Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Os obstáculos anteriormente mencionados foram completamente ultrapassados. Aliás, no que me respeita, eles não existiam. Estive numa (re)leitura. Nalguns excertos até leio mais que uma vez. (Leitura saborosa, gostosa, como tantas vezes menciona o Autor. Apimentada, sem peias nem subterfúgios ou medos ou arremedos de linguagem. O Verbo sem grilhetas!)
Qualquer dos hipotéticos entraves são facilmente galgados, saltados os muros, tal como no folhetim, muitos muros, barreiras, foram ultrapassados pelos diversos protagonistas. Que o diga Ricardo, um dos personagens marcantes da narrativa, talvez quem mais barreiras derrubou. Leia, se faz favor e concordará comigo.
Também explicitei o caso da expressão linguística, em Português do Brasil! Postei um perfeito disparate. Tenho-me apercebido, há algum tempo, que uma parte dos leitores, destes meus postais, são originários do País Irmão. (Acho que tem muito a ver com a série “El Príncipe”…) Logo estão por demais habituados às respetivas expressões escritas e faladas. Este suposto entrave não existirá, portanto.
Os outros também não existirão, nem terão razão de existir.
Até na cabeça de Ascânio alguns dos preconceitos se perderam, face a Leonora, nem todos e para bem da estória, porque estão a ver a rapariga a ficar por ali, a fazer de amásia?! Além de que Dona Antonieta, “francesa da Martinica”, é Mãezinha, mas também patroa. E mais não adianto.
Tieta abalou segunda vez da Terra Natal, mais ou menos escorraçada pelos preconceitos, mas desta vez levando cajado do Pai, com que arreou no sobrinho. Guardadora de cabras! Senhora do Destino!
Ficou Dona Carmosina, despedindo-se segunda vez da amiga de peito, sem olhar a preconceitos e maledicências. Ela e a Mãe, Dona Milú, acima dessas minudências.
As ideias preconcebidas terão ficado na cidadezinha ou esta terá sido abalada nas respetivas convicções retrógradas e moralistas, apenas de aparências?!
Poderia conjeturar uma finalização, ou várias, do enredo, como o Autor sugere no final, talvez até venha a executar tal tarefa, não sei. Presunção minha…
Por agora fico por aqui, sem realçar mais aspetos do enredo e personagens…
O resto (?!), que é o tudo, quinhentas e noventa páginas de bons pitéus e sobremesas, de palavras mais doces ou amargas, substantivas, sem rodeios, fica para Si, Caro/a Leitor/a, poder saborear ao se embrenhar na tarefa de desbravar a leitura deste “enorme folhetim” como escreve o “pai da criança”.
E sobre ele, se transcreve da contracapa: “Na planura da literatura brasileira, Jorge Amado vai ficar como um bloco súbito de montanha híspida, cheia de alcantis, de cavernas, de precipícios, de massas brutas da natureza.” – Monteiro Lobato.
E, por agora, terminada a releitura, um mês, também finalizo este postal. E já estou de saudades. “De saudades se vive, não se morre…” Diz a protagonista, várias vezes, no enredo.
Quando publiquei o postal “Passeio Virtual por Cidades… e Aldeias”, em Maio, fi-lo precisamente porque estava e estou, farto de Covid. E quem não estará? Escrever sobre o dito cujo ainda me saturava e satura mais.
Entretanto passaram-se tantas coisas e qual delas mais estranha.
O “desconfinamento” atingiu proporções, a meu ver, exageradas e não só em Portugal.
Manifestações, de motivações justas, mas que descambaram em efeitos injustificados.
Em Portugal, as ações têm sempre uma escala proporcional à nossa dimensão. Alguns cartazes despropositados.
Nos States, após aqueles descalabros, previsíveis, dadas as assimetrias gritantes entre estratos populacionais, acentuadas pelos efeitos de Covid; na Velha Albion, onde a Covid também tem feito grande mossa; inépcia e incoerência dos respetivos governantes, em ambos os estados anglófonos, deu-lhes, aos manifestantes, para derribarem e apearem estátuas. (Não haviam bastado os talibans!…)
Sem qualquer sentido.
