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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Jack Taylor – Assassinatos encenados

Assassino encomenda investigação aos seus assassinatos!

 Série Irlandesa – RTP2

4º Episódio – 4ª feira – 14 de Agosto

 

Poderá um assassino, um senhor professor idoso e respeitável, pedir investigação aos seus próprios assassinatos e ir fornecendo informações ao investigador, neste caso, o famoso Jack, o mais reputado detetive privado de Galway e arredores?!

(…)

Este 4º episódio não foi menos complexo que o anterior. Mas já mencionei o criminoso principal neste, que contraria um pouco a tese anterior da “Justiça divina”, porque o assassino não me pareceu ter morrido, acho que levou um tiro no pé, provocado pela ação de Cody, imprescindível nas investigações do chefe Taylor.

Quem também desenvolveu ação importantíssima foi Kate, que por duas vezes quase morreu e desempenhou o papel final de Deirdre, personagem mitológica das lendas irlandesas, bebidas nas tradições celtas. Última encenação do professor Gorman, visando atrair Jack a uma cilada final.

 

Como é habitual, faço uma leitura em viés do texto, salto aspetos fundamentais, nos vários capítulos narrados. Ademais os episódios são bem ricos, o meu penitenciar de “pueril”. De amores, também friso que sendo este episódio recheado do tema, desde logo pela estruturação temática dos crimes à volta da personagem Deirdre, o amor entre Kate e Jack está cada vez mais presente na narrativa, ainda que não assumido, forma de ir prolongando a atenção na temática. Anne parece ter sido esquecida, não mais apareceu no enredo e Linda, a mãe de Cody, envolvida em desafogo, certamente passageiro de ambos os intervenientes. Com direito a murro do rapaz ao chefe, pelo inesperado da situação, ao descobri-los no quarto dois da pensão, onde Jack se acolhe. Que o rapaz compreende, que não é nenhum Édipo!

 

E estes enquadramentos mitológicos estruturam o desenvolvimento da narração e dos crimes. Assassinatos de jovens raparigas da universidade local, uma primeira, Sarah Bradley, aparentemente atirada duma torre, como se fora suicídio, com marcas de consumo de heroína e citações poéticas do mito referido. Uma segunda, Karen Lowe, numa atuação única no papel de Deirdre! Para a qual Jack foi convidado telefonicamente via telemóvel, sem tempo para chegar a tempo, que já a encontraram morta. Mas chegou a tempo de ainda salvar a sua amada Kate, que, já mencionado, atuou na derradeira apresentação teatral do mito.

 

Fica muito por contar. O interesse do inspetor chefe, Griffin, por Kate, que morreu para a salvar. A ação de outro professor da universidade, Lawrence Doyle, viciado em cocaína, encantador das jovens e respetivo iniciador nas drogas. A atividade clandestina de um livreiro, importante fornecedor destes personagens, inclusive o professor Gorman, um dos principais clientes. O papel de um jovem psicopata, pequeno dealer na escola, de nome Ronan, especialmente atraído por degolação de cisnes brancos, outra referência mítica irlandesa. As citações de Yeats, poeta icónico da literatura irlandesa e universal.

 

E sobre o “Justiceiro” – Jack. Mencionar que começara a deixar de beber, que se reconciliara com a mãe, que recuperara um pouco após o enfarte, mas haveria de falecer no decurso deste episódio. E que após a experiência traumática da quase morte e salvação de Kate, voltou a beber!

 

E assim, dou por findas as minhas transcrições do episódio!

 

 

 

 

 

Jack Taylor – Um Policial –Seriado pueril?

Assassinatos em série, em Série Irlandesa – RTP2

A partir das 22h 10’. Episódios de cerca de 1h 30’.

3º Episódio – 3ª feira – 13 de Agosto

 

Pueril, classifiquei eu no primeiro texto sobre a série. Admito que não fui especialmente feliz na adjetivação. O enredo tem-se revelado mais complexo do que aparentava inicialmente. O termo pueril refere-se à forma como é tratada a questão da justiça. Os maus são sempre castigados, se não atua a justiça humana, acaba por intervir a divina. Afinal estamos na Irlanda, por demais católica, um padre é personagem atuante, fumador inveterado, e enamorado, platónico, da mãe de Jack. Sugestivos os nomes do icónico par: Brad e Angelina!

 

No 3º episódio mais uns quantos crimes em Galway. Que Jack, agora definitivamente acoplado ao seu parceiro, Cody, com direito a cartão de apresentação: Taylor & Cody! As ajudas sempre preciosas de Kate, pondo em risco o seu próprio papel oficial de “Guarda”.

 

Enredo complexo, daí pueril ser pobre no epíteto.

