Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Mini série italiana, transmitida na passada semana:
5ª e 6ª feira (6 e 7 de Agosto – 2020)
Baseada num acontecimento real, ocorrido nos finais de 1996, inícios de 1997: um naufrágio ao largo de Portopalo, no extremo sul de Itália, ilha de Sicília, acontecido no Natal de 1996. Morreram cerca de trezentos migrantes / refugiados, originários do Paquistão, da Índia e do Sri Lanka.
Uma série excelente, sobre um tema candente, a situação dos migrantes – refugiados, que enfrentando condições extraordinárias, risco de vida constante, fogem dos seus países de origem, normalmente em guerra ou convulsões diversas, na busca de melhores condições de vida na Europa, suposto Eldorado, procurando aportar através da Grécia ou da Itália.
Nela podem ser analisadas múltiplas e diversas perspetivas sobre esta temática, de seres humanos à deriva.
Naufrágio negado durante anos, nomeadamente por toda a comunidade de Portopalo, em que todos sabiam, desde logo e em primeiro lugar os pescadores, até ao presidente da câmara, presidente da cooperativa de pesca, passando pelo padre da povoação.
Só passados cinco anos e pela ação de um dos pescadores e de um jornalista do jornal “República”, de Roma, o assunto voltou à baila, provado e comprovado.
Tema que deu para muitos trabalhos de diversas naturezas e, no caso, esta excelente série, que é imprescindível rever, quando e para quem tiver oportunidade.
Dada a temática e por se basear em factos reais, interessante seria conhecer como se processou a própria realização. Perspetiva muito humanista na abordagem de várias variáveis em equação.
(Reconheço que hoje não estou nos meus dias para escrever, mas não queria deixar de recomendar, para quem não teve oportunidade de visualizar.)
Episódios 2, 3 e 4 e mais alguns episódios… E final!
(Notas Iniciais:
Caro/a Leitor/a
Estive vários dias com dificuldades de aceder ao trabalho com o computador.
Também não pude visualizar todos os episódios.
Todavia sobre alguns deles escrevi.
Por isso não pude deixar de publicar, apesar de tarde…
Espero que venha a gostar!)
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2º Episódio: Negócios…
Em Roma, Genaro trabalha de perto com Gégé, contabilista, gestor financeiro, motorista, seu braço direito e pau para toda a obra. Investe no imobiliário.
Com o sogro na prisão trata-lhe dos negócios.
E por negócios, sempre se lançou no mundo e encetou negociatas com um hondurenho, Joaquin, que se deslocou de jato privado a Roma, com a mercadoria, que se calcula o que será!
Face aos obstáculos colocados por outros negociantes, Genaro e esse tal de Joaquin não estiveram com meias medidas. Armam-lhes uma cilada num supermercado, onde os fazem matar a tiro, por uns capangas que se ausentam, após o trabalho efetuado.
Genaro e Joaquin encarregam-se de os arrastar para o açougue, onde os cortam aos bocados, como se fossem porcos ou vitelos, colocando os pedaços em sacos de plástico. Gégé faz as limpezas do chão e vomita na casa-de-banho, que ele é uma alma sensível e não é pessoa para carnificinas. Ainda tem que filmar Joaquin ameaçando possíveis concorrentes e mostrando a cabeça de um dos assassinados num saco plástico. (!!!)
Em seguida, ensacam esta nova ‘mercadoria’ em malas de viagem que irão lançar para o fundo de um lago.
Enquanto o sogro esteve na prisão, Genaro foi-lhe tratando dos negócios. Ao seu jeito, com a ajuda de Gégé.
Saído o pai de Azurra para prisão domiciliária, teve o genro que lhe prestar contas, não sem antes avisar Gegé, como gestor financeiro, de que ele deveria engrandecer a riqueza acumulada, omitindo o que Geny terá lucrado para si mesmo.
Mas o velho não é nada parvo e ficou desconfiado desde o início, naquele universo ninguém confia em ninguém e nem ele sabe da missa metade. Apertou com Gégé, após ter ameaçado o respetivo namorado e a filha e o contabilista vomitou novamente, desta vez que Genaro enganava o pai da mulher, seu sogro e avô do seu rebento.