Porque, reflita, SFF. Que seria da América se não tivesse havido Colombo? Ou de Inglaterra sem colonialismo(s)? Onde estariam esses sujeitos a quem lhes dá esses amoques?! Existiriam sequer, enquanto seres humanos?!
Porque se fossem os contestatários, ameríndios nos States; ou os anglos, ou os saxões, ou os celtas, em Inglaterra, ainda se perceberia… mas sendo quem são, que seria dos ditos se não tivesse havido todos esses horrores, que de facto foram: escravatura, esclavagismo, colonialismo, tráfico negreiro… Que não defendo nenhum destes retrocessos históricos, friso!
A História não se apaga, não deixa de existir por ser negada ou escondida ou submersa nos rios, enterrada nos pântanos da ignorância. Bem pelo contrário! Deve estar visível para ser aprendida, apreendida, interpretada, estudada, ensinada. Para ajuizarmos com discernimento e espírito crítico o que tem valor ou não, ao nosso olhar atual, sem deixar de perceber o enquadramento epocal.
Tudo o que é Humano tem que ser contextualizado no tempo e no espaço. Não se pode emendar o que foi ou deixou de ser mal feito em tempos passados, porque o “tempo não volta para trás”!
Cá pelo burgo, melhor, na Grande Cidade, também lhes deu para vandalizarem monumentos! E logo do Padre António Vieira!
Não sou especialmente apreciador de estatuária laudatória na via pública. Muita é inestética, mal colocada no espaço, os respetivos personagens suscetíveis de valoração ou não, positiva ou negativa. Todavia, já que expostos, permitem-nos opinar, ajuizar sobre os mesmos. São lições de História!
Não têm que ser consensuais. Muito menos estragados, destruídos. Para estragação e achincalhamento, basta o que lhes fazem os pombos, diária e continuadamente.
Que nos digam os Grandes: Camões, lá do alto do seu pedestal e Eça, mais terra a terra, mais a sua Verdade, um pouco mais em baixo.
De modo que, e um pouco mais acima, esborratar o Vieira é completamente incongruente.
António Vieira (Lisboa – 1608 / Baía – 1697): Orador e Escritor português. De pais de condição modesta, sua avó paterna era mestiça, serviçal na casa dos condes de Unhão.
Foi para o Brasil aos 6 anos. Estudou no Colégio dos Jesuítas, na Baía. Entrou na respetiva Companhia.
Distinguiu-se na catequese dos índios, de quem foi defensor intransigente.
De 1641 a 1652, esteve na Europa, nomeadamente ao serviço de D. João IV, de quem foi embaixador em França, Holanda e Itália.
Voltou ao Brasil, onde permaneceu de 1652 a 1661.
Levou o decreto real de libertação dos "índios", que provocou violentas reações dos colonos e o seu desterro para Lisboa.
Na sua segunda estada na Europa, 1661 – 1681, foi preso em Coimbra, em 1665, nos cárceres da Inquisição.
Viveu em Roma de 1669 – 1675. Regressaria ao Brasil em 1681, onde morreria em 1697.
Foi um Cidadão do Mundo, atravessou sete vezes o Atlântico, percorreu milhares de quilómetros, muitas vezes a pé.
Distinguiu-se especialmente nos sermões. Profundo conhecedor do coração humano. F. Pessoa o intitulou “Imperador da Língua Portuguesa”. Elogiado por A. Sérgio “nunca se escreveu em português mais claro, mais próprio, mais natural…”
Arrebatava tanto a gente inculta do Brasil, como o requintado mundo dos cardeais da Cúria Romana.
“Expoente da oratória sacra portuguesa e um dos maiores da oratória universal, foi político, missionário, defensor dos fracos, crítico audaz dos poderosos e patriota visionário.”
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(Para este excerto sobre P. António Vieira, mais uma vez, me baseei na Lexicoteca – Moderna Enciclopédia Universal – Círculo de Leitores - Tomo XVIII – pag.s 164, 165, 166.
Manias pré históricas!!!)
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E ainda...
Relacionado com o postal anterior, dizer que continuei com Tieta. Apaixonante a narração. Dá vontade de não parar. É sempre assim com Jorge Amado.
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E a foto?!
Original, como gosto que sejam. De flores, ou de plantas, pela(s) sua(s) simbologia(s).
