Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
“Daniel e Hortense, sós e vilipendiados pela multidão, (turbamulta), apressam-se a deixar a cidade.
Antoine prendeu Marchetti. Bériot pede-lhe para o transferir secretamente para Dijon, mas a notícia espalha-se como um rastilho de pólvora.
Em breve, Antoine, Suzanne, Marchetti, Daniel e Hortense vão enfrentar o seu Destino…”
(E o Destino é uma incógnita.
Escrevo este texto já a 24 de Junho, feriado municipal em múltiplas localidades do País e no dia seguinte à votação da saída do Reino Unido da União Europeia.
Destino?!
Não posso deixar de relacionar a série com a realidade e lembrar que Hitler, um dos causadores, aliás, o principal (?) "motor" da eclosão dessa guerra, também chegou ao poder através de eleições.
E também associar ao facto de que o quase certo candidato republicano, à presidência dos Estados Unidos da América, é essa figura turbulenta, mas podre de dinheiro, que dá pelo nome de Donald Trump! Imaginasse o sobrinho do Tio Patinhas o seu nome atribuído a tal personagem!
E esses factos têm alguma coisa a ver com o direito inalienável de que qualquer cidadão tem ao exercício de expressão livre do seu voto?!)
Mas estas deambulações à volta da série, talvez aparentemente sem sentido, levam-nos ao final do episódio e da 6ª temporada, em que Jules Bériot, de pedra e cal na prefeitura, inaugura, melhor, batiza uma praça da Cidade de Villeneuve, com o nome sugestivo de “Place Marie Germain”!
E discursa, perorando loas políticas, justíssimas, relativamente a Marie, “símbolo da Resistência”, mas descabidas, demagógicas, quando as atribui “à população de Villeneuve”. Que sabemos foi de tudo menos Resistente. No mínimo, situacionista. Quando não colaboracionista e delatora.
Mas essa população compunha o friso da imagem em volta da Praça, tudo gente bem composta e bem vestida, como convém numa inauguração. Os mesmos que arrastaram Hortense pelas ruas, esmurraram Daniel e enforcaram Alban, nessa altura descabelados de corpo, de roupa e de boca.
Que ainda iremos a esses excertos.
E também no ato inaugural, os verdadeiros e poucos realmente Resistentes: Suzanne, Anselme, Edmond..., que olharam estupefactos, de soslaio, o prefeito, quando ele lançou essa tirada politiqueira da “população resistente”!
Os políticos são assim mesmo. Há que afagar o ego aos potencialmente votantes, nem que seja proferindo atoardas e mentiras. O que interessa é ganhar votos!
E os resultados são os que mencionámos anteriormente, com os resultados que sabemos no caso alemão e que a série documentou...
E incógnita nos dois outros casos, atuais.
E o prefeito terminou o discurso e a série, com vivas à República, à Resistência, à França, com muitas palmas entusiasmadas dos figurantes, comedidas dos verdadeiros Resistentes, que Bériot passou-lhes a perna. E cantando a “Marselhesa”.
“Allons enfants de la Patrie!”
(E este é também o apelo aos jogadores em França, para o embate com a Croácia. Que também não posso deixar de relacionar com essa realidade. Que melhor seria que as disputas entre povos se resumissem aos jogos, ao desporto em geral. Que este ano também é de Jogos Olímpicos e lembremo-nos como agiam os antigos gregos!)
E quem assistia, como espetador, a esse discurso encomiástico do prefeito Bériot, era Antoine e um outro jovem colega, também fardado com o traje do exército de França, que é para esse fim que Antoine destina o próximo ano da sua vida.
E respondendo à questão do colega porque não cantava a “Marselhesa”, ele lhe respondeu que cantara no ano passado, ou seja, certamente no “cortejo” que os Resistentes efetuaram na Cidade, comemorativo do 11 de Novembro de 1918.
E finalmente, através de Antoine, vamos ao início deste episódio doze e ligar com o final do anterior, décimo primeiro.
Antoine de pistola em punho, enquanto chefe da polícia, apontava a Marchetti, mandando desaparecer Loriot, que não podia confiar nele.
E Marchetti com o filho ao colo, situação tão eficaz como se fora algemado, pediu a Antoine que não condenasse Loriot, homem que acreditava na amizade e era um bom polícia.
Colocado na prisão juntamente com os milicianos não fuzilados, ainda pediu que procurassem a mãe do filho, que não o enviassem para a assistência pública.
Afogueado, chegou Bériot, elogiando Antoine, pelo seu feito.
Superiormente recebeu, via telefone, ordens de Dijon, através de Lanzac: “Quero o Marchetti no meu gabinete esta noite!”
E Bériot nem pestanejou em obedecer.
Só que a notícia da prisão correra pela cidade e a “purga” chefiada por Anselme e Suzanne depressa se apresentou junto à esquadra a exigir o “carniceiro”, que a populaça queria fazer justiça pelas próprias mãos.
Bériot, mestre da representação, lembremos que ele também era cantor e ator, colocou a faixa da República em diagonal no peito e apresentou-se perante a “purga” e conseguiu convencê-los que não haviam apanhado Marchetti.
“- Já viu que enganamos os nossos amigos para salvarmos os inimigos?!” Comentou para Antoine.
E, aproveitando a momentânea dispersão, acabaram por fugir pelas traseiras e ainda houve tempo de Rita apanhar a criança, enquanto Bériot fugia no carro para Dijon, acompanhado de um polícia e levando o “carniceiro”.
A “purga” acabou por invadir a esquadra, Suzanne deu uma chapada a Antoine, que foi agredido à coronhada pelos homens armados. Estes, indiscriminada e raivosamente, dispararam rajadas sobre os milicianos, abatendo-os como coelhos, (pobres, dos animais!), com exceção de Alban.
Melhor lhe fora ter morrido de bala!
Arrastaram-no, torturaram-no...
Anselme e Suzanne, aparentemente indiferentes, assistiam, que, se quisessem, poderiam ter intervindo favoravelmente.
“- Bériot pirou-se. Antoine anulado. Fazemos o que queremos.” Disse o homem.
“- E o que queremos?”, retorquiu a mulher.
Alban esbracejava, defendia-se, contava o seu historial... apelava a verdadeira justiça...
“- Até ontem os resistentes não eram muitos... O que fazem não é justo.”
“- Despachem-se!” Ordenou Suzanne.
E enforcaram-no!
Antoine e Geneviéve assistiram, impotentes, a todo este espetáculo macabro. E choravam.
E quem também subiu e soube o caminho, as etapas dum hipotético gólgota, foi Hortense, mais uma vez arrastando no opróbrio o marido, Daniel.
Em prisão domiciliária, aproveitando um pedido de água por um dos dois guardas, Daniel despejou um sonífero em ambos os copos. Que Hortense, sempre com o seu jeitinho de mulher sedutora, conseguiu que fossem bebidos.
E adormecidos os guardas, ei-los de malas aviadas, a caminho da casa de um amigo que lhes emprestaria um carro para fugirem.
Até lá, onde nunca mais chegariam, foram percorrendo a sua via, não direi sacra, que Hortense não era nada dada a essas religiosidades, mas o caminho espinhoso da paixão.
E foram sendo reconhecidos e apedrejados verbalmente.
“Vamos dar uma voltinha à Alemanha.”
E perante um deboche de um qualquer Menanteau, sapateiro, ali mesmo e de memória, Daniel o lembrou que, no auge da perseguição aos judeus, sendo Larcher ainda presidente da câmara, ele denunciara um seu vizinho.
E Menanteau, o sapateiro, deu corda aos sapatos, meteu o rabo entre as pernas e foi pregar para outra freguesia e atirar pedras para outro lado.
Mas perante mais um linchamento de um boche, para mais conhecido de Hortense, Daniel, deu mais uma de herói humanista, não deixando que fuzilassem o militar.
Heroísmo? Humanismo? Inconsciência, face à situação e à sua incapacidade de fazer frente a homens armados e sedentos de justiça, rápida e eficaz?
A situação complicou-se de todo para o casal.
Reconhecida Hortense, foi o descalabro.
Daniel foi agredido à coronhada e desmaiou. Ao recuperar os sentidos, sem óculos, valeu-lhe uma criança que lhos deu. “Monsieur, ...”
A praça deserta...
Hortense foi arrastada pela multidão enfurecida, sedenta de vingança, sujeita a todos os epítetos, que não vou aqui reproduzir, mais uma vez friso que, neste blogue, não uso palavrões, mesmo que contextualizados, como seria o caso. Por enquanto!
Transportada numa carroça do refugo, como se fora lixo, acompanhada pela turbamulta, gentes desgrenhadas de aspeto, de traje e de boca, os mesmos que irão aplaudir Bériot, mas já trajados a rigor.
Vários ostentando as braçadeiras e empunhando as bandeiras da República!
Anselme e Suzanne comparticipavam.
