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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

O Chamiço em “Etnografia Portuguesa” … (I)

Igreja do Chamiço. Foto original. 02.02.23.

Postal nº 1133: A velha “aldeia” do Chamiço, a partir de:

Etnografia Portuguesa – Tentame de Sistematização – Prof. Doutor José Leite de Vasconcellos – Volume IV –

Lisboa – Imprensa Nacional – 1958

Livro I – A Terra de Portugal – pp. 653 e 654

(…)

«… o Chamiço, no termo de Gáfete (Crato), que em 1532 era uma aldea chamada Monte do Chamiço, e encerrava 36 moradores «dos quais cinco viuvas»; Monte tem aqui significação rural, tão corrente no Alentejo, e aplica-se como parte componente do nome proprio. Ainda no sec. XVII se dizia assim; hoje diz-se apenas o Chamiço, sem Monte preposto.

Se o leitor perguntar em Gáfete onde ficava o Chamiço, indicar-lhe-hão perto da ribeira do mesmo nome e da ribeira de Margem, um terreno, de irregular superficie, com a área de uns 400 metros quadrados, alastrado de pedaços de telhas e onde ha troços de ruas, uma d’elas bem cortada na rocha granitica que forma o sólo, e restos de dezenas de casas. Algumas das casas, de paredes de alvenaria, tinham andar alto; nestas paredes e noutras vê-se ainda de onde em onde rebôco e cal. Numa elevação sobranceira ás ruinas ergue-se uma igreja, sem tecto e desmantelada, com pedaços de altares e de um pulpito por unicos vestigios de culto. Vid. figs. 122, 123, 124 e 125. Não se encontra no Chamiço um unico edificio habitado ou habitavel. … »

Antiga rua. Foto original. 02.02.23

*******

(Algumas notas complementares:

Nesta descrição sobre o Chamiço, excerto do livro supracitado, procurei transcrever conforme o original, de 1958. Que terá respeitado a grafia do Autor, certamente manuscrita, muito provavelmente na década de trinta. Data a que o Professor faz referência sobre as pesquisas, in loco. Tive especial dificuldade nos acentos, pois, no texto que possuo, existem algumas diferenças significativas face à grafia atual, mesmo antes do “famigerado” Acordo / “Desacordo”.

- Frisar também que ainda no séc. XVIII se designava “Monte” conforme mapa de 1762, onde se refere “M.te Camisso”. E, nas Memórias Paroquiais de 1758, também se designa de “Monte Chamisso”. -

O texto em que me baseio resultou de fotocópia tirada na Biblioteca Nacional – Lisboa. Em meados da 2ª década deste séc. XXI.

As figuras a que o Autor se refere estão a preto e branco. Em fotocópia, não dão para reproduzir.

Apresento novamente foto da igreja. E de alguns espaços – ruas. Fiquei intrigado com a referência a rua talhada em rocha granítica.

Também me intriguei com a referência que Primo António Carita me fez sobre a localização da casa da Trisavó.

Em futura visita irei observar melhor estes aspetos.

Antiga rua. Foto original. 02.02.23

Em posterior postal ainda apresentarei referência ao “desmoronamento do Chamiço”, segundo livro mencionado e Autor citado.

E penso finalizar com a versão de Primo António, segundo o que sua Mãe lhe contava. Sua Mãe, minha Tia Maria Carita, que viveu, em jovem, em casa de Tia Maria de Sousa e Tio Francisco Carita, filho da Trisavó do Chamiço, Rosa de Matos. Saberiam bem como ocorreram os acontecidos.)

Rua antiga. Foto original. 02.02.23.

Ver também, S.F.F.

E, ainda, SFF.

Poema sobre Serra da Arrábida

Foto Original. 20210715_104859.jpg

«A cadeia da Arrábida»

 

«És calcária cadeia montanhosa,

Na península de Setúbal, meridional,

Relevos, vultos, paisagem rochosa,

Notável orografia à vista da capital.

Proeminente e afortunada escultura,

Tuas serras se destacam da planura,

S. Francisco, S. Luís, Louro, Gaiteiros,

Teus vales são grenhas de verdura,

Barris, Alcube, Rasca e Picheleiros.

 

Na cordilheira, Arrábida sobressai,

A mais alta, debruçada sobre o mar,

Enamorado e meigo o Sado vai,

A sua alcantilada face beijar.

Serra-mãe, que de Deus és criação!

Será teu nome de origem Ribat?

Do muçulmano, lugar de oração,

Ou quem sabe, talvez Arrabdah?

Gelfa, pascigo, pastagem d’eleição. 

…   …   …   …   …   …   …   …   …    

Tu Arrábida, soberbo e mágico mirante,

Património histórico, científico, cultural,

Tua paisagem, desmesurada, fascinante,

Dádiva da natureza, meu parque natural!»

 

In. “Segredos da Natureza a dois passos de Lisboa”, pag. 26.

De: Professor Manuel Lima (Fotografias e Texto)

Edição de Autor

1ª edição – Dezembro 2012

Tiragem: 1000 exemplares.

