Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Celebrou-se, ontem, vinte e sete de março, o “Dia Mundial do Teatro”.
Por todo o Mundo ter-se-á comemorado esse acontecimento.
Portugal não foi exceção. Almada ainda menos.
Não viu ainda a peça “Bonecos de Luz”, baseada na obra homónima de Romeu Correia, pela Companhia de Teatro de Almada, precisa e sintomaticamente no Fórum Romeu Correia?!
Então de que está à espera?
(Cortesia Companhia de Teatro de Almada)
“ – Acha que valeu ou não a pena ter desligado o seu telemóvel durante uma hora?...”
Pergunta formulada aos espetadores, por um dos protagonistas da peça, o Lopes, o projecionista dos filmes de Charlot, que, no final, nos interpelou a todos que assistimos ontem.
Formulará essa questão todos os dias, certamente!
Se quer saber a sua resposta, só mesmo indo assistir.
Por mim, por nós, valeu bem a pena!
Falta você ter a oportunidade de formular o seu próprio juízo de valor.
E não quer também acompanhar o Zé Pardal, o velho oleiro e sua amante Carriça, que também é percussionista (?!); a filha do oleiro, Miquelina, o dono do cinema ambulante e o referido Lopes, em triangulação amorosa?!
A Dona Fausta, igualmente guitarrista, que tornou o Pardal seu herdeiro universal, após ele ser aperfilhado?
E o pedinte, disfarçado de cego, que Zé Pardal acompanhava nas pedinchices, provavelmente à saída dos cacilheiros vindos de Lisboa?!
E há aqui alguma incongruência ou lacuna nestas interpelações, nomeadamente no referente a personagens?!
Há? Haverá?!
Só indo assistir poderá saber.
E termino com a deixa final, também interpelação e convite, exarada por Isabelle Huppert, atriz francesa, a quem coube este ano redigir a mensagem alusiva à efeméride.
Não, não vou falar sobre a célebre canção de Elis e Tom Jobim, não.
Também não vou comentar sobre tanta coisa importante ou nem por isso, que por aí pulula nos media. Muitos assuntos, até preocupantes, que nos surpreendem ou talvez não, como foi possível chegar-se a tal. Não estou virado para as “políticas e politiquices”, apesar de haver assuntos que mereceriam alguns comentários.
Nem também sobre o Portugal – Hungria irei perorar. Por enquanto, o futebol não me merece destaque. Acompanhemos o campeonato e aguardemos o próximo sábado.
Falo-vos, e para começar, precisamente de águas… de chuva.
Que finalmente resolveu brindar-nos, já na Primavera, quando se esquecera de nós, todo o Outono e Inverno. Mas, mais vale tarde… Que, “Março, marçagão…”
E, com ela, o frio. Não sei como serão as águas de Março, lá para o Rio, que anunciam o final do Verão. Aqui, “deveriam” (?) vir no Inverno e/ou no Outono, mas só agora chegaram. Precisamente com a Primavera! Que supostamente se deveria anunciar radiosa, alegre, iluminada. Mas não! Chuva e frio!
Ainda bem que nós não mandamos nisso, diz o povo!
E é precisamente e também da Primavera e das ocorrências humanas a ela associadas, que vos quero falar.
Ainda no dia 20, pela tarde, quando o sol, no seu movimento aparente, atingiu a posição de equinócio, passando a linha do equador, para o hemisfério Norte, oficialmente, iniciou-se a dita Primavera!
Habitualmente, essa ocorrência situa-se no dia 21 e é nesse dia que se celebram duas datas festivas importantes: “Dia da Árvore” e “Dia da Poesia”!
Em Almada, associada às boas-vindas à Primavera, organizam-se os “Dias da Floresta”.
Nessas atividades, entre outras igualmente interessantes, promovem a distribuição de árvores, plantas, arbustos, ervas aromáticas, a troco de lixo para reciclagem, conforme pode verificar na ligação anteriormente assinalada.
Já, por diversas vezes, temos participado nessa ação, neste ano novamente.
Cada pessoa tem direito a duas plantas, em função dos respetivos objetos levados para serem incorporados nos bidons específicos de reciclagem.
Cinco árvores: um pinheiro manso, dois carvalhos, uma alfarrobeira, uma azinheira e uma planta aromática, cujo nome não fixei, mas que, supostamente, é dissuasora dos mosquitos, quando colocada à janela! Haverei de saber-lhe o nome.
