Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Com estes dois poemas de Clara Mestre, termino a publicação do conjunto dos textos sobre este assunto, que me foram entregues para participarem na “Antologia Virtual”.
Da Exposição de “Poesia Visual” também encerrámos as suas apresentações, pelo menos por este ano. Em anos subsequentes não se sabe. De qualquer modo, há trabalhos apresentados que não podem ser repetidos, pois que se “desfizeram” nas apresentações públicas. Caso de “Pisa Poemas”, a partir do poema “Somos Mar!” e de “Octopus / Polvo”.
Mas, todavia, se vier a realizar outra exposição poderei apresentar novos trabalhos. Depende sempre de onde e de quando e em que condições. (Espaço, Tempo, Contextualização.)
Clara Mestre, para esta Antologia Virtual, teve a amabilidade de compartilhar mais dois poemas. Neste post não tenho oportunidade de os publicar. Mas serão divulgados mais tarde.)
Seguindo alfabeticamente, continuo a publicação dos textos na Antologia Virtual, subordinada ao tema Mar, (re)publicando esta simples quadra, de que gosto muito. O tema "Mar" sempre presente, na relação intrínseca que tem connosco, enquanto seres humanos e seres vivos. O mar que corre em nós, nas nossas veias...!
“Era eu ainda adolescente mas já trabalhava desde os doze anos numa instituição bancária em Lisboa quando fiz a minha única viagem por mar até hoje. O Clube Naval de Lisboa foi a Cascais com alguns dos seus filiados concorrer salvo erro, com seis pequenos barcos à vela, que nunca cheguei a saber a que tipo e classe pertenciam.
Os seis barcos, todos com mastro, foram rebocados desde a Doca de Santos em Lisboa até à Baía de Cascais e eu fui dentro do rebocador. Um compadre do meu pai e colega de trabalho tinha uma filha da minha idade e um filho um ano mais novo.
Ele, para além do trabalho onde também laborava o meu pai, exercia uma outra actividade no citado Clube Naval. Aproveitando a ida a Cascais dos seis barcos, o senhor Albano o amigo do meu pai, valeu-se da oportunidade para passar um domingo diferente e quiçá aventureiro indo no rebocador com a mulher os dois filhos e eu, que fiquei animadíssimo com a ideia quando me perguntou se queria ir com eles. A minha resposta foi um imediato sim pois ia viajar no mar. Viajar no mar…
Oito horas da manhã foi a hora marcada para estar na Doca de Santos afim de embarcar no rebocador. Quando lá cheguei já lá estava o senhor Albano, sua mulher e os dois filhos. Todos, como eu, vestidos com roupas leves pois estávamos em fins de agosto e o tempo estava quente. Tive inveja do Telmo por ele estar vestido com calções… A mulher do senhor Albano tinha numa das mãos um cesto de verga que devido ao recheio estava bem dilatado. Notei que no interior estavam dois tachos. Um por baixo do outro e exalavam um cheirinho a comida que não consegui identificar o quê mas fiquei com a boca cheia de “água”. O maior estava por baixo. Vários guardanapos de pano pois naquele tempo não se usava guardanapos de papel, uma toalha de mesa, pratos e talheres. O filho levava, debaixo do braço esquerdo, toalha de banho assim como a irmã. Ambos cobriam a cabeça com panamá. Eu também. A tripulação do rebocador era constituída por três homens. Um, com boné de pala era o homem do leme, outro devia ser o maquinista e o terceiro tratava entre outras coisas do cabo de amarração ao cais da doca. Dez minutos depois de termos entrado a bordo, ouviram-se três fortes apitos emitindo som agudo e o motor que já estava a trabalhar iniciou maior esforço e o “navio” que se livrara do cabo de amarração começou a movimentar-se em direcção ao rio Tejo em cujas águas entrou e tomando a direcção do mar. Eu, Telmo e Helena com caras de alegre ansiedade íamos encostados à amurada de estibordo. Ali encostados e apoiados nos cotovelos olhávamos apontando o que víamos. Central Eléctrica de Lisboa, o cais de embarque para os “vapores” que ligavam a Trafaria a Belém. O padrão aos Descobrimentos estava em construção. Logo a seguir os três em uníssono: Olha ali é a Torre de Belém. Já conhecia aquela visão da Torre vista do rio pois já fizera mais que uma vez aquela travessia do Tejo com o meu pai. Pouco mais adiante em direcção ao mar, fomos para a murada de bombordo para vermos deslumbrados o Farol do Bugio. Nunca tinha estado tão perto dele, daí a minha fascinação por tal “monumento” que só conhecia visto da Trafaria ou da Cova do Vapor. A partir dali estávamos a navegar no mar. No oceano Atlântico. Voltámos para a amurada de estibordo e praticamente já dali não saímos até entrarmos na Baía de Cascais e fundear. Porém antes de lá chegar quis saber a profundeza do mar. Tirei da algibeira das calças uma pedra que apanhara na rua com a intenção de a lançar ao mar. Atirei-a com força para a água e o mar respondeu-me com um “plof”. Este simples “plof” surdo-mudo dando a entender ali ser muito fundo. Fiquei impressionado. Os meus amigos não entenderam o significado da acção. Ficámos dentro do rebocador até cerca das seis da tarde. Antes tinha perguntado ao senhor Albano quando iriamos a terra. A resposta foi negativa o que me deixou bastante triste. Foi uma grande seca! Numa lancha a motor, vi chegarem uns quantos homens, creio que uns dez. A lancha atracou ao rebocador onde ficou amarrada mas prontamente se soltou para devagar ir deslizando e ajeitando-se junto de cada barquinho. Da lancha “saltava” um homem para dentro dum barquinho. Esta operação realizou-se por seis vezes e nos tais barquitos um a um foram içando a vela tomando posição de navegar na regata. Para mim, o melhor de tudo foi o almocinho que me soube divinalmente. A regata ainda me distraiu durante um tempo, mas a dada altura apossou-se de mim um grande tédio, e o que desejava era voltar a Lisboa. O regresso já não me despertou interesse. Mas a dada altura o meu panamá caiu ao mar e por lá ficou para sempre. Sentia-me cansado. Os meus amigos também. Quando voltei a ver a Torre do Bugio comecei a ficar mais animado. A minha viagem por mar estava a chegar ao fim.
Assim foi a minha primeira e única viagem por mar, até hoje…”
Na sequência de desafio lançado na sessão de “Poesia à Solta”, ocorrida a 27/10/18, na sede da SCALA - Almada, a quem quisesse participar, de organizarmos uma “ANTOLOGIA VIRTUAL”, subordinada ao tema “MAR”… E após ter divulgado igualmente esse convite no blogue… Vamos finalmente (!) dar a conhecer os participantes e correspondentes textos, poéticos ou não.
Esta “Antologia Virtual” é uma iniciativa pessoal. Friso!
Obrigado pela Vossa participação, que nos enriquece sempre podermos ler e divulgar a Arte da Escrita, poética ou em prosa. E ouvi-la dizer por cada um, como cada qual sabe, e que com o seu saber e labor nos revela um dos lados mais gratificantes da Humanidade: a Arte de Poetar e Dizer Poesia!
Ah! Eu também vou participar, claro.
E será que esta “Antologia Virtual” terá algo a ver com a “Exposição de Poesia Visual” a inaugurar a 21 de Setembro na sede da SCALA?!?