Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Acontecimento mediático, com jornalistas à porta do tribunal, repórteres, TVs e rádios, que esta família, o facto de ser a herança de Veronica e o tipo de situações que envolve, brigas entre irmãos, chama a curiosidade pública e mediática.
“Este julgamento tem o objetivo de verificar a validade do testamento que Veronica Gronnengaard redigiu a favor de Signe Larsen.
O queixoso é Frederik Gronnengaard.” Foi declarado, na abertura da 1ª audiência.
E vou narrar, dos acontecimentos, apenas alguns factos essenciais.
“ A Casa é para si, Signe!” A partir do documento assinado por Veronika, “testamento em leito de morte”, em 24 de Dezembro de 2013.
“Gronnegaard é sua!” E estas frases proferidas como sentença, pelo Juiz, no final do julgamento, dão-nos o respetivo veredicto.
Mas foi interessante verificar a sensação de vazio que perpassou em todos, muito especialmente em Signe.
“Eu gostava de ficar sozinha”, disse para o namorado.
E sozinha ficou, que dos irmãos, que já a haviam abandonado há muitos anos, apenas Emil dela guardara lembranças e a estimara, mesmo este lhe arremessou:
- “Nunca mais nos contactes!”
E a família a que sempre pertenceu, que a criou e amou, também se desfez.
“Não há mais nada a dizer!”, disse Lise para John. “É melhor arrumares as tuas coisas. Quero-te fora de casa, esta tarde.”
E foi esta solidão e vazio, esvaziamento de almas, que se sentiu no final do julgamento e episódio. Em todos os protagonistas. (Até eu próprio senti isso, curiosamente!)
Frederik, que sempre supusera ganhar facilmente a causa, afinal é um advogado inteligente, esperto e experiente; afamado, rico e poderoso; capaz até de influenciar, condicionar e manipular notícias; de estruturar toda uma defesa, com base em falácias sucessivas, que, supostamente, e tudo dava a entender que sim, que conseguiria puxar o resultado para o seu lado...
Pois Frederik perdeu a causa.
Perdeu, primeiro, a frieza cínica, quando leu a carta da mãe, datada de 30 de Junho de 2011, dirigida ao advogado Ole, em que esta declarava Signe como herdeira do tão famigerado Solar! Afinal a mãe não estava fora da razão, quando assinara o documento de 2013, nem John andara a pressioná-la. Fora a Mãe, sentindo-se frustrada, talvez culpabilizada por não ter criado Signe, que a queria compensar.
Ele que baseara toda a sua ação jurídica, no sentido de rasteirar John, treinador de andebol, no pressuposto de que ele manipulara e obrigara a Mãe, a dar a Casa à filha de ambos. Só que o treinador tinha uma arma de ataque à baliza do adversário. A célebre carta, que caiu que nem bomba no tribunal, estilhaçando todas as jarras e todas as flores.
E Frederik não soube perder. E, após o veredicto, ainda disse qualquer coisa ofensiva a Signe, como aliás em todo o julgamento, pois só se baseara em mentiras.
E, esta, que passara ambas as audiências a ouvir as mentiras do irmão e da irmã, não se conteve.
Exaltada, exasperada, atirou-lhe uma tremenda bojarda que o deixou completamente KO e desvairado. Que o Pai dele, Carl, era homossexual e que fora ele que abalara para a Califórnia, com outro homem e não Veronika que o expulsara.
(As palavras exatas não terão sido precisamente estas, mas a ideia base foi.)
E proferidas como arma de arremesso tiveram enorme impacto em todos os presentes, nomeada e muito especialmente em Frederik, que, perdendo completamente as estribeiras, saiu desvairado do tribunal e de cena.
Convém dizer que ainda retirou a queixa, cena que não vimos, mas de que o Senhor Doutor Juiz nos informou, antes de declarar o veredicto, em que anunciava que a Casa, o Solar Gronnegaard, era pertença de Signe Larsen.
