Philharmonia: Dor de ausência
A Orquestra - Série Francesa – RTP2
6º e Último Episódio – 2ª feira – 27 Maio
“Dor de ausência”, foi assim que Rafael Crozes, o melómano, apaixonado da maestrina Hélène e financiador da orquestra Philharmonia, caraterizou o solo genial de violino de Selena Riviére, quando esta se candidatou a titular nessa mesma orquestra.
Ausência e rejeição por parte da mãe biológica que não a aceitou reconhecer, após o terramoto de 1999, na Turquia, em que ambas se salvaram, mas a mãe a obrigou a ir para adoção e dizer sempre que a mãe estava morta. Tinha Selena quatro anos!
Seria adotada por uma família francesa, tendo partido de avião, mas sempre a chorar, ao ponto de a hospedeira lhe colocar auscultadores com música de Hélène Barizet, um célebre solo de violino.
Essa sintomatologia de rejeição foi confirmada e reafirmada no decurso da série, que a mãe biológica na Turquia, recusou-se novamente a vê-la e aceitá-la, face ao pedido e buscas que Selena encetara na Assistência Social.
Essa dor, de não amada, não aceite, rejeitada pela figura primordial, deixou marcas permanentes no seu ser, desenvolvendo nela uma pulsão ao assassinato das figuras próximas das Mães substitutas, fossem seres humanos ou animais. Caso da cadela de estimação da Mãe adotiva, que vimos, dos gémeos desta e de Jeff Moretti (oboé da orquestra), pela sua aproximação à maestrina, por quem Selena desenvolvera toda uma relação patológica de identificação e de mãe substituta. E de quem pretendia um amor absoluto e exclusivo!
A série foi extremamente apelativa, supervalorizada pela música, com enredo muito interessante de seguir, envolvendo várias problemáticas atuais e tocantes que, lamento caríssimo/a leitor/a, não posso aqui esmiuçar.
Relevo sobremaneira a parte final, a apresentação da sinfonia do ainda marido da maestrina, Peter Faulkner, que não houve tempo de se divorciarem, mas acontecerá.
O aparecimento em pleno concerto, de Selena, que andara desaparecida como sabe (!) tocando o seu violino e o dueto com a maestrina, também ela executante de violino. E essa soberba atuação de ambas e o final - final, com a entrada dos policiais, que haviam confirmado ter sido ela a assassina de Jeff, e o finalíssimo, de ela sacar da pistola da maestrina, mãe substituta, alter-ego, e disparar sobre si mesma e suicidar-se, em pleno palco.
E depois, terá havido enterro, que já só vimos a campa cheia de flores e as duas Mães, adotiva e maestrina, junto dela no cemitério. (Algum certamente famoso de Paris, julgo eu!)
E, aí, lugar de Morte e descanso final, finalmente, Hélène resolveu abrir o envelope com o resultado das análises à presença ou ausência do malfadado gene patológico herdado da mãe. Abriu, leu, pareceu sorrir, mas não nos disse nada, ficamos sem efetivamente saber o resultado.
Mas no final da alameda, rodeada de jazigos e sepulturas, apareceu o atual namorado de Hélène, Yvan Borowski. Não sei se lhe mostrou, mas seguiram ambos para fora do cemitério, certamente encaminhando-se para uma nova Vida de Amor e Música!
(Não me parece que esta série tenha continuidade. Mas que foi interessantíssima, foi, de facto!)