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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Descortiçamento: Trabalho Agrícola peculiar!

Ervedal – Aldeia da Mata – 15 junho 2022

Descortiçamento. Ervedal. Foto Original. 2022.06.15.jpg

Volto a escrever sobre esta atividade agrícola tão peculiar.

Ao observarmos estes trabalhadores a desenvolverem esta labuta, há algo que se releva de imediato. Para além do esforço físico exigido, a maestria do desempenho, o empenhamento e cuidados que se observam, esta tarefa é puramente humana, com recurso a um instrumento elementar: a machadinha. Basicamente temos: a Árvore, o Homem e a Ferramenta! Uma interação entre três elementos, numa luta desigual, em que o sobreiro, numa postura aparentemente passiva, premeia a capacidade do profissional que o enfrenta neste combate. Ofertando-lhe, como prémio, a preciosidade da sua casca, da sua couraça protetora: a cortiça!

A tecnologia é por demais rudimentar. Apenas a machada. Ela mesma também tão original e tão adaptada à função a exercer e à dimensão do seu possuidor e dono. A lâmina de corte é em forma de meia-lua. Para, ao cortar, ao vincar os cortes longitudinais ou transversais, ao descascar, permitir o descasque, sem ferir, sem magoar a planta. É uma ação de luta, mas também se vislumbram sentimentos de carinho, de consideração, ousaria dizer até de amor pela árvore, que resiste, mas também se entrega a quem a abraça, sim, para medir o tronco, conhecer as possibilidades de agir ou não, também se abraçam as árvores! E sempre, sempre, o ser humano - o trabalhador; o ser vegetal e o utensílio humano aliado à sabedoria, à técnica, ao fazer, ao saber fazer. Ancestral! Medieval! Centenário! Milenar?!

O cabo de madeira, de azinho(?), termina não cilindricamente, mas num espigão, para penetrar a casca, para a descascar, retirar a cortiça do tronco, sem o ferir. Com a machadinha, tanto se usa a lâmina, quanto o espigão, numa alternância funcional, para se obter o resultado final: o sobreiro descascado, descortiçado. Descortiçamento!

Finalizando este postal: num mundo em que a tecnologia invadiu todos os modos de produção, seja na agricultura, na pecuária, agropecuária, agroindústria, em todas as indústrias, em todos os setores económicos: secundário, terciário; esta função, labuta, faina agrícola, mantém-se artesanal. Artística, até!

Até quando?! Até quando haverá Homens capazes de exercer este mister ancestral?!

(Esta pergunta, dúvida, inquietação, foi-me transmitida, de certo modo, pelas vozes de alguns dos intervenientes neste processo, quando fomos conversando.)

(Apresento mais uma foto documental, em que se observam dois dos intervenientes diretos: o Eng. Nuno, da Sertã e outro senhor, da Cunheira, de que ainda não consegui saber o nome. E as respetivas machadinhas em funcionamento, labutando com o sobreiro. Também se repara noutro senhor, do Crato, que se encarregava de acarretar as pranchas da preciosa cortiça para a camioneta. Aqui, sim, já as modernidades são usadas, há décadas. Não os antigos carros de bois, até aos anos cinquenta, quiçá inícios de sessenta, do século XX, mas as furgonetas.)

Ainda apresentarei foto global com todos os participantes, interventores diretos ou não.

Obrigado e Saúde!

*******

Hoje, terceiro dia de Verão, este vem envergonhadíssimo! Que até no Alentejo chove! Mais parece uma Primavera retardada. Um mês de Março ludibriado!

 

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