Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Logo agora que foi aprovada a designada “Europa Social”, no Porto e em início de Maio, mês de “Dia do Trabalhador”…
Pois, nem de propósito, a situação de escravidão, em que vivem trabalhadores das atividades nas estufas das agriculturas intensivas, ganhou foros de manchete nos meios de comunicação.
Era algo que se sabia, não é situação nova, não é específica do Alentejo, noutras regiões de Portugal existem casos semelhantes; em Espanha, França, Itália também proliferam casos idênticos. Por esse mundo afora…
Alguns desses trabalhadores migrantes, nas mãos de máfias organizadas, até serão levados de umas regiões para outras.
Nada justifica estas posições, a não ser a ganância de alguns, em detrimento de quem pouco ou nada tem.
A génese destes problemas até estará nos países de origem destes e doutros migrantes, dos que atravessam oceanos em fuga. Portugal já foi porto de origem de situações semelhantes, hoje é porto de destino.
Em todas elas a tónica dominante é a exploração desenfreada de pessoas, em modo de escravidão, sem o mínimo de condições que respeitem a dignidade humana.
O cinismo com que este assunto foi abordado em diversos contextos, a forma como foi tentado de resolver apressadamente, também não terá sido de louvar.
Todas as Pessoas têm direito a serem respeitadas, a sua condição de seres humanos valorizada, a uma remuneração digna, a condições de vida satisfatórias, para si e seus familiares.
Que resolvam a situação de modo que estes trabalhadores, vindos dos mais diversos locais do mundo, sejam considerados e valorizados pelo seu trabalho.
Que são eles que executam tarefas que portugueses não querem fazer.
Que permitem aos supermercados terem muitos dos produtos hortícolas que consumimos, nós e muita da Europa, “Social” ou não.
Que as Entidades, públicas e privadas, que tutelam os vários enquadramentos em que se processa o trabalho destes migrantes, sejam responsáveis. Que atuem! Que ajam!
(Toda a gente sabia, mas fingiam que não.)
Não fora a Covid e a “utilização” de um resort turístico, que tanta celeuma levantou, ademais já várias vezes falido, não sei onde vão buscar o dinheiro e ainda mais o que lhe fazem, não fora tudo isso e continuavam a assobiar e olhar para o lado.
Tratem de reconhecer a dignidade devida aos trabalhadores! Destes e dos milhares de portugueses também em trabalhos precários.
(Adenda: Os restos do foguetão chinês caíram lá para o Índico, não vieram cá para os lados de Portugal, e ainda bem. Já basta o Corona!)
E a foto original? Maio, é mês das rosas! E fica o mote para próximo postal, que agora tenho um grande acervo de rosas.
Incentiva-se quem tem vontade, interesse, motivação, disponibilidade, competência, para trabalhar?!
Crónica(s) de Descontentamento (II)
(Candidatura frustrada a um Trabalho)
Não posso deixar de contar, brevemente, uma história ocorrida com uma Pessoa Amiga.
Estando reformada, ou aposentada, que não sei qual o termo mais indicado, Pessoa Amiga candidatou-se a função/atividade, deveras interessante, a exercer em Instituição Pública. Atividade de contacto com o público, num trabalho de campo, que já exercera na juventude, propôs-se e candidatou-se à função, a partir de um anúncio que vira numa Junta de Freguesia.
Formulou uma proposta de interesse, via mail; recebeu confirmação também online, com formulário de inscrição, a que respondeu, após várias “lembranças” da Entidade, aos vários itens aí consignados, reiterando a sua disponibilidade: inscrevendo-se, não omitindo a sua condição profissional.
Posteriormente, seria notificado para comparecer a entrevista coletiva na Sede da Instituição, no pretérito dia dezoito de Setembro, marcada para as nove e trinta. A que compareceu com muito gosto. (Foi o primeiro candidato a chegar! Assistiu à chegada de todos os outros, como pretendera.)
Estiveram presentes mais nove candidatos. Um total de dez: seis homens e quatro mulheres. Terão faltado quase outros tantos.
(A sessão, como é triste apanágio dos portugueses, iniciou-se com um quarto de hora de atraso.)
Após a representante da Entidade ter equacionado e explicado os vários e possíveis enquadramentos institucionais da atividade/função; ter respondido e esclarecido dúvidas suscitadas pelos intervenientes; propôs a apresentação dos vários candidatos, como é de “praxe”, numa entrevista coletiva.
Iniciou-se essa apresentação por essa Pessoa, minha Amiga.
E foi, quando explicitou a sua situação de reformada, que lhe foi dito que não poderia candidatar-se à função, porque não podiam estabelecer um contrato consigo.
Não interessa o facto em si, dessa cláusula ter sido ou não explicitada previamente, que várias pessoas foram nessa condição, nem de a Pessoa ter ido em vão à entrevista, que isso nem chateou o Sujeito. (E foi interessante reviver situações de grupo em que participou tantas vezes ao longo de vários anos… Pena não se ter lembrado de pedir permissão para assistir às apresentações dos restantes candidatos…)
O que me interessa aqui e neste post questionar é:
Então, mas que país, (com letra minúscula), é este, que não aproveita nem valoriza as Pessoas realmente motivadas e interessadas em trabalhar?
Que não dá valor às competências dos seus compatriotas que querem dispor-se a trabalhar?!
Ou o que interessa é o oportunismo de quem quer é o subsídio de desemprego, disto ou daquilo, receber o pilim ao fim do mês e estar-se nas tintas para o Trabalho?!
