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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Estremoz a “Património Mundial”!

Surpreende-se?! É só olhar a Cidade, com olhos de ver!

Calçada artística. Foto Original. 2021.01.05. jpg

Volto aos postais anteriores, o 962 e o 963, para alinhar um terceiro. (Isto já parece de “Irmãos Metralha”!)

Nesses postais, respetivamente “Concerto" de buzinaseManifestação” de Camionistas…, referi, por várias vezes, o célebre “Lago do Gadanha”.

Lago do Gadanha. Foto original. 2021.06.20.jpg

Sabia que tinha umas fotos sobre o dito cujo, mas não as consegui localizar no computador. Ainda as tinha no telemóvel, com uma enormidade de muitas outras, que isto de ter “aprendido?!” a lidar com o telemóvel e a funcionalidade “fotos” é no que dá.

Com a possibilidade de aceder às ditas, pensei em anexá-las aos postais anteriores ou então criar um postal novo, o 964! (Metralhices!)

Optei pela segunda alternativa, até porque pretendo expor uma ideia sobre a Cidade, que já congemino há algum tempo.

Prédio e mármore. Foto original. 2021.01.05.jpg

(Questionar-me-á, Caro/a Leitor/a, porque me interesso por Estremoz, não sendo a minha terra, nem concelho, nem sequer distrito.

Bem… antes de tudo o mais, porque gosto de opinar sobre assuntos que são importantes. Ademais positivos.

E… Estremoz é Alentejo, ou não?! Portanto, fica enquadrada completamente na temática “Aquém- Tejo”. E “aquém”, sendo um advérbio de lugar, exprime também um sentido ou sentimento de proximidade. Todos os assuntos que me interessem gosto de os expor no blogue.

Por isso ele aborda temáticas tão diversificadas. “São feitios..”

Obrigado pela sua atenção.)

Calçada artística. Foto original. 2021.01.05.jpg

Vamos ao fundamental.

Quem conhecer Estremoz, melhor do que eu, que é mais de passagem, há dezenas de anos, sabe que é uma localidade, na sua globalidade arquitetural, histórica, social, deveras interessante. Muito peculiar. O seu contexto geográfico, as encruzilhadas da História que nela perpassam, a Cultura, os vários espaços museológicos, as tradições… A Agricultura… Eu sei lá…que pouco sei.

Também saberá, que a Cidade tem um dos seus elementos patrimoniais de relevância, os “Bonecos de Estremoz”, considerado como “Património Mundial”.

Pois, é por aí. Como refere o título.

Considero que Estremoz merece ser “trabalhada” no sentido de ser elevada à categoria de “Património Mundial”.

Como?!

Bem, na Cidade ou “arredores”, haverá quem sabe bem mais do que eu sobre o assunto. Que sou leigo na matéria. Apenas sou um observador das realidades que nos cercam e, observando, “lendo” sobre o que aos nossos olhos essa realidade nos mostra, procuro construir propostas positivas sobre o que nos rodeia.

Tenho dito! A ideia está lançada. Quem puder, quiser, tiver condições para tal, que nela pegue e lhe dê a consequente estruturação.

(Não precisam de pagar nada. É de graça. Mas estou mesmo a falar a sério!)

Fachada de edifício. Foto original. 2021.01.05.jpg

A base de estruturação dessa candidatura?! O elo, o cerne fundamental de organização desse objetivo?!

Pois, Caro/a Leitor/a, reparou que em várias imagens está retratado o chão que pisamos. E alguns edifícios característicos. (Faltam os de “Arte Nova”, únicos e icónicos!)

E o que é que Estremoz tem debaixo do chão que pisamos e tem sido a grande base da sua riqueza, para além da Agricultura?!

Pois, exatamente, o Mármore! Esse deverá ser precisamente o “leitmotiv” desse Projeto.

Lancem-se à Obra! SFF!

Obrigado por me ler até aqui e votos de muita e Santa Saúde!

 

 

28º ENCONTRO de CANTARES ALENTEJANOS do Concelho de ALMADA

cartaz 28º encontro - 13-6-2015. Cortesia da Organização PNG

Conforme previsto, realizou-se no passado sábado, dia 13 de Junho, a partir do início da noite, o supracitado Encontro de Cantares Alentejanos, no Concelho de Almada, organizado pelo “Grupo Coral Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó”.

