Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Pessoa Amiga (Drª Deolinda Milhano / “Momentos de Poesia” – Portalegre) chamou-me a atenção que duas quadras integradas neste livro que editei, enquadradas no capítulo “Cantigas da Prima Teresa” seriam de Autores conhecidos. De Afonso Lopes Vieira e de João de Deus.
Através da internet, consegui confirmar o facto. (Parabéns pela perspicácia! E Obrigado!)
“A palavra saudade / Aquele que a inventou / A primeira vez que a disse / Com certeza que chorou.” (pag. 53 “De altemira fiz um ramo…”)
Esta quadra é de autoria de Afonso Lopes Vieira. Confirmado, via net. Não sei a que livro pertence. Inclino-me para “Poeta Saudade” – 1903. Já procurei nos meus livros do ensino primário, mas não encontrei. Afonso Lopes Vieira é um dos Autores consagrados que mais figura nos antigos livros da primária.
“Quem teve a grande desgraça / De não aprender a ler / sabe só que se passa / No lugar onde estiver.” (pag. 59 “De altemira fiz um ramo…)
Da autoria de João de Deus. Também confirmado via net. João de Deus também é um dos Poetas consagrados que mais aparece nos mesmos livros da antiga primária. Mas não encontrei esta quadra nem sei a que livro pertencerá.
Mérito dos Autores, que sendo consagrados e eruditos, conseguiram ser igualmente populares.
A respetiva Poesia é popular tanto na sua génese, a montante, como igualmente a jusante, na sua divulgação: público - alvo. Para a sua construção, estes Poetas beberam na Poesia Tradicional, tanto na forma como no conteúdo.
Inspiraram-se no Cancioneiro Popular, poetando segundo os mesmos moldes, nos temas abordados e também pelo modo e como o fizeram formalmente. Daí a sua aproximação ao Povo, tornando-se muito populares e conhecidas as suas produções poéticas.
Por outro lado, também beneficiaram do facto de serem muito divulgados nos livros oficiais da escolaridade. Nos livros únicos e obrigatórios em que estudei, editados nos anos cinquenta e sessenta, Estado Novo, lá figuram estes dois Poetas com variada frequência.
Nos livros em que minha Mãe e Prima Teresa terão estudado, nas correspondentes Primárias, nos anos trinta, no início do Estado Novo, não sei se terão figurado, que ainda não consegui obter estes livros para consulta.
A quadra de A. L. Vieira já a localizei num livro deste Autor: “Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa”, editado por António Manuel Couto Viana, Veja Editora, 1998.
Esta quadra tem duas versões. Para além da já transcrita, mais antiga, também figura uma segunda versão diferente nos dois últimos versos: “… /… / por ser palavra tão doce, / ia chorar, não chorou.”
Mérito também da Prima Teresa que sendo uma Poetisa Popular, não erudita, incorporou na sua narrativa, na sua Sabedoria, na sua Cultura, estas bonitas quadras de Poetas eruditos e consagrados.
Aliás, como muitas outras quadras destes e outros Autores, o Povo integrou-as no seu saber, no seu conhecimento, como refere o editor mencionado na obra citada e outros autores também.
As pessoas teriam ou não consciência da respetiva autoria, aliás provavelmente pouco lhes importaria tal facto. Era mais uma das “cantigas” a fazer parte do reportório do respetivo “cantante”, que a utilizaria quando precisasse nos bailes e arraiais em que participasse.
Este post é ilustrado com algumas fotografias, originais de D.A.P.L., 2016. Lamento, mas não consegui enquadrar todos os poemas com fotografias originais.
Também, para documentar a "flor de mandacaru", que eu não sabia o significado, pesquisei na net. Mandacaru é um tipo de cacto. Também tenho um exemplar deste tipo de plantas, cuja flor apenas floresce por um dia. Plantei-a em 2015. A primeira vez que deu flor foi nesse mesmo ano, pela noite de São João: 23 para 24 de Junho. Em 2016 não sei se deu flor ou não. Não tive oportunidade de presenciar.
Neste "Post" evocativo do “Dia da Mãe”, que importa se ainda publicado em Abril, se os “Dias da Mãe” são todos os dias?!
É ele constituído por “Quadras Tradicionais”, e Fotos Originais, e dedicado a todas as Mães, sendo ou não biológicas. A todas as Mães de Afeto.
À nossa Mãe, à Mãe dos nossos filhos e filhas, à Mãe da nossa Mãe, à Mãe da Mãe dos nossos filhos e filhas, às Mães de todos e de cada um de nós. Às Mães ainda presentes e às Mães a que nos lembra o travo doce e amargo da Saudade!
Escrever um texto sobre a temática supracitada é algo que venho delineando há algum tempo, mesmo ainda antes de ter sequer o blog.