O Governo do Partido Socialista, chefiado por Drº António Costa, tomou posse hoje, dia 26 de Novembro. Apenas com membros afetos a este Partido, mas apoiado parlamentarmente pelo Bloco de Esquerda, pelo Partido Comunista Português e pelos Verdes.
Um Governo de um Partido que não sendo maioritário na Assembleia da República tem, contudo, o apoio maioritário no Parlamento. O que só pode acontecer assim, dado que vivemos numa Democracia Parlamentar.
Situação aliás frequente em vários países de Democracia avançada.
Apenas dois desideratos fundamentais que precisamos que este Governo nos traga:
1º - Estabilidade – Este objetivo implicará que este Governo cumpra a Legislatura.
Objetivo que deverá determinar necessariamente que os “parceiros” que o apoiam, cumpram esse compromisso. Apoiar o Governo durante os quatro anos da legislatura.
Não será fácil que isso venha a acontecer sempre. Surgirão crispações, desentendimentos mais ou menos fortes, que inclusive serão muito bem aproveitados e fomentados pelas forças políticas que estão contra estes acordos do PS, bem como pela Comunicação Social que lhes é afeta. Pelos Detentores do Poder Económico, Financeiro… Para além de todas as pressões externas que surgirão, às claras ou na sombra das tomadas de decisão e em todas as jogadas políticas que existirão nestes jogos de Poder.
Necessariamente haverá que buscar acordos e consensos entre o Governo e os Partidos apoiantes.
Este Governo não terá a vida fácil. Sofrerá ataques dos mais variados setores de Poder e Contra Poder. Tanto nacionais como internacionais. Que saiba resistir a esses “ataques” e que não soçobre internamente, nem no contexto dos grupos apoiantes.
Que saiba resistir ao que quebra muitas vezes os Ideais: a Fome de Poder, a Corrupção, o "Compadrio"…
2º - Este Governo deverá implementar medidas, dentro dos respetivos contextos ministeriais, que focalizem as “Pessoas”, como móbil fundamental das políticas governativas.
Em termos de Valores, que implementem ações subordinados ao conceito de Dignidade. Que devolvam a Dignidade às Pessoas. Àqueles que dela mais se viram espoliados: Trabalhadores, Velhos, Reformados, Jovens… “Classe Média”…
Há setores em que a ação deste Governo irá ser muito elucidativa: Educação, Saúde, Justiça, Trabalho e Segurança Social.
As medidas a tomar nestes campos vão indicar-nos, com maior ou menor clareza, qual vai ser o “norte” desta governação.
Num destes setores há questões muito mediáticas que serão a "pedra de toque" desta governação, a curto prazo. Conforme este Governo nelas "pegar" assim deduziremos se nos trará ou não a "Estabilidade" e a "Dignidade" que precisamos.
Aguardemos...
Desejamos que tudo corra pelo melhor, que o que Portugal precisa é de um “Governo que governe bem”, passe a redundância.
P.S.-
E com este post, de algum modo, quebrei mais acentuadamente um dos meus tabus.
Sim, também tenho os meus tabus!
Esclarecendo. Abordo muito diretamente questões de Política “tout court”. Isto é no sentido mais imediato do termo. Falo deste tema, “política”, de uma forma muito direta e até, temporalmente, muito em cima do acontecido. Ainda que de modo muito “suave”.
“Gostaria que fizesse algo por mim.” Palavras do Alcaide, para Dona Elvira.
Assim também ficámos a saber como a fidalga obteve o dinheiro para saldar a dívida e pagar a Ulloa. A carta misteriosa que ela recebera teria sido proveniente do Alcaide, não sabemos é o que ele terá andado a fazer nestes episódios em que esteve desaparecido. Dinheiro continua a ter. Também irá repor o correspondente ao desfalque que fez? Aguardemos. Mas visualizámos a sinopse do próximo episódio e tudo indica que irá ter papel importante!
E aqui focamos um dos subtemas que vem perpassando na série. O modo de vida da fidalguia de nome e linhagem antiga, vivendo acima das posses, desbaratando as heranças dos antepassados, enchendo-se de dívidas, usando todos os mecanismos de sobrevivência, para se manter à tona da sociedade. De que o modo de atuação de Dona Elvira serve de mote e que ela pretende continuar, assumindo o papel de Homem da Casa, a chefia da Família, já que o filho optou por outro modo de ganhar a vida, recorrendo ao Trabalho, fator e base de desenvolvimento da Nova Sociedade que se adivinha.
Exemplificando a queda do Antigo Regime de que a Revolução Francesa foi o motor, à data, ainda em primeira velocidade, mas de que a Guerra do Rossilhão, no início, já prenuncia a futura entrada dos exércitos napoleónicos na Península.
O filho, Dom/Doutor Daniel, no papel principal do enredo, em múltiplas facetas.
Enquanto fidalgo, nos princípios e valores ainda espelha a sua educação de base; mas também no papel de médico, exercendo uma profissão mediante salário, de formação académica superior, obtida em França, no início da Revolução, inovador nos métodos, na pesquisa e experimentação, perfil de investigador, aliando teoria e prática.
