INTERSEÇÕES
INTERSECÇÕES
Decepados os sexos, cortadas as mãos
Desfigurados os rostos
Mutiladas…
Imóveis!
Erguiam-se as estátuas
À beira das estradas.
Intersetando a imagem
Cruzando o recorte das estátuas,
Velozes…
Corriam os automóveis
Imagens fugidias, impressivas,
De movimento feito tela
Sobre que arremessadas foram
tintas.
A Memória do Tempo: as estátuas
E um tempo construindo sua memória:
- os automóveis. Auto Móveis.
Movimento opondo-se à Imobilidade.
Dois objetos se contrapondo num terceiro: o televisor.
No qual a memória foge
Como no real, em écran desfocado, redutor.
Algum dia sendo, num futuro…
Três objetos carregados de Memória
entretanto perdida
Significantes do Tempo que, passado,
Unirá uma vez mais três objetos.
Destituídos da sua condição de uso
Desprovidos de utilidade.
Expostos Algures… ou abandonados
À Indiferença dos passantes
Nesta via, vida, sem finito.
Escrito em 1988.
Publicado no Boletim Cultural Nº 59, Ano XII, do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Maio 2001.