administrador que o soldado Salcedo fora enforcado nessa manhã. E também assim se soube que o Capitão Ulloa seria sujeito a castigo por ter participado na fuga do soldado e sorte tiveram as enfermeiras novatas de não serem também castigadas.
E o Capitão foi sujeito ao suplício das basquetas, passando entre duas filas de soldados, sendo que cada um deles o sovou nas costas com uma bastonada. Livrou-se da forca, que bem poderia ter acontecido. O facto de o Intendente ser seu tio terá tido alguma influência?
E cumprido o castigo, ficou o Capitão com as costas em chaga, para que a enfermeira Olalla lhe fizesse o curativo. E aqui falamos também de Amizade!
Mas ao falarmos de Olalla também falamos de Amor!
Do Amor que a une a Daniel, mas que agora convencionam ser Amizade, porque ele é casado com Clara, que sendo morta foi ressuscitada.
“Seremos Amigos, os melhores que há!”, lhe disse ela, ingénua, mas sensata, que foi o que lhe valeu, a sua sensatez! Se não, o que não valeria um simples botão encontrado em local inusitado?
E, por causa de um simples botão, foi sujeita a prova de fogo, humilhada pela bruxa má, à procura da integridade do seu botão de rosa!
E de Amor, também nomeamos o da enfermeira Rosália e do boticário Cristobal, apatetado é certo, mas confirmado, que nem foi precisa a intervenção cruel, cínica e despótica do “Dragão”, sempre pronta a humilhar os mais fracos.
E, de Amizade, também falamos da que une Dona Irene e Dom Andrés, que até se poderia transformar em Amor, até cheguei a supor que isso aconteceria, mas não pode, que a esposa ainda é viva e ele por ela demonstra muito carinho e também Amor. Pena que esteja louca!
E também de Amor e Paixão falamos dos sentimentos que unem Ulloa e Rebeca.
E de Amizade, embora já velha, também falamos da que unia Doutor Sebastian Devesa ao doente à beira da morte. Moribundo, que redigiu uma carta dirigida ao seu Amigo, mas que, desencaminhada, foi parar às mãos da bruxa má, sempre ela, que a guardou no regaço e logo que pode, abriu e ficou a conhecer o que nela estava escrito.
Alguma confissão, um hipotético segredo, que ela usará como melhor lhe convier! Ou não fosse ela uma das grandes condutoras dos trilhos do enredo da série.
Também podemos designar como Amizade o sentimento que Duarte nutre por Ollala e que vai manifestando por gestos simples, mas carinhosos, ao longo da trama. Ontem, após ela ter sido sujeita à humilhante e cruel prova de fogo, arrefecendo ao relento nos claustros, chegou este e colocou-lhe o seu casaco nos ombros.
Também podemos informar que Dona Irene, afinal, não está grávida. Na consulta com Doutor Daniel, este deu-lhe conhecimento que ela tinha um pólipo, que lhe seria extraído através de uma pequena operação.
À data, já seria possível realizar tal operação?! Não sei, foi o que foi verbalizado pelo médico, ele é que sabe…
E voltando ao início deste, já longo texto, de que se vive uma época de grandes transformações, de que eles próprios se apercebem, como referem os nossos protagonistas, o par romântico.
“Vivemos tempos extraordinários. Os reis perdem a cabeça. As moças da aldeia são enfermeiras no Hospital Real. Os mortos ressuscitam!”
“Já me pediu vários favores. E, antes ou depois, vou-lhos cobrar!”
Resposta da enfermeira-mor, irmã Úrsula, para a fidalga viúva, Dona Elvira de Santa Maria, na sequência de uma questão com que esta a interpelou.
Nem sei por que ponta pegue na estória, se pela enfermeira, se pela viúva.
Esta, a fidalga, cada vez mais enredada na história, como na sua própria vida, sempre mais nós por desatar e criando mais embaraços na sua caminhada, tropeçando, até descambar de vez. Talvez.
Mas também sem desistir, como náufraga à deriva, agarrando-se a qualquer tábua de salvação, desesperada, perdendo até a sua honra, que tanto dizia defender. Até cair nas mãos dos inimigos que ela mesma criou, caso do Capitão Ulloa. Ah! Se ela tivesse sabido que ele era homem de fortuna! Fortuna que não herdou do marido, que só lhe deixou dívidas e falsos amigos, agora cínicos e indiferentes, caso do Alcaide. Fortuna sua que ele desbaratou.
Mas não deixa de congeminar trapaças para atingir os seus fins, nomeadamente o hipotético dote que receberia se o filho casasse com Clara, filha de Dom Andrés, administrador do Hospital e prometida de Dom Daniel.
