Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Esta série dramática, exibida de 2007 a 2015, teve na quinta-feira transata, dia 5 de Novembro, o seu epílogo na RTP2, com o 14º Episódio desta 7ª Temporada.
Houve o cuidado, por parte dos guionistas, de rematar o enredo, atribuindo aos personagens principais, um final satisfatório aos seus anseios e objetivos, conforme foram manifestando ao longo do seu desempenho na narrativa.
Vejamos…
Pete Campbell, menino bem, de “boas famílias” tradicionais, ambicioso … arranjaram-lhe um novo emprego numa empresa de jatos privados e é vê-lo a ir passear num desses mini aviões, executivo topo de gama, acompanhado da filha e da mulher, com quem se reconciliou.
Ao abandonar a “MacCann – Erickson”, teve a amabilidade de se ir despedir de Peggy e de ser simpático com ela, com quem tinha sido por vezes grosseiro ao longo de vários episódios.
Peggy Olson, secretária esforçada que fora subindo arduamente na “Sterling Cooper”, com uma entrada problemática na “MacCann”, acabou por ter o reconhecimento do seu estatuto e profissionalismo na nova empresa, sempre aspirando ao cargo de chefe criativa.
Paralelamente acabou por reconhecer-se enamorada de Stan Rizzo, iniciando um par romântico, um amor desencontrado que através do telefone se encontrou, em declarações apaixonadas, que frente a frente davam sempre para o torto. E foi vê-los a beijarem-se na sala de trabalho da secretária criativa, esforçada, centrada no trabalho e ascensão profissional e, finalmente, também recompensada com o desejado, aguardado e merecido Amor.
Cumulativamente, a sua ex-colega, Joan Holloway, ofereceu-lhe parceria num negócio de produção de filmes industriais, numa empresa independente, que Joan quer fundar e associar Peggy como guionista.
Aquela, Joan, realizou um dos seus sonhos: a criação da sua própria produtora, “Holloway & Harris”. Mulher assertiva e independente, proactiva, afirmando-se e afirmando o papel da Mulher no contexto social e profissional nessas décadas já tão distantes e ainda tão chegadas: anos sessenta e inícios de setenta do século XX.
No plano emocional, terá perdido o seu novo namorado, um pouco mais velho e já reformado, cheio de bago, que pretendia seguir com Joan para as curvas, que é o que não lhe falta a ela, e a ele, pelos vistos, dinheiro. Viajarem pelo mundo, gozando da sua companhia, que a ela não lhe desagradaria, mas também tem outros projetos para si mesma, que também tem em conta a sua realização profissional. E, nesse plano, ficou nas sete quintas.
Para ajudar a criação do filho também, e ainda, conta com a mãe. E teve uma ajuda preciosa de Roy, Roger Sterling, que deixou parte da sua herança à criança.
Se mal pergunto, mas o menino de Joan é filho de Roy ou do indivíduo com quem ela esteve a viver, não sei se casada?! Dúvidas de quem não viu todas as temporadas, nem nestas, todos os episódios…
Roger Sterling, após a venda da sua “Sterling…”, uma “maçã podre” na “Grande Maçã”, vai gozar da reforma… passeando pela Europa com uma jeitosa matrona da sua estirpe, que conheceu através de Megan Draper, que por acaso, só por acaso, é a sua própria mãe. E que fala francês! Só não sabemos se tocará piano…
Sally Draper, filha de Don e Betty, adolescente, que iniciara um processo natural de pequenas rebeldias de filha mimada, jogando com a separação dos pais e a “massa” destes, cresceu de repente. Tomando conhecimento da doença fatal da mãe e do desfecho iminente, ganhou maturidade e protagonismo no enredo e na sua própria vida e na dos que a ela estão mais chegados, os irmãos e a progenitora.
Esta, Betty Draper, após passar a maior parte da vida como esposa dondoca e boneca enfeitada, resolveu frequentar a Universidade e estudar Psicologia. Talvez à procura de si mesma, do tempo perdido e de um significado para a sua própria existência algo vazia, de aparências e cabelo sempre arranjado e vestidos aprumados. E foi precisamente aí, na Faculdade, que encontrou um primeiro sinal do seu destino. Ao cair na escada, subindo os degraus do estudo e do saber, viria precisamente a ter conhecimento, após os devidos exames, ser portadora de doença fatal, ainda hoje, muito mais naquela época, uma verdadeira sentença de morte: um cancro de pulmão. Inexoravelmente, morte certa!
Um sinal também da “morte” daquele modelo de Mulher?!
E um prenúncio das famigeradas campanhas anti tabagismo?
