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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

“A Família Krupp” (Reposição) - Teil III - Parte I

Série Alemã na RTP 2

 

Teil III 

Parte I

Uma narrativa parcial!

 

 A narrativa sobre o 2º Episódio terminava com os seguintes parágrafos:

 

(...)  “A importância de se chamar Alfried!”

 

“Será que Alfried vai dar lições de voo a Anneliese?!

Aguardemos o 3º, não sei se último, episódio!”

 

Bertha e Alfried in fernsehen.ch.jpg

 

Quanto a este episódio ter sido o 3º, disso não há qualquer dúvida. Se terá sido o último, de facto, não sei de todo.

 

No referente às lições de voo, no vertente episódio, não me apercebi que Alfried tivesse dado lições desse tipo a Anneliese. De natação, talvez. Ou ela a ele. Que os vimos a nadar num lago dos Alpes, tal qual Deus os mandou ao Mundo!

Fosse qual fosse o tipo de lições que terão dado um ao outro, o certo é que houve casamento. Ocorrido em 1937, em Potsdam. Um casamento muito simples, com três ou quatro convidados, que mais não foram precisos, e da Família do noivo, não concordando com o enlace, ninguém compareceu. Bem que, para a realização de um matrimónio, bastam os noivos, as testemunhas e o celebrante!

 

E neste ponto vamos à importância do Nome. Que por isso mesmo, porque a matriarca da Família, Bertha, verdadeira Krupp, não concordando com o casamento, porque o filho, Alfredo de nome, e também veramente Krupp, não se podia casar com qualquer uma, só porque era esse o seu desejo, sem o consentimento da Mãe. Não se podia sequer casar, porque tinha que se dedicar à Firma.

E casando-se, Alfredo acabou por se descasar, porque levando a noiva, já mulher, e já em vias de ser mãe, para a Villa Huguell, a sua Mãe, Bertha, fez de tudo o que é possível e imaginário para fazer a vida negra à nora, Anneliese, inclusive oferendo-lhe milhões para ela se ir embora.

E tanto a maltratou e destratou psicológica e socialmente, e tanto pressionou o filho para que ele se descasasse, que este assim acabou por fazer, divorciando-se, abalando Anneliese, mas levando o filho de ambos, Arndt, nome do primeiro Krupp. Que nem o nascimento da criança, e neto, e contra todas as expetativas do recém casal, nem o menino adoçou o coração da avó, que o desprezava também, ignorando-o, que é uma das maiores formas de desprezo!

 

Estes factos ocorriam nos finais de trinta, princípios de quarenta, já Hitler consolidado e incrustado na cadeira do Poder!

 

E, neste episódio assiste-se a essa consolidação até à paranoia final. Embora centrando-se a narrativa na Família, (uma Família Real?) muitos dos aspetos da tragédia são remetidos para segundo plano. Que o primeiro plano são as próprias tragédias familiares. A morte trágica de dois filhos, um dos preferidos, Carl e Eckbert. O AVC? do pai, o impasse sucessório na Firma, pela indecisão continuada de Alfried. Que finalmente, assumiu essa decisão em 1943. E houve loas e braços estendidos no Conselho de Administração, inclusive de Bertha, exceto do próprio Alfried, que não percebo porquê, dado ele ter pertencido e desempenhado cargos importantes no âmbito do partido nazi!

 

E este aspeto é um dos que no filme não são abordados pelo realizador ou pelo argumentista (?). A omissão, (propositada?) dos papéis e funções desempenhadas por Alfried, no contexto da hierarquia nazi. (Razão, aliás, porque no post anterior, de 18/01, “Personagens Reais” remeti para links em que estes aspetos são mencionados.)

Apenas se subentende a importância e projeção que ele possa ter tido, quando, em 1943, na sequência da prisão dos tios, Tilo e Bárbara, os irmãos, e mais especificamente Harald, lhe pedem ou sugerem para ele intervir junto de Hitler. Mas, mesmo aqui somos mais levados a interpretar esse pedido, pela importância da Firma, armeira de Hitler. Até porque a resposta de Alfried vai nesse sentido, frisando a ineficácia do armamento dos Krupp no contexto da Guerra, tendo revelado falhas, de que o ditador tinha conhecimento.