Esta não podia perdoar. Fora Hortense quem lhe denunciara o namorado, Marcel Larcher.
Gustave Larcher, sobrinho, a quem a tia apelara, cuspiu-lhe na cara.
Conjeturado o que lhe fazer, que castigo aplicar-lhe, um mais macabro que outro, decidiram cortar-lhe o cabelo.
Suzanne assistia, consentindo e estimulando, pese embora não lhe trouxesse o amado de volta, conforme Hortense lhe ripostara.
Esta chorava.
A populaça gritava, dichoteando.
Hortense vivia o episódio bíblico da mulher adúltera...
Lucienne com aquele seu ar compungido observara o enforcado, visualizara a caminhada de Hortense.
Talvez pensasse a sorte que tivera, que o seu amor tivesse ficado mais ou menos secreto, apesar de haver uma Françoise!
E o pai de Françoise haveria de ser sepultado, sob o nome de Étienne Charron, com direito a padre e orações fúnebres. Acompanhado apenas, para além dos cangalheiros, de Bériot e Lucienne, que lançou uma rosa vermelha.
“Amén!”
E para tentar finalizar esta narração, lembrar de amores, que na série estiveram sempre presentes na narrativa.
Suzanne concedeu-se uma pausa nas suas diatribes revolucionárias e foi retemperar forças com Loriot, sempre de beiço caído por ela.
O “bigode mais jeitoso” queria saber se no coração da mulher haveria um cantinho para “um funcionário sem princípios nem ambição”...
“Marcel foi o meu grande Amor, Antoine, um erro em todos os sentidos...”
(...)
O primeiro marido há muito que fora descartado para a Bretanha e da filha não falou.
Antoine que, como já vimos, foi cumprir um ano de serviço militar no exército francês, selou compromisso de casamento, de cartório e igreja, com Geneviéve, quando voltasse.
Daniel vela Hortense, de cabelo cortado, à espera que cresça, por debaixo do turbante.
Rita e Ezechiel preparam-se para partir para a Palestina.
“- Quero fazer crescer frutos no deserto!”
(Frutos no deserto cresceram é certo. Mas também, tantos, tantos espinhos!)
Mas deixemo-nos de mais comentários e aguardemos a hipotética sétima temporada, que nos dará (?) o desfecho futuro de várias personagens.
“Jean Marchetti esconde-se em casa de Rita. Os problemas do quotidiano agravam-se: abastecimento, saúde, alojamento… É a penúria.” (…)
Os aliados de ontem tornam-se, hoje, adversários, melhor, inimigos, dados os métodos que utilizam para conquistar o poder!
Faltam bens essenciais, falta de tudo, em Villeneuve. A população revolta-se, que onde há fome... fazem-se pilhagens. Reina a desordem. As esperanças associadas à Libertação esvaem-se, por entre a incapacidade de a República dar de comer a quem tem fome. Há quem tenha saudades de Vichy!
As autoridades na pessoa do prefeito, Bériot; do chefe da polícia, Antoine; do presidente do CDL, Edmond, tentam dar resposta às múltiplas necessidades, mas onde não há pão, não há mantimentos para distribuir...
Também, entre eles, a baixa política insere-se ignominiosamente, insidiosa, da pior maneira.
As gentes envolvem-se à pancada por um pedaço de pão.
(E não posso deixar de reportar para o que se passa ainda e atualmente. E já que estamos em França, onde atualmente decorre o “Euro”, para aquela cena de ignomínia dos adeptos (?) ingleses a atirarem moedas a crianças pobres!!! E vão estes... que chamar-lhes (?), votar sobre a permanência ou saída do Reino Unido da União Europeia!!)
E à pancada andou Ezechiel Cohen, por causa do abastecimento e nada trouxe, além da cara esmurrada.
“Apertamos o cinto”, lhe disse Rita.
“Penso cada vez mais na Palestina” (E sobre este assunto também há tanto para inferir...)
E Ezechiel falou-lhe das vantagens de seguirem como família, apesar de Rita não ter papéis... Que em Lyon preparam idas para esse território.
E Rita chamou Jean: “Jean, vem, por favor!”
E apresentou-os. “Acho que já se conhecem”
Jean, vem do hebraico, de Yonah: “Deus tem piedade!” Comentou Ezechiel.
Terá?! Pergunto eu. Merece piedade?! Obterá o perdão?!
Suzanne, agora desamparada de amor, que “o gaullista” a deixou para outra da mesma geração, vagueia pela rua e dirige-se à sede do CDL, onde houvera uma invasão da turbamulta.
Edmond arrumava as mesas e cadeiras derrubadas...
Falaram da omissão da vida privada, no contexto do partido... (Onde e sobre quem tanto essa situação foi sonegada durante décadas, melhor, durante a vida inteira, de um certo e emblemático e carismático personagem da vida política portuguesa?)
Edmond morrera-lhe a mulher há dois meses, nada dissera. “Morreu por um ideal.”
“E tu, que queres? Lamentares-te ou bateres-te por ideais?” Edmond interpolou a militante Suzanne.
“O partido quer conquistar a câmara. Derrotar Bériot.”
E Edmond encomendou, a Suzanne, que soubesse se nos arquivos da esquadra haveria alguma coisa que tramasse Bériot e a mulher, que, em tempos, se falara de uma paixoneta desta por um boche. (Paixoneta!)
Suzanne tinha, na polícia, dois “conhecimentos” chave. O chefe, o “gaullista” Antoine e Loriot, (como classificá-lo?), novamente membro da esquadra. Ambos também suas paixões ou paixonetas.
E Suzanne, à partida, excluiu Antoine, não iria manipulá-lo e atacou Loriot, o “bigode mais jeitoso de Villeneuve”!
Inicialmente o polícia retraiu-se, não confiava totalmente nela.
Lembra-se, caro/a leitor/a, que foi devido a esse relacionamento que Suzanne foi considerada traidora, no contexto da célula do partido?
Onde isso já vai, me dirá.
Mas há lá homem que resista ao elogio do bigode, para mais provindo de uma cara bonita e charmosa?!
E Loriot comprometeu-se. “A troco de nada. Em nome dos velhos tempos.”
Em troco de nada, Loriot, que já anteriormente informara de que Antoine andava de amores com a irmã de Alban, eu pensei que ela já saberia... Loriot, repito, a troco de nada sempre trouxe alguma coisa.
Em primeiro lugar, que ele é um senhor galante, ofereceu-lhe um ramo de flores. Lembrando velhos tempos ou preparando os novos, que a rapariga anda desamparada.
E o pretendido. Nada sobre Bériot, vasculhados os arquivos de 41, mas algo sobre outra pessoa. Ainda melhor!
E Suzanne entregou o documento a Edmond, que sorriu, cinicamente, como é habitual no seu personagem.
Lembremos que este documento será, em princípio, para tramar Bériot.
Este, como também já referimos, convidara o médico, Daniel Larcher, para colaborar com ele na prefeitura, sob condições mutuamente estabelecidas.
Encarregara-o de inventariar situações de resolução de três problemáticas prementes na Cidade: Saúde, Alojamento, Alimentação.
(Lembram-se da canção “Liberdade” de Sérgio Godinho?! “Casa, Pão, ...”
E estas prioridades também foram algumas das emblemáticas após o 25 de Abril.)
Voltemos à realidade ficcional.
Larcher desempenhou as suas funções muitíssimo bem, apresentando as soluções encontradas, em reunião com o prefeito e o secretário, Hector.
Sobre a Saúde, com recurso às freiras do convento, que haviam concordado e disponibilizado os seus meios; sobre Habitação, também explicitou soluções concretas e sobre Alimentação, não trouxe ainda dados precisos, mas propôs reunir-se com Servier, que sabe, de certeza, onde buscar víveres.
Dito e feito, reunido com o dito cujo, este concordou em dizer-lhe onde achar alimentos, na condição de lhe trazerem um salvo-conduto para emigrar para a Suíça e um bom jantar para a mesa.
(É caso, para dizer: Que mamão! Que foi o que ele fez em toda a ocupação, mamar, lamber botas, servir e servir-se.)
E, em “reunião de prefeitura”, a que compareciam também membros do CDL, presidido por Edmond, que fora encarregado por Bériot de chefiar a questão do abastecimento da cidade, o prefeito contava apresentar Larcher, e as suas pesquisas, como um trunfo.
Enganou-se. Mas lá iremos.
Antes, julgo que em reunião anterior, em que estiveram ambos os chefes das fações, agora oposicionistas; Bériot, gaulista e Edmond, comunista, atiraram-se “mimos elogiosos” um ao outro, sob os auspícios de um retrato do General De Gaulle.
Edmond, “elogiando” Bériot, cuja polícia, chefiada por Antoine, libertava colaboracionistas, referia-se à chata da Jeannine; em vez de prendê-los, que o “carniceiro” Marchetti ainda andava a monte.