E, por enquanto, para Genaro estas são duas garantias de que dispõe: a mulher, Azurra e o filho, Pietro, seus seguros de vida. Que, de contrário, a vida dele não valia um chavo!
Mas o sogro já está a par de tudo, das transferências que faz e de como os anda a enganar a todos: napolitanos e romanos.
Em Nápoles, Patrizia é contactada por um apaniguado de Scianel, que está presa, (afinal o Estado sempre intervém, digo); é-lhe pedida ajuda para ela procurar e interceder junto de Marinela, a ex-nora da antiga traficante de bairro, para que a jovem intervenha com um depoimento para libertarem a ex-sogra.
Patrizia que vive pobre como sempre, e o que quer é uma vida honesta para si e para os irmãos, com quem não pode contatar, informa Genaro que irá interceder, na condição de este arranjar emprego decente para o seu mano, que cuida das irmãs e que desempregado corre o risco de as crianças lhe serem retiradas pela assistência social e ela nunca mais as ver. (Repito, afinal o Estado age, contrariamente ao que eu tinha mencionado no 1º episódio. E também naquele meio há pessoas que o que querem é viver honestamente e não se iludem com riquezas e grandezas.)
Apesar de todos os pruridos e com o apoio e ajuda de Genaro, Patrizia vai à procura de Marinela, que acha num cabeleiro e que agora se chama Irene e tenta seduzi-la com uma mala com trinta mil, agora, trinta mil futuros, quando se concretizar o desfecho.
Veremos no que darão estes desfechos, e de como os entrementes se transformarão em tantos e quantos!
3º Episódio: Libertação
Culpa, Expiação, Arrependimento…
Este 3º episódio, de 5ª feira, dia 4, foi fundamentalmente dedicado a Ciro de Marzio.
Não ‘vive’ nem “trabalha” em Itália, nem quer negócios com italianos, ademais napolitanos. Pelo desenrolar da narrativa vai-se percebendo que ‘trabalha’ num País de Leste, dos Balcãs. Ainda pensei na Bulgária, mas deduzo que seja na Macedónia.
Dedica-se aos negócios mais problemáticos e horrendos: tráfico de mulheres, melhor, raparigas albanesas e heroína. Pelo meio, dinheiro falso.
Os esquemas hediondos e habituais: confiscação dos passaportes às moças; completo isolamento, na verdade, prisão domiciliária em casas degradadas, de onde expulsaram os moradores; exercício de ‘atividades’ em discotecas…
Ele, cada vez mais transfigurado, aquela cara de fuinha barbuda; cumpre e expia a sua pena fora da prisão, que, como disse a Genaro, não tem perdão.
Mladen, certamente um natural do país, é o seu sócio neste negócio, que perante o seu comportamento tão inabitual face ao contexto, lhe diz não o perceber. “Não bebes, não fornicas, vives numa pocilga que até enoja putas albanesas, tens medo dos teus conterrâneos. Desaparece! Não consigo ver o que o meu pai vê em ti!”
E este comportamento de Ciro, cada vez mais desesperado e fora de si, leva-o sempre mais fundo na sua expiação, que só lava com sangue.
Face a um negócio gorado em que se percebeu traído e tramado pelo sócio, não se ficou no meio termo.
Com atos de maestria, face ao ambiente criminoso em que sempre viveu, cada vez mais tresloucado, dirige-se ao ginásio do pai de Mladen, após uma conversa sem sentido, mata este, os outros adultos presentes e em seguida dirige-se ao apartamento do filho, onde ele se snifa e se prepara para ‘desfrutar’ de uma albanesa, mata-o também e aos seguranças que o guardavam.
Uma carnificina! Sem dó nem piedade.
Para exercer um supremo ato de redenção, de ‘justiça’, a seu modo, que de outra maneira a Justiça não funciona, ademais naqueles territórios e naqueles contextos e enquadramentos!