Grupo Coral Amigos do Alentejo do Feijó .jpg

 "Amigos do Alentejo do Feijó"

 

Com a realização estruturada para um palco montado junto ao Complexo Municipal de Desportos da Cidade de Almada, a chuva que Santo António resolveu enviar para as milharadas e hortas espalhadas pelo concelho, levou à mudança de local do evento, para o mítico pavilhão do Clube Recreativo do Feijó, uma verdadeira “Catedral do Cante” na Margem Sul.

E este é, desde logo, um ponto a realçar, a capacidade de reestruturação duma orgânica já delineada, mudando o respetivo espaço de realização; bem como a disponibilidade do Clube anfitrião. A organização destes eventos, com todo o muito trabalho que as sustenta e não é imediatamente visível, é sempre de realçar.

 

Digamos, sem sombra de dúvidas, que a sala, na sua arquitetura e design simples e popular, direciona o evento para a sua função principal: ouvir cantar e vivenciar as emoções que aquelas vozes telúricas proporcionam, transportando-nos a um Alentejo mítico, distante espacial e temporalmente, mas ali bem presente.

Quem vai a estes eventos é porque gosta, é realmente fã do Cante, das evocações que as modas nos trazem, mesmo que a realidade por nós vivida já tenha sido bem diversa do evocado pelas canções.

Experienciam-se, aí, momentos emocionalmente únicos, de facto! Lembranças que, para além de nossas, nos pertencem ou as sentimos com mais afeto, pelo que nos foi transmitido e pelo que, através delas, evocamos de Pais e Avós.

CamponesdePias. www.vozdaplanicie.pt.jpg

"Camponeses de Pias - Foto original de António Cunha. In: www.vozdaplanicie.pt"

 

O Cante é uma foice de vento a cortar o silêncio.”

Com este verso de um poema de Vitor Encarnação, lido na apresentação do Grupo “Os Ganhões de Castro Verde” poderia sintetizar o sentido e o sentir do Cante e do que se ouviu nessa noite.

ganhoes de castro verde www.seminario-natural.pt.j

 

"Ganhões de Castro Verde"

 

Participaram sete grupos.

O grupo organizador e anfitrião, “Grupo Coral Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó” integra-se no contexto da “Diáspora Alentejana”, enquadrada nos movimentos migratórios de Portugal, particularmente relevantes nas décadas de sessenta e setenta do século XX, com destino à Grande Lisboa, neste caso Margem Sul do Tejo.

Os restantes seis grupos todos eram provenientes do Baixo Alentejo, indefectivelmente o “Berço do Cante”.

Disseram presente os “Camponeses de Pias”, os “Ganhões de Castro Verde” e os “Cubenses Amigos do Cante” que, tal como o Grupo anfitrião, têm também cariz etnográfico.

Apresentam-se trajados a rigor, evocando profissões e padrões sócio-culturais da primeira metade do século XX, em uso no Alentejo, segundo as especificidades locais e regionais.

cuba-cubenses amigos do cante 2.jpg

 "Cubenses Amigos do Cante"

 

Os dois últimos grupos trajam de uma forma mais homogénea, sendo que os primeiros diversificam o trajar numa evocação sócio profissional variada: pastor, vaqueiro, almocreve, feitor, moço de fretes, ceifeiro, porqueiro, … trajo domingueiro, trajos de trabalho…

Neste Encontro só estiveram grupos masculinos, sendo que estes quatro mencionados são constituídos maioritariamente por indivíduos acima dos sessenta anos.

Cada grupo cantou e encantou nas quatro modas apresentadas, maioritariamente tradicionais. Hinos ao Alentejo, aos profissionais e atividades campestres; ao pão sagrado, ao tempo e aos tempos nas diversas estações; ao sol e lua, à água, elementos tão presentes e marcantes nas lides da lavoura; ao dia, ao raiar do dia e à noite; à Mulher, enquanto amada e trabalhadora…

 

Estiveram também presentes, e, aliás, com forte presença, dois Grupos constituídos por jovens: os “Bafos de Baco de Cuba” e os “Mainantes de Pias”.