Nem que para isso tenha que levar uma inocente à perdição, diligenciando para que um livro de Martinho Lutero, proibido pela Inquisição, fosse encontrado entre os respetivos pertences.
Falamos da enfermeira Rosália, apaixonada do boticário, que perante a iminência da sua amada ir parar aos calabouços da Santa Inquisição, num ato de puro altruísmo, assumiu ele a propriedade do livro e assim foi bater com os costados nas referidas tarimbas e antros de tortura.
E neste papel de condutora do enredo, sempre pelo lado da malvadez, mulher algoz, temos a nossa famigerada enfermeira-chefe, o Dragão.
Sempre a manipular, a congeminar artimanhas, a atormentar inocentes e criminosos, a criar teias e tramas onde, mais cedo ou mais tarde, possa prender as suas vítimas.
Duarte, carrasco e vítima, assassino a mando, vai executando os golpes de mão, agora diretamente às ordens do Alcaide. Em obediência a este, roubou um “livro vermelho”, ah! Os livros vermelhos!, do escritório do Administrador. Depreende-se ser o livro da contabilidade do Hospital, função que era exercida, imagine-se, por Dom Leopoldo!
Leitura, decifração, que o administrador andava tentando e não conseguia. Tal seria a trapalhada que nele haveria…
E em que estaria incriminado o próprio fidalgo e o alcaide, que eram face e coroa da mesma moeda: a corrupção!
E, agora, o Hospital! Frisou novamente.
Enquanto estes imbróglios aconteciam no Hospital e outros que omiti ou ainda não falei, o nosso bom Andrés, Dom Andrés, acompanhava a nossa boa Dona Irene pelas praias da Galiza, na busca de peixe para o Hospital.
Quando chegou, o primeiro grande impacto foi por causa da filha. Clara, fora sujeita a um brutal tratamento de choque de água fria, em pleno Fevereiro. (Assim confirmamos com exatidão o tempo em que decorre a ação da narrativa!)
Um reputado médico, Doutor de La Cueva, assim prescrevera essa tentativa de cura através da hidroterapia, em pleno Inverno, para a doença que lhe diagnosticara: histeria nervosa.
O nosso jovem e bom médico discordou. Explicou que Doutor Pinet, afamado médico francês, propunha para estas doenças outro tipo de tratamentos: atenção e acompanhamento do paciente.
Nada da brutalidade de enfiar a rapariga numa tina, cheia de água gelada e, posteriormente, após tapar-lhe a cabeça com uma toalha de linho, despejar-lhe um balde de água gelada pela cabeça abaixo! É caso para dizer que “se não se morre do mal se morre da cura”!
Tão impressionado ficou o nosso herói, que já se ofereceu para apressar o casamento para poder dar mais atenção à sua prometida noiva! E fazer dela sua esposa e, assim, com maior probabilidade ajudá-la a curar-se! Como se pode constatar, Dom Daniel tinha grande fé no matrimónio e até já esquecia a outra sua amada, a mocinha Olalla!
Só que o pai da prometida Clara, Dom Andrés, respondeu-lhe que não.
Que o problema era o pai dele, isto é, Dom Leopoldo!
E assim deixamos este relato da história, esta estória muito lacunar, que temos que ir visualizar o 7º episódio!
Pelos vistos esta série é, afinal, mais demorada do que previra. Sempre pensei, dado o tempo de cada episódio, que fosse para concluir numa semana.
O enredo também é muito mais complexo do que parecia e as conclusões vão-se demorando.
A qualidade da peça fílmica, o rigor do trabalho desenvolvido, sob variados aspetos, assim o exige!
Situemo-nos…
O espaço da ação decorre na cidade de Santiago de Compostela, maioritariamente no Hospital Real. Depreende-se que filmado em espaços naturalistas, provavelmente não no espaço original, uma vez que o antigo Hospital é agora um parador de luxo, pousada, como se designa em Portugal. Pareceu-me ter lido qualquer coisa sobre Pontevedra…
O tempo, a que se reporta este exercício de reconstituição cuidadosa, situa-se no final do século XVIII, na última década, poderíamos precisar 1793.
Menciono esta data, porque já várias vezes e, a propósito de França, em que o novo médico estudou, um “afrancesado”, a propósito da França revolucionária, foi citado que haviam cortado a cabeça ao Rei. Facto que ocorreu em 21/Janeiro/1793, data em que Luís XVI foi decapitado.
Também já se ouviu sobre o perigo de guerra com a França. Deduzimos que a Espanha ainda não estaria a participar na designada “Campanha do Rossilhão”, em que Portugal também viria a envolver-se.
Também designada “Guerra dos Pirenéus” ocorreu de 7/03/1793 a 22/07/1795, sendo que a Espanha declarou guerra à França em 17 de Abril de 1793.
