Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Relativamente ao Post nº 366, intitulado “Seres Humanos e Animais ...” com um subtítulo que não vou transcrever literalmente... referi que:
“ Sobre este assunto ainda voltarei e também, e novamente, e ainda, com um excerto do Clássico Almeida Garrett, sobre que ando há muito para trazer outra vez ao blogue. Os Mestres são assim! Conseguem cativar-nos mesmo passados séculos!
E, porque se trata de um Clássico, de uma pureza de linguagem dificilmente excedível, não transcrevi o subtítulo desse post, mas sim um pedaço de uma frase, incluindo latim, que de um Clássico se trata... (Não concorda comigo?!...)
Por isso o subtítulo é: “Pulverem Olympicum da praça de Sant’Ana...”
Neste post, Nº 374, volto novamente a um excerto do livro “Viagens na Minha Terra”, de Almeida Garrett, da “Colecção de Clássicos Sá da Costa”, da “Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa”, 1ª edição 1963, Reimpressão 1966.
Lembrar-nos-emos que o Autor, neste Livro, relata, de forma muito livre e expansiva, a sua viagem a Santarém, ocorrida em 1843, a convite do seu amigo Passos Manuel, que aí residia, numa casa, atual museu e onde fora o antigo alcácer de D. Afonso Henriques.
Iniciou-se a viagem a 17 de Julho desse ano, uma 2ª feira, bem cedo, pela manhã.
“... Seis horas da manhã a dar em S. Paulo, e eu a caminhar para o Terreiro do Paço.”, refere o Autor.
Aí tomaria, juntamente com os seus companheiros de viagem, o barco “Vila Nova”, que se dirigia até Vila Nova da Rainha, já no Ribatejo, de onde seguiriam por terra, para Santarém.
Lembramos que, à data, ainda não fora inaugurado o comboio, os automóveis eram ficção, as estradas, escassas e más, viajar por terra, perigoso, e a melhor maneira de viajar era usando o barco, nesta altura já a vapor, uma grande modernidade. Que aproveitaria também a subida da maré, para chegar a montante, no Rio Tejo. Não sei se também usaria velame. O Autor que explana imensas situações, reflexões, considerandos e considerações, durante esta narrativa da sua viagem, neste aspeto é quase totalmente omisso.
Também não é o que interessa neste propósito narrativo.
De barco, seria o modo mais rápido, cómodo e seguro meio de viajar.
O que pretendo transcrever, e deixar à reflexão, são alguns trechos apresentados a partir da p. 12 do Capítulo I, que relatam o ocorrido na viagem de barco.
« ... Era com efeito notável e interessante o grupo a que nos tínhamos chegado, e destacava pitorescamente do resto dos passageiros,...
Constava ele de uns doze homens; cinco – eram desses famosos atletas da Alhandra, que vão todos os domingos colher o pulverem olympicum da praça de Sant’Ana,...
...
Voltavam à sua terra os meus cinco lutadores, ainda em trajo de praça, ainda esmurrados e cheios de glória da contenda da véspera.
Mas ao pé destes cinco e de altercação com eles – já direi porquê – estavam seis ou sete homens que em tudo pareciam os seus antípodas.
Em vez do calção amarelo e da jaqueta de ramagem, que caracterizam o homem do forcado, estes vestiam o amplo saiote grego dos varinos, e o tabardo arrequifado siciliano de pano de varas.
(...)
Ora os homens do Norte estavam disputando com os homens do Sul. A questão fora interrompida com a nossa chegada à proa do barco.
(...)
- Ora aqui está quem há-de decidir: vejam nos senhores. Eles, por agarrar um toiro, cuidam que são mais que ninguém, que não há quem lhes chegue. E os senhores, a serem cá de Lisboa, hão-de dizer que sim. Mas nós...
(...)
- A força é que se fala – tornou o campino, para estabelecer a questão em terreno que lhe convinha. – A força é que se fala: um homem do campo que se deita ali à cernelha de um toiro, que uma companhia inteira de varinos lhe não pegava, com perdão dos senhores, pelo rabo!...
E reforçou o argumento com uma gargalhada triunfante, que achou eco nos interessados circunstantes, que já se tinham apinhado a ouvir os debates.
Os Ílhavos ficaram um tanto abatidos; sem perderem a consciência da sua superioridade, mas acanhados pela algazarra.
Parecia a esquerda de um parlamento, quando vê sumir-se, no burburinho acintoso das turbas ministeriais, as melhores frases e as mais fortes razões dos seus oradores.