 

Que relação poderá haver entre assassinatos sequenciais de dois jovens irmãos, sem quaisquer antecedentes de marginalidade; o pedido de uma senhora para que Jack investigasse sobre uma antiga casa religiosa, “As Mónicas – Lavandaria Santa Mónica” - de acolhimento de jovens raparigas em risco, que aí eram especialmente maltratadas por uma freira, por elas denominada de “Lúcifer”; a decifração identitária deste cognome maldito; um diário que a mãe dessa senhora, que contratou Jack, escreveu enquanto esteve aí enclausurada, relatando as atrocidades e sofrimentos passados pelas raparigas; a exigência de um traficante de droga, doente de cancro e conhecido de juventude de Jack, para que o diário lhe fosse entregue; as leituras assombrosas e terríficas que o diário ia proporcionando ao nosso herói / anti-herói; a respetiva mãe, com quem tem um relacionamento tão agreste; o mergulhar no respetivo passado e no de Jack, criança e jovem; as lembranças do pai, o seu gosto por leituras, compartilhado pelo filho; a sua fuga de casa… a Justiça Divina”???!!!

 

Bem, foi todo o desenrolar deste novelo que os detetives particulares desbravaram no 3º episódio!

 

O traficante, mandante dos crimes dos jovens, morreu de cancro, no mesmo dia que a “Lúcifer”, senhora da cidade, de nome Rita Monroe. “Espero que aquela cabra arda no inferno”, vociferou o padre, para Jack, em lembrança do sofrimento infligido por ela às jovens de Santa Mónica, nomeadamente da mãe de Jack, que aí vivera a sua juventude. Rita, solteirona, era extremosa tia dos jovens e os assassinatos eram para a fazer sofrer. O traficante era filho de outra senhora que na juventude também sofrera os maus tratos da “Lúcifer”, pois frequentara a mesma Casa, de 60 a 66... E, por acaso, (!?) irmão da senhora que contratara o nosso investigador para descobrir quem era essa “Lúcifer”!!!

E a mãe de Jack, que ele através do diário, aprendeu a conhecer e perceber e com quem se passou a relacionar, teve um enfarte!

 

“Um tipo de justiça muito estranho! Espero que tenham levado o ódio com eles!” Disse um personagem sobre o enterro do traficante e da ex – freira.

 

(E, eu termino, que queria resumir dois episódios num post, mas não me é possível.)

Jack Taylor – Uma série à moda antiga

Série IrlandesaRTP2

Todos as noites, a partir das 22h 10’. 1º episódio – 6ª feira – 9 de Agosto

A ação decorre na República da Irlanda, na cidade de Galway. A cidade mais calma da Irlanda, segundo a polícia local, sediada na esquadra de Main Street.

 

Jack Taylor, antigo guarda da referida esquadra, e mencionada polícia local, da qual se demitiu, por demasiado compulsivo, não se coibindo de agredir um ministro, que apanhou em excesso de velocidade, ademais corrupto. Jack acha-se no direito de fazer ele próprio justiça, já que a dita cuja não funciona e a esquadra policial só para inglês ver. E sabe-se o odioso da ocupação / colonização inglesa na Irlanda.

 

À moda antiga, que este justiceiro reedita cenas de cowboy, no século XXI, em espaços e contextos urbanos. Com todas os recursos atuais, desde os telemóveis às pesquisas internautas. E no que lhe falta de conhecimentos, agora colmata com a ajuda de colaborador, que a ele se juntou no 2º episódio. Uma equipa: Zorro e Tonto. A que já implicitamente pertencia uma jovem policial da esquadra, Kate, mais ou menos também enamorada de Jack. Não lhe faltam namoricos, mulheres de certo modo embeiçadas no personagem e na lenda que à sua volta vem criando. Tal qual as personagens lendárias desses seriados antigos, sem esquecer Robin dos Bosques, a exercer a justiça em localidade à beira mar. Ele também tem a sua Marian, de nome Anne, namoro que certamente se irá reeditando cada episódio.

 

Frise-se que cada episódio se fecha em si mesmo como estrutura narrativa, sendo conclusivo no seu findar. As especificidades de cada um são estruturadas de modo que no final se conclui a estória parcelar. Ao modo do seriado, é executada a justiça. De maneira muitíssimo discutível, é certo, mas era assim que funcionavam os seriados antigos, em que os justiceiros ou as sequências narrativas se concluíam, habitualmente com a morte dos criminosos. Os xerifes mal funcionam e a Justiça, a verdadeira Justiça como Ideal de Democracia, quase nem precisa de existir. (Talvez perigosa esta ideologia! Nos tempos que correm...)

