Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Depois de, no post anterior, me ter debruçado sobre algumas Questões que julgo Pertinentes, hoje, neste post, lança-se uma Pergunta Impertinente. Impertinente, ou ingénua?!
No último efetuado, desceu a Avenida, com os seus três sobrinhos, qual Dona Pata Donalda.
Dos sobrinhos lembramo-nos do nome: o Vinte e Cinco de Abril, o Cinco de Outubro e o tal mal-amado, (e indesejado, diga-se), que chamámos Estado Novo. Esclareça-se que essa designação é apelido. O nome próprio é Vinte e Oito de Maio.
Cirandando por um dos passeios centrais, foram encontrando alguns sem-abrigo, sentados ou deitados nos bancos. Bancos de sentar, frise-se.
Ao passarem perto de um banco, daqueles… dos outros que “a gente sabe…”, sob cujas arcadas também deambulava um “Sem-Abrigo”, comentou Dona Maria da Fonte: Lá está mais um dos bancos que abriu falência…
Perante o comentário da Tia, o sobrinho Vinte e Cinco de Abril, sai-se com esta:
- Oh, Titi, Oh Titi, quando um Banco vai à falência, os Donos viram “Sem-Abrigo”?, perguntou, ingénuo… Ou impertinente (?)
Achas, Totó?! Então os Donos dos Bancos alguma vez ficam “sem-abrigo”?, interveio o Vinte e Oito de Maio.
O Cinco de Outubro não disse nada!
Mais abaixo, Dona Maria da Fonte ainda desabafou:
Que linda Avenida, hem?! Está mais elegante que o “Passeio Público”, em dia de visita real.
Agora, só mesmo para fino “trottoir”! Tal a profusão de tantas lojas tão caras!
Neste Post nº 267, divulgamos uma Poesia de Manuel Faria Bento, de Gomes Aires (Almodôvar).
“Eu Vivi Abril (Abril de 1974)”
“Eu vivi Abril
Abril em revolução,
Estava na flor da minha idade,
Vivi abril com grande emoção,
Abril foi uma festa…
Uma passagem p’ra liberdade,
Abril foi uma festa…
Com muita responsabilidade,
Abril em Portugal…
Foi uma grande oferta
Dos militares em geral,
Abril por todos criado,
Ainda hoje é estimado
Por derrubar a ditadura…
Abril foi uma alegria
Que há muito se esperava
Para acabar a amargura,
Que há muito se vivia.
Com Abril Portugal evoluiu
Num modo diferente,
De um modo que nunca se viu,
Que faz confusão a certa gente.
Mas é próprio da vida,
Porque o homem se habituou
A viver no seu cantinho
Que com tanto gosto criou
Ali perto do seu vasinho.”
“Abril foi uma grande vontade
Que tanta força criou,
Ao longo de tantos anos,
A um povo vivendo sob crueldade,
De uma ditadura que os obrigou
A sofrer golpes tiranos,
Daqueles que viviam da repressão,
Recebendo dinheiro
Para aos outros arrancar o coração,
Destruindo vidas inteiras
Durante cinquenta
Cometendo tantas asneiras,
Perseguindo trabalhadores,
Gente pobre e carenciada,
Que ganhava fracos valores
Que não dava para nada,
E ainda lhe chamavam… traidores.”
“Abril nasceu em Portugal
Filho de toda a gente,
O estudante p’ra isso lutou,
O trabalhador por isso sofreu,
O militar nisso pensou,
O adolescente isso vivia,
Qualquer pessoa por isso era presa,
Mesmo que nada fizesse,
Era isso que toda a gente sentia,
Já nada era surpresa,
Na amargura que um povo vivia,
O pai era preso sem saber porquê,
A mãe era mal tratada,
O filho que fugia,
Para o estrangeiro emigrava,
A pide o perseguia,
Em qualquer lugar o matava,
Foi por isso que Abril nasceu!...
E que todo o povo aceitou,
Foi por isso que Abril nos deu.
A liberdade de viver,
A liberdade de trabalhar,
A liberdade de amanhecer,
A liberdade de ser português,
A liberdade de todos amar,
A liberdade de falar e ver,
A liberdade de aqui estar.
Isto é…
Vinte e cinco de Abril!..”
Manuel Faria Bento, de Gomes Aires (Almodôvar)
Retomámos a divulgação de Poemas da 13ª Antologia de Poesia do CNAP, de 2015, agora já em 2016.
Estamos ainda em Janeiro, é certo, mas sabe sempre bem antecipar Abril, que virá… e relembrar, a data marcante de Abril de setenta e quatro!
Na ilustração da poesia resolvi fugir ao mais óbvio, que seria ilustrá-la com o célebre “cravo vermelho”, optando por “papoilas”, numa pintura original de Marthinus Pretorius, pintada com a boca, em reprodução digitalizada de um cartão de A.P.B.P. – Associação de Pintores com a Boca e o Pé, Caldas da Rainha.