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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Ainda sobre o Chamiço…

Enquadramento arbóreo. Foto original. 02.02.23

Na sequência de “Gentes da Gente”, algumas notas finais…

Relativamente ao Passado:

No Chamiço, embora despovoado, a partir de meados do séc. XIX sem vida permanente, os terrenos continuaram a ser cultivados pelos herdeiros dos antigos habitantes, que migraram para as povoações mais próximas:  Aldeia da Mata, Monte da Pedra, Vale do Peso

Esse despovoamento resultou de um processo, que se foi acentuando ao longo dos séculos, a que os “roubos”, no século XIX, determinaram na extinção do povoado. Não foi algo que tivesse ocorrido repentinamente, “de um momento para o outro”.

A narrativa, dos anos 30 do séc. XX, transcrita em Aquém-Tejo, de autoria do Professor Manuel Subtil, (1875 – 1960), de Vale do Peso, é por demais elucidativa desse “mecanismo processual” e temporal. (Os roubos foram a causa próxima, outros diversos fatores, causas remotas.)  

Nas Memórias Paroquiais de 1758, a paróquia do Chamiço já era das menos povoadas, entre as localidades atualmente integradas no Concelho do Crato. (Consulte S.F.F.)

No respeitante à narrativa transcrita a partir de “Etnografia Portuguesa” – Vol. IV – Ed. Imprensa Nacional – 1958 – de Professor Doutor Leite de Vasconcellos – pp 654, 655, convém referir que também se baseia na “tradição oral”. “Assim reza a tradição oral.”

Também tem algumas incorreções, nomeadamente:

Referir que Quem primeiro abalou, foi uma lavradora, de apelido Carita…” (Porque não foi.)

“… um terreno, de irregular superfície, com uma área de uns 400 metros quadrados…”

(Ora, 400 metros quadrados correspondem a um quadrado de 20 metros de lado! Dimensão bastante inferior ao que o antigo povoado ocuparia. Esse espaço será mais ou menos a dimensão em redor da igreja. E da igreja até às últimas casas a sul? E da igreja até ao moinho, forno comunitário e ponte?! A dimensão do povoado é bem maior.)

Também é relevante frisar que, em “Etnografia Portuguesa”, na parte referente ao Chamiço, não são mencionados a ponte, o forno…! Será que o Professor lhes terá feito referência noutras obras?! Não terá visitado?!

Também há um incorreção referente a “orago Martle Santo”, referindo que “não conste da Corografia de P.e Carvalho”, (pag. 654, linhas 24 / 25 - Etnografia Portuguesa).

Ponte. Foto original. 02.02.23.

No referente ao Presente:

A Romaria e a Ermida são elementos estruturantes do Património do Chamiço.

Mas o Património Material do Chamiço engloba várias componentes: as casas, embora em ruínas; o moinho, ainda com muitos dos elementos básicos. O forno comunitário e a ponte!

Todos precisam ser valorizados e salvaguardados. Já no presente. Acautelando o futuro. Para que não se transformem todos em ruínas.

Há ainda o Património Vegetal, constituído por espécies autóctones. Cada vez mais é imprescindível valorizarmos o coberto arbóreo. Pensando também no futuro!

Os elementos naturais associados ao granito. Os rochedos monumentais! As rochas transformadas, aparelhadas. A ribeira. A barragem, que precisa ser reconstruída.

(As caminhadas são também importantes para darem a conhecer e valorizar os espaços. Criar trilhos pedestres incorporados nas paisagens, partindo e ligando os povoados mais próximos, com passagem pelo Chamiço. No Couto do Chamiço, a “Pedreira das Mós” é também um elemento patrimonial relevante.)

E na preparação do Futuro?!

Integrando as diversas variáveis, reportando-se ao passado e ao presente, o “Chamiço” precisa ser classificado como “Sítio Monumental”! Englobando Património Material e Imaterial.

Esta ação tem de ser integrada e integradora de várias instâncias e entidades, agregando Freguesias, Município, Departamentos Culturais. Entidades públicas, mas também privadas.

Deixo à consideração de quem pode e deve equacionar e operacionalizar tal desiderato.

 

«O Chamiço, antiga freguesia do Priorado do Crato» (III)

(Cap. III)

pelo Prof. Manuel Subtil

In. “A Mensagem”. p.5

(…)

«Em tais condições era impossível e até desnecessária a manutenção da paróquia, a qual foi, por esse motivo, extinta.

As imagens, a sineta e outros pertences da igreja foram, por determinação da autoridade eclesiástica, distribuídos pelas igrejas circunvizinhas.

A imagem do orago – S. Sebastião, como dissemos – foi para Vale do Pêso. A sua transferência constituiu motivo de grande regozijo para esta povoação, e realizou-se com a possível solenidade. Toda a gente que o pôde fazer se deslocou ao Chamiço e a imagem foi conduzida processionalmente, entoando-se, durante o percurso que é de quatro quilómetros, aproximadamente – a Ladainha de todos os Santos, dizem uns, ou o Bendito, afirmam outros – indo todos sempre com o maior respeito.

Ficou o Santo exposto à veneração dos fiéis no altar da Senhora do Rosário (c).

Pouco tempo passado, só residia no Chamiço uma lavradoura abastada e aqueles que a serviam permanentemente. Tinha o apelido de Carita.