A decapitação do rei francês e a declaração de guerra da Espanha à França estão relacionadas na realidade e também na série.
Pelo que poderemos deduzir que o tempo em que se desenrola a ação da série apresentada tem decorrido neste intervalo de tempo: primeiros meses do ano de 1793.
Voltemos ao enredo.
Pouco a pouco ele vai-se desvendando.
No que respeita aos crimes em série, “a investigação está num ponto morto”, palavras de Dom Daniel. E o assassino literalmente debaixo das respetivas barbas.
Também para esta equipa de investigação o conceito de “serial-killer” ainda não era conhecido, ainda não tinham chegado à era do cinema…
“O nosso objetivo é o Hospital Real”, repete-se e relembra-se esta frase, novamente proferida pelo Alcaide, para Duarte, o assassino, mudo que não é mudo, que cada vez se revela menos “pau-mandado”, apesar de ser “homem-de-mão” de outros poderosos.
Mas mostra-lhes também, e sempre mais, o seu próprio poder. A junção de um veneno (?) no vinho do Alcaide. A recusa em servir-lhe mais água… O sorriso cínico que entreabre para quem espera vingar-se…
E até que ponto vai o seu próprio poder ou estará ele ao serviço de outros ainda mais poderosos?! Até onde vai a sua própria autonomia?
Porque interessados em controlar o Hospital não faltam.
Para além dos que já conhecemos, outros se nos deparam.
A chegada do novo capelão-mor isso mesmo nos revela.
Ex jesuíta, tal como o fora o Padre Damião, tal como foi o atual Inquisidor, têm eles esse objetivo, enquanto membros do Clero. Como nos revelaram neste quinto episódio.
Recuperar para a Igreja um Poder que já fora desta Instituição.
Disfarçadamente, enquadrados noutras Ordens Religiosas, uma vez que os Jesuítas haviam sido expulsos de Espanha vinte anos antes, movem-se na sombra, disfarçadamente, para conseguirem tal desiderato.
Consegui-lo-ão? Num mundo e numa época em que se vislumbram grandes convulsões e mudanças tanto para Espanha como para toda a Europa e Américas, na sequência da Revolução Francesa, das Campanhas Napoleónicas que em breve se iniciarão e dos Movimentos Liberais, que na sequência destas eclodirão?!
Provavelmente não.
Entregue a direção do Hospital a um secular, Dom Andrés Osório, amigo do Rei, com poderes económicos de gestão e também jurisdicionais, no campo cível, reconhecia este a importância da nova classe social em ascensão, a Burguesia. Literalmente, o Rei ao entregar a gestão do Hospital a um burguês, retirava poderes tanto à nobreza como ao clero, e em seu próprio proveito, claro.
Porque o Hospital era imensamente rico!
Mas enveredemos por outro aspeto do enredo.
O “herói”, que continua apaixonado pela “mocinha”, frise-se, fez novamente das suas…
Enquanto jovem médico, o Doutor Alvarez de Castro, arrebatado, ainda inexperiente, mas imbuído de convicções e certezas próprias da idade, da sua experiência parisiense e ideais revolucionários, acha que deve fazer só o que “a sua consciência lhe dita” e novamente fez asneira.
Recusou-se a seguir ordens dos seus superiores hierárquicos, tanto no plano profissional como administrativo.
Não quis garrotar o pé gangrenado de um paciente, quis aplicar uma pretensamente nova metodologia e “a coisa deu para o torto”…
Foi expulso da Instituição e não fora a lucidez de Don Sebastian Devesa, cirurgião-mor, que o tem em grande estima, e nele reconhece qualidades e competências, apesar dos arroubos da juventude, e estaria no desemprego… E a Família falida, de que ele agora é o chefe.
E a propósito de Família…
A sua Mãe, Dona Elvira de Santa Maria, agora desamparada, mostra cada vez mais protagonismo em cena.
Para além de se humilhar perante Dom Andrés, uma nobre ajoelhar-se perante um burguês, a mendigar a readmissão do filho dileto, e a ouvir uma recusa, é ainda ameaçada de morte pelo amante da filha, Capitão Ulloa, militar e sobrinho do Intendente e um pinga-amor, que já se embeiçou pela iniciante de enfermeira, Olalla.
Aguardemos cenas dos próximos capítulos…
E a nossa freira chefe, enfermeira mor, irmã Úrsula, na sua postura seráfica e esfíngica, sempre sorrateira à espreita, “olhos e ouvidos” da Inquisição, sempre a delatar… “Limito-me a cumprir ordens da Santa Madre Igreja”! Ou dela própria? Qual o seu real papel em todo o desenrolar do enredo?
E não posso deixar de observar como eram as práticas médicas na época.