 

Em postal anterior, “Passeios por Aquém Tejo”, na sequência de postais sobre Setúbal, havia escrito que publicaria um Poema sobre Arrábida. Só hoje foi possível.

Foto Original. 20210621_094621.jpg

Este livro citado é um trabalho de excelência, como pode ajuizar a partir do excerto do Poema, de que transcrevo apenas três estrofes. Doze estrofes o compõem. Onze nonas e uma quadra.

Excelentes Fotografias, excelentes Poemas, abordando seis grandes Áreas Temáticas: “Parque Natural da Arrábida, Cabo Espichel, Reserva Natural do Estuário do Tejo, Lagoa de Albufeira, Arriba Fóssil da Caparica, Parque Natural de Sintra – Cascais”.

Comprei o livro em 06/04/2013, num lançamento promovido pelo Autor. Não me lembro em que local de Almada. O preço não registei, contrariamente ao que costumo fazer. Mas sei que foi relativamente em conta, entre dez e quinze euros. Para o trabalho que nele está incorporado, que não tem preço e sem suporte de editora, foi baratíssimo.

 

Caro/a Leitor/a, desejo-lhe boas Leituras de Verão, com muita Saúde!

 

"O Lugar das Árvores Tristes"

Livro de Lénia Rufino, romance, 1ª edição – Manuscrito - Lisboa – Março 2021

Cedro no Vale. Foto original. 2021.02.19.jpg

O título reporta-nos para um dos locais que temos mais certos na nossa Vida. As árvores, como dedos apontando para o céu, são marcantes e identitárias do espaço, pelo menos em Portugal.

Nas imagens elucidativas, ilustrando o postal, não tendo nenhuma foto específica, optei por utilizar fotos de cedros, plantas que eu próprio semeei e plantei no Chão e no Vale. Para aí nos anos noventa. (Mas, com estes particulares, estou-me desviando do essencial.)

Cedro, visto de perto, no Vale. Foto Original. 2021.04.02.jpg

A ação da narrativa decorre no Alentejo Norte, em duas pequenas povoações, uma mais um lugarejo, outra, um pouco maior. Nos anos de 1992, tempo presente na narrativa e 1968, tempo pretérito.

As personagens principais?

Isabel, jovem estudante de dezoito anos, inquiridora, pesquisadora, “perguntadeira”, querendo obter respostas sobre pessoas da localidade, já falecidas, nomeadamente sobre as respetivas mortes, que a intrigavam sobremaneira. (Esta personagem funciona, de certo modo, como alter-ego da Escritora?)

A mãe de Isabel, Lurdes, alvo primordial das perguntas da filha. Ela será mesmo a personagem principal. Ao não responder, ou fazê-lo por evasivas, ou desviar o assunto e o rumo da conversa, só aumentava a curiosidade e o interesse de Isabel.

Esta sua curiosidade e perspicácia policial levaram-na a equacionar a possibilidade da mãe, Lurdes, ter um diário. Daí a procurá-lo, foi um ápice.

Encontrá-lo-ia no sótão da casa, entre papéis velhos e fotos.

E a partir da respetiva leitura, clandestina, todo um desenrolar de um ou diversos novelos sobre a vida da mãe, enquanto jovem e o seu modo de ser e de estar como adulta, vieram à superfície e conhecimento de Isabel. E também possíveis respostas ou pelo menos suposições, para as mortes inexplicáveis de algumas pessoas da localidade e que tanto intrigavam a jovem.

 

Nós, enquanto leitores, somos levados nesta inquietação de Isabel e, com ela, queremos também descortinar e esclarecer os segredos que aquele diário revela e os mistérios que pairam sobre mortes e vidas de algumas pessoas das localidades.

 

Outro personagem, também crucial no desenrolar do enredo, é Monsenhor Alípio: pároco nas duas localidades, cujos nomes desconhecemos. Primeiramente, na localidade mais lugarejo, nos anos sessenta, onde Lurdes nascera e vivera na infância e na primeira adolescência. E nos anos noventa, na segunda localidade, onde decorre a narrativa no tempo presente, onde passou a viver Lurdes a partir dos catorze anos, onde casou e lhe nasceram as duas filhas, Isabel, a mais nova e Luísa, a mais velha.

Ele, personagem enigmática e de poder, em ambas as aldeias, funciona como contraponto de toda a vida de Lurdes e do desenrolar da ação e enredo.

 

(Não vou contar a história, que não sou escritor, nem narrador.)

 

Mas, digo ainda, que Lurdes teve outro filho resultado de uma violação aos catorze anos. Violação, crime, a que Monsenhor assistiu, mas não interveio. Esse filho foi-lhe retirado por Monsenhor, que o enviou a criar por uma irmã, para os lados de Viseu. Mais velho que as duas meias-irmãs, estudará no Porto.

 

Este livro lê-se com muitíssimo agrado, envolve-nos na narrativa e queremos obter respostas para as dúvidas e questões da jovem.

 

Um livro nos moldes tão atuais: funcionará como uma saga. Digo eu, que não falei com a Escritora.

