“Uma Aldeia Francesa” - Temporada 6 – Episódio 11
(Episódio Global nº 59)
(20 de Junho de 2016)
RTP 2
Episódio 11- “Arrestations” – “Detenções”
Setembro de 1944
A sacanagem da baixa política!
“Jean Marchetti esconde-se em casa de Rita. Os problemas do quotidiano agravam-se: abastecimento, saúde, alojamento… É a penúria.” (…)
Os aliados de ontem tornam-se, hoje, adversários, melhor, inimigos, dados os métodos que utilizam para conquistar o poder!
Faltam bens essenciais, falta de tudo, em Villeneuve. A população revolta-se, que onde há fome... fazem-se pilhagens. Reina a desordem. As esperanças associadas à Libertação esvaem-se, por entre a incapacidade de a República dar de comer a quem tem fome. Há quem tenha saudades de Vichy!
As autoridades na pessoa do prefeito, Bériot; do chefe da polícia, Antoine; do presidente do CDL, Edmond, tentam dar resposta às múltiplas necessidades, mas onde não há pão, não há mantimentos para distribuir...
Também, entre eles, a baixa política insere-se ignominiosamente, insidiosa, da pior maneira.
As gentes envolvem-se à pancada por um pedaço de pão.
(E não posso deixar de reportar para o que se passa ainda e atualmente. E já que estamos em França, onde atualmente decorre o “Euro”, para aquela cena de ignomínia dos adeptos (?) ingleses a atirarem moedas a crianças pobres!!! E vão estes... que chamar-lhes (?), votar sobre a permanência ou saída do Reino Unido da União Europeia!!)
E à pancada andou Ezechiel Cohen, por causa do abastecimento e nada trouxe, além da cara esmurrada.
“Apertamos o cinto”, lhe disse Rita.
“Penso cada vez mais na Palestina” (E sobre este assunto também há tanto para inferir...)
E Ezechiel falou-lhe das vantagens de seguirem como família, apesar de Rita não ter papéis... Que em Lyon preparam idas para esse território.
E Rita chamou Jean: “Jean, vem, por favor!”
E apresentou-os. “Acho que já se conhecem”
Jean, vem do hebraico, de Yonah: “Deus tem piedade!” Comentou Ezechiel.
Terá?! Pergunto eu. Merece piedade?! Obterá o perdão?!
Suzanne, agora desamparada de amor, que “o gaullista” a deixou para outra da mesma geração, vagueia pela rua e dirige-se à sede do CDL, onde houvera uma invasão da turbamulta.
Edmond arrumava as mesas e cadeiras derrubadas...
Falaram da omissão da vida privada, no contexto do partido... (Onde e sobre quem tanto essa situação foi sonegada durante décadas, melhor, durante a vida inteira, de um certo e emblemático e carismático personagem da vida política portuguesa?)
Edmond morrera-lhe a mulher há dois meses, nada dissera. “Morreu por um ideal.”
“E tu, que queres? Lamentares-te ou bateres-te por ideais?” Edmond interpolou a militante Suzanne.
“O partido quer conquistar a câmara. Derrotar Bériot.”
E Edmond encomendou, a Suzanne, que soubesse se nos arquivos da esquadra haveria alguma coisa que tramasse Bériot e a mulher, que, em tempos, se falara de uma paixoneta desta por um boche. (Paixoneta!)
Suzanne tinha, na polícia, dois “conhecimentos” chave. O chefe, o “gaullista” Antoine e Loriot, (como classificá-lo?), novamente membro da esquadra. Ambos também suas paixões ou paixonetas.
E Suzanne, à partida, excluiu Antoine, não iria manipulá-lo e atacou Loriot, o “bigode mais jeitoso de Villeneuve”!
Inicialmente o polícia retraiu-se, não confiava totalmente nela.
Lembra-se, caro/a leitor/a, que foi devido a esse relacionamento que Suzanne foi considerada traidora, no contexto da célula do partido?
Onde isso já vai, me dirá.
Mas há lá homem que resista ao elogio do bigode, para mais provindo de uma cara bonita e charmosa?!
E Loriot comprometeu-se. “A troco de nada. Em nome dos velhos tempos.”
Em troco de nada, Loriot, que já anteriormente informara de que Antoine andava de amores com a irmã de Alban, eu pensei que ela já saberia... Loriot, repito, a troco de nada sempre trouxe alguma coisa.
Em primeiro lugar, que ele é um senhor galante, ofereceu-lhe um ramo de flores. Lembrando velhos tempos ou preparando os novos, que a rapariga anda desamparada.
E o pretendido. Nada sobre Bériot, vasculhados os arquivos de 41, mas algo sobre outra pessoa. Ainda melhor!
E que pessoa acha que será? (Pensei em Lucienne.)
E Suzanne entregou o documento a Edmond, que sorriu, cinicamente, como é habitual no seu personagem.
Lembremos que este documento será, em princípio, para tramar Bériot.
Este, como também já referimos, convidara o médico, Daniel Larcher, para colaborar com ele na prefeitura, sob condições mutuamente estabelecidas.
Encarregara-o de inventariar situações de resolução de três problemáticas prementes na Cidade: Saúde, Alojamento, Alimentação.
(Lembram-se da canção “Liberdade” de Sérgio Godinho?! “Casa, Pão, ...”
E estas prioridades também foram algumas das emblemáticas após o 25 de Abril.)
Voltemos à realidade ficcional.
Larcher desempenhou as suas funções muitíssimo bem, apresentando as soluções encontradas, em reunião com o prefeito e o secretário, Hector.
