Tertúlia do C.N.A.P. – Maio 2018: Arte e Poesia!
Arte e Poesia em semana de Eurovisão!
O Círculo Nacional D’Arte e Poesia continua na sua meritória caminhada, há quase trinta anos, desde 1989, na divulgação da Arte e da Poesia.
No passado dia oito de Maio, como tem ocorrido nos últimos anos, graças à amabilidade da Direção do Centro de Dia de São Sebastião da Pedreira, aí decorreu mais uma Tertúlia dedicada à Poesia, irmanada com uma bonita Exposição de Pintura.
De entre os vários artistas, com obras expostas na improvisada galeria, estiveram presentes na inauguração (que piada eu acho à palavra “vernissage”!), digo, deram-nos a honra da sua comparência, D. Josefina Almeida, D. Fernanda de Carvalho, D. Maria Ivone Azevedo e D. Teresa Filipe. Autodidatas da arte de pintar, com alguns cursos de tempos livres, não académicos, mas nem por isso menos primorosas no seu labor!
D.Josefina apresenta-nos trabalhos paisagísticos, da sua região natal: Ponte Manuelina, na vila de Góis; Rio Ceira, na aldeia do Colmeal e “Cai neve”, em Viseu.
Pintura figurativa, em tons escuros, a que não são alheios os estados de alma e a tristeza vivida nas tragédias, ainda bem presentes, dos recentes incêndios que devastaram as áreas da “Zona do Pinhal” e das Beiras!
Mas o verde também sempre poeticamente presente, de esperança!
Essa nostálgica tristeza também se reflete em “Rio Turvo” “…meus desenganos…”, título e excerto de poema de sua autoria que nos deu a conhecer.
Já em “Mulher vais ser Mãe!”, “poema que escreveu há quase sessenta anos”, impregnado de realismo vivenciado, a que Mãe se referirá o sujeito poético?!
D. Fernanda de Carvalho opta por uma estética surrealista. Expõe duas peças artísticas. Uma “Sem Título”, que ela própria não consegue muito bem decifrar o que pretende mostrar-nos, segue o que o seu estro ordena, embora na obra vislumbre parte de mulher, uma pata de touro… Deixa-nos a nós, a capacidade e primazia de lermos o desenho e a pintura, segundo a nossa perspetiva de observadores.
Cores alegres, bem presentes também no sugestivo Rosinha dos Limões”. Lembrou-se deste título, pois veio-lhe à memória essa célebre canção, que eu desconhecia. (Mas vale-nos a net!) Na cara da “Rosinha” um lagarto pintado. (Lagarto pintado, quem te pintou?! A D. Fernanda que por aqui passou…)
Leu-nos poesia de índole pessoal. “…caminho passo a passo…”, ”Retalhos de uma Vida” e o sempre divertido, irónico, alegre: “Os meus namorados”.
D. Maria Ivone Azevedo, algarvia, traz-nos além de uma versão de “Girassóis” de Van Gogh, uma peculiar e icónica pintura do seu Algarve, com alguns elementos parcelares e temáticos desta província do sul de Portugal. Como se estivessem a ser visualizados a partir da estrutura de uma casa, envidraçada ou aberta à paisagem figurativa. A luz, a cor, as imagens… Os elementos marcantes do Sul: amendoeira, alfarroba, chaminé, moinho, o sol e a lua. E assim constrói a sua poesia!
D.Teresa Filipe apresenta-nos também uma pintura sobre uma paisagem, um ribeiro imaginário, correndo entre margens verdejantes. Não faz um plano prévio sobre o que pretende, vai inventando e dando largas à sua imaginação, à medida que vai construindo o quadro… também a sua forma de se expressar poeticamente!
(Desta pintora, não temos, por agora, imagem elucidativa. Lapsos do senhor fotógrafo! As novas tenologias permitir-nos-ão corrigir o problema, logo que possamos.)
Em termos picturais, está também exposto um quadro de Vitor Hugo: uma paisagem realista de Marvão, perspetivada a partir de uma das portas góticas.
De Elmanu: pintura no domínio do imaginário, atrevo-me a integrá-la também num conceito de surrealismo, bebido igualmente em Miró(?)
Tente o caro/a leitor/a expressar-se opinativamente!
Estão ainda expostos os seguintes sugestivos e festivos quadros.