Enquanto herói apaixonado por uma mocinha da aldeia, do campo, Amor que pretende salvaguardar, prenúncio do Romantismo. Simultaneamente casado, segundo os cânones da Ordem Antiga, por conveniência, casamento combinado pelas famílias, e formalizado por um acaso excecional, mas que ele pretende manter, porque deu a sua palavra, selando um compromisso. Contudo, não amando a sua esposa, ainda não conseguiu consumar o matrimónio. O que se tornou tema do enredo, envolvendo a esposa, Clara, viva, que já foi morta; o Pai, Dom Andrés, confidente da filha que já não tem mãe, ou julga não ter, ou não se lembra, o que dá no mesmo. E também Dona Elvira, que, assim, fica a saber dos desaires do filho.
Mas o rapaz acaba por concretizar o ato! Numa cena filmada com o classicismo e a contenção de outros tempos, em que as ações são mais sugeridas do que explicitadas. Mais imaginadas que vistas.
De caráter exaltado não consegue controlar as pulsões viris, fácil e irrefletidamente se envolve em disputas cegas e absurdas, de que a briga na taberna foi o paradigma e cujas consequências lhe rebentaram nas mãos, quando se viu perante o paciente, que quase rebentara de pancadaria. Agora, na sala de operações, onde seria suposto Daniel, enquanto médico, salvar.
E voltam as palavras sábias do seu colega e mentor, Doutor Devesa, de que as mãos são o seu bem mais precioso, que não são para desbaratar em sessões de boxe, que não sei se já assim seria designado esse desporto briguento.
Doutor Devesa, papel crucial no Hospital, enquanto Cirurgião Mor e membro do Conselho Hospitalar, numa vida dedicada aos Outros, tentando salvar Vidas, mas também consciente dos fracassos sempre inerentes dessa função. Inovador quanto baste enquanto profissional, mas apoiando as pesquisas do novel médico, pragmático e sensato, que a idade tudo leva e tudo traz. Portador de um segredo, que confessou ao Capelão e certamente dedutível a partir das palavras gravadas numa carta que um seu Amigo escreveu na hora da Morte e que foi parar em endereço errado, passando das mãos da víbora Úrsula para as da cascavel Somoza. Destino trágico e cruel!
Dona Irene, feminista antes de tempo, ao sujeitar-se a uma operação a um pólipo no Hospital, aliviada de não ser gravidez, pode observar internamente o respetivo funcionamento. Uma vantagem para todos.
Constatando que as enfermeiras eram pouco mais que escravas na Instituição, propôs que elas recebessem um salário.
Proposta ousada na altura, sob todos os aspetos, muito para além do lado financeiro, ou eventual prejuízo para o Hospital, que ela se propôs cobrir, abdicando de alguns benefícios no seu negócio de abastecimento de víveres.
Sujeita a votação no Conselho, foi a proposta aprovada, revelando-se Dom Andrés, além de excelente administrador, também exímio estratega.
Doutor Devesa votou a favor, sendo igualmente portador do voto favorável da comerciante, que estava ainda de convalescença. O Inquisidor e a Enfermeira Mor foram, naturalmente, opositores. E aí, Dom Andrés pediu o voto do Capelão Mor, que também foi favorável, situando-se, assim, em oposição, mais uma vez, ao Inquisidor, desobedecendo-lhe. Calcule-se como este ficou a ferver por dentro, pronto a explodir, o que acontece umas linhas adiante.
Estava a proposta aprovada, mesmo sem sequer ser precisa a votação do Administrador.
Mas sendo este interpelado pelo Inquisidor para que o fizesse, foi também a sua opinião no sentido de aprovar um salário para as Enfermeiras.
E, assim, definiu também os papéis de cada um no Conselho e reforçou o seu Poder, que o Inquisidor tanto deseja.
Este, após a ocorrência e nos bastidores, no corredor, perante o Capelão, Padre Bernardo, saltou-lhe completamente a tampa, berrou-lhe que nem fera enlouquecida, não o engoliu vivo porque não pôde, explodiu de raiva e informou-o de que o iria mandar prender pelo Santo Ofício.
E isto porque a carta, que o amigo de Doutor Devesa lhe escreveu, foi parar às mãos da Enfermeira Mor, Dona Úrsula, o “Dragão”, de Komodo, lhe chamo eu, víbora que também é cascavel. Que conduz a narrativa pelos caminhos ínvios da destruição e malvadez.
Portadora da carta e conhecedora do segredo do Doutor Devesa, resolveu mudar-lhe o endereço e atribuir-lhe outro destinatário: o Capelão Mor, Padre Bernardo, Alma caridosa e boa, que não merecia tal destino. Assim, simultaneamente, atacava dois opositores, de forma imediata, o Capelão e quem sabe, futuramente, o Cirurgião!
Na posse da carta dirige-se ao Inquisidor, supondo que levava um trunfo imbatível, exigindo ou propondo, não sei bem, a troca da carta pelo original do testamento do Padre Damião, que ela falsificara.
Pensava ela que levava um trunfo imbatível, disse eu. Só que o feitiço se virou contra o feiticeiro e, o Inquisidor, víbora ainda mais peçonhenta, não só lhe confiscou a carta, como não lhe deu o testamento, e cumulativamente ameaçou-a de Tribunal e cadeia e ainda a subjugou mais à sua vontade e fome de Poder!
Do Poder que quer ganhar no Hospital, que nós já sabíamos, pois ele já o explicitara ao Capelão, frisando-lhe que o seu papel na Instituição era precisamente esse e não outro qualquer. Ajudá-lo a obter o lugar de Administrador, retirando-o a Dom Andrés. E, por isso mesmo, fora designado para as funções de Capelão Mor.