Bériot, por sua vez, mimoseava Edmond, cujo abastecimento, de que era o delegado, era uma desgraça.
Andavam numa inventariação fictícia das necessidades da população, quando não havia nada para distribuir, aproveitando para propor às pessoas a adesão a um determinado partido, cujo nome não disse.
Igualmente defendeu Loriot, pela sua competência; Edmond não o saberia ainda, Bériot provará, sem o saber, do veneno dessa mesma eficiência.
Também Daniel Larcher teve direito a ser defendido, e concordo inteiramente, pela sua “Generosidade e sentido de Humanidade”.
E, voltando à reunião de prefeitura em que Bériot apresentou Larcher como colaborador, elogiando a sua competência no encontrar de soluções, para três problemas prementes na Cidade: Abastecimento, Alojamento, Saúde.
Edmond, cínico, questionou-o:
- “Confia nele?!”
E lançou a bomba.
“A partir de um documento que, por acaso, nos veio parar às mãos, sabemos que Daniel Larcher era, em 1943, informador da polícia alemã!”
E apresentou o documento assinado por Heinrich Muller.
Lembramo-nos perfeitamente dessa situação de quando o médico estava preso juntamente com o irmão, Marcel...
Que acha senhor/a leitor/a ?!
Neste caso, eu opino sem quaisquer dúvidas ou hesitações.
Foi uma verdadeira “sacanagem”!
E foi um lavar de roupa suja e atirar de lama... sobre um ser humano intrinsecamente bom, apesar das contradições inerentes ao comportamento de qualquer homem ou mulher, para mais em tempos tão complicados.
Ma é assim a política, para mais a baixa política!
E o médico foi logo ali despedido, que Bériot pode, quer e manda, e enviado para prisão domiciliária, a juntar-se à mulher Hortense, que foi a alma dos seus pecados. Mas também a razão de estar vivo.
Que as vivências, os comportamentos, as atitudes dos diversos personagens são multifacetadas.
Como, aliás, de todo e qualquer Ser Humano.
Nem sempre preto é preto, nem branco é branco!
Veja-se que Daniel, apesar de o considerarmos um homem bom, ainda rematou:
“Vou contar quem é o seu hóspede.
O hóspede já se foi.” Retorquiu o prefeito.
(Afinal não terá sido este médico que passou a certidão de óbito, como eu julgara.)
E ainda há mais para contar?
Já referi que Jeannine fora presa pela “purga”, chefiada por Anselme, que queria saber do dinheiro que ela ganhara a reparar tanques dos boches e para o ir buscar, para poderem comprar alimentos para os necessitados.
E que a queriam julgar e mais tornas e deixas nestes casos.
Mas havia ordens superiores de Bériot, sempre ele, de que ela fosse recuperada e dessa ordem e execução se encarregaram Antoine e Loriot.
(E foi uma verdadeira cena de duelo, de filme de “cow-boys”, a que só faltou o herói, Antoine, ir montado no seu corcel branco.
Esclareça-se, que, à data, este género de filmes ainda não dominava o mercado, nem sei se já teria surgido, nem a filmografia americana ainda era dominante, nem sequer a indústria cinematográfica atingira a importância que viria a alcançar nas décadas seguintes, no pós-guerra.)
Certo é que Antoine libertou Jeannine!
E sobre outro verdadeiro colaboracionista e verdadeiro criminoso, per si, que a guerra não justificava as suas atitudes criminais, nem as ações que praticou, sobre o “carniceiro” quero ainda falar.
A cena final em que o “miúdo”, Antoine, que Loriot julgara enganar, voltou à casa onde o criminoso, Marchetti, se acoitava e os apanhou, a ambos, a conversar, paradoxalmente Jean com o filho David ao colo, foi uma cena antológica de filme de ação.
E aguardemos o próximo e último episódio desta sexta temporada, certamente o derradeiro da série, porque a sétima provavelmente nunca mais aparecerá, nem sei se já foi concluída a sua realização, nem se já passou em França.
E, ao que me parece, a RTP2 retorna a outra série já apresentada anteriormente.
Episódio 10 – “La Loi du Désir” – “A Lei do Desejo”
Setembro de 1944
“Dez milicianos são executados, no fim de um processo falseado. Bériot propõe a Antoine, que encetou uma relação com a irmã de um miliciano, de se tornar chefe da polícia.” (…)
O Rescaldo da Festa
A festa foi de arromba. Deu para beber, dançar, namorar, curtir, não sei se este termo já seria utilizado na época. Muito menos o outro, atualmente muito usado entre as camadas jovens, para significar o que também deu para fazer.
Antoine, já informámos, chegou, finalmente, aos finalmentes! Com Geneviéve, que é assim que se chama a moça, Genoveva, em português, ou Veva ou Vevinha, para ser mais querida!
Pelo caminho, pôde observar no jipe americano, um militar numa “à americana”, com uma francesa. Talvez tivesse ficado mais motivado e o bom vinho também terá ajudado, para além, ou primordialmente, de “a lei do desejo”.
O berbicacho foi quando Veva o informou que era irmã de Alban.
“Após o Conselho de Guerra, se te vir por estas paragens, mandar-te-ei prender”, ameaçou Antoine.
E decorreu o falso julgamento.
Previamente discutiram quem haveriam de condenar ou não à Morte!
Daniel Larcher conhecedor de que Bériot já havia encomendado catorze caixões, através de Jeannine, denunciou o facto na própria sessão e abandonou a defesa.
Anselme, prático, mas também idealista e sonhador e face ao tipo de França que estavam a construir, oposta a todos os seus ideais, também abandonou o “tribunal” improvisado.
Foi prontamente substituído por Antoine, que ficou a presidir. Outro funcionário, nomeado por Bériot substituiu aquele como Juiz.
Numa interrupção realizada, foram definidos os que iriam ser condenados à Morte e os que iriam ser remetidos para futuro julgamento a realizar em Dijon.
Nalguns não havia dúvidas. Haviam entrado há pouquíssimo tempo na milícia.
Relativamente a Alban havia hesitações. Matara as duas crianças, mas salvara Antoine e Suzanne de morte certa. Fora amigo de Antoine.
Também se confessara e obtivera o perdão.
E era irmão de Genoveva. (Mas que tem esse facto de relevante, dir-me-ão...)
Havendo dúvidas entre os juízes, sobre este último caso, ficou decidido que o veredicto final seria de Antoine, o presidente do conselho de guerra!
E caríssima leitora, caríssimo leitor, que acha que Antoine decidiu?!
(...)
Pois, precisamente, Alban foi um dos milicianos que foi remetido para futuro julgamento.
Voltamos atrás.
Na primeira reunião preparatória do conselho de guerra, realizada em casa de Bériot, quando definiam quem constituiria o pelotão de fuzilamento, ouviu-se um grito lancinante proveniente do andar de cima.
“É a minha mulher, Lucienne!”, informou Bériot.
E dirigiu-se ao quarto onde ela se encontrava, aquele em que convalescia Kurt, que ela, inesperadamente, acabara de encontrar morto!
Lucienne estava destroçada! (...)
“Quer que a deixe sozinha para que possa velá-lo tranquilamente?” “Os meus pensamentos estão consigo.”
Nem mais nem menos, que este Bériot saiu melhor que a encomenda.
Mais tarde, velariam o defunto.
E definiriam o nome a atribuir-lhe, que não podiam designá-lo com o nome próprio, que era alemão: Kurt Wagner.
Analisando significados e semelhanças linguísticas e afinidades familiares, consensualmente, batizaram-no com um nome francês: Étienne Charron.
Drº Daniel Larcher preencherá, (?) a certidão de óbito, na expetativa de aliviar a pena da sua amada (?) Hortense.
Anteriormente, já Bériot o tentara aliciar para trabalharem juntos na recuperação de Villeneuve!
“É um dos poucos com atitudes humanistas!”
“Sou colaboracionista!”
E os milicianos condenados à morte são colocados nos postes de fuzilamento.
E Antoine, nomeado chefe da polícia, dirige o pelotão. Mas concede, como é de lei, a concretização de um último desejo aos condenados.
E o chefe, Blanchon, provocatoriamente, começou a cantar o hino dos milicianos (Chant des Cohortes?), sendo seguido por todos os outros.
E, não sei como nem porquê, não conheço assim tanto da História de França, aquela cantilena teve um efeito aniquilador em Antoine e em todo o pelotão, que se tolheram em disparar.
E foi preciso Suzanne agir, que é uma mulher de armas, assumir o comando do pelotão, ordenar que disparassem, ela própria ser a primeira a fazê-lo, sendo seguida pelos restantes.
Finalmente os corpos ficaram murchos na base dos postes!
E já que pegámos em Suzanne...
Lembrar-nos-emos que, no episódio anterior, ela fora visitar a filha, obrigações de mãe, abandonando o baile e Antoine, que aproveitou a liberdade concedida e conquistou a sua própria liberdade e autonomia.