Portadores de uma postura muito leve e descontraída, como os próprios nomes sugerem, têm uma fortíssima prestação em palco, fruto da sua garra de juventude e da genica com que agarram as modas.

Cantam modas tradicionais, mas aparentemente vestem-nas com outras roupas mais leves, bem de acordo com o seu trajar: calças de ganga, camisas claras. E bonés, sempre necessários para as saudações da praxe.

A uniformidade e simplicidade no traje reporta-nos para o fundamental neste cantar: o sentido e indispensabilidade do coletivo. E aí medem meças com qualquer outro grupo, mesmo de outros contextos musicais.

Com o nascimento destes grupos e a sua desejável persistência no futuro, estará assegurado o futuro destes cantares, destas modas e deste modo alentejano de estar, agora também com um cariz cultural bem mais vasto, dada a categorização a que ascendeu.

A manutenção das modas antigas é indispensável, a evocação do trajar e do modo de estar idem, mas também imperiosa será a criação de novas modas e canções, adaptadas e refletoras dos novos tempos. Ainda que o nosso Alentejo mítico permaneça sempre na nossa memória e no nosso coração!

Parafraseando a canção, soubera eu cantar e quem cantava era eu…

moda mãe cuba.jpg

E para terminar, o mestre-de-cerimónias apresentou o último grupo e deu-nos a provar o último vinho. E que vinho! O Grupo “Moda Mãe Cuba”.

Cinco elementos, cinco vozes e uma Viola Campaniça, que aqui merece uma substantivização própria.

viola campaniça in correiodoalentejo.jpg

 

Face à Solenidade do Cante, canto chão alentejano, mais marcante ainda nos Grupos Etnográficos, este grupo, ainda que inspirado no Cancioneiro tradicional, desconstrói as modas, dando-lhes um cariz completamente diverso, não as desvalorizando, apesar da brejeirice, humor e ironia com que, pelo menos aparentemente, as canta e apresenta.

A sua interação com o público, torna-os mais participantes da comunhão que se concretiza entre palco e plateia, comungar que noutro contexto de festa, levaria ao partilhar de pão e vinho tão peculiar no convívio de que foi também o nascer do Cante.

 

E vou terminar, porque esta crónica também tem que ter um findar, tal como “Moda Mãe Cuba” também teve que abalar do palco, pois impunha-se um término do Encontro, que, por eles e pelo público, a festa continuava.

Mas já era quase meia-noite e o Clube situa-se num bairro residencial, com vizinhos que têm o seu direito ao descanso e a serem também respeitados.

Assim igualmente se exprime o conceito de Cidadania!

O Cante, em Almada, voltará num outro dia.

Por agora, façam favor de consultar!

Bafos de Baco de Cuba

Mainantes de Pias

Quadras: Almada - Santos Populares

Almada, Abril e São João

 

Festas 2015. In: distritoonline.pt.jpg

 

 

 João, S. João da Ramalha

Em Almada tem muita devoção

Entre o Povo humilde que trabalha

Cidade com Abril no coração.

 

 

Em Abril, Liberdade mil

Diz o Povo e com razão.

Junho, escorre o vinho do barril

Almada, festeja o São João.

 

 

chafariz-almada - almadadigital.pt.jpg

 

Imagens, in: distritoonline.pt/ e almadadigital.pt/

 

 De Portalegre para Almada

QUESTÕES suscitadas pela análise das respostas ao inquérito sobre a Paróquia de Aldeia da Mata

 

QUESTÕES suscitadas pela análise das respostas ao inquérito sobre a Paróquia de Aldeia da Mata

 

A leitura destes textos suscita-nos muitas questões. Aparentemente tão simples são de extraordinária riqueza informativa e formativa. Muitas diferenças com a realidade atual, mas persiste um fio condutor que nos liga ainda a esse passado…

 

Um dos aspetos que se mantem bastante comum com a atualidade é a Igreja Matriz. Mas mesmo aí há diferenças. À data referida, o designado altar de São João ainda não existia. Aí haveria uma porta lateral…O altar terá sido implantado mais tarde…

 

Mais algumas situações que me surpreendem, a saber: a informação disponibilizada, comparativamente com a que nos é facultada por outros Párocos do “termo da vila do Crato” revela-se limitada, parece haver lacunas na informação prestada.

