"Uma Aldeia Francesa” - T. 7 - Amores e Desamores
"Un Village Français” - Temporada 7 – Episódios 1 e 2
Reconstrução de Vidas – Amores e Desamores
(Episódios Globais nº 61 e 62)
(18 e 19 de Janeiro de 2018)
RTP 2
Abordando, agora, a situação de alguns personagens.
Gustave Larcher, filho de Marcel, resistente comunista, executado em 13 de Novembro de 1943, (temporada 5, episódio 12); sobrinho de Daniel e Hortense é, em 1945, um adolescente, órfão de mãe e pai.
Vive com um grupo de meliantes, que se dedicam ao mercado negro, traficando os mais diversos produtos, nomeadamente os que os americanos trouxeram como novidades, para uma França depauperada pela guerra e mais atrasada, industrial, económica e socialmente. Contrabandeia com os gringos, rouba. É apanhado por Raymond Schwartz a extorquir dinheiro à sua secretária, na fábrica de serração, ameaçando-a com uma arma.
É preso pela polícia, cuja delegação é chefiada por Loriot.
Vale-lhe, que este viva com Suzanne Richard, militante comunista, que fora a namorada de Marcel, seu pai e que, a pedido dela, Loriot o tenha libertado.
Fica uns dias com Suzanne, esta aproveita para lhe dar a conhecer aspetos do seu progenitor, tal como o local onde ele está sepultado e entrega-lhe um famoso caderno, título do 2º episódio.
Nesse caderno de manuscritos, vai ele lendo o que o pai fora apontando: seus pensamentos, seu ideário, suas reflexões…
Terão essas ideias alguma influência no jovem?
(O futuro o dirá…)
Apenas sabemos que nessa estadia em casa de Suzanne teve oportunidade de conhecer a respetiva filha, Leonor, que terá regressado da Bretanha e que entre outras possíveis e hipotéticas afinidades, a miúda denota especial interesse pelo rapaz, apesar dele aparentar algum alheamento.
Acaba por fugir para junto dos meliantes, não sem antes prometer encontro com a rapariga na igreja.
Os capangas mandam-no matar Tom, o americano.
Antoine, afamado resistente, organizador do célebre desfile do onze de Novembro de 1943, comandante de guerrilheiros, participante da guerra, como soldado, na expulsão dos boches, regressa a Villeneuve, esperançado em encontrar a sua Geneviéve, a quem prometera casamento, quando regressasse no fim das hostilidades.
Encontrada esta, que vivia na quinta com a avó, saldam contas em atraso de um ano, mas ele não se adapta ao viver na quinta, nem consegue arranjar uma ocupação satisfatória, apesar do seu excelente currículo.
Procura trabalho na polícia e o que Loriot lhe oferece, por especial favor, é entregar jornais de porta em porta.
Vagueia pela cidade, encontra um outro resistente como ele, Anselme, ainda mais desesperançado, a dormir em banco de jardim, sem eira nem beira, que este, Anselme, quando retornou ao lar, já nem a mulher encontrou, que, fartando-se de esperar, se acomodara com outro.
Conversam como antigos camaradas de armas, bebem uns copos, fazem desacatos, que já ninguém se lembra do seu papel enquanto resistentes… são presos.
Mais tarde, libertos, não sei se também a pedido de Suzanne, regressam ambos à quinta, onde, apesar da penúria, a velhota ainda faz umas sopas quentinhas!
Anselme oferece-se para trabalhar no campo, que a velha até acha que seria com ele que a neta deveria casar. Amanhava-lhe o prado, à idosa.
Antoine fica a saber que a camponesa, que se queixa de dores nas costas, como se fosse reumatismo, o que tem é um cancro, que deveria ir a Besançon tratar-se no hospital, mas não tem dinheiro para pagar os tratamentos.
Antoine resolve ir pedir dinheiro aonde supõe ele existir e vai à serração de Raymond Schwartz, aonde já trabalhara em quarenta e três, quando sua irmã era segunda esposa de Raymond.
Este aceita emprestar-lhe a massa, oferece-lhe trabalho, um pouco melhor remunerado até que anteriormente e o empréstimo dos dez mil, pagando em dois anos.
Será que, deste modo, Antoine e Geneviéve conseguem as condições para se casarem?
Prosseguindo nesta narrativa, perseguindo personagens e seus amores…
Jules Bériot e Lucienne Borderie!
Professores primários, casados, mal amados. Jules ama a esposa loucamente, mas esta não o ama, vive ainda acorrentada a um amor, que jaz no cemitério, sepultado como Étienne Charron, falso nome, do antigo namorado, soldado alemão, de nome Kurt e pai biológico de sua filha Françoise.
Bériot, chefe da resistência na cidade, presidente da câmara, em exercício desde quarenta e quatro, ainda em quarente e cinco, no início desta 3ª temporada, vê a sua eleição contestada pelos comunistas, devido a erros eleitorais.
