Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Estas quadras ou “cantigas” populares eram cantadas nos bailes e arraiais de Aldeia da Mata, nos anos quarenta, ainda nos anos cinquenta, do século XX, pelas raparigas, segundo a “moda e o estilo das saias”.
Os arraiais eram no meio da rua: Largo do Terreiro; no “Santo António”, perto da Cruz; à porta da Ti Rosa Bela.
Havia pessoas que cantavam muito bem: a Joaquina Amélia, a prima Rufina também cantava bem e, noutro tempo, também a Ti Natália cantava muito bem.
Nos arraiais habitualmente só se cantava. Umas cantavam melhor, outras pior.
Também cantavam ao desafio.
Os bailes eram feitos nos salões.
Nos salões eram fundamentalmente os tocadores de concertina que estruturavam os bailes.
Os salões que havia nessa época eram:
O Salão Martinho – era na Estrada Nova.
O Salão Trindade – era na Rua da Travessinha.
Nos bailes nos salões também se cantavam estas “cantigas”, nos intervalos em que descansava o tocador.
Havia também a “Sociedade”, que era para os “Mestres” e para as raparigas convidadas, era para as pessoas “consideradas mais finas”.
Na Sociedade também tocavam a grafonola.
E também se faziam bailes nas casas particulares, a que iam tocadores de harmónio.
Na Aldeia, os tocadores de harmónio, na época, eram: o Mestre Alfredo, o Ti Joaquim Branco, o Ti “Chanfana”.
Estas quadras, “cantigas”, eram fundamentalmente cantadas pelas raparigas, embora algumas pudessem ser cantadas indiferentemente por rapazes e raparigas.
Os rapazes cantavam outras.
E também cantavam ao desafio.
O Srº Manuel Mendes também cantava muito bem.
As raparigas também cantavam estas quadras / “cantigas”, quando andavam a trabalhar, tanto no campo, como em casa. E mesmo sem se estar a trabalhar, estando a conviver.
No campo: na azeitona, na monda, nas desfolhadas. E no caminho da ida e volta do trabalho também se cantava.
Toda esta recolha de “cantigas”, bem como estas informações, foram prestadas por D. Maria Belo Caldeira (04/11/1928).
1 - Haveria múltiplas e diversas considerações que seria interessante explanar sobre estas “Quadras Populares”. Neste post apenas pretendo registá-las, documentando-as e dando-as a conhecer, ou recordar, para quem eventualmente já conheça.
2 – “Altemira” é a designação “tradicional”, na Aldeia, da planta artemísia.
3 – A recolha destas “Quadras Tradicionais” foi da competência de D. Maria Belo Caldeira, Aldeia da Mata, 2015/2016.
4 - A foto foi retirada de "es.minutu.com". Tentarei arranjar uma foto original, para partilhar também na net, como muitas, noutros posts.
Neste mês dos Santos Populares e, hoje dia 13 de Junho, Dia de Stº António, divulgamos umas quadras populares, de tradição alentejana, algumas certamente de caráter nacional.
Cantar-se-iam nos bailes, nos anos quarenta...
E porque, hoje, também é Dia de CANTE...
Quadras Populares
Da minha janela à tua
É um saltinho de cobra
Quem me dera chamar
À tua mãe minha sogra.
Chapéu preto desabado
Faz figura de ladrão
Ainda nunca me encontraste
A roubar teu coração.
Chapéu preto não se usa
Quem o tem não é ninguém
O que há–de o meu bem fazer
Ao chapéu preto que tem.
Já lá vai, já acabou
O tempo em que eu te amava
Tinha olhos e não via
Na cegueira que eu andava.
Minha mãe é minha amiga
Amiga de me compor
Põe-me o lenço na cabeça
Vai à missa, linda flor.
O coração mais os olhos
São dois amigos leais
Quando o coração está triste
Logo os olhos dão sinais.
Tu andas por aí dizendo
Que o meu rosto não tem graça
Também eu me posso gabar
Que te dei uma cabaça.
Teu pai, tua mãe não quer
Que eu contigo à porta fale
Queres tu amor, mais eu
Que o falar deles não vale.
Quadras recolhidas por D. Maria Belo, Aldeia da Mata, 2014.
Publicado em Jornal "A MENSAGEM" 2015.
Boletim Cultural de "Mensageiro da Poesia" Nº 135 - Jul. / Ago. 2016
P.S. - Não sei se ainda hoje volto a escrever sobre "Crime e Castigo"