Os cardos são nardos!
Os cardos são nardos!
Os cardos são nardos,
Nesta Primavera.
As urzes floridas,
As urzes floridas
São as mais queridas,
Desta nossa terra.
Searas, tão lindas!
Searas, tão loiras.
No suor do rosto
dessas lindas moiras.
Pão que regaste
Pão que ceifaste
E outros comeram…
Campos floridos,
Amados, queridos,
Sois tão lindos,
Na Primavera…
Lá vem o Estio.
Lá vem o Verão.
E, seja por destino,
Seja por condão,
Os campos floridos
Não sei onde estão.
Só vejo a terra madrasta
Que nos dá o pão,
Os campos sequinhos,
De água e de grão.
Seja por destino,
Seja por condão,
Os campos floridos
Não sei onde estão.
Não sei… Não sei
Onde estão!
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Escrito em 1973? Na minha Aldeia – Alentejo
Provavelmente escrito nesta fase de início de Verão, transição da Primavera , em que os campos alentejanos de sequeiro, a maioria na época, deixavam a garridice primaveril e ganhavam as tonalidades amarelas e acastanhadas, resultantes dos pastos e ervas secos.
“Sequinhos” será um regionalismo, significando que estavam muito secos, sequíssimos.
Adeus: A Deus
Nos fios do telégrafo, do telefone
Aos magotes, em fila, empoleiradas
Já se juntavam as andorinhas.
Numa chiadeira ampliada a microfone
Chegando-se umas às outras, encostadas
Quase enchiam várias linhas.
Linhas, tantas linhas
Percorrendo as folhas dos cadernos…
Carinhos de cuidados sempre eternos.
Caminhos de letras, a soletrar
A descobrir, a conjugar
Formando palavras, ideias
Compartilhando, trocando, vivendo a meias
Amigas, amizade, de amar.
E, as andorinhas sobre as linhas, a chilrear
A soletrar.
E, adeus disseram… palavra difícil de achar
Mais difícil de dizer.
Adeus… Até mais ver!
Haveremos de voltar.
E partiram sobre o mar.
Seguiam o apelo que as chamava
As chamava sobre o mar…
Era o cheiro das searas
O gosto de amadurar.
Era o cantar das cigarras
Pedindo largar de amarras
Necessitando voar.
E, ei-las a navegar!
Largar âncora, deixar porto
Aterrar. Chegar. Aeroporto.
Nova âncora lançar.
Dividir-se: entre o ir e o ficar.
Adeus. A DEUS!
Haveremos de voltar…
Escrito em 1987.
Publicado em: Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa – 1º Concurso Poético – Vol. I – “ EU MORO NA MINHA MÃE” – Instituto Piaget -1990
Branco, branco de cal, sempre na tela
Nos povoa memória, nos enche a vista.
Rodapé azul, grená, barra amarela
Cultura de povo, nascente de artista.
Castanho ocre da paisagem ressequida
Verde cinza dos montados e olivais
Preto de viúva, primavera já esquecida
Florescente no seu tempo até nos matagais.
Searas verdes, boninas, rubras papoilas
Giestas, urzes, jeans em rosadas moçoilas
Apanhando ramo d’espiga nos trigais.
Trigo louro, talha barroca num altar
Azulejo, azeite, tinto, pão alvar
Branco absoluto, desejo de mortais!
Escrito em 1988.
Publicado no Jornal “Fonte Nova” em 22/09/1988.