Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
- Há que ter em conta que as contagens eram feitas numa perspetiva diferente da que usamos atualmente, nomeadamente religiosa, em função da obrigação das pessoas face ao cumprimento dos vários sacramentos.
- Não há também uma uniformização nas designações dos conceitos em análise, nem nas quantidades apresentadas.
- Apresentam-se os valores em numeração árabe, para uma melhor compreensão.
*******
“Aldea da Mata”: 300 "pessoas de sacramento" e 80 “menores”.
“Aldea do Val do Pezo”: 120 vizinhos, num total de 380 pessoas.
“Monte Chamisso”: 25 vizinhos, num total de 81 pessoas.
“Monte da Pedra”: 68 vizinhos, num total de 255 pessoas.
A freguesia toda tinha 91 vizinhos, num total de 323 pessoas.
À paróquia/freguesia de Monte da Pedra pertenciam, à data, mais três aldeias, a saber:
“Monte do Sume” - 17 vizinhos, 44 pessoas;
“Cazal de Folgão Palha” – 2 vizinhos, 10 pessoas;
“Monte de Franquino” – 4 vizinhos, 15 pessoas.
“Nossa Senhora de Flor da Roza”: 140 fogos, 400 “pessoas de confissão e comunhão", 40 “ só de confissão" e 100 “inocentes, não obrigados aos preceitos".
“ Nossa Senhora dos Martires”: 90 vizinhos, num total de 350 pessoas.
“Villa do Crato”: 414 vizinhos, que englobavam 1128 pessoas.
(“villa nova de São João de Gafete”: 205 vizinhos, num total de 512 “pessoas maiores” e 94 “menores”.
À data, Gáfete não pertencia ao “termo” da vila do Crato, embora anteriormente tivesse pertencido.)
À data e de acordo com as informações do “Pároco da villa do Crato”, o termo para além da própria vila, compreendia as seguintes aldeias, com os respetivos dados demográficos, nem sempre exatamente coincidentes com os explicitados pelos respetivos párocos de cada Paróquia:
“Aldea daMatta”, com 124 vizinhos, 386 pessoas;
“Monte da Pedra”, com 91 vizinhos, 318 pessoas;
“Chamisso”, com 25 vizinhos, 81 pessoas;
“Val do Pezo”, 101 vizinhos, 380 pessoas;
“Senhora dos Martires”, 90 fogos, 350 pessoas;
“nossa Senhora de Flor da Roza”, 135 fogos, 550 pessoas.
*******
Dados populacionais das Freguesias, 2011, segundo informação recolhida in wikipédia, comparativamente com a População das Paróquias estimada em 1758.
Freguesias
População
2011
População das Paróquias estimada em 1758
Aldeia da Mata
374
380**/386*
Crato e Mártires
1674
----
Crato = 1128*
“Senhora dos Martires”
Mártires = 350**/350*
Flor da Rosa
263
540**/550*
Gáfete
856
606**
Monte da Pedra
280
323**/318*
Vale do Peso
261
380**/380*
“Chamisso”
------
81**/81*
TOTAL
3708
3788**/3799*
* - segundo informação prestada por “Pároco da villa do Crato” .
** - segundo informação prestada pelo Pároco da respetiva Paróquia.
- Nem sempre se verifica concordância, mas não nos podemos esquecer das condições da época, meados do século XVIII e das “dificuldades de comunicação” a todos os níveis.
De qualquer modo, temos que reconhecer que foi um trabalho notável, à data, dado que apesar de todas as dificuldades ele foi realizado à escala nacional! Paróquia a paróquia!
- Note-se que, atualmente, das Povoações existentes, apenas Gáfete e Crato e Mártires têm mais população que em 1758!
E, na totalidade, o concelho tem ligeiramente menos população que na data referida – 1758.
Menos 80 a 90 pessoas.
Nota Final:
Esta pesquisa foi realizada a partir dos dados facultados pela Universidade de Évora no site específico sobre as "Memórias Paroquiais".
O Topónimo “Aldeia da Mata” define a localidade na sua essência, aldeia: pequena localidade, geralmente com poucos habitantes, núcleo populacional feito de casas contíguas, tipo alentejano. “Nos começos da Nacionalidade designava não uma povoação mas um casal ou herdade existente num sítio ermo.”(1)
Quanto ao primeiro termo do topónimo, Aldeia, entende-se facilmente o seu significado.
No referente aos outros, da Mata, já se nos levantam interrogações, dado que na atualidade não existe nenhuma mata significativa, justificativa do topónimo.
Mas se o nome consagra esses termos é porque terá existido alguma mata importante, para que a povoação tenha incorporado essa nomenclatura. Que mata terá sido essa, suficientemente importante para daí derivar o nome de Aldeia da Mata?!
Nas Memórias Paroquiais consultadas, séc. XVIII, já não há qualquer referência a essa Mata.
Mas, segundo diversos autores, essa mata existiu e dela deriva o topónimo.
Alarcão, J., in Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 15, 2012, menciona esse facto, a partir do documento de doação da herdade que D. Sancho II, em 1232, fez à Ordem dos Hospitalários, mais tarde designada por Ordem Militar de Malta, consultado a partir da respetiva publicação em 1800, por José Anastácio Figueiredo.
