Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Portugal de país essencialmente de emigração, ao longo de séculos, a gesta dos Descobrimentos atesta-o, tornou-se muito principalmente a partir da Descolonização, finais da década de setenta, também num país de imigração. Esta característica acentuou-se a partir de finais do século XX e neste milénio, mantendo embora a condição de país de emigrantes, ademais qualificados!
Mas quero voltar aos Imigrantes! Recentemente, noticiaram os abusos a que foram sujeitos imigrantes no Baixo Alentejo, por parte de profissionais da GNR. No mínimo, chocante!
Será do conhecimento de todos, as condições desumanas a que estas Pessoas, provenientes dos mais diversos países, estão sujeitas. Desde logo, nos seus próprios países de origem. As redes e os negócios e condições abusivas a que se sujeitam para almejarem um outro país e outros trabalhos, em que idealmente estarão melhor de vida. Para si e para os seus. Entes queridos que deixaram, a maioria das vezes “presos” também aos “contratos” a que se vincularam. Para quem supostamente iriam enviar dinheiro “europeu” para melhoria de vida. Pura Ilusão!
Ao chegarem ao país de destino, as redes em que estão envolvidos adensam-se ainda mais, prendem-nos e cerceiam-nos de todo, desconhecedores de língua e legislação autóctone. E criam outras, no nosso próprio país, desde o alojamento, aos pedidos de legalização, aos baixos salários auferidos, que mal dão para sobreviverem.
Mas são eles que nessa “nova agricultura intensiva”, na maioria de capitais estrangeiros, aproveitando os nossos recursos naturais, as nossas águas e terras, são eles, repito, que contribuem para as prateleiras dos “nossos” grandes supermercados estarem providas de legumes e muitas frutas frescas. Dos “nossos” e das muitas grandes superfícies europeias.
Face ao trabalho desenvolvido por estes “colaboradores”, nova “moda linguística” (?), em funções para as quais não há profissionais locais disponíveis, e para as quais não se disponibiliza muito boa e santa gente, abundante na “Grande Lisboa”, vadiando diariamente nas esplanadas suburbanas… seria suposto, deveria haver, maior cuidado, maior consideração, mais respeito e estima por parte das autoridades, ou melhor, dos agentes, todos os agentes, exercendo funções profissionais nesse âmbito.
Aos profissionais, a todos os profissionais dessas entidades oficiais, deverá caber o dever de salvaguarda dos direitos, no mínimo, dessas Pessoas que, de tão longe, vêm desempenhar atividades que nos fazem falta, prestando-nos serviços, contribuindo para a obtenção de bens que nos são necessários. Para além de outros benefícios colaterais.
Pois, não foi isso que aconteceu nalguns casos mediatizados. (Ainda bem que algum Jornalismo desempenha o respetivo papel!) Bem sei que são apenas alguns indivíduos. Mas são eles que mancham a honra das corporações em causa. A sonegação dos casos não adianta nada. E os indivíduos prevaricadores foram castigados e expulsos da Corporação? Esperemos e desejamos que sim.
Portugal e os Portugueses merecem dispor de Entidades competentes. E os Imigrantes também merecem e precisam de quem os defenda. E há tanto a fazer e as Autoridades dispõem de meios para tal, têm conhecimento e o dever de contribuir para um Portugal mais inclusivo e solidário. Tenho dito!
Logo agora que foi aprovada a designada “Europa Social”, no Porto e em início de Maio, mês de “Dia do Trabalhador”…
Pois, nem de propósito, a situação de escravidão, em que vivem trabalhadores das atividades nas estufas das agriculturas intensivas, ganhou foros de manchete nos meios de comunicação.
Era algo que se sabia, não é situação nova, não é específica do Alentejo, noutras regiões de Portugal existem casos semelhantes; em Espanha, França, Itália também proliferam casos idênticos. Por esse mundo afora…
Alguns desses trabalhadores migrantes, nas mãos de máfias organizadas, até serão levados de umas regiões para outras.
Nada justifica estas posições, a não ser a ganância de alguns, em detrimento de quem pouco ou nada tem.
A génese destes problemas até estará nos países de origem destes e doutros migrantes, dos que atravessam oceanos em fuga. Portugal já foi porto de origem de situações semelhantes, hoje é porto de destino.
Em todas elas a tónica dominante é a exploração desenfreada de pessoas, em modo de escravidão, sem o mínimo de condições que respeitem a dignidade humana.
O cinismo com que este assunto foi abordado em diversos contextos, a forma como foi tentado de resolver apressadamente, também não terá sido de louvar.
Todas as Pessoas têm direito a serem respeitadas, a sua condição de seres humanos valorizada, a uma remuneração digna, a condições de vida satisfatórias, para si e seus familiares.
Que resolvam a situação de modo que estes trabalhadores, vindos dos mais diversos locais do mundo, sejam considerados e valorizados pelo seu trabalho.
Que são eles que executam tarefas que portugueses não querem fazer.
Que permitem aos supermercados terem muitos dos produtos hortícolas que consumimos, nós e muita da Europa, “Social” ou não.
Que as Entidades, públicas e privadas, que tutelam os vários enquadramentos em que se processa o trabalho destes migrantes, sejam responsáveis. Que atuem! Que ajam!
(Toda a gente sabia, mas fingiam que não.)
Não fora a Covid e a “utilização” de um resort turístico, que tanta celeuma levantou, ademais já várias vezes falido, não sei onde vão buscar o dinheiro e ainda mais o que lhe fazem, não fora tudo isso e continuavam a assobiar e olhar para o lado.
Tratem de reconhecer a dignidade devida aos trabalhadores! Destes e dos milhares de portugueses também em trabalhos precários.
(Adenda: Os restos do foguetão chinês caíram lá para o Índico, não vieram cá para os lados de Portugal, e ainda bem. Já basta o Corona!)
E a foto original? Maio, é mês das rosas! E fica o mote para próximo postal, que agora tenho um grande acervo de rosas.
Este Poema, resultante da junção de várias quadras e uma sextilha, escritas em diferentes momentos, algumas quadras da década de 80, está publicado na VIII Antologia do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, 2005.
As quadras sobre Aldeia da Mata, Arronches e Monforte fazem parte de décimas, também publicadas, na IX Antologia do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, 2006.
Gostaria de as ilustrar com fotos ou desenhos originais.