Pensara, primeiro publicar sobre o assunto em suporte de papel.
Após, termos criado o blog, a respetiva divulgação simultaneamente neste enquadramento, passou a ser também um objetivo. Só que, escrever, por vezes traduz-se num parto difícil.
Já pesquisara sobre o assunto por várias vezes, recolhera documentação… Mas houve diversos condicionalismos que impossibilitaram a escrita: falta de tempo, mudanças de atividades, viagens e, algo que por vezes me atormenta, não localizava as fotos nem o manuscrito onde constava o texto original que serviria de mote para o assunto a abordar. Finalmente, localizei as fotos e encontrei o manuscrito, que transcrevi para computador.
Esse texto, escrito à mão, foi a transcrição do que a prima Teresa “Boa Nova” me contou em 1987, sobre como eram “As Maias”, em Aldeia da Mata, ao tempo da sua juventude.
Mas a inércia continuava… (A inércia, não a Dona Inércia de que também já falei neste blog, que essa, abalou...)
Outra questão prendia-se com a publicação das fotografias na net, da recriação que foi feita das “Maias”, julgo que em 1984, dinamizada pela prima Teresa com a colaboração de outras senhoras vizinhas da Rua Larga e que documentei fotograficamente.
Mas porquê essa hesitação na divulgação das fotos?!
(Algumas das participantes na recriação das "Maias" em 1984.)
Como todos sabemos, o que publicamos na net, para ser lido ou visualizado em “sinal aberto” deixa de ser nosso. Passa a domínio público.
Por outro lado, as fotos envolvem pessoas, na altura miúdos e miúdas, atualmente adultos e, na minha perspetiva, para divulgá-las acho que deveria pedir autorização às próprias. Só que, na prática, esse aspeto tornou-se na verdade impossível de concretizar, em tempo útil.
Em contrapartida, abordar a recriação das “Maias” e não apresentar fotos era empobrecer muito o assunto. Nem faria qualquer sentido.
E um dos objetivos deste escrito é também homenagear todas as pessoas participantes nessa recriação com realce para a maior dinamizadora do evento.
E as fotos são bastante sugestivas.
(Foto do grupo que foi colher "boninhas".)
De modo que, atrevi-me a publicar, digitalizadas, algumas das fotos tiradas na altura aos participantes nesse acontecimento, miúdos e miúdas, agora senhores e senhoras, alguns certamente já com filhos na idade que eles teriam à data do mesmo. As fotos não são nenhum prodígio de técnica ou primor de estética, valem fundamentalmente pelo seu valor documental, por retratarem momentos fugazes da Vida e do quotidiano, como tal irrepetíveis. Valem pela sua singeleza, simplicidade, mas também extraordinária comoção que nos podem despertar, pois, enquanto vivos, gostamos sempre de nos recordarmos nos momentos de infâncias felizes e as pessoas mais velhas que participaram, e já cá não estão, deixam-nos sempre muita Saudade.
Penso que as fotos não deixarão ninguém que as visualize, indiferente.
E será que toda a gente ainda se reconhece nas imagens apresentadas?!
(Outra imagem do grupo que foi às "boninhas".)
De qualquer modo e após ter refletido e tomado a decisão de expor as fotos, se alguém de entre os que nelas estão presentes não concordar com a respetiva publicação, pode dar-me conhecimento e eu retirarei a foto do modo público. O meu mail segue anexo também para esse efeito. (fcaritamata@hotmail.com)
E com todos estes hiatos, Maio seguia o seu percurso e este texto teria que ser publicado neste mês e mesmo assim já seguia atrasado, pois a temática enquadrar-se-ia melhor no início do mês…
E vamos então às “MAIAS”…
Estas festividades também designadas por “MAIO”, conforme as regiões, são uma tradição muito antiga, de raízes pré-cristãs, sendo-lhes atribuídas origens na cultura romana e também em rituais celtas, milenares, portanto.
Como em muitas outras tradições dá-se um processo de integração de diferentes padrões culturais, verificando-se um processo de aculturação.
Durante algum tempo, nomeadamente na Idade Média, não foram bem aceites as respetivas manifestações, chegando a serem proibidas em Portugal.
Também num contexto cristão foram de algum modo integradas noutro tipo de festividade, com realce para as Festas da Santa Cruz, que atingem grande expressividade nalgumas localidades portuguesas, com especial destaque para Barcelos.
Na Aldeia, também se mantém a tradição de enfeitar a “Bela Cruz”, no início de Maio, nos cruzeiros de Santo António e de São Pedro, como ainda este ano aconteceu.
Mas retornando às “Maias”… que, ancestralmente, celebravam o início da Primavera e o final do Inverno, ainda que na vida atual, desligada dos rituais agrícolas esse significado possa não ser consciencializado.