 

Ditador e louco lhe chamo eu, porque, na altura, os protagonistas e narradores desta História, não o afirmavam, nem ousariam expressar verbalmente, embora disso já tivessem plena consciência e, aliás, medo atávico. Lembremos que, à data, além da prisão dos familiares, também já o grande industrial Tyssen havia sido preso e enviado para um campo de concentração, tempos antes. E com este dado também podemos, de algum modo, ajuizar sobre as atitudes destas grandes personagens, que inicialmente apoiaram o fuhrer, mas que se foram apercebendo da espiral de loucura em que este os foi enredando e levando à destruição.

 

Nesta conversa, Alfried dá conhecimento ao irmão de que o pai, em 1938, também ajudou a resistência, aqueles que conspiraram, sem sucesso, contra Hitler. Surpresa de Harald, pelas atitudes públicas do pai, Gustav, quando alguém ousava dizer mal de Hitler na sua frente, em que ele se retirava ostensivamente.

 

Nesta narrativa, aquela que o realizador desenvolve, observa-se que ele pretende mostrar a ambivalência da Família com o Poder Político, que no caso específico de Hitler, era também sustentada pelo medo. Medo das represálias associadas à loucura do Ditador e de toda a estrutura repressiva em que assentava o aparelho de Estado!

 

Mas não posso considerar que ele, realizador, seja isento. Penso que, de algum modo, pretende (?) branquear o papel desta Família neste contexto, da relação com o nazismo. Porque se é verdade que a relação que tiveram, bem como a da Alemanha em geral, com Hitler, e nesta série podemos considerar que a Família, de certa maneira, é uma metáfora da Nação Alemã, digo, que a forma como os alemães e os kruppianos especialmente se relacionaram com Hitler, no final, foi de medo, mas primeiramente foi de admiração e adulação.

E foi a Nação Alemã, no seu todo, que levou Hitler ao Poder. Não podendo esquecer que as Potências Ocidentais e Orientais também para isso contribuíram, com o seu fechar de olhos às diatribes de Adolfo!

 

Voltando ainda à narração sob a perspetiva da realização, tenho que frisar que não observei, talvez me tivesse escapado, qualquer referência ao papel de Alfried no contexto político do nazismo, ainda que ele nisso tivesse tido participação ativa.

Contudo, já no final do episódio, quando Alfried se passeia e contempla a destruição das suas fábricas, obra sua também, porque que “quem com ferros mata, com ferros morre”, nessa cena, quase final, surgem dos escombros duas jovens judias aterrorizadas, que depressa se escondem novamente entre as ruínas.

Sabemos que são judias, porque a estrela na farda assim as identifica. Aqui, o realizador dá-nos uma evidente “piscadela de olho” para o facto comprovado de Alfried ter usado, nas suas fábricas de Essen, trabalho escravo de judeus dos campos de concentração, nomeadamente de jovens mulheres.

 

Mas esta cena eu só a compreendi nesta reposição e após ter lido, na wikipédia, vários artigos, nomeadamente o que referi no post anterior, que focam este aspeto.

Sim, porque para percebermos bem o enredo da série temos que pesquisar sobre a história dos personagens. E nisso a net fornece-nos alguma informação disponível, supomos que também credível.

 

Porque com base na narrativa dos personagens principais, Alfried e a Mãe, pouco sabemos sobre estes subterrâneos familiares, porque eles pairam, especialmente Bertha, acima dessas coisas.

 

E, segundo o narrador – realizador/argumentista, também há omissões!

 

E, por agora, a minha narração também fica por aqui. Para ficar também incompleta e, porque não?, também tendenciosa.

 

Voltarei à narrativa! Que muito fica ainda por contar!

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