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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Tieta do Agreste: Uma leitura contra os preconceitos…

Ou contra os obstáculos / barreiras à Leitura?!

Foto Original. 2018. 07.jpg

 

Recomecei a ler este livro, no início do mês passado, sensivelmente quando escrevi o postal sobre o tema, mas ainda não acabei. Quinhentas e noventa páginas, é mesmo uma coisa de Quinhentos…Página 499, subcapítulo “A Rival de Deus”, é precisamente aí que estou, em leitura sossegada, continuada e seguida.

Seguida, sim, porque já avancei em subcapítulos subsequentes, em leituras espaçadas, já li os finais e outros entretantos até lá, porque não sou leitor ordenado, tenho pressa em saber os finalmentes. Neste caso, relembrar, pois já lera o livro, há quase quarenta anos e já vira a novela, quase há trinta. Estou a reler! E com muito agrado. Apesar de enorme calhamaço, lê-se muitíssimo bem, com tempo, porque tendo cinco capítulos grandes, quase um livro cada, tem imensos subcapítulos, curtos, que podem ser lidos espaçadamente. Vou chegar a um mês de leitura.

E este é o primeiro obstáculo a vencer: o tamanho, a dimensão da narrativa.

 

Outra barreira ou preconceito poderá ser o facto de estar escrito em “português do Brasil”. Neste ponto, a palavra que mais me faz impressão é “fato”, pelo nosso facto. (Mesmo para quem segue o “normativo de escrita”, resultante do “Acordo 90”, em Portugal, escreve-se facto, não esquecer!)

Muitos estrangeirismos, transpostos para português, segundo a fonologia. Alguns termos resultam bem engraçados: “bói, reibam, uiquiende, randevu,…”. Um verdadeiro tratado.

Em contrapartida, uso de frases completas, em francês, na boca de Mirco Stéfano.

Também vocabulário típico, algumas palavras não figurando no Dicionário.

Mas também se ultrapassa muito bem este obstáculo.

A narrativa é fluente e apelativa, não se perde o fio à meada, as/os personagens são interessantes, motiva-nos ir descobrindo a sua caraterização e desenvolvimento. (Daí o facto de ir aos trechos finais, para saber, relembrar, como termina a estória.)

 

Obstáculos, estes, mais em termos formais.

 

A nível de conteúdo, poderá chocar-lhe o facto de a personagem principal, Tieta, ser uma caftina, dona dum “randevu” em São Paulo, exploradora de mulheres, dona de casa de putas. Poderá! Sem que o Autor veja algum mal nisso.

JAmado, do que julgo conhecer, trata muito bem as suas personagens, humaniza-as, enquadra-as no seu contexto sócio familiar, económico. A pobreza quase sempre como pano de fundo.

No caso vertente, valoriza o respetivo “métier”, realça a sua importância social na comunidade, no aplacar de conflitos familiares e essa perspetiva, muito dele, está bem presente no papel e função atribuídos a Zuleica Cinderela, em Santana do Agreste.

O choque maior, pelo incesto entre Tieta e Ricardo, seu sobrinho e seminarista.

Mas interessante que, no Escritor Baiano, estes assuntos tabus, conseguem ser desmitificados, escritos e contados com ligeireza, até otimismo, um certo ar luminoso, sem causarem demasiado choque ou vistos como malditos pelo Leitor. (Contrariamente ao que acontece, por ex., com Eça, em que estas temáticas se sentem demasiado pecaminosas. Também separam – nos um século, um oceano e muitas miscigenações culturais.)

 

E para concluir este postal, que ainda voltarei a Tieta, na leitura e em postal, talvez (?!) o preconceito ideológico. Muito boa gente não lida bem com Jorge Amado e Outros Escritores, pela respetiva ideologia marxista, que subjaz nas suas narrações, menos ainda pelo facto, (cá estamos novamente na palavra facto,) de ter militado em partido comunista.

 

E tenho dito sobre muros, barreiras, obstáculos a ultrapassar em “Tieta…”. (Sem concluir.)

Que quero continuar a reler. Que estou a gostar. Leitura muito agradável e interessante.

Se puder, não deixe de ler. SFF!

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