Surgirá outro volume, assim espero. E, nele, Isabel procurará encontrar o irmão, chamado João, em homenagem a João Tordo, mentor da escritora Lénia. É ela que o diz, nos “Agradecimentos”.

E esclarecerá quem foi o violador de Lurdes?!

Provavelmente, sim!

E Caro/a Leitor/a, se, por acaso, teve oportunidade de ler a narrativa, quem acha que foi?!

Na minha opinião foi uma pessoa de poder! Quem?! Tenho uma suposição, mas não a divulgo.

Muita coisa fica por contar.

Um último reparo, que pensara escrever inicialmente. Esta é uma obra de ficção, como refere a Escritora.

 

Azinhaga Poço Cães. Araucária. Igreja e adro. Foto Original. 2021.05.22.jpg

Parabéns à Escritora, a Si, Caro/a Leitor/a e Boas Leituras!

Outras Leituras:

"A Casa Grande de Romarigães"

"O Meu Pé de Laranja Lima"

"Tieta do Agreste"

Ai, as nossas "fezes"!

De Altemira...

“Simone, Força de Viver”

Costa Caparica. foto original. 2020. 08. jpg

Simone de Oliveira com Patrícia Reis – 3ª Edição: Novembro de 2013, Matéria-Prima Edições.

 

Tinha curiosidade em desbravar o livro.

E assim foi. Entre 5º e 6ª feira, foi lido, nalguns excertos relido. Muito bem escrito, muito bem contado, estórias da vida da Artista, multifacetada, umas mais apimentadas que outras. Simone é incontornavelmente uma figura pública da Cultura Portuguesa, desde os inícios dos anos sessenta. Música, teatro, canções, espetáculo.

 

Tinha pica na leitura, ademais bem contado e bem escrito, melhor se lê.

(Só assisti, melhor, assistimos, a um espetáculo ao vivo com a Simone, aí pelos inícios dos anos noventa, 91 ou 92 (?), nas Ruínas do Convento do Carmo.)

Mas em televisão, na rádio, desde meados de sessenta, principalmente 65, passou a fazer parte do nosso universo musical e do nosso imaginário.

Tinha uma voz que arrepiava. Em 69, foi aquele deslumbramento, aquela canção, aquele poema, aquela música, aquela interpretação. Arrebatadora!

Interessante a explicação, dada pela própria, sobre essa interpretação e o relacionamento dela com Henrique Mendes (pag. 46).

 

Anos sessenta, início dos setenta… a vivermos em ditadura, com todas as restrições à Liberdade, em todas as suas vertentes: pessoais, cívicas, sociais, políticas, culturais. Computadores, internet, redes sociais, revistas cor de rosa, “big brother”, tudo isso era ficção. Jornais, revistas, meios de comunicação, jornalistas tinham outra postura. Também estavam condicionados à censura, não havia liberdade de expressão. Falava-se nas ligações dos artistas, de boca em boca, exagerava-se até, mas pouco publicavam sobre a vida particular. Menos ainda os próprios a divulgavam, como agora, que mostram tudo, da raiz do cabelo até à unha do pé.

 

Bem, no livro, passados tantos anos, é interessante ler o que a Artista conta sobre essa emblemática interpretação com que ganhou o festival de 1969! Os acontecimentos tinham outra repercussão. Presenciámos, vimos em direto na TV, aquela atuação! Aquela garra!

Depois, a perda da voz, acompanhámos essas truculências da vida. A recuperação, numa forma diferente. Lembro-me perfeitamente do festival de 73, em que voltou a participar. (Até houve um concurso, promovido não sei se pela Emissora Nacional se pelo Rádio Clube Português, sobre uma das canções, penso que “Minha Senhora das Dores”.) O Ary quase monopolizou o Festival, escrevendo a maioria das letras.

 

Também fala da “rivalidade” com Madalena. E também da amizade entre ambas. Existindo, certamente. À data, realçava, de facto, essa picardia entre as duas. Existisse ou não, era muito alimentada pelos meios de comunicação da altura. Rainhas da Rádio, Rainhas disto e daquilo. Nunca votei nesses concursos, não tinha acesso aos respetivos cupões, não abundava o dinheiro para gastar em trivialidades, nem elas existiam no fim de mundo aonde vivia, aonde vivíamos todos, nesses tempos obscuros. O mundo da época, segunda metade da década de sessenta, não tinha nada a ver com o de hoje. Mas lembro-me, era miúdo, do Festival de 66, ganho pela Madalena e, eu, na altura, torcia por ela e pelo “Ele e Ela”.

Estas coisas podem parecer futilidades sem importe, mas naqueles tempos, pouco havia com que se interessar. Houve o célebre Mundial de 66, nesse ano na Inglaterra. E como foi empolgante e como se criaram tantas expectativas, goradas no fatídico jogo com a equipa anfitriã. E como Eusébio chorou e com ele chorámos.

Mas estou a perder-me do livro…que não aborda o futebol.

 

Mas aborda muitas mais coisas e mais importantes. Mas fará o favor de procurar o livro, adquirir, para oferecer às suas Velhotas ou Velhotes. E lê-lo, primeiro, antes de oferecer.