E Don?!
Bem, o protagonista da série ficou para o final deste trecho narrativo.
Don, após a célebre e paradigmática reunião de diretores criativos na “MacCann – Erikson”, num 14º andar de um escritório nova-iorquino, com vista soberba sobre os arranha-céus, que menosprezam a torre da Catedral de São Patrício, deu-se ao devaneio… Abandonou a sala, o andar, o elevador, o edifício, a cidade e pôs-se a andar… “On the road”. Qual Kerouac, percorreu os Estados Unidos, de Leste para Oeste, no seu esbanjador de gasolina, à data, abundante e barata, que para a crise petrolífera ainda faltavam dois anos…
Viveu as peripécias da vida errante de cow-boy moderno, sem causa nem destino, sem um fim ou finalidade, que não fora fugir de si, à procura de algo que nem ele próprio é. Que ele não é quem diz ser, possuidor de uma falsa identidade que não lhe pertence.
Acabou num retiro espiritual, num local isolado da Califórnia, com uma soberba vista para o Pacífico, numa comunidade pacífica e de pacifistas, relaxando numa de yoga ou tai tchi, e frequentando psicoterapia de grupo.
Andando na sala sem destino, exprimido sentimentos sem nada dizer, tê-los-á alguma vez ele expresso?!... Preso ali, naquele espaço de aparente libertação, que o carro lhe fora roubado pela mulher, Stephanie, que o levara para aquele local recôndito de fim de mundo.
Desesperado, telefonou a Peggy, desabafou, que fizera tudo errado, que não era quem julgavam, que estragara tudo, que quebrara todos os seus juramentos…
Peggy apreensiva…
Afinal rematou que só ligara, porque percebeu que dela não se despedira e queria ouvir a sua voz… Mais um que foi simpático com a ex secretária subalterna, reconhecendo-lhe o valor, não devidamente reconhecido enquanto trabalhavam juntos.
E Draper voltou a novo seminário, também a convite de outra senhora.
E ouviu outro participante, Leonard, relatando a sua vida e um sonho…
“… passam por mim e não me veem… dizem que me amam… se calhar, amam… (…)
Sonho que estava numa prateleira de um frigorífico… …” E chorou, chorou. Caiu num choro convulsivo, incontrolável…
E Don, num gesto espontâneo e sentido, numa atitude de empatia, levantou-se da sua cadeira, dirigiu-se ao local do Outro, e abraçou-o. E também chorou!
E voltou a novo relaxamento com a memorável vista sobre o mar, em posição de yoga e exercícios respiratórios.
E um hino de agradecimento espiritual…
“Mãe Sol, adoramos-te! E agradecemos-te a doçura da Terra. De um novo Dia!” Hino muito peculiar daqueles tempos de “Make Peace, Not War!” De “The Flower Power”!
Mas o episódio, a temporada, o seriado terminou não com este hino, mas com outro bem mais prosaico e, na verdade, mais consistente no tempo e no espaço, ou não fossem eles publicitários e delineadores do constructo, do designado “american dream”, sonho americano.
Pois a série findou ao som de um célebre spot publicitário de 1971: o “hino” à Coca-Cola, “que é a melhor bebida do mundo”.
Será impressão minha ou esta série, nesta temporada, não "agarrou” os telespetadores na RTP2? Nas outras não faço a mínima ideia, pois ainda não seguia esta moda dos blogues…
Mesmo eu que vi episódios em outras temporadas e até procurava seguir o enredo, nesta temporada não me senti muito motivado para seguir o seriado. Bem, na verdade, por diversas razões, também não consegui ter oportunidade de ver a maioria dos episódios. Na semana passada só pude mesmo ver o de 6ª feira, dia 30 de Outubro e logo, por ironia, a TV resolveu falsear-me. Teve uma daquelas crises existenciais. Parava as imagens, desaparecia o som, esquecia-se do que pretendia transmitir, deixava os personagens de boca aberta e parados, hirtos, à espera de nova ordem de ação, desfigurava-se em tela abstrata, embora não tenha chegado ao estertor final de se extinguir. Mas quando voltava, após estes hiatos, já parte do enredo ficara para trás, sem ser visualizado e entendido.
Apesar de tudo, ainda vi alguns excertos do episódio e será com base no que pude ver que concretizarei alguma narração pessoal do enredo narrado.
Dom Draper, Dom aqui é título, ainda na cama, foi acordado pela elegante senhora da agência imobiliária que trazia clientes para lhe verem o apartamento para ser vendido. Despachou-o a sete pés, sem direito a banho nem feitura de barba, oferecendo-se para lhe fazer a cama, para o recambiar, que estava na hora de os eventuais compradores chegarem.