Repare, SFF:
Hoje é dia 13 de Junho. Dia de Sto António. A respetiva flor simbólica é o lírio branco. (Na minha terra, também chamamos a estes lírios, açucenas.) E qual foi o celebérrimo sermão de Padre António Vieira? De Santo António... aos peixes. Que é isso que também ando a fazer... Mais valia ao pessoal que, em vez de desconfinar por dá cá aquela pallha, fosse tratar de jardins, que bem precisam. Nem sabem como é relaxante, tratar de um jardim ou de uma horta. Experimente, SFF.
Ou a Volta da Filha Pródiga, Melodramático Folhetim em Cinco Sensacionais Episódios e Comovente Epílogo: Emoção e Suspense!
Jorge Amado
Editora Record – 2ª Edição – 20/8/77
Capa de Carlos Bastos
Ilustrações de Calasans Neto
Retrato do autor por Flávio de Carvalho
Foto do autor por Zélia Amado.
Comprei o exemplar que tenho, numa Feira do Livro de Lisboa, em 6/6/80, há 40 anos! Li-o nessa data. Mais tarde, vi a novela que passou na TV portuguesa - (89 / 90).
Agora, resolvi voltar a lê- lo. Apenas comecei. Mas interessante (!), ao fazê-lo e imaginar as personagens, associo aos artistas que lhes deram corpo na novela, de que gostei muito, aliás.
Betty Faria na personagem principal, Tieta; a célebre Perpétua, representada por Joana Fomm e assim por diante.
Questiono-me: Quando li pela primeira vez, antes da novela, como imaginaria as personagens?! Será que as associava às de Gabriela que já vira em 77?! (Mistério… como diria Dona Milu.)
Jorge Amado (1912 - 2001) é, de entre os escritores brasileiros, aquele de que mais tenho lido. Certamente será dos mais conhecidos, mercê também da sua divulgação através dos audiovisuais: televisão, cinema.
Além do supracitado, também Gabriela…, duas apresentações novelísticas, e também cinema; Dona Flor… Mar Morto… pelo menos estes de que me lembro.
No caso de Gabriela… considero que o livro e as duas novelas subsequentes são três obras artísticas ricas e peculiarmente diferenciadas, embora partindo do mesmo universo narrativo. Não sei de qual delas mais gostei. Se ler, se visualizar as tramas novelísticas!
Voltando ao Escritor. Cidadão envolvido social e politicamente na vida do seu país, apesar da trama narrativa dos livros mais emblemáticos se situar geográfica e culturalmente no universo do seu Nordeste / Baía – Região do Cacau, consegue transpor nos seus personagens os sentimentos universais do Ser Humano.
Partindo dum contexto muito particular, alcança a universalidade no conteúdo da sua trama narrativa. Também gosto, na sua escrita, como transparece o sentimento geral do Amor e a luminosidade otimista da Vida de um país cheio de sol!
(Livro escrito em português do Brasil, frise-se, com quase 600 páginas.
No final da sua narração, o Autor, após registar “FIM”, escreve: “Bahia, Londres, Bahia – 1976 / 1977”.
Quer dizer que o escreveu no período da ditadura militar: 1964 - 1985.
Havia Portugal saído há pouco da sua dita dura e, aliás o Autor refere isso logo no início pag. 16: “… ninguém sabe o que pode acontecer no dia de amanhã, recente, aí está, o exemplo de Portugal, quem poderia prever?”
Também já Chico Buarque editara “Tanto Mar” – 1975 - e cantava: “Sei que estás em festa, pá / …”
Esta 2ª edição fora de 50.000 exemplares – A 1ª, de 120.000, datada de 3/8/77. Distribuição: Centro do Livro Brasileiro, Lda)
Divulgados todos estes dados o melhor é recomeçar a ler.
Mas antes e ainda, referir que a ação decorre “… nos idos de 1965 – data tão próxima, ainda ontem, parecendo contudo distante passado ante as transformações do mundo; …” (pag. 333)
E também, que Jorge Amado, após conclusão da escola primária, em Ilhéus, aos 10 anos, vai estudar para Salvador de Baía, como interno no Colégio António Vieira… de onde foge. (Esta informação tem a ver com a atualidade de ontem em Portugal!)