Ainda no âmbito das atividades integradas nos “Dias da Floresta”, ocorreram no dia 23, 5ª feira, as ações “Vamos Plantar!” e “Observação de Aves”.
Já tenho participado nesta última ação noutras ocasiões. Desta vez, envolvi-me mais na primeira: “Vamos Plantar”!
E plantei?!
Plantar, plantar mesmo, como já fiz imensas, tantas vezes, no Alentejo; em Almada e no Parque da Paz, não.
Apenas ajudei a plantar. De pá, com enxada, apenas atirei a terra para as covas onde os técnicos da Câmara haviam depositado uns choupos de folha branca e uns carvalhos portugueses. Que as covas estavam feitas, as árvores já colocadas.
Nesta ação, dei a minha ajuda e colaborei com as crianças da Escola “Primária” do Pragal, que aí estavam, entusiasmadíssimas, num trabalho prático, que lhes perdurará, certamente, nas suas vidas futuras, essa lembrança.
“- Sabes?! Recordas-te?!, quando viemos plantar estas árvores, aqui, quando andávamos na Escola?!” Dirão elas, daqui a alguns anos, quando, já crescidas, vierem correr ou passear para o Parque.
Também havia alguns adultos, mas poucos, que eu contasse, apenas quatro e um, o que pretendia era o kit das ervas aromáticas, que supostamente deveriam dar-lhe, em troca da participação. Ironicamente, não haviam sido levados os kits para o evento, com medo da chuva!
E voltando à plantação. Após pedir a pá a uma criança, questiona-me esta, numa voz cheia de alegria, contentamento e admiração.
“ – Você é Alentejano?!”
Dada a resposta, após saber o como e o porquê de tal pergunta, trivialíssima; chegou a minha vez de saber também a localidade de origem da menina. Que ela era daqui, de Almada, só que os familiares são da Esperança, já se viu nome mais bonito para uma aldeia?! Esperança: concelho de Arronches, duas localidades tão bonitas!
E voltando ou continuando na Poesia!
No dia 21, também o C. N.A.P. – Círculo Nacional D’Arte e Poesia promoveu uma bonita sessão dedicada a esta Arte Poética, no Centro de Dia de São Sebastião da Pedreira.
Disseram-se poemas, poesias, recitaram-se, leram-se, declamaram-se versos e rimas ou não, sobre temas poéticos; pelos presentes, que rimaram o ambiente do Centro. Parabéns a todos.
Também circularam boas amêndoas da Cidade de Régio.
E, nessa bela Cidade, e à mesma hora, a Poesia saiu à rua, homenageando os seus Poetas e suas Poetisas, em “Momentos de Poesia”!
E também e ainda em Março, se comemora o “Dia do Pai”. Que todos os dias são dias de pai. E que Saudades e que falta me fazes, PAI!
E, igualmente em Março, e como de costume, o Grupo Coral Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó, comemorou o seu trigésimo primeiro aniversário, no Clube Recreativo do Feijó. Aniversário a vinte e um, festejado ontem, sábado, vinte e cinco.
E que belos momentos se vivenciaram, através daquelas vozes telúricas, que em coro, no ponto ou no alto, nos evocam o nosso querido Alentejo, no âmago mais profundo do seu Ser!
E esta “crónica salteada” ainda tem mais condimentos?
Ontem, também planeara ir à sede da SCALA, aonde haveria também uma Sessão de Poesia.
Julgava que funcionava na Incrível. Também aportei à Academia. Aí indicaram-me a localização, no esquema: “direita, esquerda, frente…” e é facto assente, não dei com o local. Acabei por desembocar, voluntariamente, na Casa da Cerca. Local lindíssimo da Cidade de Almada, que é imprescindível visitar-se.
De volta, acabei por saber, no Centro de Interpretação de Almada Velha, que a sede da SCALA é na antiga Delegação Escolar, junto à antiga Escola Conde Ferreira.
Já sei, in loco, onde fica. Futuramente já não me irei “perder”!
E, nestas deambulações, antes passara pela Oficina da Cultura e pela Biblioteca, constatei o óbvio, em Almada: Cidade e Concelho.
Há sempre imensas atividades culturais, dos mais diversos tipos e âmbitos e pelos mais variados locais públicos e em espaços relativamente perto uns dos outros.
Por vezes, o difícil é escolher. Dada a simultaneidade dos eventos!
