Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Para toda a Comunidade SAPO e muito especialmente para Si, Caro/a Leitor/a, que nos acompanha nestes postais, formulo Votos de um Santo e Feliz Natal!
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(Imagens sugestivas associadas à iconografia natalícia: ovelhas, faltam os pastores(!), mascimento, desvelos maternais... Faltam também os reis magos...)
Apresentação do livro “De altemira fiz um ramo – Versos e prosas da Aldeia”
SCALA – Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada – Almada - 9 de Fevereiro – Sábado
Ocorreu no passado sábado, dia nove, a apresentação do mencionado livro.
Antes de tudo o mais, uma pergunta:
- Que sentido terá feito apresentar um livro sobre uma Aldeia recôndita do Alto Alentejo, na Cidade de Almada?!
Para tentar responder à questão anterior, uma outra pergunta:
- E qual o contributo que os Alentejanos e seus descendentes deram para a definição da Identidade da Cidade de Almada?!
Principalmente a partir da década de sessenta, Almada, a Margem Sul, a Grande Lisboa, foram o porto de chegada de milhares de Alentejanos à procura de uma vida com mais futuro. Tal como muitos jovens de outras regiões do País, deslocando-se do interior para o litoral, do campo para a cidade, integrantes do fenómeno migratório designado como êxodo rural.
Aldeia da Mata, em 1950, tinha mais de 1700 habitantes. Atualmente, censos de 2011, pouco mais de 300! Este é um fenómeno comum a todo o Interior Nacional. Uma verdadeira sangria populacional.
No caso de Almada, os principais alvos de atração, oferecendo trabalho, emprego, garantias de melhor vida, foram a Marinha, onde muitos jovens se inscreviam como voluntários e subsequentemente prosseguiam uma carreira; o Arsenal do Alfeite, a Lisnave. Outras indústrias de menor dimensão, mas interdependentes destes polos de atração; os serviços, o funcionalismo público, comuns a toda a Grande Lisboa.
Vindos de comboio, que à data, anos cinquentas / sessentas, ainda nos setentas, os carros eram uma miragem (!), chegavam ao Barreiro, os do Sul e os do Centro Alentejanos; nós, os do Alto Alentejo, descendo em Santa Apolónia. Os barcos fazendo sempre as ligações e travessias: sul – norte, norte – sul.
Assim, milhares de jovens se fixaram na Margem Sul – Almada, constituíram família, trazendo as esposas da Terra Natal, nasceram os filhos e atualmente, muitos já vão na 3ª geração de Almadenses!
E qual o contributo cultural do Alentejo em Almada?!
O Cante é indubitavelmente a matriz identitária do Alentejo mais marcante em Almada.
Já aqui frisei muitas vezes esse aspeto, em diversos posts.
Não, de todo! O livro trata, aborda, inclui, fundamentalmente, “Cantigas”!
“Cantigas” tradicionais, quadras, cantadas nos bailes e arraiais, em lazer; mas também nos trabalhos nos campos, no caso concreto, em Aldeia da Mata, como frisei no início, uma Aldeia recôndita no Alto Alentejo! Segundo a moda e o estilo das “Saias”, reportadas aos anos cinquenta e quarenta do século XX, época da juventude das protagonistas do livro, as pessoas que foram as fontes das recolhas efetuadas. Mas com uma ancestralidade anterior, através do testemunho passado de geração em geração, pelo menos desde finais do século dezanove.
(E um post idêntico poderia ter sido publicado antes da apresentação do livro. Mas não foi. Razões diversas impossibilitaram a respetiva publicação. Mais vale tarde…)
Um ramo que deu que falar e encheu os olhos de muita gente simpática!
Não resisto a apresentar fotos do ramo que emoldurava o centro de mesa no lançamento do livro.
Antes de mais frisar que “veio diretamente da Tailândia”, como diria um saudoso ator.
Como a temática das cantigas nos reporta, em muitos dos versos, para uma inspiração vegetalista, nada como apresentar uma composição que, de certo modo, nos sugestionasse essa abordagem.
“De Altemira fiz um ramo / De alfazema bem composto…” Dois raminhos com estas plantas de cheiro nos documentavam o título do livro e serviram para explicar a designação da obra, enquanto dizia a quadra.
Ainda: “Os teus olhos não são olhos / São duas bolinhas pretas / Foram criados ao sol / À sombra das violetas”. Um raminho de violetas, colhidas diretamente do quintal e organizadas pela Homenageada neste “livrinho”, um raminho bem cheiroso serviu para ilustrar esta quadra.
