Uma viagem de comboio em 1990 (II)
Na Linha do Leste: Peripécias e Avarias!
«Chover no Molhado» (II)
«Lá arranca o dito na direcção Leste: V.N. da Barquinha… Stª Margarida, e… quase a chegarmos à estação do Tramagal, o comboio pára.
O que se passa? O que é? O que acontece? Perguntam-se os passageiros, questionam os funcionários em serviço (por sinal atenciosos), mas também estes, durante um certo tempo, pouco puderam explicar, pois entre o que se passava na máquina, onde certamente estava a avaria e se encontrava o maquinista e a carruagem, imediatamente a seguir, não havia qualquer meio de comunicação rádio. Só com a saída dum empregado, para falar com o maquinista, se soube que a máquina estava avariada. E como foi o contacto deste com a estação do Tramagal? A pé, até à estação, a comunicar a avaria, para que o chefe providenciasse a sua resolução.
Esteve-se mais de uma hora nisto, perto da estação do Tramagal, os ânimos exaltavam-se, os empregados atendiam o melhor que podiam e lá fora chovia, chovia no molhado…
Com um veículo amarelo, chamado “tractor” lá foi o comboio puxado para o Tramagal. Aí, ainda esperámos algum tempo (pouco, comparativamente com o que já esperáramos) pela vinda duma máquina do Entroncamento que, substituindo a outra, nos levaria para o resto da viagem em direcção a Badajoz. (No mesmo sentido que o nosso, mais atrás, seguia o da Beira Baixa e obviamente também atrasado e a atrasar-se, pois não podia ultrapassar-nos.)
Confiantes no nosso bom destino lá seguimos. Duas avarias na mesma viagem não é vulgar, mas… não há duas sem três.
Depois da Ponte de Sor, os sintomas que se verificaram antes do Tramagal reapareciam na máquina substituta: afrouxamento, quase a parar. A custo conseguiu chegar ao apeadeiro da Fazenda e a velocidade reduzida (20 à hora, comentava-se!) chegou-se a Torre das Vargens.
Estariam aí terminadas as peripécias desta viagem? De modo algum!
Nesta estação, houve que fazer transbordo para uma automotora Nohab, das que circulavam nos ramais de Portalegre e Évora, entretanto desactivados de circulação de passageiros. E que, este ano de 1990, passaram a fazer a ligação Torre das Vargens – Elvas e vice-versa, em certos horários, inclusivé nalguns bem movimentados de fim de semana, em que os passageiros vão à cunha, sem o mínimo de condições. O aquecimento sem funcionar, uma barulheira infernal na carruagem onde segue a máquina, muitos decibéis acima do que qualquer ouvido humano deve suportar e, no compartimento de 2ª classe,… bancos de pau. De pau, como nos velhos tempos do Oeste!
Finalmente, chegou-se! Com quase 3 horas de atraso, com todo o desconforto possível, desrespeito por quem paga bilhete e falta de comodidade e… SEGURANÇA. (…) »
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Neste segundo excerto, relato as peripécias da viagem. Num terceiro, em próximo postal, explicitarei algumas questões que expús às Entidades a quem dirigi a missiva.
As fotos mostram o caminho na direção do Apeadeiro. A primeira no sentido de ida para a estação, para apanhar o comboio. A segunda, no sentido do regresso, proveniente do apeadeiro em direção à localidade: Aldeia da Mata.
São 3Km, que percorri imensas vezes, sei lá quantas, indo ou provindo da viagem de comboio. À data, anos setenta e oitenta, demorava trinta minutos neste percurso, em passo acelerado.
Haja saúde e muito obrigado pela atenção!