Ao regressar, perguntou por ele.
E, no conselho de guerra, vendo novamente a tal moça, que agora sabemos chamar-se Geneviéve, ou Genoveva, se preferir, irmã de Alban, a encarar Antoine e o constrangimento deste, questionou-o: “Conhece-la?”.
“Vou ter que lhe dizer que já tens dono!”
(Mal sabia Suzanne, que a dona já era outra.)
Foi visitar a sepultura do seu amado defunto, Marcel, com ele falando sobre o novo mundo em que ele vaguearia. Moças? Reuniões de célula?!
Surgiu uma linda raposa vermelha. Só faltou um Príncipe Encantado, que o supostamente dela arranjara nova dona.
E foi esta dona, Geneviéve, que foi visitar o novo chefe da polícia, Antoine, para lhe agradecer de Alban.
Antoine mandou-a voltar um ou dois anos mais tarde.
Mas a moça estava cheia de pressa e houve uma conversa privada no gabinete do chefe.
E beijos, também. Que ela é decidida!
E Antoine aconselhou-a a esconder-se durante algumas semanas que “atualmente ser miúda de boche e irmã de miliciano não é boa coisa”.
Mas, pelos vistos, a rapariga não foi precavida, nem seguiu a sugestão do amado, ou estava por demais confiante de que o agarrara pela gravata... e voltará a surgir na delegacia da polícia, quase arrastada pelos novos polícias, ex-refratários e ex-resistentes, que também a reconheceram como a rapariga do célebre banho do lago e, molestando-a, traziam-na para a esquadra.
E, perante Loriot e Suzanne, que interpelava Antoine: “Afinal quem é esta moça?”
Este respondeu: "Deixem-na! Ela está comigo!”
E assim se deu mote ao: “Adeus Suzanne!”
E faltou-nos falar sobre Rita e Ezechiel que foram viver juntos na casa deste.
Sobre David que adoeceu e sem remédios nem médico, que Larcher estava ainda no tribunal, por sugestão de Sophie, oraram convictamente.
E Daniel melhorou.
E Ezechiel fala em ir para a Palestina e incita, convida, Rita a acompanhá-los, que poderiam formar uma família.
E vai ao mercado negro obter comida, umas fatias de presunto, obtidas a troco do seu relógio antigo.
Mas, antes dele chegar, quem chegou foi o indesejado (?) Marchetti.
E perante a chegada de Ezechiel, Rita recambiou-o para o sótão.
Episódio 9 – “Le crépuscule avant la nuit” – “O Crepúsculo antes da Noite”
Setembro de 1944
Adeus Suzanne!
Volto ainda a estes dois episódios e bem gostaria de explanar também algo sobre o episódio 10, agora que a sexta temporada está quase a findar e não sei se irão dar continuidade com a sétima, que nem sei sequer se já foi apresentada em França, de momento tão assoberbada com o “Euro”, futebol, realce-se.
Na primeira abordagem a estes dois posts, muitíssimos assuntos ficaram por tratar.
Centrei-me fundamentalmente no personagem Jules Bériot, e nas suas funções de Prefeito da Cidade e muitos temas ficaram em “banho-maria”.
Um dos problemas com que Villeneuve se defrontava, desde o começo da guerra e da ocupação, situação aliás comum a toda a Europa, no período entre as duas guerras, acentuado após a “Grande Depressão”, era o abastecimento alimentar. Faltavam víveres para a população civil, os mais imprescindíveis e básicos, como seja o leite para as crianças.
Bériot, na sua atribuição de funções logísticas da Cidade aos diversos Resistentes, designara Edmond, presidente do CDL, como supervisor dessa atividade e do respetivo departamento.
Na apresentação exemplificativa deste problema e flagelo social, os guionistas apresentaram-no através da personagem Rita de Witte e do seu filho David.
Desesperada por encontrar comida, leite, alimento para a criança, Rita dirigiu-se ao setor do suposto abastecimento de víveres à população de Villeneuve.
As prateleiras estavam praticamente, não me lembro se na totalidade, vazias.
As possíveis caves, não sei, que não nos mostraram!
Foi, no mínimo, dramática a resposta que obteve.
Que foi nenhuma. Saiu como entrou, isto é, de mãos vazias e o menino ao colo, amortecido de fome.
Que voltasse no dia seguinte ou no outro, que não havia alimento, que havia necessidade de preencher um formulário de adesão e que ela, enquanto estrangeira e judia, não estava entre os considerados prioritários, como se a fome e a necessidade de alimento variasse conforme a cor, a origem, o credo ou supostamente outra qualquer questão ideológica, perspetiva ainda mais grave!
Tempos tremendos, erros continuados da Humanidade, (humanidade?), melhor dizendo, Desumanidade, que gastava os recursos numa guerra atroz, estúpida, promovida por tresloucados, destruindo-se e destruindo bens, serviços, canalizados para o tão propalado “esforço de guerra”!!!
Mais grave, é que não tenha havido emenda!
Deixemo-nos de filosofias e de ideologias, que como Rita respondeu a Edmond: “Dê-me leite e adiro imediatamente!”
Mas adere a quê?!
(...)
E, na sua busca por alimento, como boa mãe que é, encontraria Ezechiel Cohen, com a filha Sophie, na mesma demanda.
E questionando-a como ali chegou e, no fundo, se salvou, pois sabemos o que aconteceu aos judeus, não sabemos se eles, à data, já o saberiam, mas Cohen agradecia a Deus, por estar vivo!
E, paradoxalmente, também a Jean Marchetti, (pasme-se!), o “carniceiro de Villeneuve”, que propositadamente deixou fugir Ezechiel e a filha, que até lhes falou também de Deus e lhes deu conselhos sob a forma de irem para a Suíça!
Estranho, ou não, este comportamento desse personagem tão contraditório, espelho do ser humano!
Contando isto para Rita, como nós sabemos ex-amante de Jean, pai do seu filho David; Cohen, referiu-se a milagre. E, mais uma vez, a intervenção Divina!
“Acreditaria em Deus, se chovesse leite”, lhe retorquiu Rita.
E Rita se quedou numa qualquer soleira de porta, na semi obscuridade ou claridade da rua.
De onde sairia para subir uma escadaria, de uma rua qualquer da Amargura e ganhar a vida, em troco de um favor, no desempenho de profissão tão velha quanto o mundo, para comprar leite e salvar o filho da Morte!
Outros dos personagens marcantes nesta 6ª temporada e nestes episódios têm sido os milicianos. Presos na Escola, apreensivos quando ao seu futuro, que julgados em conselho de guerra, em tempo da dita, seria fácil inferir o veredicto.
As reações face a esse futuro incerto, mas certo, variavam. Um debochava sobre o que fizera. Alban, extremamente culpabilizado, queria confessar-se. E interrogava-se como Deus os abandonara. Estranhos são os desígnios e invocações divinas, nestes momentos!
“Faço parte dos que mataram!”
Alban precisou de se aliviar e para isso foi acompanhado por Antoine.
Lembraram-se um ao outro o que haviam visto.
Antoine presenciou o infanticídio dos dois irmãos, filhos de Vernet, cometido pelo miliciano.
Alban viu Antoine e Suzanne, escondidos no armário, no quarto da filha desta, mas não os denunciou.
(Julgo, não tenho a certeza, que Alban fora também refratário, como Antoine...)
E enquanto Alban se aliviava no mictório, apareceu-lhe a irmã, assomando-se numa janela, a falar-lhe da avó. (...)
Falamos desta personagem, cujo nome ainda não fixei, que virá a ganhar algum protagonismo nos episódios subsequentes...
E já que falámos de Antoine, não esquecemos Suzanne, também nomeada Juíza.
De Kervern ficaria assombrado!
E, sem sombra de dúvidas, a mulher tenta conquistar o jovem. Que lhe resiste e escapa como enguia.
E prossegue o julgamento, a farsa de julgamento, pleno de contradições, formais, processuais e reais.
Daniel Larcher, naquele contexto de tribunal, a figura com mais formação intelectual, dá a volta ao texto, como se diz. Dá um baile ao procurador e aos juízes.
No meu ponto de vista, que nesta série não consigo ser nada isento; digo, segundo a minha perspetiva, sem razão alguma. Simplesmente manipulação, tão peculiar na advocacia.
Porque, o que acha?!
Nomeadamente no referente a Blanchon, chefe das milícias, haveria alguma dúvida?!
(...)
E retornamos aos milicianos e a Alban, que extremamente tenso e sofrido, (que só me lembra Ronaldo, ansioso por marcar golo), acabaria por confessar-se.
E lá lhe saiu a confissão.
E o perdão.
“O seu sofrimento e confissão abrem-lhe a porta para o perdão”! Lhe disse o confessor.
E abro aqui mais um dos meus parêntesis. Mais uma das minhas questões.