Retirado o passaporte da rapariga, de entre os que estavam confiscados, pouco importa que ela seja Ana e que o que ele tenha trazido seja de Elvana, ou o contrário; pega nela, mesmo nua com as roupitas debaixo do braço, entretanto ela veste-se, empresta-lhe o casaco, passam a fronteira da Macedónia para a Albânia, assenta num restaurante de comida rápida, contempla-a a comer com gosto, que muita fome há de ter passado, dá-lhe um maço de notas e um telemóvel e deixa-a no seu país, cumprindo assim talvez uma promessa a si mesmo.
A seu ver, tê-la-á libertado, ter-se-á sentido, de certa maneira, algo redimido, menos culpabilizado!
Que não pode esquecer-se que ele se acha culpado da morte da filha e aquelas raparigas, tão novas, só lhe poderão lembrar a sua, morta na segunda temporada às mãos de Mallamore, vice de Dom Pietro Savastano.
Mas por sua culpa, por seu pecado!
4º Episódio
'Quem com ferros mata…'
Os filhos que regressam a casa.
(Neste episódio a narrativa estruturou-se de forma mais complexa.)
Marinela sujeitou-se a alterar o depoimento de que resultou a libertação de Scianel, aliás DonaAnnalisa.
Patrizia serviu de intermediária, entregando-lhe o dinheiro restante.
Annalisa vem afogueada da prisão, desejosa de retomar o negócio de bairro que detinha, às ordens de Genaro, com quem volta a negociar, estabelecendo-se a quota e a percentagem de cada um. Nenhum confia no outro. Patrizia intermedeia e aconselha, novamente.
Ciro regressa encapotado, afinal sempre esteve na Bulgária, como me pareceu, pela Igreja Ortodoxa que surgiu nalgumas imagens.
Também quer recomeçar o negócio. Contacta o napolitano que fora à Bulgária, mas cujo trato ficara sem efeito, devido a terem levado dinheiro falso. Este é o neto do “Santo”, pelos vistos um emérito contrabandista de outros tempos. Enzo, assim se chama o neto, compõe uma trupe de jovens “esfarrapados”, cheios de genica para se lançarem no mercado, mas falta-lhes uma cabeça, um chefe que os comande, um ‘condottieri’ que os oriente nas batalhas. A oferta/pedido foi feita a Ciro.
Este é um general que precisa de um exército. Para entrar na guerra.
A ver vamos, que no final do episódio ele aparece naquela sua pose de desesperado…
Genaro está na mó de cima. Poderoso, mas sempre inseguro que estes ‘generais’ vivem em constante sobressalto, como no antigo Império.
Tem plena consciência que o sogro, agora solto, o quer apanhar.
Espera o célebre carregamento do hondurenho, que virá de barco.
Informa Gégé do facto, do onde e do quando. Barco “Esperanza”, bonito nome. Bandeira do Panamá.
Como veremos, dá-lhe informação falsa, pois uns quantos ‘soldados’, a soldo de Avitabile, este é o nome do sogro, vão ao molhe mencionado, hora e local determinado, mas nada de droga!
Entretanto já Genaro, com outros dois rapazes do seu bairro natal, recolhia o material no alto mar, entrando terra adentro por um braço de rio ou canal.
Acondicionado o produto em local isolado, depressa negoceia com calabreses desconfiados, mas com quem chega a acordo.
Quando Gégé regressa, de noite, a casa, nela à espera tem Genaro.
Não é preciso dizer ao que o chefe ali estava, nem como foi a admoestação do patronato.
Entregue o relógio, penhor de confiança familiar que Dom Pietro dera a Gégé, quando este se formara, foi com ele no punho, a fazer de soqueira, que Genaro deu em Gégé até lhe desfazer completamente a cara.
Não sabemos se o deixou morto, se quase.
Um verdadeiro mastim, este Genaro.
Lavadas as mãos, segue a sua vida, triunfante, rumo ao negócio combinado com os calabreses.
Mal sabe ao que irá!
Entretanto o sogro, Avitabile, já quase sufocara a própria filha, que, de facto, a raptara da casa do genro antes que ela fugisse, conforme Genaro lhe recomendara.