Não sabemos se a estes ou a outros, o que é certo é que a agente conseguiu que a casa fosse vendida, por bom preço. Estava na hora de ser ele agora a comprar outra casa, que é para isso que as agências servem. Intermediárias na venda e compra. Com estes negócios acabamos por ganhar todos, de uma forma ou de outra e ganha também a sociedade, que há sempre valor acrescentado ao produto, nas diversas transações. E há trabalho para muitas pessoas.
A bela e fogosa Joan Holloway, a boazona da firma, arranjou namorado. Um cota divorciado, reformado e endinheirado que nela se encantou, o que não é difícil e que estava ali para as curvas com a rapariga. Que curvas e volumes é o que sobra na moça, que deixa os pescoços torcidos aos transeuntes masculinos, quando ela se passeia nas Avenidas, bamboleando as ancas e atirando o porta seios, quase a explodir de sofreguidão e desejo, para cima de tantos olhos gulosos.
Pois o dito senhor, após sondar bem o terreno, manifestou-lhe o desejo de a levar a ver as Pirâmides do Egito, que ele estava interessado em exibir tamanho tesouro, alvo de todas as cobiças masculinas e inebriadoras do seu ego pessoal, na terra dos faraós, qual Cleópatra ou Nefertiti, que retornassem aos vergéis do Nilo! E, ele, um nababo americano e dono daquele troféu!
Mas sofreu tremenda desilusão, porque a beldade, apesar de livre de namorado ou marido, tem um menino de quatro anos para criar e não se pode ausentar assim como ele pretende, a satisfazer-lhe os caprichos de possidónio daquela estátua viva e ardente de fogo.
Foi ríspido e arisco. Que já criara os filhos próprios, não queria criar filhos de outro, agora que finalmente ficara livre da mulher que aturara por mais de vinte anos até os rebentos criados.
Joan, que também não é mulher para se ficar, despediu-se, deixando-o ficar na cama do hotel que ele alugara, para ambos selarem compromissos de viagens futuras, numa viagem presente, estendidos e rebolados na cama, que assim não conheceu os aconchegos e calores de casal tão inebriado de amor.
Amor, sim! Porque o homem reconsiderou, um tesouro assim não se acha todos os dias e, no dia seguinte, lá estava ele no emprego da bela secretária, com um lindo ramo de flores a pedir-lhe desculpa e prometer-lhe novos enlevos. Que até iria comprar um apartamento na “Grande Maçã”, aonde ela e todos os respetivos familiares mais chegados, se poderiam chegar sempre que quisessem, que seriam bem vindos.
E assim se processou a reconciliação e quem sabe (?) ainda a levará a um belo cruzeiro no Nilo!
Outra personagem feminina da trama é a simpática Peggy Olson, que veio subindo na hierarquia da firma, degrau a degrau, mercê da sua competência e trabalho aturado, que foi reconhecido, conforme víramos na primeira semana e registei na segunda das narrações efetuadas.
Andava muito atarefada, como sempre, mas agora com algo com que também lidámos muito, profissionalmente. E o que foi?!
Pois, precisamente, a avaliação de desempenho.
Que ela queria muito fazer. E foi com Draper que ela se expôs nessa auto avaliação.
Neste relacionamento houve algo que me intrigou. No início desta sétima temporada depreendi que o publicitário estava numa situação crítica em termos de hierarquia na firma, tendo sido relegado para uma posição mais subalterna. Mas, neste décimo episódio, observei que ele adquirira o antigo estatuto de diretor criativo e era perante ele que Peggy apresentava a respetiva auto avaliação.
De que, num breve diálogo entre ambos, ela expôs os seus objetivos fundamentais: ser a 1ª diretora criativa da agência, conseguir um cliente importante, ser famosa e criar algo duradouro.
Nem mais, nem menos!
Neste episódio notou-se a ausência da 2ª mulher de Draper, a atriz, Megan Draper… O que lhe terá acontecido?! É o que dá não acompanhar o seriado… ignoro o que terá sucedido a tão promissora atriz das novelas de Hollywood.
Em contrapartida, Betty Draper, em segundo casamento com um político mais velho, apresentou-se em todo o seu esplendor de esposa boneca, dona de casa quase perfeita, sempre impecavelmente vestida e penteada, mesmo na frente de tachos e panelas; mãe de dois gaiatos a brincarem a heróis do Vietname e de uma adolescente, Sally Draper, a preparar a ida para uma viagem de finalistas, de autocarro pelos Estados norte americanos.
