Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Esta semana decorreram cinco episódios desta 7ª Temporada da série, de um total previsto de catorze. Várias fontes referem ser esta a derradeira temporada.
Nesta fase, a ação decorreu, temporalmente, até agora, em 1969.
No contexto de espaço, ocorre maioritariamente na Costa Leste, em Nova Iorque, onde está sediada a empresa fictícia de publicidade “Sterling Cooper”, nos respetivos escritórios, na Madison Avenue. Também na Costa Oeste, Los Angeles ou Hollywood, não sei com precisão, onde trabalha como atriz, a segunda mulher de Don Draper, Megan Draper. Noutros locais dos States não facilmente identificáveis por mim. Decorre fundamentalmente em espaços interiores, cenários fictícios, portanto.
Alguns aspetos que se realçam nesta série.
Em primeiro lugar, pensando especificamente em 1969, e, genericamente, na década de sessenta, o que nos ocorre?!
Para quem tenha nascido nos anos quarenta ou cinquenta do século passado, muitas das vivências retratadas ou sugeridas ou mencionadas ou visualizadas nesta série, lembram-nos situações por nós vividas direta ou indiretamente ou que delas tivemos conhecimento, através dos meios de comunicação, na altura quase exclusivamente em suporte de papel, jornais, algumas revistas; através da rádio, que era um veículo comunicacional de certo alcance, e embora de muito menos projeção, mas em constante crescimento, a televisão. E do cinema, que foi um dos meios marcantes da transmissão dos valores, atitudes, comportamentos e hábitos dos norte americanos.
Porque apesar de na década de sessenta ainda estar vivo o célebre "Senhor de Santa Comba", de estarmos em Guerra, de haver censura, exame prévio, e outras coisas mais e de pior gabarito, como a polícia política, a ameaça de prisão arbitrária... foi havendo gradualmente alguma abertura, até porque o dito senhor “caiu da cadeira” em 1968 e morreria em 1970.
De que nos lembramos em 1969 que de algum modo a série aborda?
A nível de acontecimentos, a Guerra do Vietname, a chegada à Lua, que teve direito a transmissão na RTP e sobre o que a maioria do País (Portugal) ficou relativamente incrédulo.
Sobre a Guerra já falaram, era um assunto problemático, porque já havia movimentos contrários à mesma, especialmente no seio das camadas mais jovens e que eram mal vistos nos meios mais conservadores. Mas também se referiu que Nixon, o presidente da altura, também já equacionava o fim da Guerra. Mas o que só aconteceria em 1975.
Sobre a chegada à Lua, ainda não acontecera nesta fase da narrativa, mas previa-se a sua efetivação para breve.
E a nível de hábitos, costumes, atitudes e comportamentos?!
Ressalta à vista o que de algum modo, atualmente, impressiona. O uso e abuso do tabaco e do álcool, de uma forma tão indiscriminada, no local de trabalho e no quotidiano da vida pessoal dos protagonistas. Fuma-se e bebe-se em todo o lado e local, a qualquer hora e momento, em qualquer circunstância. São atos e comportamentos rotineiros, socialmente bem aceites por todos. Ou não fossem esses homens promotores e encorajadores desses mesmos hábitos, enquanto publicitários dos respetivos consumos, através dos produtos específicos que vendem publicitariamente.
A generalização da mini-saia, lançada nessa década, em 1964, pela inglesa Mary Quant. As secretárias e funcionárias da agência, bem como as mulheres jovens em geral, fizeram desse trajar um modo de ser e de estar. Peggy Olson usou-a também como forma de mostrar a sua ascensão hierárquica, o seu poder e sedução feminista.
Algumas eram bem ousadas, que como se dizia na altura, “o que é bom é para se ver”.
Em 1967, no Festival da Eurovisão em Viena, a inglesa Sandie Shaw fez furor por cantar descalça e pela mini mini-saia atrevida com que se trajou. Venceu com "Puppet on a String"! Esses "fait-divers" tinham bastante repercussão naquele mundo tão fechado e atrasado que era Portugal de sessenta!
O movimento hippie, surgido na Costa Oeste, São Francisco, cuja canção evocativa, de 1967 e de Scott Mackenzie, também cá chegou. ‘Se fores a São Francisco, não esqueças de levar flores no teu cabelo…”
Em 1969, realizou-se o festival de Woodstock, cujos ecos ainda que repercutidos também cá chegaram.