Ainda no exercício das suas funções, discutem alguns dos problemas fundamentais da gestão camarária, com destaque para o problema crucial à época e comum a todas as épocas, que é o do alojamento/habitação. Naturalmente acrescido após uma guerra, em que muita habitação foi destruída pelos bombardeamentos.
Bombardeamentos que não pouparam o cemitério, onde foi descoberto um obus, que necessita remoção. Que nem os mortos têm o merecido e eterno descanso!
Para tal, há que remover campas, nem mais, e uma delas será a de um desconhecido Étienne Charron, de que não se sabem familiares, mas onde se sabe que Lucienne deposita flores, de manhã bem cedinho! Afinal, um seu primo afastado, como Bériot esclareceu Loriot.
E neste remover e remexer e relembrar o passado, alguém, anonimamente, lembrou a Bériot em carta sem assinatura, com palavras escritas com letras tiradas de jornais que: Lucienne era amante de boches e Étienne Charron era Kurt. Outra bomba na vida do ex presidente e, de momento, um dos candidatos a futuro exercício camarário.
Bomba que leva a desmentido na imprensa.
Caso para se dizer que, ‘pior a emenda que o soneto’!
Mas a vontade de exercer as funções de presidente…
Este assunto azeda completamente o relacionamento Bériot – Lucienne, marido e mulher, que, frisa ele, ter-lhe perdoado Kurt, até Marguerite, o socorrer-se de Madame Berthe, mas não lhe perdoará se, por causa dela, perder a eleição da câmara. E em todo este relacionamento, estes esposos ainda se tratam por você!
Que no fundo e essencialmente, eles são, antes de tudo, colegas de trabalho.
E preparam o próximo ano letivo. Consultam os manuais e naturalmente o de História, nomeadamente o exemplar recente em que as problemáticas da ocupação, do colaboracionismo e da resistência são branqueadas, apresentando a resistência à ocupação, como se todos os franceses nela tivessem participado. O que não corresponde de todo à Verdade, mas é um caso típico de revisionismo da História e da realidade.
Situação que incomoda especialmente Lucienne Borderie que afirma ‘que lhe pedem para participar numa grande mentira’. (Mas talvez fosse melhor estar calada!)
E não só se calou, como se afastou, ao chegar um inspetor armado em bom, ufanado de prosápia e ameaças veladas, porque um exemplar da carta anónima também chegara ao ministério.
Para além de vir desenterrar acontecimentos passados há anos, especificamente as crianças mortas no piquenique do primeiro episódio, na temporada inicial, quando ocorreu a invasão alemã!
Bériot, na sua frontalidade e/ou honestidade, acutilância sem dúvida, ainda manifestou surpresa, por tal personagem vir investido de funções tão importantes, (Inspetor), quando fora apenas um “resistente tardio”.
Mas não lhe terá valido de muito, que o outro ficou na dele.
Jules Bériot, verdadeiro resistente, vê-se, assim, cada vez mais encurralado.
Veremos o que lhe acontecerá…
Esta é uma característica deste iniciar desta sétima temporada.
Os cidadãos que realmente foram resistentes a sério, desde a primeira hora, que enfrentaram os “boches”, os que foram verdadeiramente honestos consigo mesmos e com a França Livre, veem-se em palpos de aranha para poderem singrar normalmente na vida e se reintegrarem. Contrariamente, os oportunistas, que aderiram à causa da Liberdade na última hora, estão na mó de cima, prontos a pisarem todos os outros!
Mas retomemos com outros amores, nestes casos, mais desamores…
Jeannine, já constatámos, foi praticamente ilibada da sua condição de “colaboracionista”!
Costuma-se se dizer que uma mão lava a outra.
Ela fartou-se de colaborar, de toda a forma e feitio, com os ocupantes, sob todos os aspetos e mais um.
Mas como ela também ajudou a resistência, não só financeiramente, mas também como informante, e, segundo se observa, continua a ter muito dinheiro… atribuíram-lhe aquela sentença. “Admoestação simples”!
E agora que o exército americano se encontra em França, há que negociar com eles.
E tem em mente um grande negócio, que oferece compartilhar com o antigo marido, Raymond Schwartz, que também continua com a sua serração.
O negócio que ela tem em vista com o ex., com quem foi casada dez anos, é mais abrangente do que apenas dólares americanos.
Mas Raymond, ainda que lhe desse jeito um grande negócio, lembra-se da sua Marie Germain, e diz-lhe que não.
Mas não é essa recusa que detém Jeannine.
E é vê-la a brindar com o general americano!
Os últimos personagens a abordar nesta crónica sobre este reiniciar da série, perspetivando-os pelo lado romanesco, não formam um par, mas um triângulo. Um célebre triângulo amoroso. O elementar: marido, mulher e amante.
Daniel Larcher, personagem ímpar neste seriado, constatámos que está a ser julgado como colaboracionista.
O próprio não se sente muito confiante num veredicto auspicioso.