Não vi todos os episódios, mas só agora me apercebo da presença de um ministro da Igreja.
Será impressão minha? Falta de espírito de observação? Ou, realmente é a primeira vez que tal sucede?
Aliás, entre os diversos personagens mencionados não há qualquer referência a sacerdote.
Não será estranho este facto?!
(...)
Houve, contudo, cenas ocorridas na igreja da cidade, local de encontro de Resistentes, a combinarem ações, atividades, sinal de que o templo era um local onde os oposicionistas à ocupação se sentiam seguros.
E lembramos que também decorria o baile.
E nele, já falámos, (ou não?) dos enlaces entre francesas e americanos e não resisto a referir a hesitação e perplexidade do secretário de Bériot, em arranjar também mulher para um militar negro! (Que, aliás, protagonizou enorme sucesso, pois era um excelente dançarino!)
E Ezechiel também deu a volta a Rita e com ela também volteou na bailação!
Ao lado, que tudo se passava na Escola, os condenados à execução, os milicianos, escutavam.
E chegariam alguns elementos da “purga”, que assolava a Cidade, ainda sem polícia.
E o filho de Marie Germain desancou forte e feio. (Pudera!)
Antoine e Suzanne bebiam. Ela fumava!
Viu a prima do marido e num ápice se lhe atirou desvairada. Lembremos, eu próprio assim julgava, que era suposto ter sido essa mulher quem denunciara Antoine e Suzanne.
Loriot, já assumidas as suas funções policiais, interveio, esclarecendo que não fora ela a denunciadora, mas uma outra vizinha e que Suzanne poderia confirmar no registo efetuado na Polícia.
Suzanne pediu desculpa e aproveitando a presença do marido, apanhou a deixa para ir à respetiva casa, a visitar a filha.
Azar o dela.
Antoine, já mais liberto, que o vinho bebido diretamente da garrafa ajudava, dirigiu-se à rapariga que o intrigava e atraía, que achava conhecer, lembrando-se de onde. Da célebre cena das duas francesas a nadarem no lago com soldados alemães.
Não a denunciou, que seduzido já estava, e também dançaram o swing. E também dançariam na cama, finalmente concretizando o almejado final, que não alcançara com Suzanne.
Episódio 9 – “Le crépuscule avant la nuit” – “O Crepúsculo antes da Noite”
Setembro de 1944
Um Prefeito não perfeito!
Após a rendição dos milicianos e a impossibilidade de os transportar para Besançon para o respetivo julgamento, Jules Bériot organiza o processo, para que o julgamento ocorra em Villeneuve, instalando um Tribunal Marcial na Escola.
(Já vimos que a Escola dá para tudo: centro de acolhimento, prisão, hospital, tribunal... E os Professores e Professoras também.)
Veja-se precisamente o caso de Jules Bériot.
Recentemente regressado de Argel, empossado como representante da França Livre na Cidade de Villeneuve, na qualidade de Prefeito, ex-Professor e ex-Diretor da Escola e com aspirações a Presidente da Câmara, organiza o processo dos catorze milicianos, que, no último ano de ocupação alemã, aterrorizaram a Cidade, rivalizando com os boches, sob cujas ordens serviam.
Apesar de assoberbado com imenso trabalho, desde a estruturação da orgânica funcional dos vários serviços que é preciso reinstalar, da falta de pessoal habilitado e de confiança, da escassez de recursos, da penúria e racionamento dos alimentos, apesar de todas estas e outras dificuldades...procura estruturar o processo dos milicianos, segundo as normas de equidade na aplicação da Justiça.
Nomeia três juízes: Anselme, Antoine, Suzanne; um procurador, Edmond e um advogado de defesa: Daniel Larcher.
Seria interessante abordar como se chegou à constituição deste tribunal improvisado.
Não deixo de realçar que conseguiu convencer o médico a ser advogado dos milicianos, mas teve que dar contrapartidas. Teve que negociar, ceder para ganhar algo em troca. Comprometeu-se a que houvesse alguma benevolência no futuro julgamento de Hortense!
E é assim que vai ser a sua ação, enquanto prefeito. Negociar. Para ganhar alguma coisa também vai ter que ceder e de algum modo, perder alguma da sua coerência.
Irá acontecer algo idêntico com Raymond Schwartz e a respetiva Jeannine que se acoitou na serração.
Acontecerá algo semelhante com Loriot, que irá nomear como chefe da Polícia, “malgré tout”!
Ainda assim arranja tempo para organizar o “Baile da Libertação”. Que toda a gente anseia por uma bailação de que estavam privados há quatro anos.
Acompanhado de bom vinho, diretamente das caves do ex-subprefeito Servier, que importa se foi oferta “generosa” dos ex-amigos(?) alemães. (Amigos de Servier, frise-se.)
Vinho é vinho. É generoso e alegra os corações. E não pede muito. Apenas que o bebam! E, depois, ele faz o resto...
(E com esta escrita já vou no baile e ainda quero falar do processo...)
Relativamente ao mesmo, que Bériot procura previamente estruturar com toda a Justiça, como vimos, ficaremos surpreendidos com a ordem peremptória que o atual prefeito recebeu diretamente dos seus superiores de Dijon, via telefone.
“...
Quero os catorze milicianos à frente de um pelotão de fuzilamento, amanhã!”
Não sei quem foi o autor de tal ordem, mas é Alguém com Poder!
Que ainda estavam em guerra, e que os milicianos e boches, nas cidades onde ainda não houvera a Libertação, continuavam a matar. E era preciso transmitir-lhes uma mensagem clara.
E Bériot acatou totalmente a ordem.
E tratou de convencer os três juízes de que o veredicto do tribunal teria que ser “culpados”!
Anselme convenceu-se facilmente, entendeu completamente a situação face ao que fora o modo de atuar e fazer dos milicianos. No fundo, seria pagar-lhes com a mesma moeda.
Suzanne foi bastante mais renitente, mas aceitou.
Antoine foi ainda mais difícil de convencer, é um jovem cheio de ideais, mas face à decisão de Suzanne e, “para não a deixar sozinha”, também concordou.
Parafraseando um dito célebre: “O Juiz decidiu, está decidido!”
Decidido não está, que o julgamento ainda não aconteceu, mas Bériot já foi encomendar a madeira para os caixões à serração de Schwartz.
E foi aí que teve que negociar com o industrial, depois de lhe dar os parabéns pela sua ação na Resistência no último ano. Mas também teve que se comprometer a ser também benevolente com a “chata”, colaboracionista e fascista da Jeannine.
E arranjar gasolina, que os títulos provisórios da República, provisória e Livre, não serviam de nada.
E gasolina só os americanos.
E, com estes, Bériot voltou a negociar, mas também acatou ordens! E até ouviu reprimenda do comandante americano Bridgewater. Jules e os franceses são, continuam a ser, intermediários.
Aquele quer ordem na cidade. (Bériot não tem polícia e há grupos armados a fazerem baderna.)
Ainda estão em guerra, os americanos todos os dias perdem homens. Bériot tem que criar uma autoridade na Cidade.
E foi também nesse propósito, que teve que negociar com Loriot!
De negociação em negociação e no respeitante ao “processo” ficou este totalmente inquinado, logo à partida. Processo com julgamento falseado e veredicto combinado e já definido: culpados. Com execução marcada para o dia seguinte até às treze horas!
Que acham os senhores leitores e leitoras?!
Era possível, naquele contexto e enquadramento, aplicar adequadamente a Justiça?
Era necessário agir daquele modo?
Haveria ou não outro modo de atuar?!
...?!
Apesar de todo o assoberbamento com o trabalho, ainda assim, Bériot teve tempo e paciência para organizar e participar no “Baile da Libertação”, embora não dançando, que a sua Lucienne não baila com o prefeito, pois está retida no apoio ao seu amado Kurt, com quem dançou em anterior e distante baile, agora também impossível de repetir, que o jovem está amarrado à cama. E transfigurado pelas queimaduras.
Mas Jules bebeu e bebeu bem, de bom vinho, talvez de alguma cave vinícola francesa que os ocupantes alemães terão assaltado, quando invadiram a França.
E recebeu aplausos e loas dos circunstantes no baile, sempre acolitado pelo secretário, trazido da Argélia.
E também e ainda, apesar do vinho, ou talvez por isso, e após o puxão de orelhas do comandante americano, teve a lucidez de ordenar ao secretário que arranjasse uma mulher para o americano adjunto do comandante.
E interessante foi a forma como esse arranjinho foi arranjado e como o secretário trocou as voltas à moça francesa, para que ela caísse nos braços do americano, fazendo trocadilhos entre o francês da rapariga e o inglês do militar.
Mas, nesta narração vou deixar o baile, retomar o fio à meada relativamente a Bériot, representante da República, da França Livre e como se desenvolvia a sua atuação, naqueles tempos conturbados de reinício da “vida democrática” em França.