A rádio e muito particularmente alguns programas do antigo Rádio Clube Português e da Rádio Renascença foram veículos importantes do fazer chegar ecos da boa música que se produzia nos E.U.A. e na Grã-Bretanha. Alguns desses ecos ouviram-se já nos primórdios de setenta.
Na série, os efeitos deste movimento também se observam, nomeadamente no trajar colorido e florido de alguns personagens. E também na adesão da filha de Roger Sterling a esse movimento, indo viver para uma comunidade hippie, no campo, abandonando família, marido e filho.
Paradigmática a cena de pai e filha, cada um trajado ao seu modo de estar socialmente, ele, como executivo; ela, como rapariga hippie, a discutirem afetos e desafetos, no meio de um charco de lama, numa comunidade campestre, junto a uma camioneta de caixa aberta, a cair de podre.
Ainda no plano dos hábitos e também relacionado com consumos e o movimento hippie, o “consumo de erva”, e outros consumos psicotrópicos, que em Portugal explodiriam mais tarde, já após 1974/75.
As festas particulares, com muito álcool, música, drogas e sexo. “Sex, Drugs and Rock and Roll”
No plano económico - empresarial
Para além da importância crescente da publicidade como mais-valia no processo produtivo, o destaque de algumas empresas que se tornariam ícones nos respetivos ramos empresariais.
A IBM e a instalação dos computadores nas empresas. Uns “monstros” enormes, que inclusive “assustavam e atemorizavam” alguns dos empregados mais suscetíveis e atormentados mentalmente.
A relevância da fast-food, observada na alimentação dos diversos executivos que com os hambúrgueres se deliciavam às refeições. Referência à “Burger Chef”, que contratou ou entrou em negociações com os serviços da agência publicitária.
Não posso deixar de mencionar a utilização das velhinhas e saudosas (?) máquinas de escrever mecânicas. E do seu sonar tão peculiar.
E dos telefones fixos, o único meio de comunicar à distância. E a importância e solenidade de fazer e receber uma chamada. E de ter um telefone!
Tudo isto faz parte da nossa História recente, pessoal e social, individual e coletiva!
E a nível de Valores?
O papel crescente da Mulher no plano das funções empresariais, materializado, por ex., na assunção dum cargo de chefia criativa por Peggy Olson, tendo às suas ordens, ainda que muito relutante e obstinadamente contrariado, o célebre criativo publicitário e um dos fundadores da firma, o reputado, Don Draper, macho alfa da empresa.
A rebeldia dos filhos adolescentes…
As mudanças relativas à sexualidade para que, entre outros aspetos, contribuiu a generalização do uso da pílula.
Aslutas pelos Direitos Cívicos são um aspeto contextual que também emerge da trama.
E estes são alguns dos assuntos que, de uma forma genérica e despretensiosa, consigo realçar do conteúdo temático desta série, pelo menos do que me lembro e me ressalta numa abordagem simplificada.
Alguns destes acontecimentos ou situações repercutiram-se em Portugal um pouco mais tarde. Uns para o Bem, outros para o Mal!
Se houver mais algum aspeto que me tenha faltado, agradeço que mo comunique, S.F.F..
“Hoje, dia 14 de Dezembro de 2014, vamos divulgar um poema que já anda para ser publicado há algumas semanas.
Teria que ser publicado em domingo, de preferência em Novembro e com sol, porque futebol há sempre!
Conviria ser também em dia de “Clássico”, preferencialmente o Benfica a jogar em casa.
Com tantas premissas e restrições, nunca mais calhava o dia!
Chegou hoje.
É Domingo, não me parece que haja sol, há futebol e os dois grandes a jogarem. Só que o Benfica não joga na condição de visitado, pois vai ao Porto. Não há, hoje, um Benfica Porto, mas sim um Porto Benfica!
No “Clássico” que o poema indiretamente evoca, o Benfica ganhou por 3 -1. E também venceu o campeonato, ficando o Porto em 2º lugar.
Pois o que desejamos é que a história se repita hoje, 14/12/14. Que o Benfica vença no Dragão e que ganhe o campeonato!
Segue o poema…”
O texto anterior foi escrito no sábado, 13/12/14, à noite, para ser publicado no domingo de manhã. Só que a Vida, por vezes, “prega-nos partidas” inesperadas e, por isso, só hoje, 3ª feira, volto a ter possibilidade de “pegar” no computador.
De modo que o poema mantem-se. O enquadramento explicativo é que é diferente.
O que era prognóstico e desejo passou a ser uma certeza.