E, por aqui me fico, nesta crónica salteada, de eventos e “condimentos”, por locais e acontecimentos!
Terminou ontem, 5ª feira, 23 de Março, 2017, esta série sueca.
Sueca, não de jogo, célebre de cartas, mas de origem territorial. Que soube que era esta a origem geográfica, praticamente apenas nos últimos episódios, pois pensava ser norueguesa.
Não vi os primeiros episódios.
Acabando de ver “A Mafiosa – Le Clan”, cinco temporadas, quarenta episódios, resolvi fazer quarentena.
O título também não era nada apelativo, à priori, não era significante de nada, e pensei ser identidade de pessoa ou lugar.
Também só soube o que significava, no último e décimo episódio. Um superalimento, que uma personagem, Ylva, que percorria as ruas da cidadezinha, com um carrinho de compras do supermercado, dava a um peixe para o fazer super forte, antes de o lançar no rio.
Super alimento que Harry Storm, o assassino da série, tomaria no final e que o tornaria em super monstro.
Quando peguei na série custei muito a entender o enredo. Mas fui sempre vendo, ficando, como curiosidade, como vontade de descobrir e desenlaçar a trama, de ir tentando compreender toda a temática. À partida, não me agradava muito parte dessa temática, mas fui-me deixando ficar, talvez até, enredar.
O facto de o conteúdo temático fazer apelo a mitos, lendas e narrativas tradicionais, escritas e orais, de povos nórdicos, não sei se exclusivamente suecos, se de comuns e ancestrais antepassados de povos da floresta, esse facto fez com que muitos aspetos não se compreendessem na totalidade. Porque nos reporta para ancestralidades, tradições, conhecimentos, que nos são afastados culturalmente.
Mas fui-me deixando agarrar por esse desconhecido e vontade de perceber, entender, conhecer.
Achei também os assuntos, os/as personagens muito sombrios/as, tristes, pouco luminosos. Angústia, medo, sombras, pouca luz, muita ansiedade. Aspetos que me repeliam e, simultaneamente, me chamavam para a visualização.
Conclui a visão da série!
E, tenho que realçar, que teve aspetos muito positivos no final.
Foi uma série, mini, conclusiva.
As tramas enleadas, destrançaram-se. Resolveram-se os enigmas. Não nos restaram a angústia, a incerteza e a ansiedade, com que os guionistas teimam em deixar-nos, quando jogam com a provável continuidade dos seriados. Ademais, quando lidam com crianças raptadas ou desaparecidas. Lembro “Amber”.
Nesta, as crianças foram todas resgatadas da gruta, para onde teriam sido levadas por um Muns, que não sei que era ou quem era.
(Talvez fosse Ylva, essa personagem, que o vulgo consideraria bruxa, mas que era um dos últimos seres especiais que restavam desse povo desaparecido, que teria vivido na floresta sagrada.)
Esse achamento das crianças na gruta foi realizado por Tom Aronsson, polícia e investigador local, que as encontrou através da filha, Ida, criança supostamente autista, mas que se revelou dotada de extraordinários poderes, como, aliás, a maioria daqueles personagens invulgares e excêntricos. Menina que se reencontrou consigo mesma e com o pai, com quem ela queria, de facto, compartilhar a sua vida.
Libertadas as crianças e entregues aos progenitores. Resolveu-se, deste modo satisfatoriamente, um dos enigmas que entrosou todo o conteúdo temático.
Os “maus”, digamos assim, foram “castigados”, usemos estas expressões reducionistas.
O “assassino”, Storm, foi ele morto pelo super peixe, ou o quer que fosse o ser que se movimentava oculto nas águas.
Gerda Gunnarsson que, por debaixo da mesa, foi sempre congeminando o seguimento do enredo, também morreria, de causas “naturais”, falemos assim da doença que a vitimou, o cancro.
Destino a que a sua ação na fábrica e ganância especulativa não seria alheia, em termos narrativos.
Lembremos que outra das temáticas assentava na existência de uma empresa madeireira, “Thornblad Cellulosa”, também fábrica de celulose (?), que destruía a floresta, como fonte de matéria-prima; libertava fumos tóxicos, expelia águas residuais contaminadas, para o rio e lago das proximidades.
Esta era a parte da estrutura narrativa que espelhava a realidade, que todos conhecemos, um pouco por todo o mundo e os consequentes problemas ambientais.
