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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Tarde de CANTE no Feijó!

Saudades do Alentejo

 

Cante - Cultura - Cidadania!

 

Conforme divulguei em post de 16 de Março, realizou-se ontem, “Dia do Pai”, o espetáculo comemorativo do 30º Aniversário de “Associação Grupo Coral e Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó”, no CRF – Clube Recreativo do Feijó.

Uma comemoração aniversariante, em Dia também muito especial.

 

E, a propósito do Dia e da sua significação, e, no concernente ao Cante, se lhe atribuíssemos uma filiação, quem seria o Pai? Do Cante, diga-se. E supostamente tendo Pai, também terá Mãe. E quem será a Mãe?

Pois, penso não haver muita dúvida.

O Pai é o Alentejo! E a Mãe, pois, a Mãe é a Saudade! Não é o Cante irmão do Fado?! Atualmente até irmanados e perfilhados internacionalmente pela UNESCO, dando-lhes reconhecimento e foro de Cidadania Mundial.

O Pai do Cante é o “Alentejo” que, do dito, o espalhou também pela Grande Lisboa, com especial incidência na Margem Sul, e muito particularmente em Almada, Feijó!

 

Foto original DAPL Rosas no Feijó 2015.jpg

 

Alentejo que é sempre Aquém – Tejo! Geográfica e sentimentalmente e no plano identitário!

E de Identidade e de Sentimentos falamos, quando nos reportamos ao Cante.

E são sempre os Sentimentos que passam e perpassam e nos repassam de emoção, por vezes contendo as lágrimas, mas embargados por ela, quando escutamos as canções ou modas como são designadas, numa Sessão de Cante, num ambiente quente como o que se viveu na tarde passada, terminando já à noitinha. Que os Cantadores também sentem, e de que maneira! São os que mais sentem, ou não cantariam com a Alma e o Coração, como fazem!

Que até o tempo também sentiu, ouviu, escutando, aquelas vozes telúricas, se emocionou e não conteve as lágrimas. As ruas do Feijó estavam molhadas de comoção!

 

A Emoção, a Saudade, sempre a Saudade, a Nostalgia de tempos que muitos de nós vivenciaram mais pelas imagens e recordações das gentes que amámos, que, hoje, apenas lembramos, com Afeto, com Amor, com Saudade. Muito especialmente num dia dedicado aos Pais, que todos os dias o são!

Embora muitos de nós, ainda, tenhamos percorrido, trilhado, aqueles lugares, aqueles tempos, quanto mais não fosse, enquanto pastores, mesmo a tempo parcial.

Mas o Cante não é só Nostalgia. É também Alegria. Modas e cantares de trabalho e de festa!

 

Pelo Clube passaram as Cores do nosso Alentejo. A garridice das papoilas, o amarelo das searas da nossa memória.

Évora, Cidade, capital do Alto Alentejo, esteve bem presente, nas canções e no Grupo representativo. Misto. Etnográfico, compondo trajares e modas, de modos de vida que os nossos Pais e Mães usaram: pelicos, safões, calças de serrobeco, traje de mondadeira...

Palavras sábias do Mestre: “...É urgente dialogarmos com os novos Grupos...”

 

Sons místicos! Sons míticos! Ancestrais, quase religiosos, panteístas, quando o coro se empolga, transborda de sentimento, nos transporta a tempos de outros tempos, sem tempo, nem memória, porque intemporais, universais, comuns a toda a Humanidade, daí a categorização, quer se note ou não a sua importância...

 

E de Afetos e Sentimentos ainda falamos: de Amizade, Companheirismo, Camaradagem, nestes encontros de grupos corais, na troca de prendas e galhardetes, intercâmbio de modas. Nos agradecimentos a quem ajuda, a quem trabalha, que muito trabalho dá organizar estes eventos. Na felicitação ao Aniversariante. Momentos bonitos!

Até de apadrinhamento, à boa moda alentejana, diria portuguesa, também falamos. Que os Grupos Corais das Paivas e da Amadora apadrinharam, há trinta anos, o “Grupo de Cante do Feijó”! (Que, na minha modesta e irrelevante opinião, de leigo no assunto, a designação do Grupo precisaria de ser menos extensa...)