Sobre esta Obra da Literatura, um clássico de meados do séc. XIX…
Ainda quero debruçar-me sobre o mesmo, a partir de dois posts que pretendo elaborar.
As Obras Clássicas têm esse condão. Sendo de épocas passadas, mas quando têm qualidade inexcedível ou foram produzidas por Artistas de competência inigualável, conseguem, apesar da passagem do tempo, manter atualidade, relativa é certo; no caso supra citado, ainda e apesar de terem passado quase cento e setenta anos.
As leituras entretanto realizadas.
Em Agosto ainda, e de uma assentada, li o emocionante livro de Jorge Amado, “Mar Morto”, que, como acontece com as Obras deste Autor, não deixo de ler enquanto não termino a Obra. Isto é, não faço pausas de dias ou semanas. Este li-o em dois dias, tal a força com que o enredo nos prende, sendo que não é, em termos de densidade de texto, propriamente uma “Tieta…”. Também é um livro praticamente da juventude do autor, dos seus 24 anos.
Jorge Amado produziu uma Obra notável, desde relativamente jovem. Paradoxalmente, e apesar dos muitos prémios que recebeu, nunca foi premiado com um Nobel.
As personagens dos seus livros são geralmente pessoas com quem se simpatiza facilmente. Normalmente são heróis da vida do dia-a-dia. Muitas de vidas muito atribuladas, mas sempre com uma grande carga de humanismo. As personagens nunca se revelam intrinsecamente más, pelo menos que me lembre. Algumas agem de forma errada, é certo, mas foi geralmente a vida, as agruras dum viver desesperançado que os levou à vida que levam, aos trilhos que pisam.
Jorge Amado revela uma especial predileção pelos deserdados de fortuna, sem eira nem beira, mas cheios de humanidade, que lutam e labutam no seu sustento diário.
Neste livro “… a história de Guma e de Lívia, que é a história da vida e do amor no mar.”
Homens e mulheres valentes que, cheios de coragem, mas também com o medo de todos os humanos, fazem e encaram a vida como uma luta pela Sobrevivência e Dignidade.
As mulheres são normalmente vistas com grande carinho e as mulheres de vida fácil, mulheres da vida, mulheres dama, têm um lugar sempre especial na narrativa, algumas até na categoria de heroínas e personagens principais, caso de Tieta, por ex.
A Baía, Ihéus, Itabuna, o Nordeste e o Mar, simultaneamente pai, mãe e carrasco dos homens e mulheres que nele labutam, as praias de areias sem fim de mundo, a densidade sincrética da cultura baiana, triângulo de miscigenação cultural de África – Europa – América, o erotismo, as mulatas e cabrochas que amam nas dunas embaladas pelo vento, são alguns dos ingredientes gostosos dos enredos literários que o escritor confeciona como nenhum outro.
Muito fica por dizer sobre o Autor, de que conheço apenas algumas obras, algumas simultaneamente da literatura e da televisão, caso de Gabriela, que segui as duas novelas e reli o livro, e de Tieta, de que também vi a versão da TV (novela).
No caso de Gabriela é interessante mencionar que o Livro é um Obra ímpar. A primeira novela, com Sónia Braga e Armando Bógus, é outra Obra e a 2ª novela, remake da primeira, é uma terceira Obra. Têm pontos comuns entre si, mas também são relativamente diferentes, apesar de baseadas nas mesmas temáticas, em espiral sobre o texto primevo do Autor.
Também vi o filme “Dona Flor…”, assente no triângulo romanesco…
E li “Os Subterrâneos da Liberdade” e “Capitães da Areia”, há bastante tempo. Este último, reli-o recentemente.
Ah e também já li e reli “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”! E adoro este conto.
E agora…
Iniciei, há pouco tempo… Imagine-se! O livro que “Ninguém deveria ser autorizado a chegar à idade adulta sem ter previamente lido…” Eu que estou já a entrar na terceira idade…
Este livro já é do tipo que interrompo a leitura. Há dias que não lhe pego.
Também, agora, tenho-me dedicado muito ao blogue…
E qual é o Livro?!
…
Algumas dicas: é de um escritor de raiz anglo-saxónica, foi nobelizado e nasceu no século XIX.