As testemunhas, arroladas para sua defesa, ainda que tenham falado a verdade, não diremos que sejam muito confiáveis, perante o júri e os juízes.
(Mas disso viremos a saber…)
Mas o que importa, agora, nesta análise, é constatar o lado romanesco da situação.
Daniel detém um amor incondicional pela mulher, a ruiva e fogosa Hortense. Tão incondicional, que raia quase o descomedimento. Em linguagem vulgar e vernácula, como se diz na ‘minha e nossa terra’, diríamos que ele é um “corno manso”!
Hortense destrata-o e ele perdoa-lhe e recebe-a sempre de braços abertos!
Ela, por sua vez, aproveita-se desta fraqueza completa do marido e faz o que muito bem entende. É completamente louca pelo alemão, o “boche”, Heinrich Muller!
No julgamento de Daniel, Hortense foi chamada como testemunha de defesa e estas cenas foram antológicas, sob todos os aspetos.
Apesar da veracidade das suas afirmações, mas contrapondo todos os factos inerentes à situação, nomeadamente a sua condição invocada de amante de Muller e mulher de Daniel, terão deitado por terra todos os seus argumentos, ainda que verdadeiros.
Foi e sentiu-se completamente humilhada, para além da ignomínia sobre o próprio marido.
Aí também se soube que Heinrich, o amante, terá morrido.
Após esta participação no julgamento, a que não terá sido alheia a notícia da morte do amante, Hortense foi-se ‘ausentando’ da realidade, tendo comportamentos completamente alienados em casa e afirmando-se permanentemente perseguida por estranhos, que da própria rua a vilipendiavam.
Num momento crucial em que ela, com o estetoscópio do marido, auscultava as paredes da sala, para ouvir o que se passava na casa ao lado, toca o telefone.
Daniel atende.
E informa que localizaram Heinrich Muller na Alemanha, afinal não morreu, e que é funcionário dos americanos.
Uma luz clareou as ideias de Hortense!
E foi vê-la a embonecar-se, para a próxima sessão do julgamento do marido, em que Muller iria testemunhar, e ainda pedir opinião a Daniel sobre que vestido trajar.
No julgamento esteve num permanente deslumbramento perante o desejado amante, Heinrich, que raiava a quase loucura, tão embasbacada estava.
Aquele pouco lhe ligou, frio e impertinente perante o próprio tribunal, mas perspicaz e acutilante, sempre superior, a típica arrogância dos iluminados nazis perante as outras raças.
Mas não só, também sobre aquela condição de tribunal e respetivos magistrados, como já referi.
Mas foi verdadeiro no seu testemunho e deu a volta a tudo e todos!
(Também saberemos mais tarde, que tem as costas quentes…
Não sabemos é se as suas verdades, partindo de quem partiram, terão algum efeito nas decisões do tribunal.)
Mas Hortense não é mulher para desistir de amores, e foi-se pespegar no hotel.
(Interessante esta “village français” / “aldeia francesa”, que tem todas as comodidades de uma cidade, e não uma qualquer cidade!)
Heinrich chegaria mais tarde, agarrado a uma flausina americana, toda apegadiça ao galã, mas que ele, com maestria, mandou subir para o quarto, quando reparou em Hortense.
Censurando-a por ela ali estar e dando conhecimento que a americana é sua mulher, apesar de tudo, concordou em arranjar um tempo para ir falar com Hortense, às 22h, a um restaurante, onde habitualmente se encontravam e que agora mudou de nome e se chama ‘Em Casa do Rogério’! (…)
E aí chegado, já Hortense o esperava sentada a uma mesa, bebendo champanhe!
Acomodando-se ele também, bebericando igualmente, que champagne é champagne, ela de tudo se lembra, ele tudo quer esquecer, que tem um currículo enorme de crimes de guerra, em França e na Europa de Leste.
Agora trabalha para a Inteligência Americana, a celebérrima CIA, casado com Linda, a beldade flausina a quem vimos abraçado, no hall do hotel, que é filha do nº 2 da referida agência. Brevemente será “american citizen”! Nem mais, nem a propósito!
Mas estes foram preliminares de conversa, que sabemos ao que Hortense ia, e a fogosa amante não esteve com meios termos, explicitou o desejo preto no branco, que ‘fosse ter com ela aos lavados para possuí-la uma última vez’!
E como desejos de Hortense eram ordens, ele nem esperou e foi logo atrás da amante.
Tão desejosos estavam, que quase nem se aperceberam da chegada das autoridades francesas que vieram prendê-lo, que nem fizeram nada de mais, pois que haviam de esperar e desperdiçar oportunidade única para acorrentar este verdadeiro criminoso, a pavonear-se de superior e intocável.
Mas não esqueçamos que ele tem as costas quentes dos americanos!
(…)
Hortense, pareceu-me sorrir, naquele seu jeito de raposa matreira e dengosa.
E, por aqui ficamos, aguardando próximos episódios.
*******
Fotografia Original DAPL - 2017 - Flores de Aldeia - Rosas por detrás do muro!