Pelo meio, a ganância, a cupidez dos acionistas fabris, através do conselho de administração e de Gustaf Boren, sócio maioritário, de aumentarem a produção, de alargar a sua ação até outros setores.
Sabia-se, sabiam os dirigentes, conheciam alguns do povoado, a existência de filões de prata, que nas grutas afloravam à superfície.
Esse submundo subterrâneo, onde “reinaria” um povo, fugido da floresta (?), esta foi uma das partes que não consegui entender, essas grutas, bem como a floresta eram sagradas e deveriam ser mantidas intactas.
Existia até um acordo selado, no século XVIII, entre os antepassados de Eva Thornblad, detetive e filha de Johan Thornblad, e esse povo antigo.
Acordo que o pai, Johan, recentemente falecido, a respetiva firma madeireira e os atuais dirigentes vinham desrespeitando.
Inclusive, o pai de Eva, Johan, havia lançado desfoliante na floresta, já na década de setenta do século XX, matando muitos dos seus habitantes autóctones, que ele mandou posteriormente incinerar.
E estes seriam alguns dos aspetos, trágica e fatalmente realistas do enredo, sempre enovelados nos assuntos lendários, mitómanos e fantásticos.
E nesse contexto, simultaneamente “realista” e lendário, se situava o desaparecimento, sete anos antes, da filha de Eva, Josefine.
A morte de Johan Thornbald fora o motivo imediato do regresso de Eva a “Silver Height”, “Colina da Prata”, local onde residira com o pai e de onde se ausentara na sequência do trágico desaparecimento da filha, cujo corpo nunca aparecera.
O seu regresso e subsequente envolvimento na narrativa e busca das crianças desaparecidas e da sua própria filha foram um dos leitmotiv dos vários episódios, que, como já mencionado, tiveram um desfecho conclusivo.
E ainda e também neste contexto e ainda no lado positivamente conclusivo da narrativa.
Eva conseguiu que a firma reconsiderasse a sua ação, indiretamente a suspensão da prospeção do minério de prata e recuperou, perdendo, a sua filha Josefine.
Esta “pertenceria”, faria parte, da Natureza, não me pergunte como nem porquê, e, Eva embora tendo-a recuperado, porque a perdera há sete anos, teve que aceitar, calma e naturalmente, como algo inexorável, a sua perda.
A criança – jovem, incorporar-se-ia, no território da floresta, na própria Terra Mãe, a que pertencia, transformando-se numa planta, rocha, integrada na própria terra, como se fora, quiçá, novo elemento mineral, talvez até fazendo parte do futuro filão de prata. Não sei.
E porque nesta pequena série parte do tema e dos personagens eram jovens e crianças, também o personagem Nicklas, filho de Gerda e do pai de Eva, seu meio-irmão, portanto, jovem supostamente doente mental, destrambelhado, se revelou, no final, extraordinariamente adulto e capaz de assumir os seus próprios destinos autonomamente.
A defesa dos interesses do filho, como forma de o afastar da instituição / hospital psiquiátrico, onde ele era internado e mal tratado, procurando assegurar-lhe um futuro financeiro estável, era a motivação egoísta, que levava Gerda, a engendrar as mais diversas artimanhas, culminando nas detonações das grutas, na busca da prata, sem se preocupar com as crianças aí retidas.
Valeu a intervenção de Eva e do meio-irmão, Nicklas, que apesar do seu aparente deficit cognitivo, mas extremamente afetuoso, conseguiu ainda que a mãe suspendesse essa intervenção desastrosa.
E, como tal, e é bom reforçar, as crianças salvaram-se!
Não julgo que tenha sido uma série, que tenha conseguido cativar muito público, digo eu.
Talvez fale por mim.
Foi difícil iniciar-me nela, não entendi todo o enredo, mas se a repetissem talvez procurasse segui-la, logo de início, para posterior melhor entendimento.
Gostei do final! Foi conclusivo e positivo.
E faltou contar muito sobre o narrado?!
Sim. Imenso!
E não falei de dois personagens que desempenharam papéis fulcrais.
Goran Wass, investigador e da jovem Esmeralda, nome sugestivo, ambos seres especiais, dotados de poderes sobrenaturais, fundamentais no enredo, mas sobre que já não vou perorar.
Apenas realço que eram dos poucos seres restantes desse povo antigo.