E bebido e bem bebido, regressou a casa, na ilusão de que teria Lucienne, ainda sua esposa, de braços abertos, desejando-o.
Desengane-se, caro leitor, Lucienne nunca o desejou.
(E, frise-se, continuam, passado este tempo todo, ainda a tratar-se por você.
Nem depois das lições de Madame Berthe mudaram tal atitude!)
E face ao não desejo da mulher e não vamos conjeturar mais razões, que não sabemos, dirigiu-se ao quarto onde dormia Kurt.
Sem dúvidas e talvez dando cumprimento ao pedido formulado pelo ferido, “de morte assistida”, pegou numa travesseira e com ela sufocou o moço. Sem mais nem menos!
O dito cujo ter-se-á arrependido do pedido efetuado, porque se fartou de esbracejar. Mas Bériot concluiu a sua tarefa.
Impressionante aquele arfar do rapaz e, morto, a boca aberta e os olhos arregalados.
Jules teve o discernimento de lha fechar e cerrar-lhe os olhos, que, por momentos, pensei que iria esquecer-se.
Assim, nessa pose, a Morte parecia mais justa, mais serena! Talvez imprescindível!
E é, deste modo, que a República se reergue em Villeneuve, através deste seu lídimo representante.
E também foi assim que terminou o nono episódio, cujo tema central da narrativa foi o célebre e desejado baile, a que, talvez, ainda volte nesta minha narração tão parcelar. E parcial!
Intitulado “O crepúsculo antes da noite”. Significante do que virá a seguir?
Após um processo e julgamento falseados, uma execução arbitrária e aleatória?!
E tanto que fica por contar e como se poderia extravasar para a atualidade.
Para a política... para o futebol, que o “Europeu” até se joga em França!
Tanta coisa...!
Ah! E lembrar que Bériot, nesta sua atitude conciliatória e negocial, ainda teve oportunidade de salvar Servier de ser linchado pela turbamulta!
Episódio 5 – “L'homme sans nom” – “O Homem sem Nome”
28 de Agosto de 1944
Quem é este “Homem sem nome”?
Muller, “caçado” com Hortense, ambos presos pelos americanos, que ela afirma ser seu cliente de favores sexuais, assumindo-se como prostituta, e negando terminantemente conhecê-lo?!
Marchetti, de nome por demais conhecido, ativamente procurado pelos “Resistentes”, mas passando despercebido aos mesmos, sonegando o nome, renegando-se enquanto tal, inclusive afirmando-se de judeu, (!), escondendo-se no celeiro e, mais uma vez, incógnito aos seus “caçadores”?! Enquanto Rita, o filho, David, ao colo, se apresenta aos perseguidores, ficando ele, cobarde e cinicamente, a vê-los partir, por entre as frinchas do palheiro, sorrindo de soslaio...?
Ou Kurt, amado sempre esperado por Lucienne, que faz de enfermeira, coadjuvando o Drº Daniel Larcher, sempre na secreta e remota esperança de ele um dia voltar, de preferência à civil, que é como quem diz, em paz?!
Nesse difícil papel de enfermeira, ela que era apenas professora primária, na Escola transformada em hospital de campanha, para tratamento dos feridos alemães, Lucienne tratava com desvelo os jovens feridos e politraumatizados, sempre na guardada fé, não declarada, segredo seu, apenas revelado a soldado moribundo, que ele, Kurt, o seu eterno romance, um dia retornasse.
E, fosse ou não Kurt, não sei, apenas me apercebi que, no findar do episódio, Lucienne, ao destapar a mão entaipada, do soldado queimado, todo enrolado em ligaduras, nessa mão descobriu a do seu Kurt. E a beijou e acariciou como tal.
Será ou não será?! Ou será que ela nele vê e revê o que o seu coração deseja?!
Ou é apenas uma partida do guionista para nos deixar presos para o próximo episódio, para mais ainda com fim-de-semana prolongado de permeio e o “Europeu” também em França?!
Sinceramente, não sei!
(E, dir-me-á que há aqui incongruências...)
Neste episódio verificámos que, afinal, os alemães ainda não abandonaram de todo Villeneuve. Para além dos feridos, ainda há soldados ativos, e a fazerem estragos.
Na espera do aguardado comboio que levaria os restantes para Belfort, juntamente com os milicianos e os judeus presos, o comandante alemão, julgo que Schneider, ordena aos milicianos que abatam os judeus.
Estes, finalmente(!) recusam-se a obedecer e face à tentativa dos alemães agirem, disparando selvaticamente sobre inocentes, Marchetti, também ali presente, e alguns milicianos, disparam sobre os boches, impedindo um massacre de crianças e mulheres judias.
Acha abnegada e altruísta a atitude de Marchetti, o “carniceiro de Villeneuve”?!
Desengane-se.
Marchetti apenas quis salvar o próprio filho e a mulher que amou, a judia Rita de Witte!
E com ela e o filho foge, deambulando pelo campo, até que se acoitam numa quinta abandonada.
Nessa deambulação e caminhada foi uma oportunidade de se confrontarem sobre amor e desamor, sobre o passado recente de ambos, de como ela e porquê regressou da Suíça, para onde ele a levara; do que ele fizera nesse tempo, dos crimes que cometera entretanto, para além de prender crianças e mulheres, do porquê do epíteto que lhe atribuíam.
Também do seu passado remoto, dos pais que ambos não conheceram... Também de futuro, do que fazerem, reatarem ou não o relacionamento, que Rita não deseja, que por ele apenas sente “mágoa e desprezo”. Da atribuição de paternidade a David, filho de ambos, que Rita também recusa, que “David é uma criança sem pai”!
Rita já não quer nada com a França. Não esqueceu 1942 e a forma como os franceses trataram os judeus. Talvez vá para a América... Londres... Portugal...
Marchetti é perseguido encarniçadamente. Por enquanto, ainda não foi apanhado...
Por enquanto... Que Rita, apesar de tudo, e de todas as razões que tem para o odiar, não o denunciou.
Hortense e Muller foram presos pelos americanos.
Negam conhecer-se, ela afirma-se prostituta, (fugiu-lhe a boca para a verdade?!), sujeita a interrogatório, confirma sempre essa versão, tenta seduzir o oficial americano, mas é presa numa cave juntamente com outras mulheres francesas suspeitas.
E quem vai ela encontrar na mesma condição de suspeita, mas como supostamente espia?!
Pois precisamente a temperamental Jeannine.
Entram em conciliábulo. Jeannine sugere não revelarem os seus segredos, mas, mal é levada presa e ameaçada de ir a julgamento para Besançon, e não ser eventualmente socorrida pelo providencial papá, logo imediatamente denuncia Hortense dando a conhecer que o respetivo “cliente” é nem mais nem menos que Heinrich Muller, o célebre e procurado chefe do SD de Villeneuve!
Gustave, filho de Marcel e sobrinho de Daniel, foi apanhado pelos alemães a fazer contrabando no mercado negro.
Ia ser fuzilado, não fora a providencial chegada do tio Daniel, que conseguiu, com calma e persuasão, apesar de armas apontadas, convencer o soldado alemão que podia colaborar com eles, ajudando-os a salvar e operar feridos, na sua qualidade de médico.
E foi nesse contexto que ele reiniciou a efetiva colaboração com a designada, circunstancialmente, enfermeira, a professora primária, Lucienne!
E que acontecerá a todas estas personagens?!
Quem também regressou ao elenco e ao enredo foi o enigmático De Kervern.
Agora todo-poderoso e cheio de ares de prosápia. Investido na qualidade de prefeito da cidade.
Dando ordens e afirmando objetivos de ação: Restabelecer a ordem, prioritariamente; apanhar colaboracionistas, sem perdoar...
Despediu-se: “Meus Senhores...”
Mas foi corrigido por Suzanne: “Meus Senhores e minha Senhora!”
Foi olhada de soslaio...
“Estou na Resistência, desde 1940!”
Esta personagem, Suzanne, é por demais interessante sob múltiplos aspetos: enquanto mulher, cidadã, política, trabalhadora, “Resistente”, militante...
Agora de namoro com Antoine, o herói romântico do “Desfile”, bem tenta encaminhá-lo... Mas ele apenas quer brincar com ela ao jogo de “pedra, papel tesoura” ou mesmo à “macaca”.
Que os alemães, comandados por Schneider, antes de abandonarem Villeneuve, face ao avanço das tropas aliadas, não sei se maioritária se exclusivamente americanas, deixaram ainda acentuadamente a sua marca de terror.
Convocaram a população, obrigaram (?!) os fascistas dos milicianos, para a execução - chacina de vários cidadãos da cidade, que enforcaram na praça, aos olhos aterrorizados e angustiados de familiares.
(Mas, nesta fase da guerra, como e porquê as designadas “autoridades” da cidade, ainda se sentem “obrigadas” a cumprirem ordens dos alemães?!