Mas o orador ílhavo não era homem de se dar assim por derrotado. Olhou para os seus, como quem os consultava e animava, com um gesto expressivo; e, voltando-se a nós, com a direita estendida aos seus antagonistas:
- Então agora, como é de força, quero eu saber, e estes senhores que digam, qual é que tem mais força, se é um toiro ou se é o mar.
- Essa agora!...
- Queríamos saber.
- É o mar.
- Pois nós, que brigamos com o mar, oito e dez dias a fio numa tormenta, de Aveiro a Lisboa, e estes, que brigam uma tarde com um toiro, qual é que tem mais força?
Os campinos ficaram cabisbaixos; o público imparcial aplaudiu por esta vez a oposição, e o Vouga triunfou do Tejo.»
São estes nacos de prosa, clara, límpida e esclarecedora, que deixo à V/ reflexão.
Omiti alguns pedaços desse belo texto, que merecem também ser lidos.
Todo o livro nos pode suscitar variadas reflexões. É um daqueles a que se pode voltar sempre! Para quem se interesse por Literatura, História, Política, Cidadania...
Hoje, neste Post Nº 303, divulgamos o Poema “Pinhão”, de Carvalho Marques, de Santarém.
“Pinhão”
“Arreganhando os dentes
Cachopas e rapazolas
Salpicam os morros
Que encurralam
As águas
Do rio Douro
Eles podam vimes
Eles sacham vinhas
Eles sulfatam bagos
As uvas
São o seu ouro
O seu tesouro
Tesouro
Douro...”
Carvalho Marques, Santarém
Ilustramos com uma foto original, cortesia de “Tâmara Júnior”, in blogue: “Andarilho de Andanhos”. Imagem de uma vindimadeira, em azulejo, de J. Oliveira, na estação ferroviária do Pinhão. Numa linha de caminho de ferro que é um Monumento!
Ao falar de Programas da RTP2, não posso deixar de mencionar o excelente e imperdível Programa “, "Visita Guiada", apresentado às 2ªs feiras à noite, cerca das 23h, após a exibição das séries, por Paula Moura Pinheiro, sempre acompanhada por reputados especialistas no assunto.
Ao longo dos vários episódios, têm sido divulgados monumentos, peças artísticas e museológicas de valor cultural inexcedível, verdadeiras obras de arte, das mais variadas correntes estéticas e diferenciadas épocas históricas, de contextos e funcionalidades diversas e de todo o País. Mas sempre de relevância inigualável, sob os mais diferentes pontos de vista. Pelo valor artístico, pelo peso histórico, pela função para que serviram ou ainda servem, pelo fim a que se destinaram, pelas personagens históricas a que estiveram ou estão ligadas, pela sua autoria…
E, de um modo geral, Obras relativamente desconhecidas de muitos de nós!
Lembro, por ex. dois dos mais recentes.
O que foi visualizado na noite de 20 de Julho, em que se apresentou a “Casa de Passos Manuel”, em Santarém, agora uma Casa Museu, instituída por um seu trineto, Canavarro.
E não posso deixar de relacionar com o que Almeida Garrett refere sobre essa casa, em "Viagens na Minha Terra", obra literária sobre que já me debrucei neste blogue. Aqui! .
“… entremos nos palácios de D. Afonso Henriques.” (…)
“Recebeu-nos com os braços abertos o nosso bom e sincero amigo, actual possuidor e habitante do régio alcáçar, o Snr. M. P.
Notável combinação do acaso! Que o ilustre e venerado chefe do partido progressista em Portugal, … viesse fixar aqui a sua residência no alcáçar do nosso primeiro rei…”
In pag.196, da mencionada obra literária, cap. XXVIII.
Sim, porque a referida Casa foi o alcácer que Dom Afonso Henriques conquistou aos mouros e onde posteriormente habitou!
No transato dia 1 de Setembro, repetiram o excelente episódio sobre a “Manutenção Militar”. Extraordinário documento histórico, que passará certamente despercebido a quase todos nós!
Que não se deixe perder, desbaratar, apodrecer, tão valioso acervo de património industrial, para que dentro de alguns anos, alguns dos nossos queridos e iluminados governantes, não usem esse abandono como pretexto para o venderem para um armazém/shopping, de alguns endinheirados de qualquer nacionalidade…
Não deixe de ver este Programa, já amanhã, 2ª feira!
Está a decorrer a Feira do Livro, de Lisboa, na sua 85ª edição, no espaço tradicional, Parque Eduardo VII.
É um local de visita obrigatória, para quem goste de ler, folhear livros, ver novidades, passear… e eu estou a propagandear, mas já lá não vou há alguns anos… principalmente por comodismo.
Mas, nos anos setenta, principalmente a partir de 74, quando estudava na capital, confesso que me perdia na Feira e nos saldos… para além dos catálogos e todo o tipo de panfletos e acessórios das edições.