O documento refere que um dos limites dessa Herdade é a mata de Alfeijolas.
Curioso que o nome Alfeijolas persiste na região, no termo Alfeijós, designando a Ribeira de Alfeijós, com vários nomes, conforme os locais por onde corre.
Inicialmente designa-se Ribeira do Fraguil e tem origem em ribeiros que nascem a norte do Monte da Taipa. Corre a leste da Cunheira, dirige-se para sul, passa nos Pegos, adquirindo o respetivo nome: Ribeira dosPegos.
Correndo na direção norte-sul atravessa a Linha do caminho-de-ferro do Leste, e a sul desta Linha, adquire o nome de Ribeira de Alfeijós. Corre a oeste dos “Cabeços do Barreiro”, Altos Barreiros, cuja cota mais elevada, 194 metros de altitude, se situa no monte de ALFEIJÓS.
A jusante situam-se dois Montes de habitação, também designados de Alfeijós: a leste da Ribeira, o Monte de Alfeijós de Cima e a oeste, o Monte de Alfeijós de Baixo.
A mencionada Ribeira de Alfeijós desagua na Ribeira de Seda, a jusante da foz da Ribeira de Cujancas e a montante da ponte romana de Vila Formosa.
É pois interessante que ainda atualmente o nome de Alfeijós, corruptela de Alfeijólas, persista na região, embora não existam sinais da referida mata.
As Memórias Paroquiais de 1758 também referem a Ribeira de Alfeijolos, assim designada pelo pároco da “villa” de Seda, embora já não referenciem a mata.
Qual o espaço territorial ocupado por essa mata que em 1232 seria significativa e foi inclusive, nessa época, motivo de disputas pela sua posse?!
As matas eram uma fonte de sustento, de recursos energéticos, de matérias-primas, sendo muito relevantes para povos e localidades. Mas estiveram sempre sujeitas a delapidação constante: corte, desbaste, fogos, arroteamento para agricultura.
Seria certamente uma mata de árvores e arbustos próprios destas condições climáticas: azinheira, sobreiro, carvalho negral, carrasco, zambujeiro. Medronheiro, aroeira, sanguinho e, entre as plantas mais arbustivas, a giesta, a esteva, o trovisco, a silva, a madressilva, etc. Ao longo das linhas de água, a mata ribeirinha: freixos, salgueiros, choupos, sabugueiros...
E geograficamente, ocuparia apenas a região atualmente a sul da Linha do Leste, onde persiste o respetivo nome? Prolongar-se-ia para norte, pela bacia hidrográfica da Ribeira de Alfeijós/Pegos/Fraguil até à Ola e Taipa? Ocuparia o território entre esta Ribeira e a Ribeira de Cujancas, inclusive ultrapassando-a e aproximando-se do espaço da atual freguesia de Aldeia? Teria uma área ainda mais vasta, conforme alguma documentação faz supor?!
Segundo o documento de 1232, esta “Matam de Alfeigolas” fazia parte dos limites da referida herdade. Curioso que o limite sul/sudoeste do atual concelho de Crato também se situe precisamente a sul/sudoeste de Aldeia da Mata. Outros limites do atual concelho do Crato também coincidem ou se aproximam de limites dessa herdade, referidos no citado documento de doação por D. Sancho II, à Ordem dos Hospitalários ou de São João de Jerusalém, designada por Ordem Militar de Malta, a partir de 1530.
A oeste, o Sume; a norte/noroeste e nordeste, o Rio Sor em parte significativa do seu percurso; a leste, Almojanda e parte do troço da Ribeira de Seda, sendo que esta Ribeira também delimita a sul. Ainda a sul, o limite segue numa linha relativamente paralela entre as Ribeiras do Cornado e de Linhais, pelos Cabeços de S. Lourenço e de S. Martinho. Ainda nesta direção sul, Alter do Chão, também é referida no documento como um dos limites.
E, frise-se, a mencionada Mata de Alfeijolas como um dos limites da herdade.
A mata existente no século XIII (1232), já não existente no século XVIII, até quando terá persistido enquanto tal?
Teria sido o nome da aldeia alguma vez Aldeia da Mata de Alfeijolas? Haverá documentos comprovativos? Ou terá sido sempre Aldeia da Mata, dada a importância da própria mata?!
Nota final:
- Agradecimento ao Srº Carlos Eustáquio pela prestimosa colaboração na consulta das Cartas topográficas referentes aos concelhos do distrito de Portalegre.
Fontes de Consulta (algumas):
- ALARCÃO, Jorge; Notas de Arqueologia, Epigrafia e Toponímia; Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 15; Direção Geral do Património Cultural, 2012.
- FIGUEIREDO, Jozé Anastasio; Nova História da Militar Ordem de Malta, e dos Senhores Grão-Priores della, em Portugal; Officina de Simão Thaddeo Ferreira, Lisboa, 1800.
- MACHADO, José Pedro; Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Livros Horizonte, 7ª edição, 1995.
- SAA, Mário; As Grandes Vias da Lusitânia, o Itinerário de Antonino Pio, Tomo II, MCMLIX.
- (1) Lexicoteca, Moderna Enciclopédia Universal, Círculo de Leitores, Tomo I, 1ª edição, 1984.
- Cartas Topográficas do Instituto Geográfico do Exército.