 

Por ex. pouco se informa sobre a Ribeira, enquanto outros párocos sobre ela falam: a Ribeira de “Cojancas”.Também referida como daVargem”.

(Apenas se refere o que foi transcrito no “post” anterior, no respeitante ao rio.)

É de supor que os moinhos referidos sejam o das Caldeiras e o do Salgueirinho. 

 

Contrariamente ao que é explicitamente pedido sobre pontes, não é referida a ponte da Ribeira do Salto.

 

Em contrapartida, o Pároco de “Flor da Roza” descreve bastante sobre a “ribeirinha chamada Margulhão” que nasce junto a Alagoa e se junta com a “ribeirinha chamada do Val do Pezo” na ponte de “cojancas” e que daí para baixo se mantem com esse nome. Que vai morrer na ribeira de Seda, por baixo do sítio do monte Redondo. E que tinha duas pontes, uma, de pau, a caminho do “Chamisso” e outra de pedra, no sítio de “Cojanquas”. “… que tem quatro léguas desde o nascimento até o sitio aonde entra na ribeira de Seda, e tão somente passa junto a esta povoação, e á de Aldea da Matta, distante desta uma légua.”

Referências do pároco de “Val do Pezo”, sobre as supracitadas ribeiras:

“juntam-se estas duas ribeiras meia légua distante desta aldeia, na
estrada, que vem da Vila do Crato para a de Abrantes, aonde já chamam a ribeira de Cujancas, e aí tem uma bem feita ponte de pedra, a que chamam  a ponte de Cujancas; e em pouca distancia perde o nome, porque chegando ao limite de Aldeia da Mata já tem o nome de ribeira da Vargem.”

 

Ainda no respeitante a Aldeia da Mata, não se fala nada sobre a “Anta”, que é visivelmente «qualquer coisa notável».

Nem há qualquer referência à “Lage do Ouro”. Será que a tradição oral não consagraria nada sobre este assunto?! À data, não haveriam evidências visíveis da ocupação romana?

Questões de religiosidade que condicionariam a menção destes temas, dada a sua conotação não cristã, associada ao paganismo e/ou islamismo?!

 

Também surpreende não haver qualquer referência à construção ou reconstrução da Igreja, dado ser o inquérito de 1758 e a Igreja ter na sua frontaria a data de 1757. Seria plausível haver no inquérito alguma menção ao assunto.

 

Igualmente ao referir as ermidas não são mencionados os dois cruzeiros aí existentes que são datados do século XVII (1672 e 1673).

 

Considerando a população referida (380 pessoas), a povoação teria pouco mais de 100 fogos, o que de algum modo se confirma pelas informações prestadas pelo pároco do Crato “… Aldea da Matta que tem cento e vinte e quatro vizinhos, e trezentas, e oitenta, e seis pessoas …” Relacionando com a referência à localização das ermidas e com os dados dos fogos/habitações existentes pode-se inferir que, na época, o espaço físico da “Aldea” ocuparia sensivelmente as atuais ruas Larga, S. Pedro, Travessinha, Ladeira, Largo do Terreiro, Rua de S. Martinho e iria até ao vulgarmente designado “Alto do Castelo” e “Baixa”. Talvez um pouco mais adiante na direção da Ermida de Stº António, que juntamente com a de São Pedro definiriam os limites do “espaço sacralizado” da povoação. (Este espaço físico conta com cerca de 120/130 habitações, que nas décadas de sessenta/setenta do séc. XX, muitas manteriam ainda a estrutura dessa época. Hoje ainda restam algumas dessas habitações nalgumas destas ruas, apesar das muitas modificações que houve nas casas, a estrutura das ruas mantém-se.)

Rua do Norte  - Fundão 1.jpg. Foto de F.M.C.L. 1984/85?