Vai gostar!

Confinamento… Pássaro Preto… Natal… Prendas

Mais um fim de semana de confinamento.

Oportunidade para não sair de casa. E observar. E escrever!

 

Na rua abaixo, nos estendais, as roupas esticadas ensaiam bailados com o vento.

O peculiar pássaro preto, agora com identidade, Rabirruivo Preto, saltita da olaia para a parede do quintal, daí para o chão, dos carros para os marcos anti estacionamento. Debica alguns grãos, ou insetos, ou outros bichitos, que desconheço os seus hábitos alimentares. Debuta tremeliques nervosos com a cauda, elegantes, frise-se. Parece querer interagir connosco. Rivaliza em rapidez com o melro, mas ganha-lhe em graciosidade. Perde nos cânticos, que nunca consegui ainda ouvi-los.

 

Aproxima-se o Natal.

As inevitáveis prendas.

Para as Velhotas foram sugeridos livros.

Livros, sim! Gostam de ler. Um deles deveria ser alguma biografia ou autobiografia, de alguma personalidade, mulher famosa. À partida excluída a da “Dita Cuja - Acima de Não Sei o Quê”. Certo!

Cova da Piedade. Foto original. 2018. 05. jpg

Anteontem dirigi-me à Cova da Piedade, aonde não ia há meses, antes destas cenas de Covid.

(Ainda andava em obras, toda a envolvente do Chalet, ali ao pé, o jardim. Agora tudo arranjado. A rua em frente já não tem estacionamentos, mais espaçosa, aparentemente. O Chalet renovado. Já estava. Agora falta o edifício da SFUAP. Não menos merecedor. Esperemos que um dia seja melhorado. As casas, a leste, de inspiração pombalina, também renovadas. O Largo fica bonito, parece mais espaçoso… Não gostei do chão e parece pouco durável.)

SFUAP. Foto Original. 2018. 05. jpg

Mas eu ia comprar uns livrosÀ Livraria Escriba, uma pequena livraria, num pequeno centro comercial, dos de antigamente, mas com um portfólio de obras por demais interessantes. Arranjam-se sempre bons livros. Iremos lá, talvez há vinte anos. Ultimamente menos.

Referi o que pretendia, como habitualmente faço em qualquer compra. Quero isto, assim, deste modo, com estas características. Excluo aquilo, aqueloutro…

A proprietária apresentou-me o que estava mais a jeito… um livro de “… Castel Branco”, que rejeitei à partida.

A Srª observou mais alguns escaparates, pegou no escadote, retirou uns livros do alto das estantes.

O primeiro que me mostrou era sobre a Simone.

Não é preciso mais, também gosto da Simone, calha mesmo bem o livro e antes de oferecer, primeiro vou eu lê-lo.

Rosa na SFUAP. Foto Original. 2018. 05. jpg

“SIMONE, Força de Viver” – Simone de Oliveira com Patrícia Reis – 3ª Edição: Novembro de 2013, Matéria-Prima Edições. (14 E.)

Ramos de Tília. Foto original. 2018. 05. jpg

 

Em Tempos de Máscaras…

Álvaro de Campos – Heterónimo de Fernando Pessoa

 

“Depus a máscara e vi-me ao espelho. –

Era a criança de há quantos anos.

Não tinha mudado nada…

É essa a vantagem de saber tirar a máscara.

É-se sempre criança.

O passado que foi

A criança.

Depus a máscara, e tornei a pô-la.

Assim é melhor,

Assim sem a máscara.

E volto à personalidade como a um términus de linha.”

 

In. "Obras Completas de Fernando Pessoa – POESIAS de Álvaro de Campos "– pag. 61

Colecção Poesia - Edições Ática – Julho 1978.

Foto Original. Amendoeira 2015? 16? jpg

“… Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1,30 da tarde…”) Isto escreveu, entre muitas outras coisas, numa carta, o seu “criador”, Fernando Pessoa. Carta “dirigida a Adolfo Casais Monteiro, sobre a origem dos seus heterónimos. Publicada na revista «Presença», nº 49, Junho, 1937.”

Faria, ontem 130 anos. O poema não saiu ontem. Sai hoje! Ainda se vai a tempo de parabenizar! A POESIA, sempre!

(Fotografia?! De uma Amendoeira. Sendo Álvaro de Campos algarvio, terá visto amendoeiras, digo eu. Esta não viu, de certeza. Nem eu já vejo, que morreu em 2017. Ano terrível: seca e incêndios. Está muito documentada no blogue.)

O Meu Pé de Laranja Lima: Emocionante!

Uma Leitura Recomendada! Ternurento!

Foto Original. Flor do Quintal. 2020. 04. jpg

 

Abordei a temática deste livro ainda em Setembro. Entretanto li-o, já há vários dias. Tendo-me debruçado sobre outros assuntos, demorei a ter oportunidade de escrever sobre o mesmo.