Mas e o centro de mesa propriamente dito?!
Bem na base, estruturando o conjunto, uns ramos de loureiro: simbolizando vitória.
“Não ponhas nem disponhas / Loureiro ao pé do caminho…”
Englobando essa estrutura base e central, uns ramos de murta, bem carregadinhos de “murtunhos” ou murtinhos. Simbolizando a Eternidade, a perenidade. Também a Abundância, tantos frutos e tão carregadinhos de sementes…
O verde, de Esperança, como cor dominante.
A contrapor a este conjunto, um leve toque de amarelo outonal das folhas do carvalho, contrastando com o verde. Simbolizando o Outono da Vida!
E, no centro, exemplares de flores – couve. Que nos reportam para a Modernidade.
Todos estes elementos vieram diretamente da Tailândia do meu quintal. Todos de árvores ou plantas que semeei e / ou plantei. Tudo produção autóctone!
(O loureiro, plantado onde está, contraria de certo modo o ensinamento da “cantiga”. Pois está precisamente na beira do caminho. E por duas razões principais. Nesse local corre um veio de água, está um poço relativamente próximo, deste modo a árvore tem acesso a um elemento fundamental à sua sobrevivência. A proximidade do caminho é precisamente, para que quem passe, colha um raminho. E essa situação é por demais visível nos ramos que todos os anos cortam. O loureiro é para repartir! As vitórias são para compartilhar.)
Já sabe, a partir de agora…
Se precisar de um ramo ou centro de mesa, basta contactar a firma.
Sempre com produtos endógenos! (Vindos diretamente da Tailândia, como diria o artista.)
(A Minha Rua - Lado Sul - Foto original DAPL - 2016)
Ocorreu ontem, dia 30 de Dezembro, de 2018, na Junta de Freguesia de Aldeia da Mata, o lançamento do livro: “De Altemira fiz um Ramo”.
Não quero que termine este ano, sem expressar algumas palavras simples, mas sentidas de agradecimento.
A todas as Pessoas que participaram, direta ou indiretamente, na construção do livro. Muito Obrigado!
Saudade de todas as que tendo contribuído já não estão entre nós. Obrigado também!
Às Pessoas da Aldeia, que encheram o salão da Junta de Freguesia e emolduraram, de forma tão bonita, apelativa e sentida, aquele espaço. Muito, Muito Obrigado!
Espero que tenham ficado gratificados com o evento e o desempenho de todos os participantes que disseram ou leram Poesia. Foram momentos muito bonitos e alguns bem emocionantes. Pude presenciar muita motivação e talento. Acho que é uma vertente a desenvolver noutras ocasiões.
A estes, Participantes, que ousaram expor-se “Dizendo Poesia”, muito, muito Obrigado!
Aos meus Amigos que se deslocaram propositadamente de Portalegre e que nos honraram com a sua presença.
Ao Amigo e Colega, Professor João Banheiro, que nos surpreendeu com a sua presença e bonitas canções. Agora também tem à disposição “As Saias de Aldeia da Mata”, para serem musicadas e cantadas! Força!
Muito Obrigado a todos!
À minha Família, aos de Aldeia e aos que se deslocaram de outras localidades, também o meu Muito Obrigado.
A todas as Pessoas que têm adquirido o livro. Muito, muito Obrigado!
Não ficarão defraudadas com a sua leitura, tenho essa convicção. Simples, despretensioso, mas muito sentido, trabalhado e afetivo, além de conter bonitas “cantigas” e um testemunho documental de muitas e variadas situações, através dos textos, em poesia ou em prosa e das fotografias.
Também o acho tecnicamente muito bom. Parabéns à Irisgráfica!
Divulguem, SFF, entre amigos e conhecidos.
Aos elementos do Executivo da Junta de Freguesia, pela forma empenhada como se disponibilizaram para este lançamento, sem quaisquer restrições.
Também achei muito bonito a vinda de Pessoas do Lar.
Muito Obrigado!
Também a todas as Pessoas ou Entidades que divulgaram o acontecimento!
A todos, mas todos, sem exceção, o meu Muitíssimo Obrigado.
Deram-me um grande incentivo para me lançar noutros projetos. Pois, na minha opinião, talvez tendenciosa (?!) acho que correu muitíssimo bem!
Aproveito para formular Votos de um Excelente Ano de 2019, para todos!
E também, e muito especialmente para si Caro(a) Leitor(a)!