Objetivo que, a partir de agora, Dom Andrés também já ficou sabedor, pois que o Capelão lho deu a conhecer, quando dele se foi despedir.
Que o Capelão não quis esperar que viessem buscá-lo para ir para a prisão do Santo Ofício. “Adianto-me aos seus enviados. Ninguém sentirá a minha falta”, disse ele a Somoza, Inquisidor Mor, ao apresentar-se para ser preso.
Que não lhe sentissem a falta não é verdade, que Dom Andrés manifestou-lhe logo a sua estima e relevância no Hospital.
Doutor Devesa, ao saber que era devido à célebre carta, em que certamente se falaria de uma amizade, só que colorida e, malevolamente, fora endereçada para o Capelão, logo ali quis assumir os seus pecados, que ninguém tinha que pagar por eles. O Capelão lhe disse que os seus pecados, já confessados, expiaram com a morte do seu Amigo, Aníbal.
Interrogando-se como a carta poderá ter ido parar a Somoza e deduzindo que só poderia ter sido a cascavel, a ela se dirigiu, apelidando-a precisamente de víbora, o que nós já fazemos há alguns episódios, e, exaltado, lhe gritou: “Vou encarregar-me que pague pelo que fez com Bernardo!”
Pelo que bisbilhotámos do próximo episódio, vislumbrámos que o Destino se vai encarregar desta ameaça!
E ficam-nos sempre temáticas por abordar, personagens por mencionar, excertos por comentar.
Já referi a simpatia de Duarte por Olalla.
Ontem, quando no quarto dela entrou, muitas ideias malévolas se supuseram! Quando abriu a navalha com que degolou as suas vítimas, e da jovem se aproximou, um arrepio surgiu, como se ele fosse executar o papel do Destino…
Afinal, tão somente e apenas se abeirou dela para lhe cortar uma madeixa de cabelo, que guardou cuidadosamente num bolso, junto ao coração.
E é assim, este assassino. Simultaneamente crudelíssimo e ao mesmo tempo capaz de gestos simples de carinho, só carinho (?), nomeadamente quando olha, enlevado, para a mocinha, heroína da novela!
E, a outra moça, Rosália, continua se derretendo com o seu Cristobal, o boticário!
Bem, volto à escrita no blogue. Parece que, finalmente, desatei o nó que enleava o processo criativo.
E continuamos, como se entre este e o último post não nos separassem nove dias. Dias em que a materialização do que escrever se bloqueava, apesar de saber o que queria e quero transmitir. Mas passar ao ato, à concretização do que idealizava, é que não acontecia. Adiava. Seria amanhã, sempre amanhã! Que chegou hoje!
No texto anterior falei no Solar dos Zagallos e de Almada. E de como é uma Cidade de Cultura e Arte.
Pois aí continuamos.
A imagem apresentada é a digitalização de um postal comemorativo do “25 de Abril de 1998”. Faz parte de um conjunto de postais que a Câmara costuma enviar aos munícipes, como aliás muitas outras entidades autárquicas fazem, evocando essa Data, o Natal, O “Dia Internacional da Mulher”, etc. Costumo colecioná-los.
Este documenta um monumento situado a oeste da Av. Bento Gonçalves, na zona da Ramalha, perto da linha do Metro, onde se entroncam as duas linhas. Estrutura simbolicamente duas mãos entrelaçadas e é de ferro, como vários outros espalhados pela cidade. Autoria: Mestre José Aurélio. Simboliza e evoca o Trabalho!
Como este, vários outros existem sob a forma de “Arte Pública”, localizados nas diversas freguesias da Cidade. São uma forma de fazer chegar a Arte aos cidadãos que dela assim podem usufruir gratuita e livremente. Diremos que materializam um certo ideal estético, é verdade, uma determinada iconografia, até uma certa ideologia. Uma determinada idealização e práxis do exercício do Poder e da Cidadania, dirigidos às Pessoas, aos Cidadãos que assim se educam, ou se pretendem educar, no contacto e com o conhecimento da Arte.
Continuando a linha do discurso e narrativa do post anterior, falemos dos eventos culturais recentes.
No dia 18 de Julho, sábado, encerrou o 32º Festival de Teatro de Almada. Entre os diversos espetáculos, destacamos “BG, Programa de homenagem ao Ballet Gulbenkian”, no Teatro Municipal Joaquim Benite.
No dia 19, domingo, pelas 17h, na sala de espetáculos do Fórum Romeu Correia, Auditório Fernando Lopes-Graça, houve música. A “Casa do Fado”, na voz de Elsa Casanova, fadista; acompanhada em viola de fado por André Santos e guitarra portuguesa, por Hugo Edgar.
E amanhã, 4ª feira, 22 de Julho, inicia-se, também no Fórum Romeu Correia, a 10ª Mostra de Cinema Brasileiro. Entrada Livre!
E tenho dito, em abono do que explanei neste e no post anterior sobre Cidade, Cultura e Cidadania. Serão temas a que voltaremos e que se enquadram nos objetivos deste blogue!
E como não tenho que publicitar só o Trabalho dos Outros, até porque ninguém me paga, contrariamente ao que por aí se publica, divulga e promove...
"Publicito", entre aspas, também o que é meu, relacionando com a imagem apresentada!
Conforme previsto, realizou-se no passado sábado, dia 13 de Junho, a partir do início da noite, o supracitado Encontro de Cantares Alentejanos, no Concelho de Almada, organizado pelo “Grupo Coral Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó”.