Com os conhecimentos possíveis, escassos e limitados; as restrições morais e religiosas à experimentação, base do conhecimento e desenvolvimento científico; a inexistência de antibióticos, desconhecimento dos micróbios; a não esterilização de instrumentos de uso clínico, as condições de higiene e alimentação precárias, apanhar uma doença era ser portador de sentença de morte.
Daí se compreende, apesar do aparente cinismo e desumanidade, da recusa de entrada da mulher prostituta no Hospital, que ocorreu no terceiro episódio e foi causa da primeira diatribe do jovem médico, Daniel.
A amputação de um membro a um doente, sem anestesia, com recurso a aguardente e uma rolha na boca, sem instrumentos cirúrgicos adequados, teria que ser um ato de grande coragem para todos os envolvidos.
E termino, que a crónica já vai longuíssima… com falas de Daniel e Ollala, ou não sejam eles os protagonistas principais da peça…
E desenrolou-se, ontem, 3ª feira, 1 de Setembro, o segundo episódio da supra citada nova série. Presumo que seja uma mini série, dado o tempo de duração de cada um dos episódios e a continuidade na narrativa, de modo a estruturar uma conclusão ao fim de alguns episódios.
Valeu a pena ter visto! A temática está a ser apelativa.
E quando aparece um crime para desvendar, no decurso do enredo, mais interessante se torna. Tornamo-nos um pouco “poirots”, pretensiosos, é certo!
Mas gosto da intriga que se processa, da incerteza, do jogo de probabilidades e conjeturas sobre as hipotéticas análises e descobertas.
Se são dois crimes, então!... Dose dupla de emoção policial!
Já se formou uma equipa de investigação, que se auto nomeou. O cirurgião-mor, Doutor Devesa e o herói, Dom Daniel, médico recentemente admitido noHospital Real e a mocinha, a aprendiz de enfermeira, Olalla! Segredo absoluto, que no Hospital as paredes têm ouvidos.
Se têm!...
Para já, descobriram, graças à perspicácia do cirurgião-mor, que houve crime e não apenas um, mas dois.
E que estão interrelacionados. O modus operandi nas mortes, do fornecedor de víveres do Hospital e do capelão-mor, foi idêntico.
Logo, é o mesmo criminoso. Quem?
Na sequência da morte do Padre Damião, o criminoso tirou a máscara e pareceu uma cara conhecida. Seria?! Ou enganei-me? Julguei ser o rapaz mudo que circula silencioso pelas galerias do edifício, que é pau mandado da enfermeira-chefe, Úrsula, de nome. Seria, ou vi mal? Seria o Duarte?!
A equipa de investigação não sabe … Pssst! O segredo é a alma do negócio.
Sim, porque tudo parece indicar que há negócios por trás. O Dinheiro, sempre o Dinheiro!
Também já deduziram, isso sim, que os crimes, porque disso se trata, têm algo em comum: o Hospital Real!
Dedução também do nosso cirurgião-mor. O verdadeiro Hercule Poirot!
Interessante a sua figura física, a sua personalidade, as suas ideias, num mundo obscurantista, ainda dominado pela Inquisição. Personagem com que facilmente se simpatiza, pela sua lucidez e modo de atuação, face às barreiras que tolhem a sua ação no exercício da prática médica, num ambiente tão castrador.
Goya, in Los Caprichos, retratou muito bem essa Espanha de finais do século XVIII!
E ficamos por aqui, não vou contar a história toda.
Visualizar a série proporciona momentos emocionantes. Que não quero que percais.
Mas não vou deixar de questionar.
E quem serão os mandantes?!
Porque, de facto, a forma como todo o enredo se desenrola aponta para mandantes.
O nobre falido, Castro, sempre à procura de esquemas de sobrevivência para ganhar dinheiro sem trabalhar?! À época, Antigo Regime, os nobres não trabalhavam.
Às mulheres, senhoras, mesmo que não fossem nobres, também estava vedado o exercício de determinadas atividades. Atividades comerciais, por ex., especialmente se fossem altamente lucrativas e houvesse outro interessado no negócio, para proveito próprio e de quem o favorecesse.
Ou a irmã Úrsula, o Dragão, enfermeira-chefe e eminência parda em toda aquela instituição, movendo-se prepotente por todo o seu espaço de ação, manipulando, exercendo com crueldade e despotismo a sua autoridade sobre os mais fracos e desvalidos; fazendo pretensos favores, especialmente a poderosos, cobrando e lembrando juros futuros. Invocando, em vão, o nome de Deus, a sua pertença a uma Irmandade e Igreja, atribuindo aos seus atos, mesmo que criminosos, uma orientação divina! Denunciando… portando-se com falsa humildade perante os seus superiores.
Ou ambos: o “representante” da Nobreza e uma das “representantes” do Clero?!