É um livro interessantíssimo. Extremamente emocional. Deve ser difícil a qualquer pessoa lê-lo, sem chorar ou reter as lágrimas, esforçando-se por não se emocionar demasiado. Também, quando menos se espera, nos proporciona momentos de riso, em que as gargalhadas se soltam, espontânea e saudavelmente. É de uma criatividade extraordinária, é difícil não nos sentirmos envolvidos empaticamente com o personagem primordial, Zezé, também narrador principal.

 

Zezé, menino de cinco anos, extremamente sensível, inteligente, precoce, que tinha um passarinho que cantava para dentro dele.

(Sabe o que é cantar para dentro?! Quase todos os poemas que escrevo ultimamente são escritos com música, que canto para dentro. Pena tenho não saber escrever música! Não sei se a música, que canto para dentro, é original ou não, isso já é outro plano de realidade. Mas que canto para dentro, isso é um facto meu, pessoal. Mas deixemos os devaneios pessoais…)

 

Zezé, que queria ser poeta e usar gravata de laço. Que aprendeu a ler sozinho, antes dos seis anos e assim entrou para a escola mais cedo. Que gostava imenso da Escola e da sua Professora… Que encontrou no Amigo Português, “Portuga”, o Pai que o verdadeiro pai não conseguia ser, vivendo a situação desesperada de desempregado e a sequente miséria de não conseguir governar o rancho de filhos.

 

Enfim… é um livro que nos toca magistralmente no mais sensível que tenhamos enquanto Seres Humanos.

Toda a pessoa devia ler. Principalmente, nós, os adultos. Quanto às crianças, muito sinceramente acho que não. O relato de vida tão sofredora, daquela criança, não sei se será adequado que outras crianças leiam… (Digo eu...!)

 

Zezé representa o Autor / Escritor, José Mauro de Vasconcelos, que relata, descreve, romanceia (?) a sua vida de infância.

Um livrinho!… não é um livro grande em dimensão, não chega a duzentas páginas, mas é um Livrão, em termos de qualidade literária, ideativa, sentimental, um romance emocionante.

 

Leia, SFF e formule o seu próprio juízo de valor!

(A foto?! Original, de flor do quintal. Não sei como se chama esta planta, mas sei que a trouxe, através de semente, já há vários anos, do Jardim Botânico de Lisboa.)

“Fado Português”: Amália – Oulman - Régio

Óbidos Castelo Foto original. 2019. 04. jpg

 

Aniversário do Blogue e Homenagem a Vultos da Cultura Portuguesa

Óbidos Rua. Foto Original. 2019. 04. jpg

 

Para elaborar o postal anterior, nº 806, transcrevi o texto poético do livro:

RÉGIO, J. – FADO – Klássicos – A BELA E O MONSTRO, EDIÇÕES Lda. Lisboa – Portugal – 2011.

Apesar de uma das normas da produção literária ser a sua não reprodução, penso que, ao divulgar o Poema de Régio, referindo as fontes, estou a valorizar a Obra e a dá-la a conhecer. (Publicidade, de que não recebo um tostão!)

Livraria Igreja Coro. Foto original. 2019. 04. jpg

Este livro é mesmo um clássico e está apresentado em formato de bolso, o que facilita o seu transporte para onde nos desloquemos. Foi comprado em Óbidos, numa Livraria icónica, situada numa antiga igreja católica, dessacralizada. A um preço super acessível: 3 Euros. Em Abril, do ano passado (2019).

Vou lendo e relendo. É daqueles livros que por ser de poesia e de autor que aprecio, vou sempre voltando a ele. É mesmo clássico!

 

Também pesquisei na net e os textos apresentados são sempre parcelares, relativamente à fonte documental referida. Há, obviamente, outras versões em livro, pois que na Introdução – “Da Vida à Obra”, elaborada por Isabel Pires de Lima, Professora Catedrática da Universidade do Porto, refere que o original é de 1941!

Não sei se essas versões alteraram a dimensão do texto e pormenores, porque também se notam pequenas diferenças, nalguns versos. (É natural que tenha acontecido, pois o processo criativo leva a modificações nas versões apresentadas, que qualquer autor vai realizando.)

A versão apresentada compõe-se de vinte sextilhas.

Estes postais organizei-os para “celebrar” os seis anos do blogue. E para homenagear José Régio, Amália e também Alain Oulman, neste postal.

Como sabemos, Amália cantou vários Poetas nacionais consagrados, neste caso, Régio e para esse facto o contributo de Alain Oulman foi marcante.

Sobre o disco contendo esses fados, eis a ligação.

Anexo as cinco estrofes apresentadas na net, constituindo excerto do poema de Régio, a parte cantada por Amália. (A Diva não podia, evidentemente, cantar as vinte estrofes. Comparando, pode observar as modificações e o que foi escolhido para cantar.)

 

“Fado Português” 

“O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.”