"Amigos do Alentejo do Feijó"
Com a realização estruturada para um palco montado junto ao Complexo Municipal de Desportos da Cidade de Almada, a chuva que Santo António resolveu enviar para as milharadas e hortas espalhadas pelo concelho, levou à mudança de local do evento, para o mítico pavilhão do Clube Recreativo do Feijó, uma verdadeira “Catedral do Cante” na Margem Sul.
E este é, desde logo, um ponto a realçar, a capacidade de reestruturação duma orgânica já delineada, mudando o respetivo espaço de realização; bem como a disponibilidade do Clube anfitrião. A organização destes eventos, com todo o muito trabalho que as sustenta e não é imediatamente visível, é sempre de realçar.
Digamos, sem sombra de dúvidas, que a sala, na sua arquitetura e design simples e popular, direciona o evento para a sua função principal: ouvir cantar e vivenciar as emoções que aquelas vozes telúricas proporcionam, transportando-nos a um Alentejo mítico, distante espacial e temporalmente, mas ali bem presente.
Quem vai a estes eventos é porque gosta, é realmente fã do Cante, das evocações que as modas nos trazem, mesmo que a realidade por nós vivida já tenha sido bem diversa do evocado pelas canções.
Experienciam-se, aí, momentos emocionalmente únicos, de facto! Lembranças que, para além de nossas, nos pertencem ou as sentimos com mais afeto, pelo que nos foi transmitido e pelo que, através delas, evocamos de Pais e Avós.
"Camponeses de Pias - Foto original de António Cunha. In: www.vozdaplanicie.pt"
“O Cante é uma foice de vento a cortar o silêncio.”
Com este verso de um poema de Vitor Encarnação, lido na apresentação do Grupo “Os Ganhões de Castro Verde” poderia sintetizar o sentido e o sentir do Cante e do que se ouviu nessa noite.
"Ganhões de Castro Verde"
Participaram sete grupos.
O grupo organizador e anfitrião, “Grupo Coral Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó” integra-se no contexto da “Diáspora Alentejana”, enquadrada nos movimentos migratórios de Portugal, particularmente relevantes nas décadas de sessenta e setenta do século XX, com destino à Grande Lisboa, neste caso Margem Sul do Tejo.
Os restantes seis grupos todos eram provenientes do Baixo Alentejo, indefectivelmente o “Berço do Cante”.
Disseram presente os “Camponeses de Pias”, os “Ganhões de Castro Verde” e os “Cubenses Amigos do Cante” que, tal como o Grupo anfitrião, têm também cariz etnográfico.
Apresentam-se trajados a rigor, evocando profissões e padrões sócio-culturais da primeira metade do século XX, em uso no Alentejo, segundo as especificidades locais e regionais.
"Cubenses Amigos do Cante"
Os dois últimos grupos trajam de uma forma mais homogénea, sendo que os primeiros diversificam o trajar numa evocação sócio profissional variada: pastor, vaqueiro, almocreve, feitor, moço de fretes, ceifeiro, porqueiro, … trajo domingueiro, trajos de trabalho…
Neste Encontro só estiveram grupos masculinos, sendo que estes quatro mencionados são constituídos maioritariamente por indivíduos acima dos sessenta anos.
Cada grupo cantou e encantou nas quatro modas apresentadas, maioritariamente tradicionais. Hinos ao Alentejo, aos profissionais e atividades campestres; ao pão sagrado, ao tempo e aos tempos nas diversas estações; ao sol e lua, à água, elementos tão presentes e marcantes nas lides da lavoura; ao dia, ao raiar do dia e à noite; à Mulher, enquanto amada e trabalhadora…
Estiveram também presentes, e, aliás, com forte presença, dois Grupos constituídos por jovens: os “Bafos de Baco de Cuba” e os “Mainantes de Pias”.
Portadores de uma postura muito leve e descontraída, como os próprios nomes sugerem, têm uma fortíssima prestação em palco, fruto da sua garra de juventude e da genica com que agarram as modas.
Cantam modas tradicionais, mas aparentemente vestem-nas com outras roupas mais leves, bem de acordo com o seu trajar: calças de ganga, camisas claras. E bonés, sempre necessários para as saudações da praxe.
A uniformidade e simplicidade no traje reporta-nos para o fundamental neste cantar: o sentido e indispensabilidade do coletivo. E aí medem meças com qualquer outro grupo, mesmo de outros contextos musicais.
Com o nascimento destes grupos e a sua desejável persistência no futuro, estará assegurado o futuro destes cantares, destas modas e deste modo alentejano de estar, agora também com um cariz cultural bem mais vasto, dada a categorização a que ascendeu.
A manutenção das modas antigas é indispensável, a evocação do trajar e do modo de estar idem, mas também imperiosa será a criação de novas modas e canções, adaptadas e refletoras dos novos tempos. Ainda que o nosso Alentejo mítico permaneça sempre na nossa memória e no nosso coração!
Parafraseando a canção, soubera eu cantar e quem cantava era eu…
E para terminar, o mestre-de-cerimónias apresentou o último grupo e deu-nos a provar o último vinho. E que vinho! O Grupo “Moda Mãe Cuba”.
Cinco elementos, cinco vozes e uma Viola Campaniça, que aqui merece uma substantivização própria.
Face à Solenidade do Cante, canto chão alentejano, mais marcante ainda nos Grupos Etnográficos, este grupo, ainda que inspirado no Cancioneiro tradicional, desconstrói as modas, dando-lhes um cariz completamente diverso, não as desvalorizando, apesar da brejeirice, humor e ironia com que, pelo menos aparentemente, as canta e apresenta.