E que Goran fora precisamente colocado nessa investigação ao desaparecimento das crianças, que se iniciara com Anton, filho de um dos administradores da "Cellulosa", precisamente para tentar salvar os membros remanescentes e raros desse povo.
Se a RTP2 voltar a transmitir a série, vou ver se consigo visualizá-la e prestar atenção ao que não assisti.
E, talvez, contar desde o início e de outro modo, mais analítico.
Aqui tem, caro/a leitor/a, o que me foi possível. Especialmente para si, que gosta de séries!
Este Post nº 514 destina-se a informar sobre a realização das Comemorações do 32º Aniversário da A. P. P.
Sim, porque sendo Março "Mês de Poesia", Abril não lhe fica atrás.
Segue-se um pouco da História da APP e o Programa das Festividades!
Parabéns à A.P.P. - Associação Portuguesa de Poetas.
Parabéns aos Corpos Gerentes da Associação. Aos atuais e a todos os que, ao longo destes trinta e dois anos, conduziram o leme da Associação. Especial relevo aos que não estando fisicamente presentes connosco, guardamos com saudade na nossa memória coletiva.
Relevantes e primordiais felicitações aos Sócios Fundadores.
E parabéns e iguais felicitações a todos os Sócios, sem os quais também nenhuma Associação se mantém. E é esse o seu móbil fulcral: associar Pessoas. No caso vertente, mais ainda, porque irmanadas por um Ideal de Valor: a POESIA!
Neste 10º Grupo, Mabel Cavalcanti, Maria Alcina Magro, Maria José Reis, Maria Graça Melo, Maria Vitória Afonso, Mário Bragança e Mário Vitorino Gaspar.
De cada um, selecionei uma Poesia, como habitualmente.
Cabe a si, caro/a Leitor/a, apreciar!
*******
MABEL CAVALCANTI
“ ESQUEÇAM, PARA LEMBRAR”
“ Esqueçam tudo que eu já sofri
Pois hoje renasci
Sou toda primavera
Renasci de amor em outra terra
Num inverno onde quase morri.
Foi aquele ali
Que me devolveu
Todas as estações
E hoje sou flor
Sou chuva e sabor
Num outono de amor
Desse verão
Apaguem minhas notas tristes
Aquela lá já não existe
Hoje sou bem melhor
Sou amor e sou amada
E ando acompanhada
Numa linda estrada
De girassol.
Esqueçam meu ontem chuvoso
E vejam que sol maravilhoso
É o meu andar
E deixem que eu cante a minha esperança
Nessa noite sempre criança
Esqueçam
Para se lembrar
Que só o amor, eterna semente
É meu futuro e presente
É o que me faz cantar.”
*******
MARIA ALCINA MAGRO
“A TUA AUSÊNCIA”
“Em silêncio, ou por palavras desconhecidas dos poetas,
gostava de te dizer o que sinto com a tua ausência,
o que sofro com a tua partida,
o que penso, com o teu silêncio.
O Sol enche de luz a minha casa,
as pombas espreitam às janelas
e sentam-se, descaradamente, na varanda.
As abelhas vêm beber a água dos vasos
e beijar as pétalas macias e coloridas das flores.
Viajo com as águas do Tejo que vejo correr
para o mar, lá longe, em Cascais.
Tenho saúde, agradeço este dia
em que contemplo a beleza do mundo,
e sinto bem fundo o amor que alimento.
Vivo com esta desmedida nostalgia,
com esta profunda saudade
humedecida nas paredes do meu peito
no momento em que me deito,
no momento em que me levanto.”
*******
MARIA JOSÉ REIS
“ALVORADA”
“Vejo nascer doirada a madrugada
Alegria renasce a cada instante,
Já vejo o claro dia alvoraçada
Essa dispersa luz tão madrugante!
Infinita alegria misteriosa
A aurora desperta com sua graça,
Inundando a paisagem radiosa
Cobrindo de harmonia a quem passa.
E no imenso altivo horizonte
Ouço chilrear aves matinais
E água a sair na clara fonte.