Esta e os amigos e amigas tiveram aqui o papel revelador da problemática dos jovens na época, finais de sessenta, inícios de setenta. A guerra no Vietname, o amigo de dezoito anos que se alistou e aproveitou a visita para se lançar à mãe; a rapariga que queria saber se Sally arranjara “erva”, que iam a uma festa a um lugar da moda; mas não tendo, Sally a tranquilizou, que aí comprariam, assim a mãe lhe desse dinheiro; a discordância da jovem face ao alistamento do amigo, o seu súbito amuo e recusa em ir na festa, fruto dessa discordância ou dos ciúmes não assumidos pela atenção que a mãe deu ao rapaz?!
Don, pai de Sally, ir-se-ia despedir da mesma, na estação de autocarros, jantando previamente com ela e as amigas mais chegadas. Conversas triviais entre um pai e adolescentes, sobre sonhos e projetos, oportunidade para uma das raparigas se atirar ao quarentão macho alfa, pedindo-lhe lume e esvoaçando a fumaça na sua direção, que fumar era na época um sinal de independência e afirmação femininas. E de sedução!
Cena que não agradou a Sally, que isso fez notar ao pai, que ele e a mãe ficam todos derretidos, quando alguém lhes dá um pouco mais de atenção!
Fica o registo dos ciúmes da miúda, relativamente aos progenitores.
Houve mais registos que seriam de assinalar, tivesse eu visto todo o episódio, nomeadamente referentes a Roger Sterling, um dos sócios da firma e Pete Campbell, gerente de contas, que continua a embirrar, ou amar doentiamente (?) Peggy Olson!
Esta semana decorreram cinco episódios desta 7ª Temporada da série, de um total previsto de catorze. Várias fontes referem ser esta a derradeira temporada.
Nesta fase, a ação decorreu, temporalmente, até agora, em 1969.
No contexto de espaço, ocorre maioritariamente na Costa Leste, em Nova Iorque, onde está sediada a empresa fictícia de publicidade “Sterling Cooper”, nos respetivos escritórios, na Madison Avenue. Também na Costa Oeste, Los Angeles ou Hollywood, não sei com precisão, onde trabalha como atriz, a segunda mulher de Don Draper, Megan Draper. Noutros locais dos States não facilmente identificáveis por mim. Decorre fundamentalmente em espaços interiores, cenários fictícios, portanto.
Alguns aspetos que se realçam nesta série.
Em primeiro lugar, pensando especificamente em 1969, e, genericamente, na década de sessenta, o que nos ocorre?!
Para quem tenha nascido nos anos quarenta ou cinquenta do século passado, muitas das vivências retratadas ou sugeridas ou mencionadas ou visualizadas nesta série, lembram-nos situações por nós vividas direta ou indiretamente ou que delas tivemos conhecimento, através dos meios de comunicação, na altura quase exclusivamente em suporte de papel, jornais, algumas revistas; através da rádio, que era um veículo comunicacional de certo alcance, e embora de muito menos projeção, mas em constante crescimento, a televisão. E do cinema, que foi um dos meios marcantes da transmissão dos valores, atitudes, comportamentos e hábitos dos norte americanos.
Porque apesar de na década de sessenta ainda estar vivo o célebre "Senhor de Santa Comba", de estarmos em Guerra, de haver censura, exame prévio, e outras coisas mais e de pior gabarito, como a polícia política, a ameaça de prisão arbitrária... foi havendo gradualmente alguma abertura, até porque o dito senhor “caiu da cadeira” em 1968 e morreria em 1970.
De que nos lembramos em 1969 que de algum modo a série aborda?
A nível de acontecimentos, a Guerra do Vietname, a chegada à Lua, que teve direito a transmissão na RTP e sobre o que a maioria do País (Portugal) ficou relativamente incrédulo.
Sobre a Guerra já falaram, era um assunto problemático, porque já havia movimentos contrários à mesma, especialmente no seio das camadas mais jovens e que eram mal vistos nos meios mais conservadores. Mas também se referiu que Nixon, o presidente da altura, também já equacionava o fim da Guerra. Mas o que só aconteceria em 1975.
Sobre a chegada à Lua, ainda não acontecera nesta fase da narrativa, mas previa-se a sua efetivação para breve.
E a nível de hábitos, costumes, atitudes e comportamentos?!