Solar, aonde, no final do episódio, veríamos chegar Frederik, a pé, desencabelado, desgrenhado, encaminhando-se para o célebre palheiro, onde ele encontrara o Pai enforcado na trave mestra.
(Afinal, e reportando para um caso mediático de que recentemente se tem abusado tanto na “faladura”, não é só no Alentejo que os desesperados se enforcam, parafraseando Régio!)
E, ainda, antes de findar esta narração, como sempre lacunar, parcelar, pessoal e enviesada, quero citar palavras de Gro Gronnengaard, para o seu amante Robert, no final do primeiro dia de audiência.
“ – É uma loucura estar ali em exposição, a olhar para a minha própria vida!”
E esta frase proverbial aplicar-se- ia a todos os protagonistas!
E não pode faltar a “sentença” moral, a moralidade.
Não teria sido melhor que os intervenientes tivessem chegado a acordo, a consenso entre eles e tivessem partilhado todos, tudo o que tinham?!
Que tivessem sido Altruístas?!
Nesse aspeto, só Signe teve esta qualidade, este sentimento, perfilhou este Valor: Altruísmo. Só ela apresentou uma proposta em que todos compartilhavam tudo, dividindo e não querendo tudo para si.
Sim, porque Frederik queria a Casa, dispensava as “Obras Artísticas”, para serem vendidas, que não lhes tinha valor estimativo e lucrarem. Dividindo o dinheiro. Dando ao irmão Emil, de que sabia até o valor exato que a Mãe lhe mandara para a Tailândia, dando à irmã Gro e omitindo completamente Signe, que não considerava sequer irmã, nem da família.
Emil, o que queria era dinheiro líquido, “Money! Money!”, para esturrar na Tailândia e pagar à respetiva máfia, a que pedira emprestado para “comprar uma ponte!”, e continuar “o seu estilo de vida”!
Gro, com a célebre Fundação, de que a Matriarca nunca assinara os papéis, sobre que ela falsificara a assinatura, acabava por querer tudo para ela e para as suas “Altas Culturas”. De facto, os irmãos acabavam por ser deserdados.
Todos eles se aproveitavam da “ingénua” Signe, como Frederik a categorizou.
De facto foi ela a única que equacionou uma proposta, contemplando todos como irmãos e nela incluindo também Thomas. Que podia ficar na sua “Cabana do Pai Tomás”!
Não voltei a escrever sobre a Série, desde o 2º episódio, apesar de ter visualizado os episódios três, quatro e cinco. Tentarei abordar algumas questões do enredo, de forma lacunar, diga-se.
A partir do terceiro episódio, foram-se criando e/ou estreitando laços entre os irmãos, foram-se congeminando conluios entre as partes, no sentido de articular o modo de cada um obter o máximo da herança para si mesmo e os respetivos interesses egoístas.
Até tudo explodir.
E aqui aproveito para falar sobre a imagem do genérico. Numa jarra, um lindo “bouquet”, como sói dizer-se. Lindas flores, parecem-me rosas, túlipas, frésias coloridas e cheirosas, imagino eu, pelas que tenho agora, no jardim.
Um simbolizado da Mãe, Veronika, ausente, mas sempre presente?!
Da Família?!
Que subitamente se estilhaça, se desfaz em mil pedaços, como se houvesse uma explosão no seu seio.
(Tal como aconteceu com as cinzas da Matriarca... no último episódio. Quebra-se o vaso e espalham-se as cinzas e precisamente sobre quem?! ...)
Que é isso que acontece naquela Família, naquelas Famílias, na sequência da herança da célebre Casa. Explodem. Quebram-se, partem-se todos os laços...
As posições de Gro e Frederik situam-se praticamente em polos opostos. São só irmãos do lado da mãe e rivais, de ódio figadal. Ainda que recalcado, por puro interesse.