A sua interação com o público, torna-os mais participantes da comunhão que se concretiza entre palco e plateia, comungar que noutro contexto de festa, levaria ao partilhar de pão e vinho tão peculiar no convívio de que foi também o nascer do Cante.
E vou terminar, porque esta crónica também tem que ter um findar, tal como “Moda Mãe Cuba” também teve que abalar do palco, pois impunha-se um término do Encontro, que, por eles e pelo público, a festa continuava.
Mas já era quase meia-noite e o Clube situa-se num bairro residencial, com vizinhos que têm o seu direito ao descanso e a serem também respeitados.
Assim igualmente se exprime o conceito de Cidadania!
"GÁS DE XISTO GARANTE SUPREMACIA ECONÓMICA DOS EUA DURANTE AS PRÓXIMAS DÉCADAS"
In: greensavers.sapo.pt/. ---- 15/11/2013
Foto: Beyond Coal and Gas, sob licença Creative Commons.
Como é possível, os poderes instituídos continuarem a insistir e a "vender-nos" a ideia de que as energias fósseis são as mais baratas?!
Poderão sê-lo a curto prazo, mas a longo prazo são muito mais caras.
Observem-se os impactos que têm no Ambiente!
O Sol "nasce" todos os dias e fornece "energia limpa" à Terra, há milhões de anos. Diretamente na energia solar e indiretamente, por ex. na energia eólica e na energia das marés...
"Sol e Mar"
Foto de D.A.P.L. - 2015
O processamento de todos os resíduos produzidos pela sociedade de consumo, seja nos lixos domésticos ou nos resíduos florestais, devidamente (re)aproveitados permitiriam reduzir o consumo energético e produzir igualmente energia.
Entre outras alternativas...
Mas os poderes humanos instituídos insistem em "descobrir novas energias fósseis" altamente poluentes, com impactos imensamente destrutivos do meio ambiente, como é o caso da energia obtida a partir do "gás de xisto", a pretexto de que são "mais baratas"!
Foi o carvão no século XIX, na China ainda neste século; o petróleo no século XX e mais tarde o gás.
Agora, o Gás de Xisto!!!!
As alternativas limpas só são aparentemente mais caras e apenas a curto prazo.
Se os Poderes Financeiros e Económicos, que tutelam, de facto, os Poderes Políticos, quisessem investir nelas, a todos os níveis, nomeadamente no plano científico e tecnológico, tornar-se-iam mais baratas e de melhores efeitos para a Humanidade e para o Ambiente!
Mas não, preferem continuar a investir no que lhes é rentável de imediato, pouco se preocupando com os outros Seres Humanos...
Precisam-se outros Poderes Políticos que tenham efetivamente poder sobre os Poderes Financeiros e Económicos!
A vida, e especificamente a vida em sociedade, para além do plano de realidade e materialidade em que se contextualiza, está também normalmente enquadrada no plano do simbólico. Não só do que realmente é, mas também do que significa ou que se pretende que signifique a nível social.
Desde tempos remotos que o Homem, a Humanidade, procura encontrar e atribuir significado(s) à existência diária, à(s) rotina(s) do dia a dia. Ao longo dos milénios, o Homem foi deixando marcas desses significados ou da procura/busca de significação para a sua existência.
Os múltiplos e variados monumentos megalíticos deixados por culturas milenares, as pinturas rupestres atestando vivências de há milhares de anos, são alguns dos exemplos materiais mais antigos dessa busca de significação para a existência e rotinas diárias.
As várias culturas dominantes, ao sobreporem-se sobre as anteriores, vão incorporando conceitos dessas mesmas culturas “dominadas”. Os romanos incorporaram elementos de cultos antigos, nomeadamente na Península Ibérica. O Cristianismo teve idêntica atitude, cristianizando/sacralizando os dias, os lugares, as festividades, os cultos romanos e pré-romanos, integrando-os num contexto cristão. Todos os dias foram santificados. Todos são dedicados, pelo menos a um santo. Os dias mais “santificados”, habitualmente, têm subjacentes outros cultos mais antigos, dias e noites que já eram significativamente importantes em culturas mais ancestrais. E esse simbolismo, apesar de não explícito atualmente, está muitas vezes implícito, digamos, num “inconsciente coletivo”, apesar de não consciencializado na prática diária.
Todos os meses têm os seus simbolismos, uns mais recentes, outros mais antigos. E sempre as sociedades, no seu evoluir e fluir constantes, vão “construindo” datas, dias, a que vão atribuindo significados e significações mais ou menos duradoiras, mais ou menos perecíveis e voláteis. A sociedade atual, caraterizada essencialmente pela materialidade, pela volatilidade, mobilidade e mudança e pelo consumismo, traço dominante da nossa sociedade atual, de um tempo ainda relativamente recente, tem marcado os dias, cada dia como “um dia especial”. Hoje é “DIA de…”
Hoje, e vi nos blogues, é “Dia do Silêncio”… Seria uma oportunidade para estarmos, hoje pelo menos, um pouco mais calados. E a Comunicação é, por vezes, tão “ruidosa”!…
Mas foi precisamente hoje, “Dia do Silêncio” que mais me apeteceu falar, melhor, escrever, eu que tenho andado arredio da escrita, também dedicado a outros afazeres e também ao descanso.
