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Aquém Tejo

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

Há quem do Tejo só veja o além porque é distância. Mas quem de Além Tejo almeja um sabor, uma fragrância, estando aquém ou além verseja, do Alentejo a substância.

“Un Village Français” - Temporada 3 - Ep. 6 – “La Java Bleue”

Uma Aldeia Francesa

Temporada 3

 

Episódio 6 – “La Java Bleue” – 25 de Outubro de 1941

(Episódio 18 – 21 de Abril de 2016)

 

Excerto do texto que escrevi no post anterior sobre este episódio específico:

 

“A rede da Resistência, encabeçada pelo Partido Comunista, continua os preparativos para um atentado contra um oficial alemão, planeando assassinar o comandante, quando ele visitar R. Schwartz.

Daniel tem conhecimento disso e tenta dissuadir o irmão, Marcel, de participar nessa ação.

Kurt é enviado para a frente russa, que estava no auge do ataque nazi, porque o seu relacionamento com Lucienne foi denunciado por uma carta anónima.

Hortense abandonou Daniel e vive no hotel.

O corpo de Caberni, que foi assassinado por Raymond Schwartz, é encontrado.”

 

*******

Na quinta-feira, dia vinte e um, tive oportunidade de ver um episódio completo.

É uma série que merece ser vista com atenção. Ao contar sobre ela não sei se conto pelo lado sério, que a temática assim o pede, se cedo à ironia, que também me apetece.

Guerra sem quartel In. www.allocine.fr.jpg

 Interessante este episódio, pois não sabia o significado do título.

Tive oportunidade de saber.

La Java Bleue” é o título de uma canção tradicional francesa, de 1939. Cantada por Madame Morhange, a antiga Diretora da Escola, que fora expulsa por ser judia, certamente no contexto da designada “arianização”.

Encantou na Festa das “Catherinettes”, raparigas de vinte e cinco anos, casadoiras e prontas a arranjar um marido, organizada na Escola Primária de Villeneuve. Com direito a discurso mais ou menos oficial, por Madame Schwartz, apologista dos ideais da “Nova França”, que é como quem diz do governo fascizante do Marechal (Pétain)!

E a canção estaria na moda, pois era recente e toda agente se pôs a dançar. A começar pelo Professor e Diretor da Escola, Jules Bériot, que depressa arranjou par entre as moças casadoiras. E quase todos lhe seguiram o exemplo, inclusive a Professora Lucienne com o seu amado alemão, Kurt, que viera de folga a visitá-la. (Que a guerra propriamente dita, em 1941, andava lá para a Frente Leste, para onde nenhum alemão queria ir.)

Assim também assumia publicamente o seu Amor, contra maus-olhados, olhadelas de soslaio, preconceitos e mexeriquices.

 

Lucienne Kurt In. www.allocine.fr.jpg

 

E muito haveria a contar sobre este episódio e a série.

 

Sobre o seriado, assinalo o título: “Uma Aldeia...

Pelo movimento, pelos recursos de que dispõe, acho que "Villeneuve" é mais uma cidade. Uma cidadezinha de província, é certo, nada que se compare a Paris, mas “Uma Aldeia” designa mal a categoria da povoação.

O meu reparo está feito.

 

Neste episódio assinalo o preâmbulo: os guerrilheiros comunistas a prepararem-se para matarem o comandante alemão, mas, dir-me-ão, isso já foi referido no resumo do episódio, no início do post.

No decurso do episódio assistimos à perseguição movida a Marcel, que, apesar de tudo, conseguiu escapar de ser preso.

 

Destaco também o início do episódio propriamente dito.

Hortense, teve honras, (ou desonras?) de abertura. Esparramada com Heinrich, na cama do hotel, numa cena ousada (?) de sexo. Cada um faz a guerra à sua maneira e Hortense faz guerra de alcova.

 

E, neste enredo, os personagens uns são mais idealistas, uns mais corajosos que outros. Uns mais heróis, outros situacionistas ou mesmo cobardes. Cada um toma as posições que entende e não há ali personagens neutras, pelo menos é o que me parece.

 

Marcel Daniel in.www.allocine.fr.jpg

 

O marido de Hortense, Daniel, Médico e Presidente da Câmara, pela sua profissão, pelo cargo que ocupa, desempenha papel crucial em toda a cidade. Dedica-se totalmente à causa dos seus concidadãos, ao ponto de se ir apresentar no comando do exército alemão, para ficar como refém, em substituição de todos os habitantes da sua cidade, que estão presos nessa situação, ameaçados de fuzilamento, caso o “ladrão da pistola” não se denuncie!

Herói, à moda antiga!

Concomitantemente, com a mulher, Hortense, que anda de alcova para alcova e ainda tem o desplante de voltar a casa, como se tivesse ido às compras, ao outro lado da linha de demarcação, (talvez a Badajoz comprar caramelos!), Daniel, porta-se, deixem-me que vos diga, como “um verdadeiro banana”! (Por enquanto.)

 

E, nesta descrição, lá estou eu a levar a narração por desvios ínvios. Hesitante em contar com a idoneidade que o tema merece, dado o contexto de guerra atroz, que foi a segunda grande guerra; ou se haverei de desenvolver a estória pelo lado mais mordaz, como, por vezes, a "pena" me pede.

