“Uma Aldeia Francesa” - T. 7 - Tópicos do Enredo
Temporada 7
Episódios 1 e2
(Episódios Globais nº 61 e 62)
(18 e 19 de Janeiro de 2018)
RTP 2
Caro/a Leitor/a
A RTP2 iniciou a 7ª Temporada desta excelente série francesa, na passada 5ª feira, dia 19/01/18.
Tomo a liberdade de sugerir que faça uma leitura sobre os últimos episódios da 6ª temporada, que passaram no mesmo canal, em Junho de 2016. Bem como os posts referentes a personagens, episódios e enquadramento espacial.
(Assim poderá equacionar melhor os episódios atualmente em curso.)
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Nesta 7ª temporada, a ação continua a decorrer na localidade de Villeneuve, subprefeitura francesa fictícia, do departamento do “Jura”, situada no “Franco Condado”. No Nordeste de França, junto da fronteira com a Suíça.
E próximo da zona de demarcação, definida pelo exército alemão, durante a ocupação de França, de 1940 a 1944.
Só que no ‘tempo atual’ da narrativa, finais de 1945, a França já não está ‘ocupada’ pelo exército alemão.
O 1º episódio reporta-se a 7 de Novembro de 1945 e intitula-se “Atrás do Muro – Derriére le Mur”.
O 2º episódio designa-se “O Caderno – Le Carnet”.
Nestes dois episódios, um dos temas do enredo incide sobre os julgamentos a que foram sujeitos alguns dos principais “colaboracionistas” com os “boches”: Servier, subprefeito; Daniel Larcher, médico, presidente da Câmara, marido de Hortense; Jeannine, empresária, mulher de Raymond Schwartz e de Philippe Chassagne.
Outra das temáticas da narrativa, reporta-se ao modo e à forma como cada personagem vai tentando reconstruir a sua própria vida, agora no novo enquadramento institucional, com a ‘desocupação’ alemã, mas com a presença do exército americano.
Nesta reconstrução, há sempre, em momentos cruciais, um relembrar de acontecimentos, situações passadas, ocorridas nos anos recentes da “ocupação”. Um recordar de pessoas, sentimentos, perceções da realidade vividas nesses tempos…
Assim também nós, espetadores, podemos comparar o momento, o agora, com o transato, o passado, e formularmos, também nós, o nosso próprio juízo crítico.
Porque esta série e os assuntos abordados e o tempo e as vivências a que se refere, não nos deixa indiferentes!
Outro tema, sempre presente neste seriado, desde o início, ou não funcionasse também a série como um enredo novelístico, é o Amor. Cada personagem procura sempre o seu par, o/a seu/sua Outro/a, que o/a preenche e o/a complementa.
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No que aos julgamentos se refere o assunto e o modo de abordagem são sintomáticos.
A começar pelos Juízes, que a melhor análise sobre os mesmos foi o questionar pertinente de um estrangeiro, que foi chamado a testemunhar sobre Daniel Larcher.
Nem mais nem menos que um alemão, um boche, chefe da SD, ademais amante da mulher do médico… Pois, precisamente, Heinrich Muller!
E o que questionou ele?! …
De entre os “colaboracionistas” sujeitos a julgamento, quem se safou melhor, e desde logo, foi Jeannine.
Pois, precisamente! O Comité condenou-a a uma “admoestação simples”. Simplesmente.
A razão, a justiça ou a força do dinheiro?!
Servier, subprefeito pétanista de Villeneuve e Daniel Larcher são casos que suscitam mais polémica.
Foram autoridades, representantes do governo francês de Pétain, sujeitos à ocupação estrangeira, colaborando com essas mesmas forças ocupantes, tal como Jeannine, diga-se.
Sobre Larcher incidem casos problemáticos.
Na qualidade de médico e cidadão, insinuam a morte da mãe de Tequiero, o envio do respetivo pai, Alberto Rodriguez, também para o ‘homem da gadanha’…
Enquanto presidente da câmara: a “deportação dos judeus”.
Também o acusam de ter sido colaborador – informador dos alemães (SD), a partir de um documento engendrado por Muller, a pedido da amante Hortense, para os oficiais alemães o libertarem da prisão, quando nela permanecia com o irmão Marcel…
(Nós sabemos como esse documento é falso. E as insinuações e acusações insidiosas.
Veja episódio 9 - Temporada 5…, SFF.)
Que testemunhas são arroladas em sua defesa?!
Nem mais, que a mulher, Hortense, que fora a amante de Muller e o próprio Heinrich.
(Cenas antológicas estas, da série!)
E foi na interpelação a Heinrich Muller, que este interpelou os próprios juízes sobre a sua própria legitimidade em julgarem um homem honesto como Daniel, face ao papel que eles mesmos haviam desempenhado durante a ocupação.
Qual deles se opôs à ocupação e qual deles não foi colaborador com o regime de Vichy?
(É caso para dizer e constatou-se nas cenas apresentadas, que eles puseram o dito cujo, entre as pernas…)
Será ele condenado?!
Merece ele estar sujeito a toda aquela ignomínia de julgamento?!
Será sujeito à pena de morte, como ele tanto teme?!
Será que se recusam a ver, a percecionar, o seu lado bom, de resistente, que também foi, de como ajudou no que pôde e como pôde, naquele contexto de ocupação?!
Ajuíze, avalie, teça o seu próprio juízo de valor, caro/a leitor/a!
Sobre Servier, o caso fia bem mais fino.
Entre as muitas atividades de colaboração, que não fez outra coisa, apontam-se-lhe o envio de cidadãos franceses para fuzilamento, à ordem dos dirigentes alemães.
Temos consciência que não foram situações lineares, preto no branco, e os contextos em que viviam não eram de decisões livres, mas também não isentas de responsabilidades…
Em sua defesa invocou que o número de condenados à morte pelos boches era muito maior que os que foram fuzilados e que essa diminuição resultou das negociações que ele foi realizando com os ocupantes.
Pelo que, na sua ótica e lógica, ele não enviou dez homens para a morte, mas sim, livrou dez homens da morte!
Porque as ordens não partiam dele!
Mas assumiu que foi ele, sozinho, quem redigiu as listas dos indivíduos a serem executados!
Veremos no que dá o julgamento.
Merece a pena de morte ou não?
(…)
(Fotografia original DAPL - 2017 - "Enredo".)
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Sobre “Amores e Desamores”, publicarei outro post.