Poema de Cesário Verde
«DE TARDE»
«Naquele «pic-nic» de burgueses,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzonal azul de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro de papoulas!»
«O Livro de Cesário Verde
1887
Lisboa»
In. "O Livro de Cesário Verde” – Publicações Anagrama, Lda. – Porto – Colecção Clássicos – 15.
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(Comprei este livro em 06/06/1984, numa Feira do Livro. Preço? Parece-me que registei 125$00! Em moeda atual e em valor nominal, correspondem a 62.5 cêntimos!!!!!)
Porque me lembrei de publicar um poema de Cesário Verde?!
Quando pesquisei sobre Camões, “Dia de Camões”, “Dia de Portugal”, observei um site sobre “O Sentimento dum Ocidental”, de Cesário Verde. Que havia escrito este poema em 1880, por ocasião das comemorações do 3º centenário da morte de Camões. Comemorações essas que deram muito que falar na época e tiveram muitas repercussões.
No blogue, tenho como um dos propósitos ir divulgando Poesia de Poetas Consagrados e de Poetisas. Tenho de Florbela, de Sophia,… de Camões, de Régio, de Pessoa… que me lembre, de cor… Então Cesário calhava.
Lembrei-me deste livrinho, materialmente muito singelo, mas muito rico de conteúdo. Reli muitos dos poemas que lera na década de oitenta, quando o comprara. Fui selecionando e, face à circunstância de publicar no blogue, optei pelo óbvio. Talvez dos poemas mais conhecidos. Também dos mais alegres, mais luminosos.
Uma série de circunstâncias respeitantes ao mês em que estamos – Junho, já referidas anteriormente.
Se analisarmos o conteúdo do poema, poderemos depreender que a ação em que decorre a narrativa também se reportará, muito provavelmente, a este mês de Junho.
Há uma série de circunstâncias felizes que abonam para escolher esta poesia, para identificar um Poeta, que não terá tido uma vida muito feliz.
(Cesário Verde: Lisboa – 25/02/1855 – Lisboa – 19/07/1886. Morreu de tuberculose, com 31 anos.)
Desejo que o/a Caro/a Leitor/a tenha gostado. Saúde, paz e poesia!