Como puderam tantas vezes, durante tanto tempo e tantos franceses serem autores ativos na morte de seus concidadãos, tão franceses como eles?!?!)
Como subtítulo também poderíamos designar:
A morte escusada / supérflua de uma Heroína (?)
Ou, a morte ignóbil (?), trágica, de uma Heroína (?)
Sim, porque neste episódio e no contexto dos enforcamentos, Marie Germain também sofreria a mesma sorte e morte de milhares dos seus concidadãos. Digamos, que mais uma vez, não sei se de forma trágica, se ignóbil, se escusada ou supérflua, Marie compartilhou a sua vida, a sua “Causa”, com os seus compatriotas.
Na minha perspetiva, fora eu guionista, e não “matava” a Heroína! Pelo menos assim...
Dar-lhe-ia um outro Destino. Glorificá-la-ia! Trataria de a fazer comparticipar nos festejos da Vitória.
Se a “matasse”, seria em batalha, em ação, em luta, sei lá, rebentando a ponte, ou com um tiro disparado por um inimigo.
Mas Destino é por vezes destino e neste quem manda é o guionista.
Irónico, mas extraordinariamente exemplificativo e paradigmático, é que o seu carrasco tenha sido Marchetti, esse personagem execrável, desumano, cheio de ódio pelos outros seres humanos...
Foi ele quem lhe pôs a corda ao pescoço, quem a prendeu, quem a esticou... mas quem a “puxou” não terá sido a própria Marie?!
“Lacaio miserável...”
E Marchetti deu um pontapé no banco para onde obrigara Marie a subir. (E porque subira ela?!)
E ficou a baloiçar, presa na forca...
“Que mal lhe fez a Humanidade?!”
(Lembramos que Jean Marchetti se referira a si mesmo, como um filho da “assistência pública”...)
No seu idealismo, Marie merecia outra sorte e diferente morte!
Até porque andava novamente de amores com Raymond.
Que a ouviu chamá-lo, quando ela se aproximava da ponte antes de ser presa por uns soldados, que não consegui identificar totalmente.
Pareceu-me que Schneider os apelidou de “bávaros”...
E sobre bávaros, Baviera, Alemanha, lembramos Muller e Hortense.
“Casados” sob nome falso; “casados” sem aliança, mas de tesoura; “casados” por pacto de sangue... estão sós, auto centrados, entregues a si mesmos, na floresta, projetando fugir para a Alemanha, que para a Suíça se tornara de todo impossível, que o exército americano já ocupara essa via.
E foi também para a Alemanha que o resto do exército alemão ocupante de Villeneuve conseguiu fugir, sem o prometido (?) impedimento dos americanos.
Prometido ficou também o acordo firmado entre as ainda autoridades “legais” da cidade e os “Resistentes”.
Acordo difícil, finalmente selado por documento de papel assinado!
Da salvaguarda de redenção ficaram excluídos, entre outros personagens, os milicianos e Marchetti. Que está carregado de culpas no cartório!
No final do episódio, vimo-lo carregar a sua mala, a caminho de um destino improvável, pelas ruas amarguradas de uma Villeneuve antiga e pobre, marginal, diria eu que um antigo bairro suburbano, certamente de grupos sociais minoritários e ostracizados.
Digo eu, porque li em excerto de futuros episódios que ele se irá refugiar em casa de Rita, judia, e sua antiga amante...
Aguardemos...
Notícias boas: Antoine e Suzanne, novo par amoroso, conseguiram salvar-se.
Teve início o 1º episódio com o discurso do General De Gaulle, proferido na Câmara Municipal da Cidade e transmitido na rádio, anunciando a “Libertação de Paris”.
“...
Paris ! Paris outragé ! Paris brisé ! Paris martyrisé ! mais Paris libéré ! libéré par lui-même, libéré par son peuple avec le concours des armées de la France, avec l'appui et le concours de la France tout entière, de la France qui se bat, de la seule France, de la vraie France, de la France éternelle.
...”
Discurso heróico, encomiástico e galvanizador da França... O apelo ao ego dos Franceses, mobilizando-os para a reconquista da Liberdade. Portador de Esperança!
Em Villeneuve, como provavelmente em toda a França, terá ele sido escutado por todos os franceses, pelo menos os que tivessem acesso a rádio.
As reações ao mesmo, as expetativas de cada um, as esperanças, os receios, as alegrias e tristezas concernentes, dependiam do respetivo posicionamento durante a ocupação.
Entre os “milicianos”, grupo paramilitar fascista, o seu chefe, Janvier, ameaçou desde logo que, antes da Libertação, em Villeneuve, ainda haveria de correr muito sangue...
E se ameaçou, melhor fez cumprir.
Ele e o seu grupo de fanáticos delinquentes não tiveram pudor de chacinar Vernet, a mulher, e os dois filhos. Uma família inteira.
(Lembremos, ironicamente, que a ideologia fascista, entre outros pressupostos, assentava na célebre trilogia: Deus, Pátria, Família...)
Entre os “Resistentes” aumentava a Esperança, agora que os exércitos libertadores, encabeçados pelos americanos, também se aproximavam.
A ação dos Resistentes o seu papel na “Libertação” era cada vez mais fundamental. O apoio logístico dos americanos e a colaboração com os mesmos já se iniciara há algum tempo, ainda que de forma limitada, pois as tropas aliadas ainda estavam a alguma distância, o exército alemão ainda ocupava a cidade, a estrutura político-militar de Vichy ainda estava operacional.
Os recursos, os meios e os efetivos humanos ainda eram poucos, mas havia ação.
Contudo esta nem sempre era possível de concretizar.
E, caso exemplificativo: Antoine e Suzanne assistiram, impotentes, revoltadíssimos, ao assassinato de Vernet e família.
Mas juraram agir, que não podiam ficar indiferentes a tal massacre.
Mais tarde, com a ajuda de Max e outros camaradas, invadiram a casa do facínora, deixando-o ferido de morte.
Fugindo à perseguição que lhes foi movida, acoitar-se-iam em casa de Gerard, o ex-marido de Suzanne, viúva de Marcel, como sabemos e, novidade, embeiçada por Antoine! Aliás é namoro assumido, ainda não concretizado, porque os tempos são difíceis, as oportunidades não são muitas, para quem anda sem eira nem beira, e o rapaz ainda está como veio ao mundo e, nessa condição, há sempre uma maior inibição, acanhamento... Aguardemos!
(Dirá o leitor que começámos com um registo heróico, abordámos um tema trágico, continuámos em temática amorosa e terminámos em registo irónico...
Mas a estrutura narrativa aborda estes e muitos outros cambiantes. Para além de que o “teclado” me vai levando por caminhos que, à partida, não delineei de todo.)
Em casa de Gerard, que vive com uma prima e a sua filha e de Suzanne, o amor pela ex-mulher ainda não se extinguiu da parte dele, que não dela, que, como sabemos, já dele se desligara há muito.
A reação da filha relativamente a Suzanne, foi de muita carência, necessidade de afeto, da presença da mãe, pedindo-lhe que voltasse...
Já aqui falei noutras vezes, como seria interessante abordar a guerra, segundo o olhar das crianças: Gustave, Tequiero, os filhos de Vernet, assistindo à execução sádica dos progenitores, e, agora, a filha de Suzanne... as crianças na Escola...
Parafraseando precisamente Suzanne, é imprescindível nunca esquecer o olhar das crianças!
(E lá está o sentido, o fio condutor da narrativa a desviar-se novamente...)
Acoitados por Gerard, pela prima, chegaram os milicianos que vasculharam a casa.
Alban, o executante das crianças de Vernet, a mando do padrinho Janvier, dialogou com a filha de Suzanne, questionando-a... viu os foragidos que procurava, mas não os denunciou...
Nestas personagens perdidas de si mesmas, em tempos tão incertos e de tantas mudanças e perplexidades, nestas e nestes personagens há muitas dúvidas, muitas ambivalências.
Muitos não sabem para que lado balançar, nem onde está o certo e o errado.
E, questiono-me, haverá sempre, simplesmente e apenas o preto e branco?!
O que acha?!
Mesmo entre os Resistentes, unidos num propósito comum é certo, persistiam muitas dúvidas: sobre os caminhos a prosseguir, como e quando agir, a quem seguir e obedecer, o que fazer e como fazer...
Também, ainda que irmanados nesse objetivo comum, a estrutura funcional, o ideário, as ideologias em que se integravam, por vezes dividiam-nos.
E Antoine e Suzanne sairiam de casa de Gerard que a prima deste, supostamente, fora avisar um resistente a trabalhar no café, para os vir buscar de carrinha.
Combinação feita, ao chegar a carrinha, eventualmente libertadora, tiveram a desagradável surpresa de terem Marchetti a esperá-los.
Levá-los-ia para a esquadra, mas isso veremos apenas no 3º episódio...