 

Alguns dos chavões habituais: ineficácia policial, malandros de alta estirpe em concubinato com os poderes institucionais; sede e pressa na aplicação da justiça; desprotegidos: crianças, velhos, mendigos, deserdados de fortuna, jovens em stress, vítimas dos opressores. Ingredientes que caldeiam o pano de fundo da atuação de Jack, em prol do Bem. Ele próprio também vítima desses malfeitores, que vai descobrindo, de quem leva valentes tareias, mas depressa se cura. Talvez o álcool, o infalível uísque irlandês, que não sei se cura as feridas exteriores, mas certamente queima as interiores. Insaciável alcoólico. E lá está ele pronto para outra, sete vidas, após mais uma golada.

 

E esse ideal de Justiça é por demais premente e sentido pela população, que face à ineficácia da verdadeira Justiça não hesita em criar os seus próprios meios de a fazer exercer. Perigosamente! E foi este o enquadramento do 2º episódio. E Jack e ajudante foram cruciais na resolução.

Adiante!

 

Série com muitos dos clichés antigos, ideologicamente muito pueril, mas que se segue com muito interesse! Jovem e atual na sua narrativa.

Ademais com excelentes atores!

E o icónico sobretudo da Guarda. Que Jack não devolveu e que usa habitualmente. Não despiu a farda!

“Não matarás, Jack!”

What happened to Amber?!

O que aconteceu a Amber?!

 

Pois, caro/a Leitor/a, julgo que ficamos sem saber.

Dado que a mini série, de apenas quatro episódios, terá terminado ontem, só nos resta mesmo esta dúvida não resolvida.

Nada. Nada de nada, praticamente. Estaremos quase como no início, não digo que tal e qual, pois não vi o primeiro episódio.

Desconhecemos o que aconteceu à adolescente.

 

Amber in. nordicnoir.tv.jpg

 

A narrativa sugere-nos hipóteses, por vezes julgamos estar no caminho da descoberta da verdade, mas surgem-nos outras descobertas, outras verdades e pouco mais de nada, além de que a rapariga saiu do comboio ou metro de superfície, dirigindo-se para o campo, escassos carros, sugestionando-nos hipotético entrosamento com a miúda, mas nada.

 

Tão próxima da realidade é esta narrativa, que facilmente nos identificamos com a angústia daquele pai, à beira da loucura, na incessante busca da filha desaparecida.

Não é fácil lidar com tal realidade, sabemo-lo pelos casos reais ocorridos, sem qualquer resolução.

 

Penosa é a morte de um filho/a jovem. Fazer o luto não é fácil. Mas quando ocorre um desaparecimento, sem qualquer solução, mais dolorosa é a ausência, sem possibilidade de fazer sequer o luto.

Persiste sempre alguma esperança, angustiada, como naquele pai, resiliente.

Há, ou surge periodicamente, alguma luz, ainda que em momentos fugazes, esvaindo-se como névoas. Uma centelha de esperança.

E, novamente, a escuridão: da incerteza, da falta, da falha, da dúvida, um vazio maior que o mundo, um buraco negro!

 

Sinceramente, sempre tive alguma crença que o guionista nos apresentasse alguma saída, alguma conclusão. Bem sei que é série, é ficção, mas talvez e precisamente por isso, uma solução mais positiva, dar-nos-ia uma perspetiva mais luminosa do enredo. Menos angustiante! Talvez menos verdadeira, é certo. Certamente mais falsa. Mas igualmente mais esperançosa.

Mas não sou eu o guionista!

 

Dúvidas que também me “assaltaram”:

- Como é que o presidiário soube do quarto da rapariga e dos desenhos na parede?!

- Para que conta transferiu ele o dinheiro?! Para os pais da rapariga morta?

 

Situações angustiantes:

- O modo de atuar oficial. Tão próximo, tão semelhante à realidade, que mói, que faz mossa.

- As descobertas realizadas fundamentalmente através de pesquisas e esforços particulares. Paralelamente e em contraciclo às oficiais, por sua conta e risco e, cumulativamente, sujeitos a prisão e a “pagarem” pela sua iniciativa. O que, aliás, aconteceu ao rapaz chinês, que acabou por ser deportado.

- E aquele telemóvel! E aquela voluntária!

- E a amiga da Amber...

- E aquele rapaz do cabelo ruivo...

- (...)

É de uma enorme desolação o desenrolar da narrativa, tão desolador e frustrante, que chega a doer, que mói, que machuca, de tão idêntico ao real, a situações acontecidas. 

 

Muito sinceramente gostaria que dessem continuidade ao desenrolar da mini série, especialmente com um fecho mais conclusivo e mais luminoso.

Perdoem-me, mas acho que o tema merecia.

 

Não! Não me aventuro a fazer como em “Hospital Real”, porque esta temática machuca, como já frisei.É demasiado entrosada na realidade. Em "Hospital Real" havia a distanciação temporal.

 

Até já, ou até breve!

 

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