Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Há quem do Tejo só veja
o além porque é distância.
Mas quem de Além Tejo almeja
um sabor, uma fragrância,
estando aquém ou além verseja,
do Alentejo a substância.
Depois de um interregno na divulgação de Poemas da Antologia, regressamos, no cumprimento do objetivo que nos propusemos. Divulgar um Poema de cada um dos Antologiados.
Neste Post Nº 291, damos a conhecer no blogue, “Homenagem aos Idosos”, de Joaquina da Conceição Martins Semedo, de Urra, Portalegre.
“Homenagem aos Idosos”
"Ser idoso é ter coragem
Para a realidade enfrentar
Eu lhe mando minha mensagem
Não se esquecem de rezar.
Não esqueçam a oração
Que nos ajuda a viver
Para na mesa haver pão
Temos que a Deus agradecer.
Ninguém esqueça o valor
Da arma de São José
A dor é o grande amor
A oração e a fé.
Que o amor seja igual
Eu peço na minha oração
Não seja só no Natal
Mas sim em toda a junção.
Que haja uma luz divinal
Que haja mais compreensão
Que em todo o mundo em geral
Que nunca faltasse o pão.
Em letras venho mandar
Numa linda florinha
Para todos saudar
Seja idoso ou idosinha.
Para todo o idosinho
Que se fartou com trabalhar
Mando-lhe um beijo em pergaminho
Para todos homenagear."
Joaquina da Conceição Martins Semedo, Urra (Portalegre)
E ilustra-se o Poema, com uma imagem com que também já ilustrei uma Quadra sobre o Natal!
Neste Post nº 267, divulgamos uma Poesia de Manuel Faria Bento, de Gomes Aires (Almodôvar).
“Eu Vivi Abril (Abril de 1974)”
“Eu vivi Abril
Abril em revolução,
Estava na flor da minha idade,
Vivi abril com grande emoção,
Abril foi uma festa…
Uma passagem p’ra liberdade,
Abril foi uma festa…
Com muita responsabilidade,
Abril em Portugal…
Foi uma grande oferta
Dos militares em geral,
Abril por todos criado,
Ainda hoje é estimado
Por derrubar a ditadura…
Abril foi uma alegria
Que há muito se esperava
Para acabar a amargura,
Que há muito se vivia.
Com Abril Portugal evoluiu
Num modo diferente,
De um modo que nunca se viu,
Que faz confusão a certa gente.
Mas é próprio da vida,
Porque o homem se habituou
A viver no seu cantinho
Que com tanto gosto criou
Ali perto do seu vasinho.”
“Abril foi uma grande vontade
Que tanta força criou,
Ao longo de tantos anos,
A um povo vivendo sob crueldade,
De uma ditadura que os obrigou
A sofrer golpes tiranos,
Daqueles que viviam da repressão,
Recebendo dinheiro
Para aos outros arrancar o coração,
Destruindo vidas inteiras
Durante cinquenta
Cometendo tantas asneiras,
Perseguindo trabalhadores,
Gente pobre e carenciada,
Que ganhava fracos valores
Que não dava para nada,
E ainda lhe chamavam… traidores.”
“Abril nasceu em Portugal
Filho de toda a gente,
O estudante p’ra isso lutou,
O trabalhador por isso sofreu,
O militar nisso pensou,
O adolescente isso vivia,
Qualquer pessoa por isso era presa,
Mesmo que nada fizesse,
Era isso que toda a gente sentia,
Já nada era surpresa,
Na amargura que um povo vivia,
O pai era preso sem saber porquê,
A mãe era mal tratada,
O filho que fugia,
Para o estrangeiro emigrava,
A pide o perseguia,
Em qualquer lugar o matava,
Foi por isso que Abril nasceu!...
E que todo o povo aceitou,
Foi por isso que Abril nos deu.
A liberdade de viver,
A liberdade de trabalhar,
A liberdade de amanhecer,
A liberdade de ser português,
A liberdade de todos amar,
A liberdade de falar e ver,
A liberdade de aqui estar.
Isto é…
Vinte e cinco de Abril!..”
Manuel Faria Bento, de Gomes Aires (Almodôvar)
Retomámos a divulgação de Poemas da 13ª Antologia de Poesia do CNAP, de 2015, agora já em 2016.
Estamos ainda em Janeiro, é certo, mas sabe sempre bem antecipar Abril, que virá… e relembrar, a data marcante de Abril de setenta e quatro!
Na ilustração da poesia resolvi fugir ao mais óbvio, que seria ilustrá-la com o célebre “cravo vermelho”, optando por “papoilas”, numa pintura original de Marthinus Pretorius, pintada com a boca, em reprodução digitalizada de um cartão de A.P.B.P. – Associação de Pintores com a Boca e o Pé, Caldas da Rainha.
No propósito que estabeleci de divulgar, em suporte digital, uma Poesia de cada um dos Poetas participantes na 13ª Antologia do CNAP, dá-se a conhecer, hoje, “Sonata de Outono”, de Manuela Machado, Aljustrel.
Não tive oportunidade de falar com todos os antologiados, mas com todos os que estabeleci contacto, nenhum se opôs a esta metodologia. Caso alguém se oponha, agradeço que me dê conhecimento e procederei em conformidade.
Também continuo a ilustrar cada poema com uma foto ou outro suporte de imagem sugestiva, preferencialmente original, no sentido de enquadrar o texto. Quando não disponho de nada pessoal, pesquiso na “net”. O procedimento mencionado no parágrafo anterior, também se aplica neste caso. Perante eventual discordância, agirei segundo o que me for sugerido. Na net, apesar de ficar sempre “rasto” do que se deixou, também se pode remover o que não se quer.
Algum erro que seja detetado, agradeço que me seja dado conhecimento.
E, efetuadas algumas considerações sobre “metodologias de trabalho”, segue-se o Poema.
“Sonata de Outono”
“Louvemos o Outono…
Que anuncia mudanças
Com o seu verde indefinível
A doce aragem
O seu céu azul lilás
O sol coado…
Que sejam boas as mudanças
Como sempre esperamos.
Assim, seguimos o delicado zéfiro
Confiantes, embriagados
Com os tons enganadores
De tão doces
O cheiro dos frutos
Das colheitas
As folhas que dançam no ar
Douradas
Ainda cheias dos reflexos do sol
Que já foi
Seguimos cegos de esperança
Nem calor nem frio
O regaço de Ceres transbordante
Em alegre dança sem euforia
Nem cuidados
Louvemos pois o Outono
Paragem ilusória, doce torpor
Que anuncia
Com delicadeza
A chegada
Do solene Inverno.”
Manuela Machado, Aljustrel.
Ilustra-se com uma foto original de F.M.C.L., 2014.