 

Mas se sou tentado para uma abordagem mais ligeira é porque a forma como a narrativa se desenrola me pode levar por esse caminho.

Vejamos:

Decorre uma Guerra, com as atrocidades que lhe são inerentes, mas na série tudo ocorre distante. Em França, pelo menos até ao momento, houve apenas uma “ocupação”, uma invasão, aparentemente, ainda pouco destrutiva! Os efeitos devastadores da guerra ainda não se fizeram sentir. Com o avançar da narrativa esses momentos chegarão... Certamente!

 

Também se fala em fuzilamentos, mas foram noutras cidades. Mas essa ameaça também paira sobre cidadãos de Villeneuve!

 

tortura. Mas a forma com ela é apresentada parece que é apanágio apenas de um alemão psicopata; de profissão, polícia da Gestapo; que a executa como parte do “seu trabalho”, ansioso para voltar aos abraços fatais da mulher do “maîre”.

 

Não! A prática da tortura não era apenas uma idiossincrasia de um homem perturbado e viciado no ópio.

A tortura era o modo generalizado de atuação não só da polícia, mas de todo o sistema fascista que governava a França, sob as ordens e com o beneplácito dos ocupantes nazis. Estes, por sua vez, utilizavam-na sistemática e continuamente, sobre todos os que eles consideravam seres inferiores, com destaque especial para judeus, ou oponentes, caso dos comunistas.

Dir-me-ão. Na série e no contexto dos personagens, o indivíduo que personifica a Gestapo, traduz, na sua representação, essa atuação e, desse modo, significando o todo institucional.

Aceito!

Mas é sempre imprescindível lembrar que a tortura é um modo de operar de toda e qualquer ditadura, de qualquer cor! (Recado especial para o nosso “País Irmão”. Grave, muito grave, gravíssimo! Ao nível a que chegou a situação.)

 

E há ainda a tortura psicológica, moral, social, resultante do opróbrio e humilhação de um País ocupado por tropas estrangeiras; de Cidadãos, orgulhosos e briosos da sua identidade de Nação Independente, a rebaixarem-se permanentemente, para poderem coexistir, com alguma Dignidade!

 

Por outro lado, no guião da Série, há uma relevância acentuada para o lado lúdico da vida. Que até a personagem da Madame Schwartz, delatora, colaboracionista, “pétainista”, fascistoide, defensora da ocupação; comentava para o seu correligionário, o subprefeito Sérvier, que os concidadãos se queixavam da ocupação, mas nunca houvera tantas festas como à data. Isto no decurso e a propósito da “Festa das Catherinettes”.

 

Mas, poderá ser dito: E que quer que as pessoas façam perante a incerteza, a angústia e o medo, naquele contexto espacial e temporal; a não ser divertirem-se, provando e usufruindo dos prazeres da vida, que a morte é certa e pode espreitar na esquina; ao alcance de um tiro de um soldado nazi, de um ataque de panzers alemães ou de um caça transviado, a fazer tiro ao alvo a crianças indefesas, numa merenda com os professores?!

 

E, na perspetiva da Série, que poderão os guionistas inventar para cativar audiências num seriado, a não ser apimentar o enredo com cenas de amor mais ou menos romântico ou paixões proibidas e exacerbadas pelo desvario do desejo?!

Que uma série não é um documentário.

Para isso tivemos a “Queda do Reich”!

 

Mas os tempos que correm, aqui e agora, com tantos milhares de refugiados a fugirem de guerras dessas Áfricas e do Médio Oriente, lembram tanto e de maneira tão acutilante, os refugiados da 2ª grande guerra!!!

É por isso digo que o modo de narrar os episódios da guerra me parece muito suave. Diria “soft”! (Não me queria socorrer de uma palavra estrangeira, mas é a que me surge de momento!)

Mas dir-me-ão também. Não esqueça que a Série é de 2009, bem antes da situação que vivemos atualmente.

Mas, poderei contrapor: O conhecimento do que realmente foi a guerra é algo que não pode ser ignorado.

Dir-me-ão: A ação decorre em 1941 e, à época, a realidade do que de facto foi a guerra, com todo o seu cortejo de horrores, só seria conhecida mais tarde.

(...)

Estão desculpados os guionistas pelo lado “ameno” com que tratam o assunto.

 

A força do teclado, (já não se escreve com penas), levou-me por estes caminhos e sobre o episódio apenas relembro que o corpo de Caberni, que não sei quem seja, apareceu à tona de àgua, a jusante do rio que faz demarcação de território ocupado. Precisamente quando Raymond Schwartz, o suposto assassino, não me questionem como ou porquê, regressava das compras no outro lado, com a sua amada Marie!

Ele não fora simplesmente às compras, mas sim buscar uma encomenda para Crémieux, o judeu a quem adquirira a fábrica de betão e que era oposicionista à ocupação e ao regime de Vichy. Integrando-se num outro grupo de opositores, julgo que os “Gaulistas”. A cujo corpo acho que também pertencia o Professor Jules Bériot! (Questões a deslindar em futuros episódios.)

 

E, para isso, iremos continuar a visualizar a série, sempre que pudermos!

 Temporada 1 - Episódio 6

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