Estes dois Grupos não são etnográficos, pelo que trajam todos os elementos com o mesmo tipo de vestuário. O Grupo das Paivas tem a particularidade de se designar de “Operário”.

Sendo estes Grupos formados no contexto das migrações do Alentejo para a Grande Lisboa, a partir dos anos cinquenta do século XX, refletirão a composição sócio profissional inerente à zona onde estão sediados e aos locais de trabalho dos seus componentes.

Há certamente estudos feitos sobre o assunto.

(Em todos os Grupos também se nota uma caraterística comum, que é o nível etário elevado dos seus componentes.

Aliás, a assistência também é maioritariamente composta por cidadãos na 3ª idade ou próximos da mesma!)

 

Os Grupos, todos, etnográficos ou não, nos trouxeram lindas modas, em que também entoaram loas ao Amor, à Paixão, aos amores e desamores, à sublimação dos amores...

Às paisagens do nosso saudoso Alentejo, à neve que também cai na planície, quem não viu os campos transtaganos cobertos de neve, não tem uma experiência completa e inolvidável do mesmo... às flores, rosas, metáforas da Mulher. Recomendações e cuidados a ter na ida à fonte...

Foto original DAPL 2015 Fonte do Salto. Aldeia da Mata. jpg

 

A Poesia, sempre! Cada moda é sempre um Poema carregado de significações sentimentais. Por vezes mais particularmente. Num singelo e comovente Poema dedicado aos Pais. Noutro, peculiar, sobre “...a ceifeira de aço...”!

Na dedicatória e evocação de Poeta (Fialho de Almeida).

 

No confronto entre “ponto” e “alto”, no troar harmónico do coro, ecoando nas planuras de searas ondulantes, marulhando nos mares da “Charneca em flor!”.

 

E, para o final, o Grupo Anfitrião reservou-nos dois Grupos de Música Tradicional.

“Grupo de Trovas Campestres”, de Faro. (Há quem designe, sendo do Algarve, que os Algarvios são “Alentejanos destrambelhados”, cito.)

Quatro Artistas, trouxeram-nos a Alegria do Alentejo, sediada no Algarve!

Cantaram um “Hino ao Mineiro”, uma evocação sul-americana, reportando-nos para o Chile, de Allende?! (Merecia da assistência um outro escutar, mas já havia algum “destrambelhamento” entre o público, desculpa-se-lhes, que até se portaram muito bem, houve momentos de absoluto e cerimonial silêncio durante os outros cantares.)

Encerrou o “Grupo Comtradições”, da Cova da Piedade, com muita e muita Alegria!

E já muita gente dançava! Dançava!

Que para os participantes ainda haveria jantar.

E que bem que cheirava!

Cheiros de um tempo de outros tempos.

Cheiros que o tempo guarda!

 

Parabéns a todos os Participantes!

Parabéns a todos os Organizadores! E Colaboradores!

A todos os que trabalham na sombra para que estes Eventos sejam organizados e nos deleitem e emocionem com a sua Qualidade Artística.

Felicitações especiais ao Grupo Anfitrião e Aniversariante: “Associação Grupo Coral e Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó – Almada”!

(Grupo, além de Coral, também Etnográfico, documentando um memorial de trajares transtaganos, nas nossas recordações de infância e juventude.

Grupo que, aliás, teve a honra de abrir a Sessão com o brilhantismo que lhe é inerente e as vozes portentosas de que dispõe, também elas carregadas e emocionadas de Sentimentos!)

 

Foto original DAPL Almada Ginjal 2015.jpg

 

E, diga-me lá, se teve a simpatia de me ler até aqui, se Almada é ou não a Capital do Cante?

(Nota Final: Que acrescento, hoje, dia 21, Dia também tão especial.

As Fotos são originais de D.A.P.L. e reportam-se ao "meu Alentejo", que é sempre "Aquém - Tejo"!)

 

 

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