Genaro foi ao negócio, sim, foi ao negócio…
Mas também foi ao engano, com os seus dois jovens amigos.
No local do encontro combinado, mais uma vez se fez cemitério, local de morte. Os dois amigos aí ficaram estendidos.
E Genaro não ficou, porque tem os seguros de vida de que falei no capítulo anterior: Azurra, a mulher e Pietro, o filho.
Mas foi raptado, levado sob ameaça de arma, para outro local, julgo que uma propriedade isolada do sogro, onde uns seus capangas dele fizeram saco de pancada, nada que ele não tivesse já feito a outros.
Ficou um monte de carne amassada, ouviu ainda do sogro, que não suja mãos nem pés com sangue, que não o queria ver nem pintado fora de Nápoles, apenas no seu bairro natal, Secondliano, que todo o negócio da droga pertencia ao grupo de Avitabile, que ao hondurenho executaram com a mesma sentença que ele a outros fizera, cabeça cortada, e, a ele, Genaro, só não lho faziam, por causa dos seguros de vida!
E que o havia denunciado às finanças, anonimamente, sobre as empresas falsas e testas de ferro, para que fique sem um tostão.
(Tem sido assim que, apesar de tudo, a justiça italiana tem conseguido entrar nalguns destes esquemas criminais.)
E foram mesmo depositá-lo ao seu bairro natal.
Aonde também já chegara, desterrado e desiludido, Ciro.
Recomeço e nova parceria?!
(Entretanto já Avitabile ameaçara a própria filha, Azurra, sobre a hipotética e eventual possibilidade de Genaro a procurar. Que a tal acontecer e jurou “pela Virgem Maria”, mais uma vez a tal religiosidade exacerbada e supersticiosa, jurou que cortaria a cabeça ao genro.)
Como se depreende, a carnificina irá continuar.
(E eu que nas duas temporadas anteriores não me propusera de escrever…)
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Restantes Episódios…
A série nesta fase está quase a acabar a 3ª temporada. Na passada 6ª feira, dia 12/01, já decorreu o nono episódio. Presumo que sejam dez.
Destes episódios anteriores não vi vários.
Apenas visualizei o sétimo e o nono.
Com base no que observei, alguns dos aspetos sugestionados em episódios anteriores verificaram-se.
Ciro tomou conta daqueles jovens em busca de um chefe e conduziu-os a um mundo em que se sentem uns senhores.
Organizados e dirigidos por Enzo, estruturaram todo um negócio de distribuição do ‘material’, um exército de lambretas, levando o ‘produto’ ao domicílio dos clientes, como se fosse uma qualquer telepiza.
Intitulam-se “Sangue Azul”, não sei se por alguns dos chefes estarem ligados a uma qualquer nobreza italiana.
Mas entram em choque com outros traficantes já instalados, “Os Confederados” e a coisa deu para o torto.
O esquema habitual: ameaças, agressões, negociatas, mortes, assassinatos pelo meio.
Genaro chegou ao seu bairro napolitano feito num trapo. Voltou-se para Ciro, foi fazendo dupla com este seu compincha e reergueu-se, pronto a enfrentar o sogro, Avitabile.
Encontra apoio na mulher, Azurra, com quem quer recomeçar, encontra-se secretamente com ela, numa cave dum cinema. Pretende reatar os laços familiares e criar o filho.
E criá-lo para quê?!
E a propósito de criação…
A irmã de Enzo, também com um filho, Casimiro, um adolescente, desejoso de copiar o tio e os amigos, mas ela não quer que ele siga as pisadas do irmão. "Que ele sairá do bairro e irá estudar…"
Mas foi assassinada, enquanto experimentava um vestido e telefonava para o filho, preocupada com o que ele andaria a fazer.
Enzo, numa de vingança, é este o modus operandi desta gente, acaba por ser ele também ferido, enquanto atirava sobre um dos capangas principais dum grupo rival e dominante na zona em que concorriam no tráfico. (Don Edoardo, “O Charmoso”.)
Casimiro, ele também ferido, psicologicamente, por estes golpes de morte, resolve lançar-se também na aventura do crime.