Sobre a Saúde, com recurso às freiras do convento, que haviam concordado e disponibilizado os seus meios; sobre Habitação, também explicitou soluções concretas e sobre Alimentação, não trouxe ainda dados precisos, mas propôs reunir-se com Servier, que sabe, de certeza, onde buscar víveres.
Dito e feito, reunido com o dito cujo, este concordou em dizer-lhe onde achar alimentos, na condição de lhe trazerem um salvo-conduto para emigrar para a Suíça e um bom jantar para a mesa.
(É caso, para dizer: Que mamão! Que foi o que ele fez em toda a ocupação, mamar, lamber botas, servir e servir-se.)
E, em “reunião de prefeitura”, a que compareciam também membros do CDL, presidido por Edmond, que fora encarregado por Bériot de chefiar a questão do abastecimento da cidade, o prefeito contava apresentar Larcher, e as suas pesquisas, como um trunfo.
Enganou-se. Mas lá iremos.
Antes, julgo que em reunião anterior, em que estiveram ambos os chefes das fações, agora oposicionistas; Bériot, gaulista e Edmond, comunista, atiraram-se “mimos elogiosos” um ao outro, sob os auspícios de um retrato do General De Gaulle.
Edmond, “elogiando” Bériot, cuja polícia, chefiada por Antoine, libertava colaboracionistas, referia-se à chata da Jeannine; em vez de prendê-los, que o “carniceiro” Marchetti ainda andava a monte.
Bériot, por sua vez, mimoseava Edmond, cujo abastecimento, de que era o delegado, era uma desgraça.
Andavam numa inventariação fictícia das necessidades da população, quando não havia nada para distribuir, aproveitando para propor às pessoas a adesão a um determinado partido, cujo nome não disse.
Igualmente defendeu Loriot, pela sua competência; Edmond não o saberia ainda, Bériot provará, sem o saber, do veneno dessa mesma eficiência.
Também Daniel Larcher teve direito a ser defendido, e concordo inteiramente, pela sua “Generosidade e sentido de Humanidade”.
E, voltando à reunião de prefeitura em que Bériot apresentou Larcher como colaborador, elogiando a sua competência no encontrar de soluções, para três problemas prementes na Cidade: Abastecimento, Alojamento, Saúde.
Edmond, cínico, questionou-o:
- “Confia nele?!”
E lançou a bomba.
“A partir de um documento que, por acaso, nos veio parar às mãos, sabemos que Daniel Larcher era, em 1943, informador da polícia alemã!”
E apresentou o documento assinado por Heinrich Muller.
Lembramo-nos perfeitamente dessa situação de quando o médico estava preso juntamente com o irmão, Marcel...
Que acha senhor/a leitor/a ?!
Neste caso, eu opino sem quaisquer dúvidas ou hesitações.
Foi uma verdadeira “sacanagem”!
E foi um lavar de roupa suja e atirar de lama... sobre um ser humano intrinsecamente bom, apesar das contradições inerentes ao comportamento de qualquer homem ou mulher, para mais em tempos tão complicados.
Ma é assim a política, para mais a baixa política!
E o médico foi logo ali despedido, que Bériot pode, quer e manda, e enviado para prisão domiciliária, a juntar-se à mulher Hortense, que foi a alma dos seus pecados. Mas também a razão de estar vivo.
Que as vivências, os comportamentos, as atitudes dos diversos personagens são multifacetadas.
Como, aliás, de todo e qualquer Ser Humano.
Nem sempre preto é preto, nem branco é branco!
Veja-se que Daniel, apesar de o considerarmos um homem bom, ainda rematou:
“Vou contar quem é o seu hóspede.
O hóspede já se foi.” Retorquiu o prefeito.
(Afinal não terá sido este médico que passou a certidão de óbito, como eu julgara.)
E ainda há mais para contar?
Já referi que Jeannine fora presa pela “purga”, chefiada por Anselme, que queria saber do dinheiro que ela ganhara a reparar tanques dos boches e para o ir buscar, para poderem comprar alimentos para os necessitados.
E que a queriam julgar e mais tornas e deixas nestes casos.
Mas havia ordens superiores de Bériot, sempre ele, de que ela fosse recuperada e dessa ordem e execução se encarregaram Antoine e Loriot.
(E foi uma verdadeira cena de duelo, de filme de “cow-boys”, a que só faltou o herói, Antoine, ir montado no seu corcel branco.
Esclareça-se, que, à data, este género de filmes ainda não dominava o mercado, nem sei se já teria surgido, nem a filmografia americana ainda era dominante, nem sequer a indústria cinematográfica atingira a importância que viria a alcançar nas décadas seguintes, no pós-guerra.)
Certo é que Antoine libertou Jeannine!
E sobre outro verdadeiro colaboracionista e verdadeiro criminoso, per si, que a guerra não justificava as suas atitudes criminais, nem as ações que praticou, sobre o “carniceiro” quero ainda falar.
A cena final em que o “miúdo”, Antoine, que Loriot julgara enganar, voltou à casa onde o criminoso, Marchetti, se acoitava e os apanhou, a ambos, a conversar, paradoxalmente Jean com o filho David ao colo, foi uma cena antológica de filme de ação.
E aguardemos o próximo e último episódio desta sexta temporada, certamente o derradeiro da série, porque a sétima provavelmente nunca mais aparecerá, nem sei se já foi concluída a sua realização, nem se já passou em França.
E, ao que me parece, a RTP2 retorna a outra série já apresentada anteriormente.
E, como sempre, muito ficou ainda por contar!