O primeiro mais abstrato e algo impressionista.
E o segundo, um verdadeiro Hino à Primavera!
(Autoria: Méli - Amélia Figueiredo.)
E refiro, aqui, como seria sempre importante a presença dos Artistas, que nos dessem um vislumbre pessoal da sua Arte!
E como no C.N.A.P. a Poesia é uma das vertentes primordiais, também esta Arte teve o seu papel.
D. Olívia Diniz Sampaio, a Alma-Mater do Círculo, trouxe-nos “Noctívago”, de Fernando Pinto Ribeiro e “Cântico e Súplica de Louvor a Deus”, de Amélia Figueiredo. Ambos figurando no recente Boletim Cultural (Nº 131 – Ano XXIX – Março 2018.)
Também de Pinto Ribeiro, o seu irmão, Carlos, presença habitual nestas tertúlias, assumindo quase a missão de divulgar a obra do irmão falecido, Fernando, nos leu o poema “Bendito Amor”, de canção gravada por José Mourão, com música de Jorge Fontes.
Igualmente do mesmo poeta, Drº Santos Silva também leu poemas do livro “O Cisne Submerso”: “… foi Deus quem de mim te raptou…”
E de Alberto de Serpa: “Há instantes tão longos…”, que também figura no citado Boletim nº 131 do CNAP.
Pela minha parte, desta vez, li a fábula “O HOJE e o Amanhã”.
E na sequência de Drº Santos Silva nos ter reportado para o JL e para um comentário de José Carlos Vasconcelos sobre o Facebook, acabei por dizer “Meu Amor do Facebook!”. Que encerrou a Tertúlia!
Rolando Amado, que, de novo, colabora com as fotografias, a quem desde já agradeço, por esta vez não cantou! Reportou-nos, via telemóvel, para a audição do clássico: “Ninguém é de ninguém.” (Vantagens das novas tecnologias!)
Em contrapartida, tendo-nos enviado o seu último poema, é este que encerra esta crónica.
(Dir-me-á, caro/a leitor/a que estes são eventos culturais que passam quase despercebidos. E, infelizmente, é verdade!
Mas o que é que os nossos meios de comunicação divulgam?!
E a quem dão direito à palavra as nossas TVs?!
Há por aí uns quantos, que nem o bê-á-bá sabem soletrar, em que não há dia nem canal que não tenham direito de antena exclusivo!!!
É só estar atento, caro/a leitor/a.
E acha isso bem, estarmos a ouvir tantas calinadas diárias?!)
Bem, mas nem tudo é mau!
Esta crónica veio sendo escrita no contexto do espetáculo único que foi a realização do Festival da Eurovisão em Portugal!
E, na minha opinião, passe algumas futriquices de somenos importância, a realização portuguesa não ficou nada a dever às anteriores! Parabéns Portugal!
AH! A classificação da canção portuguesa… E o que posso eu dizer?! (…) (…)
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«PORQUE AGORA É NOITE»
«Atravesso a noite e estremeço
Ainda temo essas sombras que sussurram,
O eco dos passos que produzo.
Porque a noite é longa,
Porque a noite é tudo.
A noite é ventre, é mãe, é princípio
É sonho, fuga, caos, turbilhão, redenção.
É a noite que nos agarra e devora
É ela que nos possui.
Embarco no navio da noite
À boleia de alguma tentação
Vestida de poesia sedutora
De pensamentos errantes
Porque sendo noite são memórias
De outras noites transformistas
De mil e uma noites eternas.
Atravesso a noite, densa, absoluta
Pelas ruas desertas de luzes tristes
E pintadas de sonhos dos sem-abrigo
Dos meus fantasmas e fantasias,
Que persistem.
É noite de bandidos e inocentes
De histórias intermináveis
De amores vendidos, de amores falsos
De sexo, amizade e ternura.
De navalhas em riste, crime e sangue
De vingança e de perdão
De grandes verdades e colossais mentiras.
É noite que transfigura,
De predadores e de santos
Dos animais das trevas, que nos miram
Expectantes, pelo medo que também sentem.
É noite, espelho de cada um
Que me abraça em seu mistério
Cada vez que navego em noite.
Do princípio e fim de tudo
Porque a noite é de ninguém
A noite é o sono da vida.»
ROLANDO AMADO RAIMUNDO