E é vê-lo, na motoreta com outro amigo, ambos de pistolas aos tiros, pelas ruas da cidade, no final do 9º episódio.
E é assim a série.
Morrem uns. Renascem outros. A violência é como uma hidra de sete cabeças.
Cortam uma, nascem sete.
Aguardemos o décimo episódio.
(Mas ou eu esteja enganado ou acho que a série, apesar do investimento nela feito, não teve assim um impacto tão forte como teriam esperado.
Digo eu!
E eu também sou sincero. Gostei, mas não foi das minhas preferidas. Embora ache que ela é super, demasiado, realista.
E a propósito…
Quando se equacionarão políticas realistas para tratar estas problemáticas das drogas de um modo diferente?!
Que a forma como o assunto é tratado, deveras complexo, é certo, não tem resolvido de nada o problema.)
*******
Afinal a Série teve 12 episódios.
Nos três episódios finais, 10º, 11º e 12º, ocorridos dias 13, 14 e 15 de Janeiro, concluíram-se alguns aspetos que vinham sendo aflorados anteriormente.
Ciro afirmou-se como verdadeiro chefe e mentor do grupo de jovens criminosos dirigidos por Enzo, “Sangue Azul”. Sempre irmanado com Genaro.
Os conflitos com os grupos já instalados “Os Confederados” são permanentes.
A mão vingadora de Avitabile, sogro de Genaro, pai de Azurra, avô de Pietro, está sempre presente. Os crimes de todos e de cada um são mais que muitos, mortes e mais mortes.
Guerreiam-se, fazem acordos, cobram e pagam dívidas uns aos outros. Traem-se, na primeira oportunidade!
Patrizia intermedeia entre os vários grupos.
Scianel, Dona Annalisa, aspira a ser “Rainha de Secondliano” e fazer de Patrizia a sua Princesa. Denuncia, bajula, trai, na mira de alcançar os seus objetivos. (Acabei por não perceber o que lhe aconteceu.)
Azurra e o filho, Pietro, são negociados e trocados, para que Genaro fique com eles, após entregar vultuosíssima maquia em dinheiro.
Em todas estas trocas e baldrocas entre os vários grupos e interesses em confronto, sempre o papel de Patrizia.
A desconfiança, a traição, o ódio, os sentimentos maus, sempre presentes.
Os interesses, que os sentimentos bons não contam.
Dividem territórios para exploração dos negócios das drogas.
Teoricamente, chegaram a um acordo que satisfaria todas as partes.
Mas, mal puderam, todos traíram esse suposto e selado acordo.
No final, Ciro cumpriu o seu destino intuído.
Praticamente ofereceu-se como vítima, como cordeiro a ser imolado, sacrificado, em vez do seu alter-ego, Genaro. E foi este que, perante a ordem de Enzo, ainda que contrariado, disparou sobre Ciro e o matou, concluindo assim a respetiva expiação que ele vinha vivendo, desde que matara a própria mulher e deixara que lhe matassem a filha querida.
E a série terminou assim com a imagem de Ciro, baleado, e a escorrer sangue, a afundar-se e a descer nas águas para o lodo da baía de Nápoles!
… ... ... ... ... ... ...
E fica muito por contar?! Muitíssimo?!
Ora se fica!
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Como grupos dominantes, para uma futura, eventual e hipotética 4ª temporada, que não sei se haverá ou valerá a pena equacionar, que não sou visto nem achado, também não digo que me entusiasmaria muito, pois não foi de todo uma das minhas séries preferidas…
Mas não deixo de sintetizar que, do que observei, Genaro voltou à mó de cima, apesar de debilitado, digo eu, pela morte do verdadeiro amigo, Ciro. A mulher, Azurra, também o colocou de espada à parede, que ou ele abandonava aquela vida e se iam embora dali, Nápoles, ou ela o abandonava a ele. (Seria um ponto interessante a explorar, futuramente.)
O gangue “Sangue Azul” conquistou a independência e também ficou como um grupo relevante.