Óbidos. Trepadeira. Foto Original. 2019. 04. jpg

Ligações para postais sobre Régio e sobre Amália:

https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/jose-regio-cinquentenario

https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/momentos-de-poesia-e-casa-jose-regio

https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/surgiu-no-palco-um-dia-um-bailarino

https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/momentos-de-poesia-e-jose-regio

https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/sera-portalegre-uma-cidade-de-poesia

https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/poesia-em-regio-portalegre

https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/autografo-de-amalia

https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/o-meu-momento-amalia-ao-vivo

https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/em-casa-damalia-tertulias-semanais

https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/estranha-forma-de-vida-amalia-

 

 

O Meu Pé de Laranja Lima

Um livro a (re)ler, após a visualização do filme.

Meu Pé de Laranja Lima filme  in. cinemaville.net

(In. cinemaville.net)

Hoje vimos o filme “O Meu Pé de Laranja Lima”, de 2012, realização Marcos Bernstein, também co - autor do argumento com Melanie Dimantas.

Elenco principal: João Guilherme Ávila (Zézé), José de Abreu (Portuga), Caco Cioler (o Escritor).

Baseado no célebre livro homónimo, de José Mauro de Vasconcelos (1920 – 1984), publicado em 1968.

 

Tenho um exemplar do livro, 31ª edição – 1980, de Comp. Melhoramentos de São Paulo, Indústrias de Papel – Caixa Postal 8120, São Paulo.

Tê – lo -ei adquirido pelos anos oitenta e li-o nessa mesma data. Não anotei, como por vezes costumo, quando e onde comprei, quanto custou e quando li. Será o próximo livro que irei (re)ler.

 

Tanto o filme, como o livro, relatam uma história muito ternurenta, mas também muito dramática de uma criança, Zézé, de seis anos.

Da sua família mais pobre que pobre, mãe trabalhando na grande cidade, pai desempregado, irmãos cuidando uns dos outros. Zézé, de tão sensível e inteligente, desadaptado ao mundo real, criava seu próprio mundo imaginário com a sua “Minguinho” – o Pé de Laranja Lima, corcel correndo pelo sertão. Traquinas, era saco de pancada do pai e da irmã mais velha.

Da sua amizade com seu Manuel, “Portuga”, imigrante, desesperançando da vida, que encontrou na criança um filho que terá desejado e nunca tido, nas lonjuras do seu Portugal.

Zézé achou no “Portuga” a ternura que uma criança precisa para dar rumo ao seu crescer de menino.  

(…)

 

O Autor termina a sua narrativa, “ -  "Último Capítulo” – “A Confissão Final”

 

“OS ANOS SE PASSARAM, meu caro Manuel Valadares. Hoje tenho quarenta e oito anos e às vezes na minha saudade eu tenho impressão que continuo criança. Que você a qualquer momento vai me aparecer me trazendo figurinhas de artista de cinema ou mais bolas de gude. Foi você, quem me ensinou a ternura da vida, meu Portuga querido. (…)”

Ubatuba, 1967.

 

Então?!

Vamos à leitura, Caro/a Leitor/a!

O Crime do Padre Amaro - Crónica sobre um Amor Amaldiçoado!

"O Crime do Padre Amaro"

Eça de Queirós

 

crime padre amaro livro in. books.google.com.jpg

 

Ousar falar, escrever, opinar, sobre uma obra de Eça de Queirós poderá parecer pretensiosismo.

Eça é sem sombra de dúvida um dos escritores icónicos da nossa Literatura. É um marco incontornável da Prosa Portuguesa. Realista, de um realismo corrosivo, raiando, por vezes, o cinismo, mais das vezes irónico, trata e por vezes destrata (?), será mesmo que maltrata (?) certos personagens e grupos sociais e cívicos. A crítica e a ironia à sociedade do seu tempo, sempre presentes!

 

Como qualquer obra, seja qual for o seu campo artístico ou literário, não pode ignorar-se o contexto espacial e temporal em que surgiu, nem os seus enquadramentos autorais.

 

Eça_de_Queirós_c._1882 in. wikipedia.jpg

 

Eça de Queirós nasceu a 25/11/1845, na Póvoa de Varzim. Era filho “natural” de Dr. José M. A. T. de Queiroz e de D. Carolina A. P. de Eça.

Faleceu em 16/08/1900, em Neuilly, França. (55 anos incompletos). Vida relativamente curta, para os padrões atuais, mas extremamente produtiva. Algumas das suas obras só foram publicadas postumamente.

(O romance “A Cidade e as Serras”, um dos meus preferidos e dos que acho mais otimistas, foi publicado em livro, só em 1901. “A Tragédia da Rua das Flores” só em 1980!)

Formado em Direito, pela Universidade de Coimbra, Julho de 1866, vinte anos de idade, exerceu fundamentalmente atividades profissionais ligadas à Administração Pública. Colaborou também com jornais e revistas, tendo fundado e dirigido o jornal “Distrito de Évora”, 1867.

Escreveu crónicas, cartas, contos, romances de grande fôlego, profere conferências, entra em polémicas, escreve artigos políticos, publica em folhetins... analisa e critica, causticamente, a sociedade portuguesa dos últimos decénios do século XIX.

Nalguns aspetos, quase se reporta aos tempos atuais e noutros inclusive parece premonitório.