É o conhecimento p´lo amor
Duma vida florindo sempre mais
Em uma madrugada sempre em flor!... ”
******* MARIA GRAÇA MELO
“AMOR ETERNO”
“No espanto dos teus olhos me espanto
Sempre e quando me perguntas inocente
Se o mundo vai girando e a gente
Continuará a se amar tanto, tanto
Não sei que responder mas de repente
Sinto em nossos corações o mesmo pranto
A dizer-nos que este amor é sacrossanto
E em nós, irá durar eternamente…
Este laço que nos une é permanente
Seiva e sangue a correr pelas artérias
Que a sábia natureza não desmente
E pr’além de todo o amor, o nosso alento
Haverá dentro de nós marcas etéreas
A servir às nossas almas de alimento…”
*******
MARIA VITÓRIA AFONSO
“AGOSTO”
“Avança o tempo, surge o mês de Agosto
Em casa permaneço assim calada
Deixa Deus que esse tempo, que não gosto
Se eclipse e doutro mês surja a madrugada.
Aqui encontro-me eu a contragosto
Desse meu Alentejo já exilada
Grita a saudade; a alma com desgosto
Perde a serenidade costumada.
Está-me assim, doendo a solidão
E sinto forte a falta de convívio
E nas horas de plena evocação,
Eis meu ser mergulhado no declívio
Deus me dê o alento e reflexão
Me traga, à soledade, pleno alívio.”
*******
MÁRIO BRAGANÇA
“MULHER BONITA”
“Se mais bonita é a mulher
Mais bonita ela quer ser
Faz tudo que pode e quer
Para bem melhor parecer
A mulher é uma beleza
Para o homem tentação
Mas nunca tem a certeza
De um dia a ter a mão
A mulher é importante
No mundo em que vivemos
Perdem tudo num instante
Se as não compreendemos
Os dons que a mulher tem
Fazem sempre companhia
Deles se orgulha e bem
Para lhe dar força e alegria
Atributos da mulher
Por vezes exagerados
Ela aumenta o que poder
E nunca são censurados
A mulher comanda a vida
Se nasceu para comandar
É uma vida bem vivida
Quando os dois se estão amar”
*******
MÁRIO VITORINO GASPAR
“A NUDEZ”
“A Princesa de nome Rosa,
na parede Jesus!
Brota uma só gota lacrimosa
nos esbeltos seios nus!
- Nua, sem vestido?
A Princesa a Deus implora
- … Não faz sentido!
Outra lágrima e chora.
- Nua… Sem vestidos,
só joia de brilhantes?
Nos seios recém-nascidos
baú de ouro e diamantes?
Joias! São peças únicas,
verdade! E de certeza,
nem sequer umas túnicas
cobrem a linda princesa?
Dançam nos seus olhitos…
Lágrimas! São folhas caídas,
gotículas aos saltitos,
nas curvas proibidas!
Cristais crescem sem nexo,
ninho que o choro nobre,
na virgindade do sexo,
a nudez não encobre!
A criança é nua ao nascer –
e disso não há engano
- Veste-se até morrer,
nem que seja com um pano.
Sai uma lágrima cristalina
e a nudez é de nascença,
sendo ela tão divina…
Qual a diferença?”
*******
Notas Finais:
- Este é o penúltimo grupo de antologiados de que apresento um texto poético, de entre os que cada um deu a conhecer na XX Antologia.
- É natural e possível que tenha cometido alguma gaffe.
- Se, por acaso, verificar algum erro “tipográfico”, ou de outro tipo, involuntário, frise-se, agradeço que me dê conhecimento, se faz favor!
- Clicando, em espaços especificamente assinalados, poderá ficar com uma ideia significativa sobre a Antologia.
São sempre espetáculos de grande interesse, ouvir, melhor, "escutar" os Grupos de Cante.
Realçar e não esquecer o lindíssimo evento musical, ocorrido no passado sábado, dia onze de Março, no C.I.R.L., em que houve o grato prazer de assistir a "Cante no Feminino"!
- Landa Machado, Liliana Guerreiro, Liliana Josué, Lu Lourenço e Luís Branco.
De cada um, selecionei uma Poesia, como habitualmente.
Aprecie, caro/a Leitor/a.