Era uma senhora alta e clara, magra e simpática. Depois que acabou a freguesia do Chamiço, passou a ouvir missa, aos domingos, com alguns servos seus, na igreja de Vale do Pêso, talvez por aí se encontrar S. Sebastião do Chamiço, a quem ela tantas vezes teria dirigido suas preces em horas aflitivas; ou talvez, por ali morar uma sua amiga, lavradoura abastada também, pertencente a uma família ilustre de Vale do Pêso, D. Maria Caldeira Durão, ou Duroa, como o povo dizia, senhora que, ao contrário da sua amiga, era excessivamente baixa.

Depois da visita habitual, lá seguia a srª Carita para a deshabitada povoação, à qual só ela teimava em manter uns restos de vida e de movimento.

Mas foi curta essa teimosia, pois em breve teve ela também de abandonar a velha aldeia, porque foi assaltada e roubada.»

*******

«(c) - Foi há anos retirado e substituído pela imagem actual, por iniciativa do Revdo. Pároco Sr. Pe. João Cotrim, pároco da vila de Amieira.»

*******

Notas finais:

Termina, assim, a publicação desta excelente narrativa sobre o historial do Chamiço e da lavradora Carita. De Autoria de Prof. Manuel Subtil, uma Personalidade notável de Vale do Peso.

Continuo a não publicar fotos documentais, embora, hoje, já tenha na minha posse um considerável acervo de fotografias da "aldeia" do Chamiço.

Como as obtive?!

Ontem, dia 02/02/23, “Dia da Senhora das Candeias” convenci o Amigo Casimiro, mais que amigo, um amigão, a irmos visitar o “velho Chamiço”. Na sua carrinha, fomos, pelo caminho vicinal que parte da estrada Crato – Monte da Pedra, na direção Leste, até ao povoado em ruínas. (Este caminho está em muito mau estado, na sequência das chuvas.)

Mas a visita foi excelente, até porque tivemos Cicerone, também de excelência.

Publicarei próximos postais sobre a visita. Entretanto consulte os anteriores, SFF. Obrigado!

E, também.

 

«O Chamiço, antiga freguesia do Priorado do Crato» (II)

(Cap. II)

pelo Prof. Manuel Subtil

In. “A Mensagem”. p.5

(…)

«Como acabou a freguesia do Chamiço? Porque desapareceu uma povoação que, apesar de pobre e pequena, se manteve durante alguns séculos independente?

Vamos dizê-lo:

Viviam com certa dificuldade os habitantes do Chamiço, pela pobreza das terras e escassez dos rendimentos.

Agravava, em parte, essa dificuldade a circunstância de terem de pagar anualmente ao padre um moio de trigo.

Para atenuar essa precária situação, dirigiram ao Grão Prior do Crato, em 1760, uma petição, na qual ponderavam que, sendo apenas 22 vizinhos, não podiam pagar o moio de trigo ao pároco, por serem pobríssimos, pois apenas quatro deles tinham passagem pelo seu quotidiano trabalho. Que alguns tinham ido para terras vizinhas, por não poderem pagar a parte que lhes tocava, o que mais agravava a situação dos que ficavam, ameaçando, assim, despovoar-se a freguesia. Pediam, por isso, que o moio de trigo fosse pago pelo Grão Prior, como acontecia com a freguesia de Monte da Pedra.

Esta petição, provavelmente elaborada pelo pároco do Chamiço, que era então o Pe. Francisco Dias da Mota, têve o acolhimento desejado.

O Almoxarife do Crato, João Teixeira Carrilho, informou e confirmou o exposto; o Procurador e a Mesa Prioral conformaram-se e a petição foi deferida, em 16 de Julho de 1760 (b).

Assim, ficaram um pouco mais desafogados os moradores da pequena aldeia e lá se foram mantendo como puderam.

Mas na primeira metade do século XIX, isto é, decorrido menos de um século, depois daquela concessão, rebentou a Guerra Civil entre absolutistas e liberais.

O desfecho dessa guerra, pela deposição de D. Miguel, foi funesto para o Chamiço, pois tornou insustentável a situação dos seus habitantes.

O Priorado do Crato tinha sido anexado, há muito, à Casa do Infantado, da qual veio a ser último senhor o rei deposto. Extinta a Casa do Infantado, extintos foram os privilégios que os moradores do Priorado desfrutavam, desde épocas remotas, um dos quais era o regime de compáscuo, (a que já aludimos) para os seus gados.

Assim, sem terrenos baldios, como até então, os pobres pastores não podiam manter os seus pequenos pegulhais de cujos produtos viviam, embora pagando dízimo ao Grão Prior.

Esta circunstância tornou-lhes a vida insustentável naquele meio. Foi o comêço da debandada. Foi o princípio do êxodo.

Trataram de vender os seus gados e de fixar residência em terras próximas – Vale do Pêso, Monte da Pedra e Aldeia da Mata.

Apenas continuaram a residir no local os poucos que, por terem lavoura sua ou propriedades ali, tinham conveniência em permanecer no velho Chamiço.

Em tais condições era impossível e até desnecessária a manutenção da paróquia, a qual foi, por esse motivo, extinta.

(…)

(b) – Chanc.ª da C. do Infantado, L.o 82, fl 136.»

*******

(Nota: Os negritos são de minha lavra, bem como a divisão em capítulos.)

*******

E, hoje, dia 2 de Fevereiro é “Dia da Senhora das Candeias”. E está um dia de sol, embora esteja frio. “Senhora das Candeias a rir…”

E, também, SFF.

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