De entre “Os Confederados” as cabeças foram todas cortadas, Don Rudgero, de forma macabra, por dois irmãos, que ocupavam lugares subalternos naquelas hierarquias criminais, mas, desse modo, terão ascendido às cúpulas. (Não lhes fixei os nomes.)
(Não me apercebi bem o que aconteceu a Patrizia nem a Scianel, nem outros personagens menores.
Também não se perde nada com isso!
E volto ao que já frisei anteriormente.
Quando se equacionarão, oficialmente, políticas realistas para tratar estas problemáticas das drogas de um modo diferente?!
Que a forma como o assunto é tratado, deveras complexo, é certo, não tem resolvido de nada o problema.)
A RTP 2 inicia este novo ano de 2018, logo no segundo dia, com uma série que entra na sua 3ª temporada: Gomorra.
(No dia um, também apresentaram um excelente filme cuja ação também decorre em Nápoles: “Reality”. Também do realizador do filme “Gomorra”: Matteo Garrone.
Uma metáfora da vida real e de como um aspirante à participação no “Big Brother” italiano, “Gran Fratello”, de nome Luciano, frustrado pela sua não seleção, mas sempre convicto que iria participar mais tarde ou mais cedo, molda e adapta toda a sua vida segundo essa expectativa, a ponto de se alienar da realidade e viver em função dessa aspiração e sonho. Que, pelo que li, se baseia num facto real. Ironias do Destino em que a ficção e o mundo virtual comandam o real!)
Em Gomorra também realidade e ficção parecem não se distinguir.
Todo um veneno que corrói cada personagem. E é o veneno que os leva a matar mesmo os familiares mais chegados.
No final da 2ª temporada, Dom Pietro Savastano fora morto por Ciro de Marzio, a mando do filho daquele, Genaro Savastano, Genny, numa ação muito para além da assunção do controle do “território” do pai. O príncipe que quer o poder do rei, assumir o seu papel, um vinho envenenado bebido duma tragédia grega ou dum drama shakespeareano.
Personagens transfigurados, Ciro e Genny, aliados, vestidos de negro, barbas crescidas de luto por Dom Ciro, como corvos buscando carniça, irão dividir entre si o território dos negócios associados às drogas?
Ciro “agarrado” a Nápoles?
Genny, de visão mais alargada, prepara-se para se lançar em mais aventuras além de Roma.
Outros mais poderosos, que não sujarão tanto as mãos na carniça, Dom Anillo, acompanhado dos netos e Dom Eduardo Arenella, negoceiam com Genaro a divisão territorial.
Lembram a emergência do controle da zona norte de Nápoles, agora desguarnecida da autoridade de Dom Pietro e do seu clã: um exército dedicado ao crime, subitamente sem chefe.
Comentam os bairros mais rentáveis…
Todo um clã sediado num território que “governa” a seu bel-prazer, segundo leis e regras próprias, como se fossem os antigos príncipes dos reinos italianos.
Das autoridades estaduais, do Estado Italiano, nem vislumbre de ação!
Ambiente de ação da narrativa: os bairros degradados ou as modernas construções sem qualidade onde moram os cidadãos, todos vivendo à volta do mundo dos negócios ilícitos, consumidos no vício das várias drogas, que querem espalhar e alargar a outros horizontes.
De parte da população, pelo menos na série, não se percebe um qualquer contestar da situação. Pelo contrário, ainda agradecem quando os “Dons …” arranjam “trabalho” para os maridos ou filhos.
Aceitam como natural um modo de vida em que sempre se terão encontrado.
Os chefões da droga, pelo menos os que vivem em Nápoles fazem questão de viver nesses mesmos bairros, aonde também estão mais protegidos, como no seu feudo; em casas exteriormente tão ou mais degradadas que as dos seus soldados, clientes e apaniguados, mas interiormente extremamente luxuosas. De um luxo mais ou menos sofisticado ou cabotino, conforme a sua ascendência social e cultural.
Genaro faz questão de viver em Roma, também em luxuosa moradia, mas moderna, sofisticada e bem situada na capital. De onde controla os seus negócios, que pretende expandir e alargar, a partir do porto de Nápoles.