LANÇAMENTO do Livro: 30 de Dezembro (Domingo) – 2018 – 16h
JUNTA de FREGUESIA de ALDEIA da MATA
Para que as Pessoas possam ficar com um “cheirinho” do livro, apresento o respetivo Índice.
Mas dirá, o Caro(a) Leitor(a), que o índice apenas lhe dá uma ligeira indicação do conteúdo. O que é inteiramente verdade.
Mas o objetivo é levá-lo (la) a ir assistir e até participar no evento. Porque irá haver o “Dizer Poesia” em que poderá participar, caso pretenda. Pois haverá um espaço destinado à participação do público.
E poderá, e deverá, adquirir um exemplar do livro e, já na sua casa, mais tarde, deliciar-se com as virtualidades da Poesia Popular, as suas metáforas, as suas ironias, de grande riqueza interior e fina sensibilidade poética, reportando-nos para um legado imaterial de várias gerações, dos nossos avoengos.
Pois, compareça, Se Faz Favor!
ÍNDICE
PREFÁCIO
CAPÍTULO I – QUADRAS de AMOR e SAUDADE
- Introito
- Quadras de Amor e Desamor – Enganos e Desenganos
E, terminando: O meu renovado convite à sua participação, segundo as várias vertentes.
Obrigado!
E ainda de Agradecimentos…
Agradeço, desde já, à Junta De Freguesia de Aldeia da Mata, pela disponibilidade, pelo apoio, pelo empenho, com que os vários elementos do Executivo “abraçaram” este lançamento.
Ao Povo da Aldeia, pela simpatia que têm demonstrado pela iniciativa.
Às Instituições Públicas e Comerciais da Aldeia, pelo apoio na publicidade.
À Rádio Portalegre, pela Divulgação, simpatia e prestabilidade, tão atenciosa.
Às várias Associações Poéticas em que me incluo, pela ajuda, suporte e colaboração, com que sempre se esmeram nas atividades dos Associados.
Obrigado a todos e a si que me lê!
E... não esquecendo: Votos de um Excelente Ano de 2019!
Talvez o(a) caro(a) Leitor(a) se questione o que é "Altemira". Pois, tem toda a razão!
Altemira é um regionalismo de Aldeia da Mata, não sei se do Alentejo ou de outras regiões de Portugal também. É a designação, na minha Aldeia, para a palavra "artemísia", que é uma planta subespontânea que, uma vez semeada ou plantada nos quintais, reaparece sistematicamente. Tem uma folhagem muito semelhante à salsa, com um cheiro também característico, mas "adocicado" e que dá as flores brancas com centro amarelo, que a foto ilustra. Em anos bons, isto é, em que chova no Outono e Inverno e tempo também bom na Primavera, com alguma chuva e sol, atinge facilmente cerca de meio metro de altura. E fica por demais florida. Este ano provavelmente acontecerá essa situação. Sempre me lembro desta planta no quintal da minha Avó e no meu também.)
E já que retomámos a escrita… Voltamos à Poesia. Desta vez, à Poesia Popular.
Temos em preparação, quase a ser editado, um livro estruturado a partir de recolha de “Cantigas”, quadras populares, coligidas em Aldeia da Mata, por várias Pessoas, algumas felizmente ainda vivas, outras que nos deixaram esse legado, mas já não estão entre nós.
A Poesia Popular é extraordinariamente rica. Na sua aparente simplicidade, tanto na estrutura formal, essencialmente quadras, como nos conteúdos, transmite-nos belas imagens poéticas, metafóricas, algumas de profunda e sensível ironia, intrinsecamente arreigada aos costumes e tradições do nosso Povo.
Através dela e nos contextos em que era dita, melhor, cantada, daí a designação de “cantigas”, educava, ensinava, veiculava Valores, Princípios, Atitudes, Comportamentos…
Era uma forma de transmissão oral de conhecimentos, de geração em geração. (Transmissão oral, pois que verdadeiramente só a partir dos finais dos anos quarenta é que a escolarização foi ganhando predominância. Até essas décadas – 40/50 - a população portuguesa era maioritariamente analfabeta.)
Ocorria num contexto predominantemente lúdico, de lazer: bailes e arraiais, convívio entre os vários intervenientes, essencialmente jovens, mas em que os mais velhos também participavam.
Mas também no enquadramento do trabalho campestre, entre os grupos, ranchos, que operavam nas várias atividades campesinas: nas mondas, nas ceifas, nas azeitonadas, durante a labuta diária e nas idas, ao nascer do sol e nos regressos das atividades, ao por do sol, enquadradas na sazonalidade das labutas no campo.
