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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

«Outono» - Poema de Deolinda Milhano

(A propósito de “Momentos de Poesia”)

 

«Doce Outono que o intenso calor amainas

Contigo arrastas os primeiros frios e chuvas

Nos campos desempenham-se as mais árduas fainas

Envergam-se casacos, cachecol, as luvas…

 

Amadurecem os marmelos e castanhas…

Colhem-se azeitonas, romãs, prova-se o vinho…

Mostram-se além mais desnudadas as montanhas

Aumenta o caudal dos ribeiros, burburinho.

 

Dias cada vez mais minguados e cinzentos

As folhas rodopiam movidas p’los ventos

Folhas verdes, roxas, castanhas, amarelas…

 

Campos matizados de belos coloridos…

Lindos de apreciar, agradam aos sentidos…

Dignos de pintar, de exibir em aguarelas!»

 

                              ***

 

In. “MISCELÂNEA” PoesiaDeolinda Milhanop. 112

Gráfica: “A Triunfadora – Artes Gráficas, Lda – Depósito Legal: 371835 / 14

 

 

«Aleluia»  (Poema de Miguel Torga)

Ameixoeira. foto original. 16.03.23.

 

 

 

 

 

 

 

 

«Não foi milagre ressurgir, Senhor,

Num dia natural de primavera.

Tudo ressurge quando tem calor.

É por calor que toda a morte espera.

 

Milagre era acordar no inverno, era

Subir da cova frio como a dor,

E, com neve nas dobras da quimera,

Mostrar a Madalena a carne em flor.

 

Contra a seiva da vida e a sua lei

É que valia a pena demonstrar…

Viver dentro da morte é que era um salto!

 

Assim, vejo-te apenas como sei:

Um corpo que parou de levedar,

E veio à tona ver o céu mais alto.»

 *******

Plátano. Foto original. 17.03.23.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poema de “LIBERTAÇÃO” – 1944

In. ANTOLOGIA POÉTICA – Miguel Torga – 9ª Edição –Publicações Dom Quixote – Maio 2019 – pag.72

*******

J. Régio

 

As duas Quadras…  encontraram dois Tercetos!

Mas não acharam a Paz… ainda!

Um ser inominável…

 

Anda, por aí, ser inominável

Invadindo um País Soberano

Almejando ficar homem notável

Só se tornou ainda mais tirano.

 

Assim ficou por demais execrável

Espelhando seu juízo insano

Entre seus sequazes mor detestável

Perdendo sua condição d’humano!

 

Cinismo, crueldade: indecentes

De quem ordena matar inocentes

Destruir casas, civis estruturas.

 

Por mais que tu te expliques, só mentes

Inda que digas bem fazer… perjuras.

Só na tua paranoia perduras!

 

*******

(Este encontro das 2 quadras com os 2 tercetos deu-se ontem, 3 de Julho. As quadras já vinham de 17 de Maio, publicadas a 12 de Junho! Quando se encontrarão, quadras e tercetos, com a tão almejada PAZ?!)

 

 

Um Soneto de Manuel Valente!

«A Meus Paes»

 

«Noite silenciosa em que a tristeza

Fala baixinho ao coração aflicto…

Uma estrella sequer, se o céu eu fito

Brilhar não vejo na amplidão acesa

*

Dorme por toda a parte a Natureza

Na doce paz, no seio do infinito…

No entretanto afanoso eu ressuscito

Uma lembrança entre soluços presa.

*

Talvez que lá no meu Paiz distante

Onde vivem meus paes e irmãos queridos

(recordação que beijo a cada instante!)

*

Talvez nest`hora de silencio eterno,

Que os olhos todos cerrem-se endormidos

Que só não durma o coração paterno!...»

*

Manuel

Rio de Janeiro, 16/4/912

 *******

Voltamos à Poesia. Num modelo clássico: o Soneto! Talvez a forma mais perfeita de expressão do sentimento poético. Para muitos apreciadores de Poesia, não é talvez, é de certeza.

Divulgamos, novamente, Poesia de “Outros Poetas”. Uma estruturação temática transversal ao blogue. Muitos textos poéticos de “Outros Poetas e Poetisas” constituem acervo de “Aquém-Tejo”.