Mas falava de MAIO…
Maio, mês das “Maias”, do “Maio”, dos “Maios”. No e do “1º De Maio”.
Maio também incorpora o “Dia da Mãe” e também tem outros dias de nomeada, nomeadamente no plano religioso. É também o “Mês de Maria”… O treze de Maio. Também já foi de comemorar o “28 de Maio”… Fez parte da nossa História… Também, neste mês, quando, no campo, os nossos progenitores trabalhavam de sol a sol, era também, no primeiro de Maio, o 1º dia de sesta. Alguém saberá o que é isso, excetuando um ex Presidente da República, que ainda continua por aí a “dizer das suas”?! Talvez precisamente por causa da sesta…
E numa época em que tanto nos preocupamos com a saúde, também é "Mês do Coração". E dia doze, "Dia do Enfermeiro". (...) Também se comemora o "Dia Internacional da Família" e o "Dia internacional dos Museus".
E "Dia da Espiga", Quinta Feira da Ascensão...
Enfim... Voltando ao início...
O Dia primeiro de Maio é um dia de muitos e antigos significados. Uma das significações mais recentes associa-se às lutas dos trabalhadores por melhores e mais dignas condições de trabalho e de vida. A partir das lutas operárias do século XIX, continuadas no século XX. Pelas Américas, pelas Europas…
Em Portugal, antes de 1974, era de luta clandestina, era reprimido comemorar esse dia. Não era permitido de festejar. Mas era uma aspiração a que o fosse.
O primeiro “1º de Maio” em Liberdade, em 1974, foi um dia de luta, mas também de festa, de fraternidade. Passou a ser feriado nacional. Posteriormente, os tempos foram mudando. Ainda que seja feriado, em muitos contextos socio-profissionais deixou de o ser. “…Todo o mundo é composto de mudança…” nem sempre para melhor.
Há setores que se justifica, em que é imprescindível que os funcionários trabalhem, ou pelo menos alguns deles, de modo a assegurarem os serviços fundamentais. Hospitais, por ex.
Mas há outros que é completamente desnecessário, ou pelo menos é prescindível. Por ex., haverá alguma necessidade imperiosa para que as grandes superfícies comerciais estejam abertas no 1º de Maio?! Mas é isso que acontece. Uma conhecida superfície comercial, que dispensa que a nomeie, pois não me paga nem precisa que eu faça publicidade não só abre, como faz promoções excecionais. Há dois anos foi uma verdadeira loucura.
Este ano os sindicatos do setor programaram greve, e esta era uma greve inteiramente justificável, diga-se. Mas segundo depreendi, pelo menos de acordo com o que observei no supermercado que me fica mais perto, a adesão terá sido pouca. Estava cheio de gente a comprar e com bastante pessoal a trabalhar.
Então questiono-me sobre o que é que representa, hoje, o 1º de Maio?!
Continuam a ser promovidas manifestações mais ou menos festivas, mais ou menos de lutas…
Mas o Dinheiro que rege as nossas sociedades, o Consumismo que nos devora a todos e nos consome na nossa febre de consumir, determina o nosso modo de viver, rege os nossos comportamentos, condiciona as nossas atitudes, superintende os nossos valores. E somos todos escravos do consumo.
Será, agora, o 1º de Maio mais um dia para dedicarmos à veneração do “Deus Dinheiro”, para festejarmos numa das “Catedrais do Consumo”?
Outros significados, diversas significações, diferentes simbolismos.
Esperemos que, um dia… não tenhamos saudades do Feriado do 1º De Maio!
QUESTÕES suscitadas pela análise das respostas ao inquérito sobre a Paróquia de Aldeia da Mata
A leitura destes textos suscita-nos muitas questões. Aparentemente tão simples são de extraordinária riqueza informativa e formativa. Muitas diferenças com a realidade atual, mas persiste um fio condutor que nos liga ainda a esse passado…
Um dos aspetos que se mantem bastante comum com a atualidade é a Igreja Matriz. Mas mesmo aí há diferenças. À data referida, o designado altar de São João ainda não existia. Aí haveria uma porta lateral…O altar terá sido implantado mais tarde…
Mais algumas situações que me surpreendem, a saber: a informação disponibilizada, comparativamente com a que nos é facultada por outros Párocos do “termo da vila do Crato” revela-se limitada, parece haver lacunas na informação prestada.
Por ex. pouco se informa sobre a Ribeira, enquanto outros párocos sobre ela falam: a Ribeira de “Cojancas”.Também referida como da “Vargem”.
(Apenas se refere o que foi transcrito no “post” anterior, no respeitante ao rio.)
É de supor que os moinhos referidos sejam o das Caldeiras e o do Salgueirinho.
Contrariamente ao que é explicitamente pedido sobre pontes, não é referida a ponte da Ribeira do Salto.
Em contrapartida, o Pároco de “Flor da Roza” descreve bastante sobre a “ribeirinha chamada Margulhão” que nasce junto a Alagoa e se junta com a “ribeirinha chamada do Val do Pezo” na ponte de “cojancas” e que daí para baixo se mantem com esse nome. Que vai morrer na ribeira de Seda, por baixo do sítio do monte Redondo. E que tinha duas pontes, uma, de pau, a caminho do “Chamisso” e outra de pedra, no sítio de “Cojanquas”. “… que tem quatro léguas desde o nascimento até o sitio aonde entra na ribeira de Seda, e tão somente passa junto a esta povoação, e á de Aldea da Matta, distante desta uma légua.”
