Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Quem foi o violador de Lurdes, personagem principal?!
Na sequência da leitura do livro e do encontro com a escritora e tendo o livro na minha posse, consultei a pág. 200.
Excerto do diálogo travado entre monsenhor Alípio e Lurdes, na sacristia, sobre a morte de Juliana, amiga de Lurdes, em que esta acusava o padre de ter matado a sua amiga.
« - Só tenho pena de não ter vindo aqui com a Juliana…Se calhar também estava morta, a esta hora. Mas pelo menos, por um pequeno instante, tinha sabido alguma coisa do meu menino.
- Lá estás tu. Ela não descobriu nada.
- Então porque é que a matou?
- Mas quem é que disse que eu a matei? Quem é que te disse que alguém a matou?
- Os guardas. A autópsia revelou que ela morreu estrangulada.
- Tu, mais do que ninguém, devias saber que nem sempre se pode confiar nos guardas.
Lurdes engasgou a raiva que lhe trouxe o gosto amargo da bílis à garganta. Sabia, claro, que não podia confiar em toda a gente, por muito importante que fosse a sua posição na aldeia. Padres e guardas eram um bom exemplo disso, e ela conhecia esta verdade na pele. (…)»
In. Págs. 200 e 201, do livro referido em epígrafe.
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Corresponde ao que eu supusera ser “uma pessoa de poder” e essa pessoa ter sido um guarda. Conforme eu também supusera, embora não o tenha explicitado na análise que fiz do romance. Até, provavelmente, poderá ter sido algum chefe. Digo eu… sei lá! Que ninguém me encomendou qualquer sermão.
Todavia, penso que embora se possa inferir essa causalidade, ela não está suficientemente explícita para nos dar certezas. Não fora a afirmação da própria Escritora que me informou da página em que vinha referida a situação, não seria assim tão fácil lá chegar, com garantias absolutas.
Pelo conhecimento que tínhamos do contexto temporal em que se desenrola a narrativa do romance, deduzimos que os guardas tinham, na época, bastante poder. Eram temidos!
Daí que praticamente ainda uma criança, como era Lurdes à data da violação, catorze anos, ela terá recalcado o autor do crime, nunca tendo revelado o respetivo nome.
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Essa revelação seria, a meu ver, um dos temas de futura saga do romance.
Livro de Lénia Rufino, romance, 1ª edição – Manuscrito - Lisboa – Março 2021
O título reporta-nos para um dos locais que temos mais certos na nossa Vida. As árvores, como dedos apontando para o céu, são marcantes e identitárias do espaço, pelo menos em Portugal.
Nas imagens elucidativas, ilustrando o postal, não tendo nenhuma foto específica, optei por utilizar fotos de cedros, plantas que eu próprio semeei e plantei no Chão e no Vale. Para aí nos anos noventa. (Mas, com estes particulares, estou-me desviando do essencial.)
A ação da narrativa decorre no Alentejo Norte, em duas pequenas povoações, uma mais um lugarejo, outra, um pouco maior. Nos anos de 1992, tempo presente na narrativa e 1968, tempo pretérito.
As personagens principais?
Isabel, jovem estudante de dezoito anos, inquiridora, pesquisadora, “perguntadeira”, querendo obter respostas sobre pessoas da localidade, já falecidas, nomeadamente sobre as respetivas mortes, que a intrigavam sobremaneira. (Esta personagem funciona, de certo modo, como alter-ego da Escritora?)
A mãe de Isabel, Lurdes, alvo primordial das perguntas da filha. Ela será mesmo a personagem principal. Ao não responder, ou fazê-lo por evasivas, ou desviar o assunto e o rumo da conversa, só aumentava a curiosidade e o interesse de Isabel.
Esta sua curiosidade e perspicácia policial levaram-na a equacionar a possibilidade da mãe, Lurdes, ter um diário. Daí a procurá-lo, foi um ápice.
Encontrá-lo-ia no sótão da casa, entre papéis velhos e fotos.
E a partir da respetiva leitura, clandestina, todo um desenrolar de um ou diversos novelos sobre a vida da mãe, enquanto jovem e o seu modo de ser e de estar como adulta, vieram à superfície e conhecimento de Isabel. E também possíveis respostas ou pelo menos suposições, para as mortes inexplicáveis de algumas pessoas da localidade e que tanto intrigavam a jovem.
Nós, enquanto leitores, somos levados nesta inquietação de Isabel e, com ela, queremos também descortinar e esclarecer os segredos que aquele diário revela e os mistérios que pairam sobre mortes e vidas de algumas pessoas das localidades.
Outro personagem, também crucial no desenrolar do enredo, é Monsenhor Alípio: pároco nas duas localidades, cujos nomes desconhecemos. Primeiramente, na localidade mais lugarejo, nos anos sessenta, onde Lurdes nascera e vivera na infância e na primeira adolescência. E nos anos noventa, na segunda localidade, onde decorre a narrativa no tempo presente, onde passou a viver Lurdes a partir dos catorze anos, onde casou e lhe nasceram as duas filhas, Isabel, a mais nova e Luísa, a mais velha.
Ele, personagem enigmática e de poder, em ambas as aldeias, funciona como contraponto de toda a vida de Lurdes e do desenrolar da ação e enredo.
(Não vou contar a história, que não sou escritor, nem narrador.)
Mas, digo ainda, que Lurdes teve outro filho resultado de uma violação aos catorze anos. Violação, crime, a que Monsenhor assistiu, mas não interveio. Esse filho foi-lhe retirado por Monsenhor, que o enviou a criar por uma irmã, para os lados de Viseu. Mais velho que as duas meias-irmãs, estudará no Porto.
Este livro lê-se com muitíssimo agrado, envolve-nos na narrativa e queremos obter respostas para as dúvidas e questões da jovem.
Um livro nos moldes tão atuais: funcionará como uma saga. Digo eu, que não falei com a Escritora.
Surgirá outro volume, assim espero. E, nele, Isabel procurará encontrar o irmão, chamado João, em homenagem a João Tordo, mentor da escritora Lénia. É ela que o diz, nos “Agradecimentos”.