O célebre par amoroso que tem percorrido a narrativa, Hortense e Muller, está de pedra e cal.
Vão selando o seu amor, (e porque não Amor?!), até ao final. Arrastando-se para o abismo.
Prossegue o seu enlace, que Hortense é persistente, também não tem para onde cair morta, que é como quem diz... Ele também está de beiço caído por ela e ambos abandonam tudo e todos. E fogem para a Suíça.
Pelo caminho, as incertezas, dúvidas, perplexidades, medos, face ao futuro.
Conscientes do passado maldito (?), amaldiçoados no futuro, prosseguem a sua senda em direção ao precipício em que inexoravelmente cairão.
As autoridades francesas “legais”, que é como quem diz, Servier, Marchetti e os polícias, só pensam como sair ilesos ou o menos chamuscados, no futuro, que aguardam e temem.
Projetam negociar com os “Resistentes”, representantes da nova e futura legalidade e daí a captura de Antoine e Suzanne, como penhor de futuras negociações, encetadas inicialmente, mas goradas, com a ajuda do médico, Daniel Larcher.
Os Resistentes, já com a ajuda dos americanos, planeiam e agem no sentido da destruição da ponte que liga Villeneuve ao mundo exterior e que serviria, e servirá, para a saída das tropas alemãs.
Os americanos ajudam com logística e homens, mas o ataque saiu gorado, o detonador não funcionou, obter um substituto demorou e foi muito mais complicado do que seria expectável, os americanos também revelam muitas hesitações, que a tática é sempre perder o menor número de vidas possível e não correr riscos desnecessários.
A ponte não será destruída e, como veremos no 3º episódio, os alemães por ela abandonarão a cidade.
Em toda esta problemática da ponte, na tentativa de a sabotar, na sua ocupação posterior, nas negociações entre as várias fações, tem tido um papel determinante, como aliás já há bastante tempo, em toda a “Resistência”, a personagem de Marie Germain.
Que terá um destino cruel e trágico no 3º episódio: “A corda”!
Aqui termino esta narração tão incompleta, tardia e enviesada.
Obrigado por me ter lido até aqui!
Que nesta estória, muita história fica por contar e ainda mais História por narrar!
5ª Temporada – 1943 - “Choisir la Résistence” – “Escolher a Resistência”
A ação decorreu em 1943, durante os meses de Setembro, Outubro e Novembro.
.Episódios:
Travail obligatoire - (23 septembre 1943) – “Trabalho Obrigatório”
Le jour des alliances - (24 septembre 1943) – “O tempo/ o momento das alianças”
Naissance d'un chef - (25 septembre 1943) – “Nascimento de um chefe”
La répétition - (25 octobre 1943) – “A repetição”
L'arrestation - (26 octobre 1943) – A captura / A detenção
Le déménagement - (27 octobre 1943) – O despejo / A mudança de casa (?)
La livraison - (8 novembre 1943) - A entrega /A entrega ao domicílio (?)
Les trois coups - (9 novembre 1943) – Os três golpes/pancadas/tiros (?)
Un acte de naissance - (10 novembre 1943) – “Uma Certidão de Nascimento”
L'Alsace et la Lorraine - (11 novembre 1943) – “A Alsácia e a Lorena”
Le jour d'après - (12 novembre 1943) – "O dia seguinte" (?)
Un sens au monde - (13 novembre 1943) - “Um sentido para o mundo”
Desenvolvimento:
Terminou a 5ª Temporada, cujo título era “Escolher a Resistência”. Porque essa foi a temática global do enredo: a escolha do caminho, da opção de resistência e luta face ao invasor alemão.
De uma forma mais ou menos organizada, maior ou menor empenhamento, foi essa a atitude de cada vez mais personagens, para além dos que se foram constituindo como resistentes, logo desde o início. Muitos ficaram pelo caminho, muitos sofreram torturas e opróbios. (...)
Outros, cada vez menos, permaneceram indefetíveis no apoio e colaboração com os ocupantes... e, supostamente, em obediência ao governo de Vichy.
Também com 12 episódios, desde a Libertação de Paris, ocorrida a 25 de Agosto de 1944, até à Libertação de Villeneuve, ocorrida em Setembro, também de 1944, mas sem um dia específico, pois, como sabemos, a cidade é fictícia, e por isso os guionistas não sabem uma data exata sobre a respetiva libertação. (!)
Apresento a listagem e títulos dos episódios, um brevíssimo resumo do conteúdo de cada um deles, “traduzido” por mim.
Espero que ajude para quem queira ficar com uma breve ideia sobre a temática de cada um deles.
Anexei também este link original, em francês, para quem se possa aventurar nesse campo melhor que eu.
EPISÓDIOS
Episódio 1 - "Paris libéré" – Paris Libertada
Episódio 2 - "Le pont" – A Ponte
Episódio 3 - "La corde" – A Corda
Episódio 4 - "Sur le quai" – No Cais / Na Gare
Episódio 5 - "L'homme sans nom" – O Homem sem Nome
Episódio 6 - "Le groupe" – O Grupo
Episódio 7 - "Une explosion" – A Explosão
Episódio 8 - "Le procès" – O Processo
Episódio 9 - "Le crépuscule avant la nuit" – O Crepúsculo antes da Noite
Episódio 10 - "La loi du désir" – A Lei do Desejo
Episódio 11- "Arrestations" – Detenções
Episódio 12 – "Libération" - Libertação
Episódio 1 – “Paris libéré” – Paris Libertada
25 de Agosto de 1944
O General De Gaulle anuncia, na rádio, a Libertação de Paris.
Villeneuve vive as suas últimas horas sob a “Ocupação”. (...)
Episódio 2 – “Le pont” – A Ponte
26 de Agosto de 1944
Hortense e Heinrich prosseguem o seu caminho em direção à Suíça, enquanto Suzanne e Antoine são ativamente procurados pelas autoridades. (…)
Episódio 3 – “La corde” – A Corda
27 de Agosto de 1944
Jean Marchetti e o sub-prefeito, Servier, contam aproveitar-se da prisão de Antoine e Suzanne, para negociarem, algumas garantias de proteção, com os Resistentes e o C.D.L. (…)
Episódio 4 - "Sur le quai" – No Cais / Na Gare
28 de Agosto de1944
Na estação de caminho de ferro, Jean Marchetti, os milicianos e as suas famílias, aguardam o comboio que os deverá levar para longe de Villeneuve. (…)
Episódio 5 – “L'homme sans nom” – O Homem sem Nome
28 de Agosto de 1944
Agora, nas mãos dos americanos, Heinrich e Hortense são separados. (…)
Episódio 6 – “Le groupe” – O Grupo
29 de Agosto 1944
Daniel, ajudado por Lucienne, cuida dos feridos da unidade alemã, refugiada na Escola, a fim de se salvar bem como Gustave. (…)
Episódio 7 – “Une explosion” – Uma Explosão
Setembro de 1944
Os alemães deixaram Villeneuve, mas um grupo de milicianos retem ainda reféns na Escola. (…)
Episódio 8 – " Le procès " – O Processo
Setembro de 1944
Após a rendição dos milicianos e perante a impossibilidade de os transportar para Besançon, para o respetivo julgamento, Bériot decide instalar um tribunal marcial na Escola de Villeneuve. (…)
Episódio 9 – “Le crépuscule avant la nuit” – O Crepúsculo antes da Noite
Setembro de 1944
No decurso do grande baile comemorativo da Libertação , Villeneuve canta, dança e liberta as suas pulsões. (…)
Episódio 10 – “La loi du désir” – A Lei do Desejo
Setembro de 1944
Dez milicianos são executados, no fim de um processo falseado. Bériot propõe a Antoine, que encetou uma relação com a irmã de um miliciano, de se tornar chefe da polícia. (…)
Episódio 11- “Arrestations” – Detenções
Setembro de 1944
Enquanto que Jean se esconde permanentemente em casa de Rita, os problemas do quotidiano se agravam : Abastecimento, saúde, alojamento… É a penúria. (…)
Episódio 12 – "Libération" – Libertação
Setembro de 1944
Daniel e Hortense, sós e vilipendiados pela multidão, (turbamulta), apressam-se a deixar a cidade.
Antoine prendeu Marchetti. Bériot pede-lhe para o transferir secretamente para Dijon, mas a notícia espalha-se como um rastilho de pólvora.
Em breve, Antoine, Suzanne, Marchetti, Daniel e Hortense vão enfrentar o seu Destino…
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Epílogo :
Este post estrutura, de forma muitíssimo sintética, alguns dos tópicos dos episódios futuros.
É um convite à visualização desta nova temporada, para conhecermos o desenrolar da vida em Villeneuve, após a Libertação.
E o evoluir dos Personagens nesse novo contexto.
Apetecia-me tecer já alguns comentários. Mas prefiro guardá-los para quando visualizar algum episódio...