Referências do pároco de “Val do Pezo”, sobre as supracitadas ribeiras:
“juntam-se estas duas ribeiras meia légua distante desta aldeia, na estrada, que vem da Vila do Crato para a de Abrantes, aonde já chamam a ribeira de Cujancas, e aí tem uma bem feita ponte de pedra, a que chamam a ponte de Cujancas; e em pouca distancia perde o nome, porque chegando ao limite de Aldeia da Mata já tem o nome de ribeira da Vargem.”
Ainda no respeitante a Aldeia da Mata, não se fala nada sobre a “Anta”, que é visivelmente «qualquer coisa notável».
Nem há qualquer referência à “Lage do Ouro”. Será que a tradição oral não consagraria nada sobre este assunto?! À data, não haveriam evidências visíveis da ocupação romana?
Questões de religiosidade que condicionariam a menção destes temas, dada a sua conotação não cristã, associada ao paganismo e/ou islamismo?!
Também surpreende não haver qualquer referência à construção ou reconstrução da Igreja, dado ser o inquérito de 1758 e a Igreja ter na sua frontaria a data de 1757. Seria plausível haver no inquérito alguma menção ao assunto.
Igualmente ao referir as ermidas não são mencionados os dois cruzeiros aí existentes que são datados do século XVII (1672 e 1673).
Considerando a população referida (380 pessoas), a povoação teria pouco mais de 100 fogos, o que de algum modo se confirma pelas informações prestadas pelo pároco do Crato “… Aldea daMatta que tem cento e vinte e quatro vizinhos, e trezentas, e oitenta, e seis pessoas …” Relacionando com a referência à localização das ermidas e com os dados dos fogos/habitações existentes pode-se inferir que, na época, o espaço físico da “Aldea” ocuparia sensivelmente as atuais ruas Larga, S. Pedro, Travessinha, Ladeira, Largo do Terreiro, Rua de S. Martinho e iria até ao vulgarmente designado “Alto do Castelo” e “Baixa”. Talvez um pouco mais adiante na direção da Ermida de Stº António, que juntamente com a de São Pedro definiriam os limites do “espaço sacralizado” da povoação. (Este espaço físico conta com cerca de 120/130 habitações, que nas décadas de sessenta/setenta do séc. XX, muitas manteriam ainda a estrutura dessa época. Hoje ainda restam algumas dessas habitações nalgumas destas ruas, apesar das muitas modificações que houve nas casas, a estrutura das ruas mantém-se.)
É ainda o pároco da vila do Crato que menciona a existência de nove ermidas na sua paróquia, entre as quais destaca a de “Sam Miguel”.
“… com distancia de meia légua para a parte do poente está a Ermida de Sam Miguel: no altar maior se venera o Santo Archanjo e uma Imagem da Senhora com o titulo dos Remédios, estão anexas a esta Igreja algumas fazendas, e tem o Administrador de mandar dizer nesta Igreja missa aos Domingos e dias santos …” (…)
“Na Ermida de Sam Miguel é procurada com muita frequência a Imagem da Senhora dos Remédios, não só das pessoas da vila e aldeias, mas de partes distantes com mais especialidade nos sábados da quaresma costuma a maior parte dos votos ir descalços ou todo o caminho, ouparte dele segundo suas capacidades, sendo o caminho áspero por ser de areias grossas; dia de Sam Miguel é o maior concurso das terras vizinhas.” (…)
De paróquias de outros concelhos também há referências a “Aldea da Matta”. Os párocos das “villas” de “Chancellaria” e de Seda, de nome antigo “Arminho”, também se referem a Aldeia, mencionando o seu avistamento das respetivas localidades e a distância a que se situam.
O pároco da “villa” de Seda também descreve bastante sobre a Ribeira de Seda, que, segundo refere, citando o “Doutor Antonio Gonsalves de Novaes”, se chamara “Arminho”, por ter o seu princípio na Serra da Aramenha, perto de Portalegre. Outros párocos igualmente falam desta Ribeira, desde o do Crato até ao de Avis.
Diz ainda o mencionado pároco sobre a citada Ribeira: “… por cima desta Villa em distância de meia légua entra nela outra chamada Cujancas pela parte do Norte, e logo mais abaixo outra da mesma parte mais pequena que se chama Alfeijolos; …”
Na questão sobre os “frutos da terra” apenas se menciona centeio, algum trigo e milho.
Não há referência nem ao azeite nem a gados, por ex.!
De facto, também não há qualquer menção a lagares de azeite… Muitas dúvidas e interrogações subsistem!…
Contudo, dada a ancestralidade de muitas oliveiras existentes, vários olivais centenários e algumas oliveiras que seguramente rondarão a escala milenar, não haveria produção de azeite na paróquia, nessa época?!
E vinho?!
Também não se menciona nada relacionado com os montados…
Sendo apenas a produção agrícola constituída pelos cereais mencionados, seria um povoado relativamente pobre.
Há certamente lacunas informativas.
Curiosamente, no “Dicionário Geográfico” de 1747, documento anterior ao que estamos a analisar, aprofundam mais esta questão, referindo como “frutos da terra”, para além dos citados, também vinho, gado miúdo e grosso, lã e, pasme-se: seda. Neste documento também referem a existência de uma “fonte dos Gaviões”. E que não falta caça miúda e também lobos e raposas.
Nota: uma versão deste texto foi publicada no Jornal "A Mensagem", em 2014.