É ainda o pároco da vila do Crato que menciona a existência de nove ermidas na sua paróquia, entre as quais destaca a de “Sam Miguel”.

“… com distancia de meia légua para a parte do poente está a Ermida de Sam Miguel: no altar maior se venera o Santo Archanjo e uma Imagem da Senhora com o titulo dos Remédios, estão anexas a esta Igreja algumas fazendas, e tem o Administrador de mandar dizer nesta Igreja missa aos Domingos e dias santos …”  (…)

“Na Ermida de Sam Miguel é procurada com muita frequência a Imagem da Senhora dos Remédios, não só das pessoas da vila e aldeias, mas de partes distantes com mais especialidade nos sábados da quaresma costuma a maior parte dos votos ir descalços ou todo o caminho, ou parte dele segundo suas capacidades, sendo o caminho áspero por ser de areias grossas; dia de Sam Miguel é o maior concurso das terras vizinhas.” (…)

 

De paróquias de outros concelhos também há referências a “Aldea da Matta”. Os párocos das “villas” de “Chancellaria” e de Seda, de nome antigo “Arminho”, também se referem a Aldeia, mencionando o seu avistamento das respetivas localidades e a distância a que se situam.

 

O pároco da “villa” de Seda também descreve bastante sobre a Ribeira de Seda, que, segundo refere, citando o “Doutor Antonio Gonsalves de Novaes”, se chamara “Arminho”, por ter o seu princípio na Serra da Aramenha, perto de Portalegre. Outros párocos igualmente falam desta Ribeira, desde o do Crato até ao de Avis.

Diz ainda o mencionado pároco sobre a citada Ribeira: “… por cima desta Villa em distância de meia légua entra nela outra chamada Cujancas pela parte do Norte, e logo mais abaixo outra da mesma parte mais pequena que se chama Alfeijolos; …”

 

Na questão sobre os “frutos da terra” apenas se menciona centeio, algum trigo e milho.

Não há referência nem ao azeite nem a gados, por ex.!

De facto, também não há qualquer menção a lagares de azeite… Muitas dúvidas e interrogações subsistem!…

Contudo, dada a ancestralidade de muitas oliveiras existentes, vários olivais centenários e algumas oliveiras que seguramente rondarão a escala milenar, não haveria produção de azeite na paróquia, nessa época?!

E vinho?!

Também não se menciona nada relacionado com os montados…

Sendo apenas a produção agrícola constituída pelos cereais mencionados, seria um povoado relativamente pobre.

Há certamente lacunas informativas.

Foto1581.jpg. Foto de D.AP.L. 2014

Foto1394.jpg. Foto de D.A.P.L. 2014Foto1405.jpg. Foto de D.A.P.L. 2014

Curiosamente, no “Dicionário Geográfico” de 1747, documento anterior ao que estamos a analisar, aprofundam mais esta questão, referindo como “frutos da terra”, para além dos citados, também vinho, gado miúdo e grosso, lã e, pasme-se: seda. Neste documento também referem a existência de uma “fonte dos Gaviões”. E que não falta caça miúda e também lobos e raposas.

 

 

Nota: uma versão deste texto foi publicada no Jornal "A Mensagem", em 2014.

 

 

SONS míticos (místicos)

 

SONS míticos (místicos)

 

Sinfonia de luz, calor, cor e cigarras

Cal, barra na parede, fuga – contraponto

De nómadas ciganos trinam as guitarras

Vagabundo na planura, marcando o ponto.

 

O falar das gentes é um cantar de mouras

Ansiando Liberdade e seu Destino

O marulhar das searas maduras – louras

Compassadas pelo vento e sol a pino.

 

No silêncio da noite e luar, as relas

Gorgoleja vinho nas tascas de ruelas

Piar de mocho, dissonante e zombeteiro.

 

Requebrando saias, um rosto trigueiro

De ofegantes seios, declama com vaidade

Um Soneto d’Espanca, “Soror Saudade”!

 

Escrito em 1988

Publicado em:

Boletim Cultural Nº 7  do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, Fev. 1991.

 I Antologia Poética do Círculo Nacional D’Arte e Poesia – CNAP – 1994.