Ressalta à vista o que de algum modo, atualmente, impressiona. O uso e abuso do tabaco e do álcool, de uma forma tão indiscriminada, no local de trabalho e no quotidiano da vida pessoal dos protagonistas. Fuma-se e bebe-se em todo o lado e local, a qualquer hora e momento, em qualquer circunstância. São atos e comportamentos rotineiros, socialmente bem aceites por todos. Ou não fossem esses homens promotores e encorajadores desses mesmos hábitos, enquanto publicitários dos respetivos consumos, através dos produtos específicos que vendem publicitariamente.
A generalização da mini-saia, lançada nessa década, em 1964, pela inglesa Mary Quant. As secretárias e funcionárias da agência, bem como as mulheres jovens em geral, fizeram desse trajar um modo de ser e de estar. Peggy Olson usou-a também como forma de mostrar a sua ascensão hierárquica, o seu poder e sedução feminista.
Algumas eram bem ousadas, que como se dizia na altura, “o que é bom é para se ver”.
Em 1967, no Festival da Eurovisão em Viena, a inglesa Sandie Shaw fez furor por cantar descalça e pela mini mini-saia atrevida com que se trajou. Venceu com "Puppet on a String"! Esses "fait-divers" tinham bastante repercussão naquele mundo tão fechado e atrasado que era Portugal de sessenta!
O movimento hippie, surgido na Costa Oeste, São Francisco, cuja canção evocativa, de 1967 e de Scott Mackenzie, também cá chegou. ‘Se fores a São Francisco, não esqueças de levar flores no teu cabelo…”
Em 1969, realizou-se o festival de Woodstock, cujos ecos ainda que repercutidos também cá chegaram.
A rádio e muito particularmente alguns programas do antigo Rádio Clube Português e da Rádio Renascença foram veículos importantes do fazer chegar ecos da boa música que se produzia nos E.U.A. e na Grã-Bretanha. Alguns desses ecos ouviram-se já nos primórdios de setenta.
Na série, os efeitos deste movimento também se observam, nomeadamente no trajar colorido e florido de alguns personagens. E também na adesão da filha de Roger Sterling a esse movimento, indo viver para uma comunidade hippie, no campo, abandonando família, marido e filho.
Paradigmática a cena de pai e filha, cada um trajado ao seu modo de estar socialmente, ele, como executivo; ela, como rapariga hippie, a discutirem afetos e desafetos, no meio de um charco de lama, numa comunidade campestre, junto a uma camioneta de caixa aberta, a cair de podre.
Ainda no plano dos hábitos e também relacionado com consumos e o movimento hippie, o “consumo de erva”, e outros consumos psicotrópicos, que em Portugal explodiriam mais tarde, já após 1974/75.
As festas particulares, com muito álcool, música, drogas e sexo. “Sex, Drugs and Rock and Roll”
No plano económico - empresarial
Para além da importância crescente da publicidade como mais-valia no processo produtivo, o destaque de algumas empresas que se tornariam ícones nos respetivos ramos empresariais.
A IBM e a instalação dos computadores nas empresas. Uns “monstros” enormes, que inclusive “assustavam e atemorizavam” alguns dos empregados mais suscetíveis e atormentados mentalmente.
A relevância da fast-food, observada na alimentação dos diversos executivos que com os hambúrgueres se deliciavam às refeições. Referência à “Burger Chef”, que contratou ou entrou em negociações com os serviços da agência publicitária.
Não posso deixar de mencionar a utilização das velhinhas e saudosas (?) máquinas de escrever mecânicas. E do seu sonar tão peculiar.
E dos telefones fixos, o único meio de comunicar à distância. E a importância e solenidade de fazer e receber uma chamada. E de ter um telefone!
Tudo isto faz parte da nossa História recente, pessoal e social, individual e coletiva!
E a nível de Valores?
O papel crescente da Mulher no plano das funções empresariais, materializado, por ex., na assunção dum cargo de chefia criativa por Peggy Olson, tendo às suas ordens, ainda que muito relutante e obstinadamente contrariado, o célebre criativo publicitário e um dos fundadores da firma, o reputado, Don Draper, macho alfa da empresa.
A rebeldia dos filhos adolescentes…
As mudanças relativas à sexualidade para que, entre outros aspetos, contribuiu a generalização do uso da pílula.
Aslutas pelos Direitos Cívicos são um aspeto contextual que também emerge da trama.
E estes são alguns dos assuntos que, de uma forma genérica e despretensiosa, consigo realçar do conteúdo temático desta série, pelo menos do que me lembro e me ressalta numa abordagem simplificada.
Alguns destes acontecimentos ou situações repercutiram-se em Portugal um pouco mais tarde. Uns para o Bem, outros para o Mal!
Se houver mais algum aspeto que me tenha faltado, agradeço que mo comunique, S.F.F..