Almas Gémeas: Florbela e Maria João
“Dialogando com… e glosando Florbela Espanca”
«EU
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada… a dolorida…
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê…
Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber porquê…
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!»
Florbela Espanca, In. “Livro de Mágoas”
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«EU
Eu, em contrapartida, sei quem sou;
Poeta, fui-o sempre, a vida inteira,
Dos versos dedicada companheira,
Rocha, ou papoila, que do chão brotou
E, depressa demais, desabrochou,
Tomando a sua própria dianteira
Na caminhada junto à ribanceira
Em que o passo apressado a colocou,
Mas vive, agora muito lentamente,
Um tempo mais incerto e mais urgente
Que teima em não parar pr’a repousar
E que passa por ela e segue em frente,
Sem dar conta do mal que faz à gente
Que vai estando cansada de passar…»
“Maria João Brito de Sousa – 28.01.2016 – 11.00h”
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In. “Almas Gémeas – Maria João Brito de Sousa – Florbela Espanca” – pag.s 8 e 9
EUEDITO – www.euedito.com – 2016
Editor: Joaquim Sustelo