Continuam ainda a ser lembradas e comemoradas, num contexto de cidadania atual, em diferentes localidades do Continente, de Norte a Sul, nas Ilhas e também em Espanha.
Das que conheço, que ainda se realizam, ocorrem na Cova da Piedade, Romeira, no 1º de Maio e na cidade de Portalegre, que integrou esta tradição precisamente nas festividades do “Dia da Cidade”, a vinte e três de Maio, conforme documento no início do post.
Mas na pesquisa efetuada, vi referências a festas no Minho, Trás-os-Montes (Mirandela, Bragança), Óbidos, Beja e várias terras do Algarve, para além de localidades dos Açores, onde as “Maias” também são festejadas.
(In: Mais Beja - Associaçãp para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja.)
A forma de manifestação desta festividade ainda que se processe de modos diversos, conforme as localidades, contudo tem aspetos comuns. O principal é o recurso aos enfeites confecionados com flores, sejam as flores das giestas amarelas, a que em muitas zonas se chamam também maios e as boninas, que na Aldeia se nomeiam “boninhas”, ou seja os malmequeres amarelos.
Com diferentes características lá estão as flores amarelas, seja em ramos, em coroas ou em cordões, colares e pulseiras.
(A confeção dos enfeites.)
(A prima Antóna Caldeira observava e o Ti Tonho Rei, que me inspirou para um poema que já coloquei neste blog, guardava.) ( aqui)
Mas para quem quiser saber um pouco mais sobre o assunto, deixo, no final, sugestões de algumas ligações para pesquisa…
E vamos então… finalmente, ao relato do que me foi contado pela prima Teresa Ferreira Belo, mais conhecida por “Teresa Boanova” sobre o festejar do “Maio” em Aldeia da Mata, nos anos quarenta do século XX.
« O Maio de 1940 era assim…
Juntavam-se as cachopas todas, iam colher as boninhas e fazia-se o “Maio”.
Vestia-se a rapariga que fazia de “Maio”, com uma saia rodada, uma balsa para fazer saia balão e o grupo a cantar ia atrás. O “Maio” ia vestido de branco, com uns cordões amarelos ao pescoço, pulseiras nos braços e grinalda na cabeça. (1)
E cantava-se:
Oh Maio, já lá vai Abril e Maio que a nossa mãe não amassa.
Cantamos uma cantiga, enquanto a fome passa.
Dá dez réis ao Maio para comprar melões
Que as vossas casas são uns casarões.
São uns casarões, umas casarias
Dá dez réis ao Maio, para comprar melancias.
Oh Maio, Oh Maio, Maio das cachopas
Para onde vai o Maio? Vai por essas barrocas.
Oh Maio, Oh Maio, Maio dos anjinhos
Para onde vai o Maio? Vai por esses caminhos.
Oh Maio, Oh Maio, Maio das solteiras
Para onde vai o Maio? Vai por essas barreiras.
Oh Maio, Oh Maio, Maio das casadas.
Para onde vai o Maio? Vai por essas tapadas.
No intervalo dos versos dizia-se, “… Dá dez réis ao “Maio” para comprar melões…” e outras vezes dizia-se. “… Já lá vai Abril e Maio que a nossa mãe não amassa…”
As pessoas das lojas davam rebuçados, alguns mais ricos, umas frutas, que eram divididas pelo grupo, que já andava com fome da cantoria…»
(Teresa Boanova, 1987/08/29)
(1) - Os cordões, as pulseiras e a grinalda eram feitos com as boninas enfiadas com uma agulha numa linha.
(Enfiando as "boninhas" na linha, com a agulha. Destaca-se a D. Dolores exatamente nessa função.)
P.S. –
Este é o texto sobre a temática em epígrafe e saindo ainda em Maio…
Abordando o assunto das “Maias”, com destaque para Aldeia da Mata.
Homenageando todas as pessoas participantes, com especial lembrança das que já cá não estão… Realce à prima Teresa, a dinamizadora desta atividade e de outras ligadas à tradição popular.
Mas também a D. Dolores, em plena atividade, conforme a foto documenta e a prima Antónia Caldeira e o Ti Tonho Rei, mais observadores e ainda D. Maria dos Remédios, também participante na confeção. Já todos ausentes.
E, para finalizar, haverá melhor maneira de homenagear as Pessoas, que não seja pela lembrança das suas realizações construtivas?!
Parabéns e obrigado a todos os participantes, miúdos e miúdas, à data; atualmente Senhores e Senhoras, pois sem as respetivas participações o "post" ficava mais pobre. Espero que se revejam com Saudade e que gostem!
Das Pessoas mais velhas participantes, também um obrigado muito especial a D. Maria Belo, graças a Deus, entre nós.
Um dia, pode ser que se publique uma versão do tema, em suporte de papel, de modo a alcançar outro tipo de público leitor.