E, nos “Livros do Dia”!
Mas como estamos nesta época, resolvo partilhar convosco o livro que estou a (re)ler, de que apresento imagens digitalizadas da capa e contracapa:
Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett; Editora Livraria Sá da Costa, 1ª Edição, 1963; Reimpressão, 1966.
Não vos vou falar nem do Autor, Almeida Garrett, 1799 - 1854, possuidor de uma atribulada biografia, que de algum ou diferentes modos transpôs para a sua Obra, notabilíssima, sendo Autor de uma bibliografia extraordinária.
Viveu em pleno os tempos conturbados dessa primeira metade do século XIX, enquanto Homem, Cidadão, Político,… paralela e concomitantemente publicando as suas Obras, precursoras e introdutoras da Modernidade. É considerado o “Pai do Romantismo” em Portugal.
A minha pretensão é simplesmente sugerir a leitura da Obra mencionada, 1846, um clássico da Literatura contemporânea.
Esta edição tem um excelente prefácio e notas do Professor José Pereira Tavares, datado de 1953 e explanado em quatro momentos: 1 – “Escorço da biografia de Garrett”, 2 – “ A Obra”, 3 – “História das “Viagens” ”, 4 – “A nossa edição”. E o Prefácio dos Editores de 1846.
Só após, se inicia a Obra propriamente dita, até ao Capítulo XLIX.
Estou a iniciar a leitura do Capítulo XXVII, quando, na narrativa, o autor/narrador chega a Santarém.
O livro lê-se relativamente bem, sem pressas, lendo e refletindo, interrompendo, intervalando, ao sabor da narrativa, das considerações e divagações do Autor, das notas de rodapé. Os capítulos são curtos, o exemplar facilmente manuseável.
Exige, contudo, algum conhecimento do contexto espácio temporal, cultural, social e político em que se desenrola a ação.
Mas… e quando não se conhece algum significado, é sempre bom ter um dicionário e sobre os assuntos, uma enciclopédia ou a net também ajudam.
Aprende-se muito, para além da riqueza verbal e ideativa que o acompanha e que nele se explana.
O enredo romanesco, o romance propriamente dito entre Joaninha e Carlos, começa bem tarde na trama, nem sei mesmo se será a parte mais importante... Os diálogos dessa parte da narrativa são muito claros, transparentes, acessíveis, simples e compreensíveis, lembrando muito os do teatro, ou não fosse Garrett o criador do teatro moderno em Portugal.
Ao ler esses excertos, só imagino uma peça de teatro, de que tenho saudades, aliás. A televisão praticamente não transmite e é pena!
Concretamente, o exemplar de livro que possuo tem alguma história associada.
Ganhei-o, sim foi ganho num concurso promovido pela antiga Emissora Nacional, não sei se nos finais de sessenta, se já no início de setenta do século XX, de qualquer modo antes de 74.
Foi dos primeiros livros meus, para além dos escolares, que os meus pais, apesar das dificuldades da época e dos sacrifícios que tinham que fazer para eu poder estudar, sempre fizeram questão de me comprar e que ainda guardo com carinho e estima.
Nessa época, anos 60 / primeira metade de 70, ter livros próprios era um luxo!
Por todas e as mais diversas razões, económicas, principalmente, mas também sociais e políticas, frise-se!
Por isso mesmo, quando foi a explosão de Liberdade após 25 de Abril de 74, a 1ª Feira do Livro em liberdade foi uma Festa!
Voltando ainda a este exemplar que possuo foi para mim uma enorme satisfação ao obtê-lo, não só pelo concurso, algo sem importância certamente, qualquer coisa como responder a alguma pergunta ou tema de que não me lembro, mas cuja resposta era “Lourenço Marques”, que anotei na 3ª página do exemplar. Só me esqueci de apor a data…
Eram tempos em que havia falta de tudo, não vivíamos, nem vislumbravamos viver alguma vez numa sociedade como a atual, nomeadamente no que concerne ao consumo e revolução tecnológica, às mudanças políticas e sociais.
Seria pura ficção científica imaginar sequer que poderia estar algum dia a comunicar neste “blog”! !!!!!!!!!!!!!!!!
Por isso, à data, ter um livro meu, para além dos escolares, e no âmbito da Grande Literatura era estar no píncaro!
Contudo e pelo que expliquei anteriormente, algum desconhecimento do contexto espácio temporal, cultural, social e político em que se desenrolava a ação; falta de vocabulário, praticamente nulos recursos de pesquisa, tive alguma dificuldade em ler e compreender a Obra.
Essa é uma das razões por que estou a reler o livro.