O papel de Signe é fundamental e imprescindível em qualquer esquema possível de solução.
Gro entendeu isso perfeitamente, que a advogada lhe explicou. Sabe que sem Signe, ou contra ela, não poderá fazer nada.
Daí, tentou e conseguiu conquistá-la, seduzi-la, manipulá-la, puxá-la para o seu lado, “integrá-la” na Família, enredá-la, através das memórias guardadas e gravadas de quando ela era criança e frequentava o Solar, antes de ser definitivamente adotada e impedida de voltar junto da mãe verdadeira e dos irmãos.
E até lhe ofertou um vestido...
Fios, teias, em que Signe se foi deixando prender, embora ainda distante da questão da herança propriamente dita, que esse continua a ser o fito dos outros três.
A ponto de, no final do 3º episódio, dizer para o namorado, Andreas, que não queria voltar a ver os Pais que a criaram: o Pai verdadeiro, John e Lise, a Mãe Adotiva.
Esta atitude irá provocar complicações nesta Família e nos seus diversos membros, especialmente em Lise, em que se observam sinais perturbantes: devolver os objetos pessoais de Signe, quando criança, a pintura total do quarto, de branco; como se quisera riscar e apagar, branquear, parte da sua Vida, no respeitante à Filha que adotara.
Frederik, sempre com sinais de perturbação.
Na sua relação com a irmã Gro, imagem recalcada da Mãe, Veronika, que ele odeia.
Paradoxalmente no episódio de ontem, ele que tanto odeia a Mãe e quer afastar-se das suas lembranças, da sua memória, acabaria embebido, empoado, embrenhado, nas cinzas da própria mãe...
Esse ódio é projetado, no presente, sobre a irmã. Ao ponto de se lhe atirar a matar.
Ela devolve-lhe ódio igual, como se viu na reunião que Signe promoveu, na sua própria casa, e que se transformou numa cena de pancadaria. E ódios subitamente explodidos, mal Gro lhe arremessou pedra a um ponto sensível. Que foi Carl, pai de Frederik e Emil, que se suicidou no palheiro, tendo sido Frederik a encontrá-lo pendurado na trave mestra. Após aquele ter vindo da Califórnia, doente, no final dos célebres anos oitenta e Veronika o ter expulsado da sua própria casa. E sequencialmente os rapazes terem ido viver com uma tia, praticamente também expulsos...
Essa perturbação também se expressa no seu relacionamento com os filhos.
Na sua relação, ausente de relação, com a mulher.
Na sua obsessão com o trabalho e com a herança, que nem a esposa compreende, pois estão muito bem materialmente.
Gro, a todos tentou enganar, falsificando a assinatura, mas acabou desmascarada por Frederik, precisamente no dia da reunião com os investidores e promotores da Fundação. Em que também Signe já participava. E até Thomas, que inicialmente Gro lhe dissera que o excluía, como fizera no livro sobre a Mãe. E, zangada, também o ameaçara de expulsão, juntamente com a barraca onde vivia. E, nessa sequência, Thomas, despeitado, a denunciara a Frederik sobre as assinaturas. Não, sem antes confirmar, que não seria expulso da cabana, caso Frederik ficasse com a Casa.
E foi com essa delação que terminara o 4º episódio.
Emil, no meio destas lutas entre irmão e irmã, o que precisa urgentemente é de dinheiro líquido, que já foi ameaçado, de forma velada e subtil, pela máfia oriental a quem pediu emprestado.
E, no sexto episódio, ontem, Frederik conseguiu ser ele a comandar as hostes e a questão da herança. Promoveu uma reunião com os irmãos, às dez, com Gro, ameaçada de denúncia à polícia, e com Emil, definindo previamente uma estratégia para “derrotar” Signe, com quem marcou só para as onze, oferecendo-lhe 2,5 milhões e assim ver-se livre dela, que a não considera da Família. Que ele tem plena consciência que o direito à Casa é de Signe.