Agora, pai de um recém-nascido, aliás supremamente extremoso, marido exemplar, preocupado com a família e apaixonado, dialoga com a esposa sobre as suas ações, o ser mandante da morte do próprio pai. A mulher aceita com calma naturalidade a situação.
(A prisão do seu próprio pai, por denúncia de Genaro, o marido, já víramos que por ela também fora facilmente incorporada no seu modo de vida habitual. Como se fosse a coisa mais natural deste mundo.)
E responde-lhe a moça, que ainda não lhe fixei o nome: “Agora somos só nós, Genaro. É isso que importa!!”
E o que importa também realçar é que o seriado, pelos vistos, tem tido sucesso, que os produtores se arriscaram numa nova temporada. Estes enredos sobre crimes são quase sempre bastante apelativos!
Ainda e para terminar os comentários sobre o conteúdo genérico da trama, frisar a típica religiosidade dos personagens.
Uma prática supersticiosa, cheia de fausto e aparato, em que se destacam os funerais e as procissões. Estas são oportunidades para ver e ser-se visto, encenações de expiação pública dos pecados assumidos, de maceração dos corpos, mas também ocasião para ajustes de contas, trágicos e aterradores. Estes são lições, exemplos e mensagens, para a comunidade!
Sempre presente o Culto da Morte, oportunidade para exacerbar esse modo de cultivar a religião!
Há algum tempo que não escrevo sobre séries. Tenho visto algumas que a RTP2 tem transmitido, originárias de vários países europeus, mas não tenho escrito sobre elas.
Agora retorno. Com o retornar de “GOMORRA” na segunda temporada, iniciada na passada sexta-feira.
Novamente uma série italiana, após a transmissão de “1993” e anteriormente “1992”.
Em ambas, os assuntos fulcrais da vida italiana, nesses dois anos carismáticos.
A política, a baixa política, o surgimento de novos partidos e pretensos novos políticos; os negócios obscuros, as negociatas políticas, económicas e financeiras, a corrupção a todos os níveis; o mundo do crime tão presente em Itália, a sua ligação ao mundo político; questões sociais prementes na altura, caso da SIDA, o sangue contaminado importado e negociado; o julgamento de políticos e mafiosos, a luta de magistrados honestos para os levarem a Tribunal e cadeia… a publicidade e sua importância na criação de factos e políticos, o mundo do espetáculo, e dos media, especialmente a televisão, como forma de manipulação das massas… a célebre “Operação Mãos Limpas”…
Em “Gomorra”, essas mesmas problemáticas estão presentes ou latentes, mas destacadíssimas e exacerbadas as questões referentes ao mundo do crime e das drogas. A criminalidade violenta elevada ao seu clímax máximo!
Ciro, na sua ânsia de poder, dinheiro, notoriedade, de ambição e grandeza de menino pobre, alia-se a Dom Salvatore, no controle do negócio da droga e espalha o medo aterrador, mesmo entre os seus mais próximos e num ato tresloucado de desespero, mata a própria esposa, mulher que ama e mãe de sua filha que adora!
A sua luta contra o clã dos “Savastano” mergulha Nápoles no terror!
Genaro e Dom Pietro irão voltar…
Sobre esta série já escrevi sobre a primeira temporada. Dada a loucura assassina que irá certamente caraterizar o seriado, não sei se voltarei a escrever sobre o mesmo.
De qualquer modo, em princípio, irei acompanhando.
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Já que voltei a falar de Séries, lembrar algumas das que passaram na RTP2, que visualizei, apesar de não ter escrito sobre elas.
Duas interessantes séries alemãs, sobre a História recente da Alemanha:
“Amor em Berlim” e “Irmãos e Rivais”. Reflexões pertinentes da Alemanha sobre a sua própria História de algum modo, um “esconjurar e libertar” do seu passado! Um apaziguamento necessário e imprescindível!
Ah! E está também a ser transmitida, semanalmente, uma série histórica sobre Maximiliano de Áustria. Não perco os episódios aos domingos, no horário habitual, após o Jornal Dois, pouco depois das 22h.