Menos conhecida será a sua poesia, em nome próprio, e também através do “heterónimo coletivo” de “Carlos Fradique Mendes”, divulgada ainda em 1869, em a “Revolução de Setembro”.

 

Foi neste ano de 1869, 24 anos, que assiste à inauguração do Canal do Suez e viaja pelo Oriente. As vivências desta viagem seriam tema para livros subsequentes.

(A realidade que o cerca, as suas experiências vividas, caraterizam e são marca indelével da sua Obra. Defende e integra-se na corrente realista da Literatura.)

 

Em 1870 e 1871, vinte e cinco para vinte e seis anos, exerce funções de “administrador do concelho de Leiria”.

Foi nesse contexto espacial e temporal que “bebeu nas fontes” para o romance que titula este artigo.

Após ter prestado provas para cônsul, ainda em 1871, será nomeado em Março de 1872, para o consulado das Antilhas Espanholas, sendo empossado em Dezembro, em Havana, Cuba.

Em Novembro de 1874 será transferido para o consulado de Newcastle, Inglaterra.

O exercício das funções de cônsul será a sua atividade profissional dominante.

Em 1878, será transferido para Bristol. Mais tarde, 1888, para França, aonde viria a morrer.

Casou em Fevereiro de 1886, aos 40 anos, com D. Emília de Castro Pamplona (Resende), de 28 anos – (1857 – 1934).

 

Em Fevereiro de 1875, na “Revista Ocidental” surgem os capítulos iniciais do romance citado, numa primeira versão. Nesse mesmo ano, trabalha uma 2ª versão, que será “posta à venda, em volume”, em Julho de 1876.

Em 1879, “sai a lume a terceira e última versão de O Crime do Padre Amaro”.

 

Eça viveu toda a sua vida de adulto na 2ª metade do século dezanove, que, comparativamente com a primeira, foi de muito mais estabilidade política, social, económica.

(A primeira metade do século dezanove fora mais turbulenta e de maior instabilidade: "guerra das laranjas", invasões francesas, guerra civil, revoltas populares…)

 

A segunda foi fase de maior progresso e desenvolvimento. Surgiram e implementaram-se grandes modernidades de que o comboio foi expoente, provocando uma verdadeira revolução sobre múltiplos aspetos.

Os jornais ganharam projeção; surgimento de novas ideias, uma conceção e crença na modernidade, na educação e no progresso técnico e científico, como bases do desenvolvimento individual e social; questões cívicas importantes como foram a abolição da pena de morte e da escravatura.

O debate de ideias ganhou projeção entre intelectuais, políticos, estudantes.

Em 1865/66 surgiu a “Questão Coimbrã”, em que Eça não participou. Mas participou nas tertúlias do “Cenáculo” em 1870 e interveio nas “Conferências do Casino”, 1871.

Fez parte da chamada “Geração de 70”, “geração que traz a modernidade pela ironia e pela sátira, pelo idealismo utópico e pela reflexão metafísica”.

As ideias republicanas ganhavam destaque a partir da década de setenta. Surgiam novos partidos.

No plano internacional, entre os muitos acontecimentos relevantes, destaco a guerra franco-prussiana, 1870/71, perdida pela França e que, entre outras consequências, levou à designada “Comuna de Paris”, cujos ideais e ecos revolucionários também chegaram a Portugal e tiveram repercussão nos jovens intelectuais portugueses da já referida “Geração de Setenta”.

 

Mas formulo a questão:

Com todas as modernidades e mudanças ocorridas, será que no País vigorava a senda do progresso e do desenvolvimento, tanto no domínio das ideias, das mentalidades, das técnicas, da economia?!

Resposta a essa pergunta ninguém a deu melhor que Eça nos seus textos, especialmente nos romances, em que ele faz uma crítica mordaz à sociedade do seu tempo, nomeadamente a determinados grupos sociais, culturais, políticos, religiosos, artísticos…

 

Em “O Crime do Padre Amaro”, a ação da narrativa contextualiza-se espacialmente na cidade de Leiria, reportando-se, obviamente, ao tempo direto de observação em que Eça aí permaneceu como administrador do concelho, 1870 – 71.

Este seu primeiro romance, dada a temática e os grupos sociais que descreve e o respetivo conteúdo e enredo romanesco, “caiu que nem pedrada no charco” na sociedade portuguesa da época. E mesmo posteriormente, continuou sendo um livro “proibido” não só em Portugal, como no Brasil, onde Eça foi sempre um escritor muito admirado, reverenciado e conceituado.

 

malvina. in. http:wp.clicrbs.com.br. jpg

 

(Lembre-se que até Jorge Amado, em “Gabriela Cravo e Canela”, refere a proibição do livro às meninas de bem, nomeadamente à personagem “Malvina”, que o lia às escondidas no seu quarto e dele segredava a sua amiga Gerusa.)

 

(Atualmente, já no séc. XXI, este livro serviu de inspiração para um filme português, com Soraia Chaves e Jorge Corrula.

E, em 2003, também serviu de inspiração para um filme mexicano.)