Se quiser saber como surgiu este poema no blogue, é ter a amabilidade de ler os comentários do penúltimo postal “Rota Histórica de Flor da Rosa”. Aí se contextualiza o surgimento deste Poema.

Se quiser saber sobre Manuel Valente, faça favor de consultar.

Obrigado!

Segundo Mª J. Brito de Sousa, de poetaporkedeusker”, “é o único dos sonetos dele que sobreviveu aos anos, às perseguições e aos exílios…”

A temática da Saudade dos Paes e Familiares, para quem está distante. Se faz favor, repare também na “ortographia”.

Muita Saúde e PAZ!

 

Glosas com Rosas (I)

Poetaporkedeusker

Os últimos postais tenho-os dedicado à Poesia!

Caro/a Leitor/a, a divulgação da Poesia foi um dos motivos principais na criação deste blogue.

(Um ligeiro desvio no raciocínio… Já reparou a quantidade de postais em que já não falo da pandemia, nem sequer apresento a etiqueta “Covid 19”? É saudável!)

Voltando ao teor principal da narrativa.

Rosa e Malvas Rosas. Foto original. 2021. 04. jpg

Quando publiquei as duas quadras do texto poético, no penúltimo postal, sob o títuloTem perfume, é olorosa”, Maria João Brito de Sousa, de “motu próprio”, criou uma quadra, a partir do último verso da minha segunda Daí lhe vem azedume”.

 

Achando a ideia original, passei a propor às Pessoas que comentaram o postal, que criassem também uma quadra a partir de um verso, das duas que eu divulgara.

CheiaeMargarida tiveram a amabilidade de responder à sugestão.

Logo pensei como lhes agradecer aos três…

Para esse fim, resolvi publicar um postal para cada uma das criações.

 

Hoje, neste postal, apresentamos em destaque a quadra de Maria João Brito de Sousa:

 

“Daí lhe vem azedume”

Porque inda que frágil sendo,

Ganhou a rosa o costume

De tentar-se ir defendendo…

 

 *******

Mª João Brito de Sousa tem vários blogues, entre os quais:  Poetaporkedeusker 

 

É o blogue que tem mais ativo, onde praticamente todos os dias patenteia a sua classe inexcedível de poetar, na estrutura formal e de conteúdo mais perfeita de “respirar” Poesia: o Soneto!

Aventure-se a navegar e avalie por si. SFF!

Obrigado pela sua atenção e amabilidade.

 

MÃOS de Tactear

 

MÃOS de Tactear

 

Mexer, moldar, amassar o barro

Dar-lhe uma forma de mulher

Numa infusa de asa, num jarro

Empedrar enfeites de malmequer.

 

Traçar sonhos na cortiça

Bordar varandas e janelas

Mãos que agarram na rabiça

Esculpem santos de capelas.

 

Em trança, cabelos sedosos

Sentem escorrer neles, calosos

Grosseiros dedos de trabalhar.

 

Afagar um rosto de criança

Sorrir-lhe, ganhar confiança

Num beijo de amor e de amar.

 

 

Escrito em 1988

Publicado em:

Boletim Cultural Nº 3 de Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Maio 1990

 I Antologia Poética do Círculo Nacional D’Arte e Poesia – CNAP – 1994.

 

 

 

 

 

SONS míticos (místicos)

 

SONS míticos (místicos)

 

Sinfonia de luz, calor, cor e cigarras

Cal, barra na parede, fuga – contraponto

De nómadas ciganos trinam as guitarras

Vagabundo na planura, marcando o ponto.

 

O falar das gentes é um cantar de mouras

Ansiando Liberdade e seu Destino

O marulhar das searas maduras – louras

Compassadas pelo vento e sol a pino.

 

No silêncio da noite e luar, as relas

Gorgoleja vinho nas tascas de ruelas

Piar de mocho, dissonante e zombeteiro.

 

Requebrando saias, um rosto trigueiro

De ofegantes seios, declama com vaidade

Um Soneto d’Espanca, “Soror Saudade”!

 

Escrito em 1988

Publicado em:

Boletim Cultural Nº 7  do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Fev. 1991.

 I Antologia Poética do Círculo Nacional D’Arte e Poesia – CNAP – 1994.

 

 

 

 

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