 

 

 

 

ALENTEJO

Divulgamos hoje o nosso post nº 50. Que é também o 1º trabalho que colocamos em 2015. E, como não podia deixar de ser, pois também é esse o nosso propósito, damos a conhecer neste enquadramento uma poesia sobre o nosso Alentejo.

Este conjunto de vinte e seis quadras foi escrito em 1982, numa época em que trabalhava no Alentejo e resultaram da observação poética da planície transtagana nessa altura. Alguns aspetos ter-se-ão modificado. Atualmente há realidades que, à data, eram ainda ficção científica. De qualquer modo é um flash desse tempo nesse espaço, que nos é tão querido e idealizado.

 

 

 

ALENTEJO

 

Horizontes infinitos

Extensões de montados

Manchas de olivais bonitos

No meio, campos lavrados.

 

Campos a perder de vista

Vista do cimo do monte

Altaneiro como crista.

No vale, a horta e a fonte.

 

Montes quase abandonados

Sem caseiro nem patrão

Pois carros motorizados

A casa trazem o aldeão.

 

Casas de branco caiadas

Barras azuis e amarelas

Cheias de esmero, asseadas

Alegra os olhos vê-las.

 

Rasteiras, bem alinhadas

De quando em vez solarengas

Varandas, janelas bordadas

Casas, nossas avoengas.

 

Chaminés de sol e lua

Portas de cantaria

Abrindo a casa à rua

Dão beleza à frontaria.

 

Ruas de casas juntinhas

Fazem terras afastadas.

De noite é ver as luzinhas

Dar vida à planura, encantadas.

  

De dia banhadas pelo sol

Alegria e tormento

A brancura dum lençol

A secar na planície, ao vento.

 

Do Alentejo aldeias

De gente calma e fagueira

Amiga de trocar ideias

Embora nem sempre à primeira.

 

Gente mais moça abalando

P’ra Lisboa e outras bandas.

Os mais velhos vão ficando

Até que Deus queira, em bolandas.

 

Pela manhã, o Destino

Os leva à soalheira

Aquecer sangue latino

Que já falta companheira.

 

Durante a manhã, as comadres

Dominam as ruas mercando

E estando fora os compadres

Com as amigas vão conversando.

 

À tarde e à noitinha

Após um dia de trabalho

Homens enchem a tendinha

Causa de brigas e ralho.

 

Mas após tanta fadiga

No campo, a maioria

Faz bem beber uma pinga

Dá esquecimento e alegria.

 

Terminar a cavaqueira

Que à janta a mulher chamou.

Esperar sentado à lareira

Que a novela começou.

 

Migas, açorda e mais

Sopa de cachola e tomate

De miolos, gaspacho, é demais

Tanto pão e tanta arte.

 

Hoje não é tanto assim

Comida vai variando.

Borba, Redondo, enfim

Rico tinto acompanhando.

  

Após a janta, o descanso

Que amanhã é de trabalho.

Antes, um breve remanso

Aquecendo-se ao borralho.

 

De manhã o sol levanta

Trabalhador para a jornada.

Dantes a pé, agora espanta

A quem tem motorizada.

 

Lavoura, azeitona e cortiça

São trabalhos desde outrora.

Conforme a época, a liça

Novas culturas agora.

 

O tomate, o girassol

Culturas de regadio.

As barragens são um rol

Mas não chegam p’ró sequio.

 

Os serviços na cidade

Algumas indústrias também.

Desemprego, ansiedade

De quem quer algum vintém.

 

Pau bucho, chifres, cabaças

Argila, pedrinhas e linho

Nelas, flores e sonhos traças

Objetos de amor e carinho.

 

Trabalho feito com as mãos

Na cortiça, ferro ou barro.

Homens de arte, artesãos

Ourives de bilha e tarro.

 

Mas artistas todos são

De pincel ou de trator

Na tela ou terra chão.

Basta trabalhar com amor.

 

Amor que a nós, Homens, une

E à terra que nos viu nascer.

Mais nos liga que nos desune

Todos juntos a conviver.

 

 

 

Escrito nos inícios de 1982.

Publicado na VII Antologia do Círculo Nacional D’Arte e Poesia, 2003.

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