*******
LANDA MACHADO
“SE QUERES SABER”
“Se queres saber de mim
Numa tarde de sol-pôr
Pede às rosas no jardim
Que te mostrem sua cor
Se quiseres entretanto
Saber de mim com certeza
Estarei em qualquer canto
Onde houver amor, beleza
E se de mim tens saudade
Longe não precisas ir
Estou onde há amizade
E alguém saiba sorrir
Se me queres encontrar
Pergunta à noite estrelada
À luz branca do luar
Vou subindo a minha estrada”
*******
LILIANA GUERREIRO
“LISBOA”
“Acabaram as férias e eu regresso do Sul
Com a alma cheia daquele mar manso e quente
Vejo um belo céu tão brilhante tão azul
Tornando a luz de Lisboa resplandecente
Entro na ponte atravessando o rio Tejo
As saudades, que eu já tinha, vão embora
Minha cidade, não sabes quanto te desejo
Quero passear nas tuas ruas, a toda a hora
As tuas cores, os teus cheiros, os teus sons
Envolvem-me com tanto carinho e tanto amor
Enchendo-me de tanta força e tanta energia
Fazendo desaparecer toda a amargura e dor
Depois de chegar a casa, abro todas as janelas
Para ver teu lindo sorriso dourado pelo entardecer
Antes que o sol se vá embora com as estrelas
E as sombras da noite brinquem até amanhecer”
*******
LILIANA JOSUÉ
“POEMA DEDICADO A ELES”
“ Vivo a solidão do tempo
no verde de cada folha
deste espaço que era vosso
a ti mãe eu dava a mão
numa indefinida e disfarçada ternura
não queria que te afoitasses
na erva mal aparada
ou no degrau do portão
a ti pai oferecia um sorriso
discreto e meio embaraçado
por me pareceres sempre mais longe
mesmo que tão unido ao meu peito.
Junto ao poço pejado de rachas e musgos
permanecíamos em cúmplice silêncio
em jeito desajeitado
que para nós era perfeito
voltem para mim
fazem-me falta
mesmo no meu sono fatigado”
*******
LU LOURENÇO
“MEU CANTO NA CIDADE”
“Estes blocos de cimento
que vejo da minha janela
são desalento, cansaços,
Infância sem mimo e regaços,
jardins com sebes e vento.
São o céu enegrecido
com densas nuvens cinzentas,
trovoada, enchente e lama,
nestas gentes da cidade
que tem pão e agasalho
mas vivem sem irmandade.
Ah, se umas gotas de orvalho
viessem humedecer
o horizonte na janela!
Eu seria barco à vela,
Borboleta em voo alado,
Primavera a acontecer,
E a alegria de viver
num jardim à beira-mar
sem blocos de cimento armado
P’rós meus sentidos turvar.
Baloiço no meu quintal,
entre azedas e papoulas,
sem medos, freios, algemas.
E o sol, a pino, a brilhar
Sem blocos de cimento armado
P’rós meus sentidos matar.”
*******
LUÍS BRANCO
“QUEM ÉS TU”
“Quem és tu que interrompestes-me em meio à multidão?
Quem és tu cujo olhar penetrou-me a alma e descobriu o
menino que abriga-se em mim?
Quem és tu que com tuas lágrimas regastes a minha esperança?
Quem és tu que do nada criastes-me um novo mundo?
Quem és tu que atraiu-me para mais perto?
Quem és tu que fizestes com que as minhas mais sólidas
estruturas balançassem com o soprar das palavras que saiam da
tua boca?
Quem és tu cujos lábios despertaram-me a fome?
Quem és tu que abristes a gaiola onde jazia minh’alma?
Quem és tu que como as filhas de Aqueloo fizestes-me
adormecer para a razão?
Quem és tu que tornastes-me o adeus uma tortura cruel?
Quem és tu que fizestes com que meu coração acelerasse seus
batimentos?
Quem és tu que fizestes com que a minha respiração fosse
alongada?
Quem és tu que fizestes-me agir como menino?
Quem és tu que com tuas lágrimas fizestes-me chorar por
dentro?
Quem és tu que com teu sorriso levastes-me ao devaneio?
Quem és tu que fizestes-me sonhar com o impossível, desejar o
inalcançavel, querer o proibido, amar profundamente o
efêmero e tocar o intangível?
Minha agonia é saber que talvez nunca te conheças.
Minha agonia é conhecer todas as distâncias que nos separam.
Minha agonia é sentar-me aqui e escrever meus versos, versos
invólucros, versos que talvez nunca leias e que a ninguém
importa.
Minha agonia é ser assim, sentimento.”
*******
Notas Finais:
- Se alguém de entre os Antologiados, neste grupo ou em qualquer dos anteriores, não concordar com a divulgação, agradeço que me comunique, Se Faz Favor.
- Se, por acaso, verificar algum erro “tipográfico”, ou de outro tipo, involuntário, frise-se, também agradeço que me dê conhecimento.