E não a considerar da Família e dizer-lho na cara, foi o erro tático dele.
Que ela não aceitou a sua oferta.
E foi assim que terminou o 5º episódio.
E Signe, para o bem ou para o mal, continua a ser a charneira em todo o processo da Herança, que até apresentou uma proposta muito conciliatória, no quarto episódio, mas que os dois irmãos rivais não aceitaram e na sequência da qual se gerou aquela luta de morte.
Vamos ver como ela vai conduzir o processo. Que também já aprendeu o cinismo com os irmãos!
E uma Artista de vanguarda, como fora Veronika, só podia ter um velório transmutado numa Festa. De Final de Ano. Um “happening”, acontecimento bebendo nos anos sessenta, ou não fossem esses os tempos e modos que enformassem o “modus vivendi” e os conceitos artísticos de Veronika Gronnegaard!
Conceito muito bem aproveitado pela filha Gro, uma personagem que sente com a cabeça. Fria. E calculista! Mas também sempre bem acompanhada de bons vinhos!
Mas voltando ao 1º episódio, introito de toda a narrativa. Que atirou ela à matriarca que a fez ficar com tantos remorsos e chorar desalmadamente perante o cadáver da mãe, no hospital? (Afinal não é tão fria assim, como aliás já nos mostrou quando se agarra a Robert...)
Quando a mãe se ufanou do facto, isto é, de ser Mãe, de amar, ser amada, que lhe arremessou a filha?
Que ser mãe era esse, que um filho, Frederik, não queria nada com ela e não colocava os pés naquela casa, há anos... Outro, Emil, só lhe ligava quando precisava de dinheiro... E, ela própria, Gro, não era mais que a sua secretária. E uma outra filha não fazia sequer ideia de quem ela era... Pois, que ser mãe, seria aquele?!
(Não terá sido exatamente assim, nesta sequência, que as palavras azedas e ressabiadas foram proferidas, mas o conceito será este.)
E estas palavras definem os sentimentos dos quatro filhos sobre a Mãe, Veronika.
E vão mostrar-se nessa encenação de velório, simultaneamente festa de fim de ano, final de ciclo de vida e projetos de ano futuro: “Ano Novo, Vida Nova!”. Na congeminação da posse da herança: o Solar. E tudo o que contém, as Obras e as Memórias da Artista.
Frederik acha-se nos direitos sobre o Solar, que afinal era do pai e da sua família há dois séculos, sendo ele o filho mais velho e com direitos de opção de compra.
Emil o que quer é dinheiro líquido. Que a mãe lhe prometeu, para ele investir em mais um projeto de esturrar a massa, agora na Tailândia.
Gro quer transformar tudo aquilo numa Fundação, o que até seria o projeto mais adequado, não fossem também os seus interesses particulares a sobreporem-se, pois, dessa forma, teria o controlo total sobre tudo, podendo continuar a brilhar, administrando o legado da matriarca, no fundo, continuando a ser a sua secretária.
E Signe, Sunshine?!
Pois, Sunshine ainda está alheada de tudo, vagueando de fato de trabalho naquele ambiente sofisticado de intelectuais de fim de ano. Apanhando memórias da infância, vendo fotos suas de criança, com a ajuda de Thomas, talvez o único personagem que sentiu a morte de Veronica e não se move por interesses materiais naquele contexto. Também não é herdeiro, diga-se.
Sunshine, Signe, está ainda fora da realidade.
Mas há quem não esteja. E, o pai, John, já tratou de mostrar a um advogado o papel que Veronika lhe escreveu e assinou, declarando-a como herdeira do Solar. Que é válido, comentou com o namorado daquela, Andreas.
Testamento no leito de morte! A casa, avaliada em dez milhões, é de Signe.
E estão lançados os dados, afiadas as garras, lançadas as armas, para a disputa da herança, na “Herança”!