O Benfica ganhou, no estádio do Dragão e também com um diferencial de dois golos. Continua a liderar, agora com seis pontos de avanço relativamente aos segundos classificados.
Que assim continue e no final do campeonato se repita o facto de 1982/83: O Benfica a vencer o campeonato!
Divulga-se então o poema:
“BARRETES”
“Domingo de Futebol”
Hoje é domingo…
E cheio de sol.
Lisboa é linda
Pois que ainda
Tem futebol.
Muitos barretes
E cachecóis.
Peúgas soquetes
Dos apanhados
Apaixonados
Dos futebóis.
Que barretes enfia
Somente quem quer.
Azuis ou vermelhos
Ou outro qualquer
Novos ou velhos…
Dão ilusão
Espontânea alegria
A quem os enfia.
Homem ou mulher
Criança ou adulto
Integram num culto
Na mesma irmandade
Da fraternidade.
E quem na cidade
De qualquer idade
Solitário entre gente
Que não conhece…
Se os vê de repente
Logo lhe apetece
Travar amizade
Com outro alguém
Também zé-ninguém
Da mesma irmandade.
Notas:
- Poema escrito em 14/11/1982, em Lisboa, num domingo de sol, em dia de Benfica - Porto.
Publicado em: Boletim Cultural nº42, do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Junho 1996.
O Dia 1 de Dezembro, feriado até há pouco tempo, porque nos recordava a “Restauração da Independência”, em 1640, relativamente ao governo espanhol da dinastia filipina, é um dia em que se comemoram várias ocorrências ou acontecimentos importantes.
O evento anteriormente referido, segundo os nossos governantes atuais, pelos vistos deixou de ser relevante!
Além do acontecimento mencionado também é o “Dia Mundial do Combate à SIDA”.
E é ainda o dia em que, em 1955,em Montgomery, no Alabama, EUA, Rosa Parks se recusou a ceder o seu lugar num autocarro a um branco.
Este gesto deu início à luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Pode parecer-nos a nós, hoje, paradoxal esta situação. Contudo é algo para que convém estarmos atentos.
A questão dos designados “Direitos Humanos” é uma luta de séculos, mais acentuadamente a partir dos finais do século XVIII (Revolução Francesa).
Se quisermos recuar, podemos dizer que o Cristianismo ao instituir que todos os Homens são criados à imagem e semelhança de Deus definiu a matriz da filosofia inerente ao conceito de “Direitos Humanos”.
É possível que outras Religiões, outras Culturas e outras Filosofias também tenham definido conceitos idênticos...
Mas quanta ignomínia foi necessário à Humanidade suportar ainda e durante tantos séculos para se poder considerar que esta premissa é um postulado base da existência humana, do Homem e de cada homem, da Mulher e de cada mulher, de cada Ser Humano, independentemente de cor, religião, ideologia, situação económica, trabalho, orientação sexual, origem social, situação familiar... De que todos os Homens nascem Livres e Iguais em Direitos e Deveres.
Destacamos pois a luta desta Mulher pelo seu simbolismo e significado. Lembrando que esta é uma luta que não finda. Que o reconhecimento da Igualdade de Direitos é um dado adquirido em muitos Estados, mas completamente ignorado noutros.
Falar em Direitos Civis, Direitos Políticos, Direitos Económicos, Direitos Sociais é algo que pode parecer uma redundância nas designadas "Democracias Ocidentais", onde, pelo menos aparentemente, parecem dados adquiridos e consubstanciados nas respetivas Constituições.
Mas é só olharmos, com olhos de ver e ouvirmos com ouvidos de ouvir e sentimos, porque sentimos na pele como no dia-a-dia há atropelos constantes a muitos destes Direitos, mesmo nas designadas "Democracias Ocidentais". Noutros tipos de regimes nem é bom falar! Não há, em muitos Estados, o reconhecimento aos mais elementares Direitos Cívicos.
Rosa Parks em 1955, com Martin Luther King, Jr. ao fundo.
“Rosa Louise McCauley, mais conhecida por Rosa Parks (Tuskegee, 4 de fevereiro de 1913 – Detroit, 24 de outubro de2005), foi uma costureira negra norte-americana, símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Ficou famosa, em 1º de dezembro de 1955, por ter-se recusado frontalmente a ceder o seu lugar no autocarro a um branco, tornando-se o estopim do movimento que foi denominado Boicote aos Autocarros de Montgomery e posteriormente viria a marcar o início da luta antissegregacionista.”