 

O_Crime_do_Padre_Amaro_ filime. 2005 cartaz in. wi

 

Mas voltemos ao romance original.

Nele, Eça faz uma crítica mordaz e perturbante, ao clero, à pequena burguesia provinciana, especialmente personificada nas beatas aduladoras da “padraria”, sediadas sugestivamente na Rua da Misericórdia.

Os padres, nestes personagens essencialmente “baixo clero”, são vistos, entre outros aspetos mais verrinosos, como uns “patuscos”, na satisfação dos apetites do corpo, ainda que entregues ao ofício de salvação das almas. (Exceção de abade Ferrão: “…virtude de vida…ciência de sacerdote.”)

As beatas, supersticiosas, mexeriqueiras, sujeitas às mais diversas crendices irracionais, vivem agarradas à sotaina e batina, de abade, cónego, pároco, sacerdote, coadjutor, capelão, padre-mestre, adulando e reverenciando o cabido da Sé.

A classe social dominante no enredo constitui a pequena burguesia provinciana, vivendo mediocremente com seis tostões por dia, preço de aluguer de um quarto.

Neste contexto, surge exacerbado um amor afogueado de um jovem padre, Amaro, correspondido por igual amor piegas de uma jovem beata, Amélia, eros que acha satisfação numa enxerga velha de uma cama podre, num quartinho de telha vã no 1º andar da casa do sineiro, nas traseiras da Sé.

Amor amaldiçoado por uma entrevada, filha do sineiro, que agarrada à cama onde jazia a sua invalidez, pressentia o aconchego dos amantes, como se fora “cio de cães”.

 

E poderia ficar por aqui, que não destoaria da perspetiva como Eça nos apresenta a satisfação carnal dos amantes, ainda que possa parecer pouco abonatório para tal Obra e para tão genial Autor.

 

(Fica muito, fica imenso, por contar, porque a riqueza ideativa de Eça ultrapassa completamente esse aspeto um pouco mais sórdido (?) do enredo.

Bastantes personagens, caraterização pormenorizada de pessoas, sentimentos e ações, a especificação dos ambientes, o enquadramento dos contextos espaciais, por vezes temporais, descrição minuciosa de objetos e acessórios da ação, de personagens, vestuário, modos e tiques, teatralidade de gestos e comportamentos…   o humor, a graça, a fina e requintada ironia, a intriga, a trama do conteúdo, o estilo, a multiplicidade de sentidos…)

 

Se nunca leu Eça, o que espera?!

 

Mas, voltando ao enredo…

Tantas idas à casa do sineiro a cumprir a promessa de ilustrar a “entrevada” levaram ao inevitável: Amélia, “a flor das devotas”, engravidou.

E Amaro, o pároco, com a ajuda do cónego Dias e da beata da irmã deste, Dona Josefa Dias, resolveu a situação.

Remeteu a heroína para Ricoça uma quinta recôndita do cónego, em Poiais, onde a rapariga haveria de dar à luz. Tratou logo de despachar o futuro rebento e com a ajuda de uma alcoviteira, Dionísia, encomendou-o para uma ama-de-leite, habitualmente conhecida como “tecedeira de anjos”.

E com estes preparos tudo preparou.

Enviou a rapariga amada e o filho, de anjinhos, para o Céu. Cumprindo assim o seu papel de abastecer a corte celestial.

 

E assim termino a “minha crónica” sobre este livro e o seu Autor.

 

Lembrando que Eça tem este condão de “matar” ou fazer esquecer, as heroínas dos seus romances, enredadas em amores proibidos e incestuosos.

 

(Amélia em “O Crime…”, que cumulativamente levou o anjinho.

Luísa, em “O Primo Basílio…”

Maria Eduarda, em “Os Maias”, não morreu mas… “É como se ela morresse... sem mesmo deixar memória…” pag. 671.

Genoveva, em “Tragédia da Rua das Flores”.)

 

Os heróis, passado aquele fulgor e arroubo inicial, depressa olvidam as suas amantes.

É essa a “condição humana” ou é essa a visão do Eça?!

 

(E sobre personagens do supra citado livro…

Questionei-me se “O secretário-geral, o Sr. Gouveia Ledesma” personificaria o próprio Autor, Eça.

Pelo que li na pág. 439, linha 24, edição Círculo de Leitores, 1980, parece-me que não…)

 

*******

 

 (Pesquisa Bibliográfica:

- “Obras Completas de Eça de Queirós, Primeiro Volume – O Primo Basílio” – Círculo de Leitores – 1980;

- “Obras Completas de Eça de Queirós, Quarto Volume – O Crime do Padre Amaro”, - Círculo de Leitores - 1980.

- Lexicoteca - Moderna Enciclopédia Universal – Círculo de Leitores, 1987

- “Diário da História de Portugal”, José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra; Selecções do Reader’s Digest, 1998.

- “História de Portugal, 1640 – Actualidade” – Vol. 3; Direcção de José Hermano Saraiva – Publicações Alfa, SARL, 1983.

(E artigos da internet, wikipédia.)

 

 

 

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