Estas tradições ocorriam ainda na década de cinquenta, enquanto o nosso país foi predominantemente rural, o setor primário dominante, antes das grandes correntes migratórias para as cidades em industrialização e das vagas emigratórias para a Europa mais desenvolvida, cujos grandes fluxos aconteceram na década de sessenta.
E antes de toda a novel tecnologia emergente a partir dessa década, nomeadamente rádio, televisão, gira discos, que foram modificando as tecnologias do lazer.
Bem! Mas toda esta conversa vem a propósito do mencionado livro, quase a ser editado, gostaríamos que ocorresse ainda este ano de 2018.
Apresentamos uma foto da imagem da capa, a “Altemira”, designação tradicional da artemísia em Aldeia da Mata e a quadra que sugestionou o título.
«De altemira fiz um ramo
De alfazema bem composto
O Amor que agora amo
Foi escolhido ao meu gosto.»
E outra foto, de uma figueira pingo - mel e também a quadra que a sugestiona.
Tal como a figueira também queremos produzir o fruto, o livro, mas também com flor, a “Altemira”!
«Não olhes para mim, não olhes
Que eu não sou o teu amor
Eu não sou como a figueira
Que dá frutos sem ter flor.»
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(E a propósito desta figueira, plantada no Vale, no início desta segunda década, deste segundo milénio, também tem história, como quase todas as árvores que tenho plantado, a partir de sementeira, abacelamento ou que eventualmente comprei.
Veio do quintal do meu sogro de um ramo que cortei da figueira de São João. Foi abacelada num vaso, posteriormente transplantada para o terreno onde está, sempre supondo que era de São João.
Só quando ela começou a produzir é que me apercebi que era de pingo mel.
E como occorreu isso?! Milagre?! Transmutação genética?!
Não, de todo.
O meu sogro tinha a figueira dele enxertada com duas qualidades: São João e Pingo Mel. E eu quando colhi os ramos para abacelar, desconhecendo o assunto, trouxe dos ramos de pingo mel e não dos de São João. São ambos figos deliciosos.
Mas agora já tenho num vaso um outro abacelamento, este de São João!)
Estas quadras ou “cantigas” populares eram cantadas nos bailes e arraiais de Aldeia da Mata, nos anos quarenta, ainda nos anos cinquenta, do século XX, pelas raparigas, segundo a “moda e o estilo das saias”.
Os arraiais eram no meio da rua: Largo do Terreiro; no “Santo António”, perto da Cruz; à porta da Ti Rosa Bela.
Havia pessoas que cantavam muito bem: a Joaquina Amélia, a prima Rufina também cantava bem e, noutro tempo, também a Ti Natália cantava muito bem.
Nos arraiais habitualmente só se cantava. Umas cantavam melhor, outras pior.
Também cantavam ao desafio.
Os bailes eram feitos nos salões.
Nos salões eram fundamentalmente os tocadores de concertina que estruturavam os bailes.
Os salões que havia nessa época eram:
O Salão Martinho – era na Estrada Nova.
O Salão Trindade – era na Rua da Travessinha.
Nos bailes nos salões também se cantavam estas “cantigas”, nos intervalos em que descansava o tocador.
Havia também a “Sociedade”, que era para os “Mestres” e para as raparigas convidadas, era para as pessoas “consideradas mais finas”.
Na Sociedade também tocavam a grafonola.
E também se faziam bailes nas casas particulares, a que iam tocadores de harmónio.
Na Aldeia, os tocadores de harmónio, na época, eram: o Mestre Alfredo, o Ti Joaquim Branco, o Ti “Chanfana”.
Estas quadras, “cantigas”, eram fundamentalmente cantadas pelas raparigas, embora algumas pudessem ser cantadas indiferentemente por rapazes e raparigas.
Os rapazes cantavam outras.
E também cantavam ao desafio.
O Srº Manuel Mendes também cantava muito bem.
As raparigas também cantavam estas quadras / “cantigas”, quando andavam a trabalhar, tanto no campo, como em casa. E mesmo sem se estar a trabalhar, estando a conviver.
No campo: na azeitona, na monda, nas desfolhadas. E no caminho da ida e volta do trabalho também se cantava.
Toda esta recolha de “cantigas”, bem como estas informações, foram prestadas por D. Maria Belo Caldeira (04/11/1928).